Com a corrosão da renda da população e o avanço da moagem de uma safra robusta de cana-de-açúcar, tudo parecia conspirar para que o açúcar fosse negociado bem barato no mercado interno brasileiro. Mas é exatamente o oposto que está acontecendo. A forte atratividade do mercado internacional está enxugando a oferta do produto no país, o que fez o indicador de referência para as negociações do açúcar cristal no Brasil bater o recorde em termos nominais na semana passada.
O indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) para o açúcar cristal já subiu 12% neste mês e 14% desde o início "oficial" da safra, em 1º de abril. Na sexta-¬feira, o indicador ficou em R$ 87,40 a saca de 50 quilos, o maior valor da série histórica em termos nominais. Ontem, o indicador reverteu ligeiramente essa alta e ficou em R$ 87,29 a saca. Corrigido pela inflação, porém, ainda está abaixo do recorde do ano, R$ 113,43, alcançado em janeiro.
O preço medido pelo Cepea refere-se aos preços negociados do açúcar cristal no mercado à vista (spot). Embora esse mercado represente apenas 20% a 25% do produto comercializado internamente, o número do Cepea também serve de baliza para as negociações feitas por contratos, geralmente com as indústrias alimentícias. Estima-se que o açúcar negociado no mercado interno represente cerca de um terço de toda a produção nacional.
Essa turbinada das cotações internas explica¬se em boa parte pela demanda externa. Desde o início oficial da safra até a quarta semana de junho, os embarques de açúcar bruto (o mais exportado pelo Brasil) já somaram 4,755 milhões de toneladas, 37% a mais do que no mesmo período do ano passado, conforme levantamento feito a partir de dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic).
Além disso, as usinas já fixaram o preço de venda de seu açúcar no mercado internacional em 83% do volume que deve ser exportado nesta safra, de acordo com o levantamento mais atualizado da Archer Consulting. Há outras estimativas no mercado que indicam que o volume fixado seja de 70%. Mesmo assim, é um montante historicamente elevado e faz com que as usinas deem preferência para a exportação, observa Heloísa Burnquist, pesquisadora do Cepea.
A escalada também reflete a interrupção da moagem ocorrida no fim do mês passado e no início de junho por causa de chuvas nas áreas produtoras do Centro-Sul. "Quando ocorre isso, é preciso um tempo para conseguir açúcar de qualidade novamente", explica a pesquisadora.
O açúcar cristal se desvaloriza no mercado interno com o caminhar da safra de cana. E as condições macroeconômicas deveriam reforçar a repetição desse padrão, já que o consumo do produto costuma ter forte correlação com o desempenho da economia, atualmente bastante fraco, avalia Burnquist.
A pesquisadora estima que o consumo de açúcar no país - que inclui tanto o açúcar cristal como o refinado - ficará em 10,8 milhões de toneladas na safra vigente. O volume considera ainda o açúcar de polarização muito alta (VHP), embora este tenha parcela pouco representativa no mercado doméstico. Essa quantia estimada representaria uma redução modesta em relação à consumida na safra passada, de 10,9 milhões de toneladas. Na temporada 2015/16, a demanda já vinha em retração ante o ciclo anterior, quando o consumo bateu as 11,40 milhões toneladas.
Esse encarecimento do açúcar pode começar a assustar os compradores, e de certa forma esse apetite menor já vem se refletindo na curva dos preços da última semana, quando as altas do produto foram menores do que no início do mês. Até a primeira metade do mês, a saca do açúcar vinha subindo em média quase 1% ao dia, e desde então, a variação diária média caiu abaixo de 0,5%.
Dessa forma, a redução do consumo pode começar a ter algum efeito negativo sobre os preços, que também podem começar a ser pressionados pela aproximação do pico da safra, acredita a pesquisadora. No entanto, Burnquist não prevê desvalorização expressiva do açúcar, já que a tendência no mercado internacional é de cotações ainda sustentadas, fortalecendo a atratividade das exportações.
