Maurílio Biagi Filho, presidente de honra da Agrishow, ressaltou a importância do setor sucroenergético para o resultado positivo da edição de 2016 da feira, mas ponderou que o segmento perdeu mais uma vez a chance de mostrar suas externalidades em uma das principais eventos do agronegócio do mundo.
“O setor precisa ter uma presença mais atuante, não só na Agrishow, mas em todas as feiras de agronegócio. Precisa se comunicar melhor e se juntar institucionalmente para ter um só falando sobre o segmento”, afirmou o empresário, que foi substituído na presidência da Agrishow por Fábio Meirelles em 2015, depois de três anos no comando.
Biagi, que também é presidente do Grupo Maubisa, um dos maiores do agronegócio nacional, deu uma entrevista exclusiva para a Canavieiros. Confira:
Revista Canavieiros: Qual a contribuição da Agrishow para o agronegócio?
Maurilio Biagi Filho: Eu acho que a Agrishow dá uma contribuição enorme para o agronegócio, no seguinte contexto: primeiro que durante um ano inteiro todos os produtores de equipamentos represam os seus lançamentos e só liberam na Agrishow. Todos os desenvolvimentos tecnológicos normalmente são guardados para serem lançados na feira, onde temos uma diversidade enorme de produtos que são vendidos um pouco mais barato do que no mercado.
Todos têm um desconto, têm financiamento, pois os bancos estão na feira e é um grande benchmark. Agricultores de todo o Brasil visitam a feira, trocam ideias, veem as novidades, as tendências. Então é uma contribuição muito grande para o agronegócio brasileiro.
Em uma semana que só se fala de produção, de uma conversa muito positiva, muito otimista e ser otimista é uma característica do agricultor, que é uma pessoa diferente, que pensa diferente.
Revista Canavieiros: Durante a abertura da Agrishow, foi dito que a situação econômica brasileira, com elevação das taxas de juros e mais controle de crédito, poderia atrapalhar os negócios na feira, no entanto, os expositores estiveram mais confiantes e com várias vendas realizadas. Qual a sua avaliação?
Maurilio Biagi Filho: Temos uma situação global e geral no Brasil que, sem dúvida nenhuma, atrapalhou muito a Agrishow do ano passado (que vendeu menos 30% que a de 2014), e que atrapalhou essa Agrishow. No entanto, a edição de 2016 nos trouxe um balanço um pouco mais positivo na medida que vendeu 2,6% mais que em 2015, alcançando um total de R$ 1,95 bi, sem contar os negócios alavancados durante a feira e fechados depois. Não é um crescimento muito significativo, mas é um fato positivo, ainda que a situação nacional - política e econômica - não seja favorável.
Tivemos nesta