Por Camila Souza Ramos
Com a corrosão da renda da população e o avanço da moagem de uma safra robusta de cana-de-açúcar, tudo parecia conspirar para que o açúcar fosse negociado bem barato no mercado interno brasileiro. Mas é exatamente o oposto que está acontecendo. A forte atratividade do mercado internacional está enxugando a oferta do produto no país, o que fez o indicador de referência para as negociações do açúcar cristal no Brasil bater o recorde em termos nominais na semana passada.
O indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) para o açúcar cristal já subiu 12% neste mês e 14% desde o início "oficial" da safra, em 1º de abril. Na sexta-¬feira, o indicador ficou em R$ 87,40 a saca de 50 quilos, o maior valor da série histórica em termos nominais. Ontem, o indicador reverteu ligeiramente essa alta e ficou em R$ 87,29 a saca. Corrigido pela inflação, porém, ainda está abaixo do recorde do ano, R$ 113,43, alcançado em janeiro.
O preço medido pelo Cepea refere-se aos preços negociados do açúcar cristal no mercado à vista (spot). Embora esse mercado represente apenas 20% a 25% do produto comercializado internamente, o número do Cepea também serve de baliza para as negociações feitas por contratos, geralmente com as indústrias alimentícias. Estima-se que o açúcar negociado no mercado interno represente cerca de um terço de toda a produção nacional.
Essa turbinada das cotações internas explica¬se em boa parte pela demanda externa. Desde o início oficial da safra até a quarta semana de junho, os embarques de açúcar bruto (o mais exportado pelo Brasil) já somaram 4,755 milhões de toneladas, 37% a mais do que no mesmo período do ano passado, conforme levantamento feito a partir de dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic).
Além disso, as usinas já fixaram o preço de venda de seu açúcar no mercado internacional em 83% do volume que deve ser exportado nesta safra, de acordo com o levantamento mais atualizado da Archer Consulting. Há outras estimativas no mercado que indicam que o volume fixado seja de 70%. Mesmo assim, é um montante historicamente elevado e faz com que as usinas deem preferência para a exportação, observa Heloísa Burnquist, pesquisadora do Cepea.
A escalada também reflete a interrupção da moagem ocorrida no fim do mês passado e no início de junho por causa de chuvas nas áreas produtoras do Centro-Sul. "Quando ocorre isso, é preciso um tempo para conseguir açúcar de qualidade novamente", explica a pesquisadora.
O açúcar cristal se desvaloriza no mercado interno com o caminhar da safra de cana. E as condições macroeconômicas deveriam reforçar a repetição desse padrão, já que o consumo do produto costuma ter forte correlação com o desempenho da economia, atualmente bastante fraco, avalia Burnquist.
A pesquisadora estima que o consumo de açúcar no país - que inclui tanto o açúcar cristal como o refinado - ficará em 10,8 milhões de toneladas na safra vigente. O volume considera ainda o açúcar de polarização muito alta (VHP), embora este tenha parcela pouco representativa no mercado doméstico. Essa quantia estimada representaria uma redução modesta em relação à consumida na safra passada, de 10,9 milhões de toneladas. Na temporada 2015/16, a demanda já vinha em retração ante o ciclo anterior, quando o consumo bateu as 11,40 milhões toneladas.
Esse encarecimento do açúcar pode começar a assustar os compradores, e de certa forma esse apetite menor já vem se refletindo na curva dos preços da última semana, quando as altas do produto foram menores do que no início do mês. Até a primeira metade do mês, a saca do açúcar vinha subindo em média quase 1% ao dia, e desde então, a variação diária média caiu abaixo de 0,5%.
Dessa forma, a redução do consumo pode começar a ter algum efeito negativo sobre os preços, que também podem começar a ser pressionados pela aproximação do pico da safra, acredita a pesquisadora. No entanto, Burnquist não prevê desvalorização expressiva do açúcar, já que a tendência no mercado internacional é de cotações ainda sustentadas, fortalecendo a atratividade das exportações.
Por Camila Souza Ramos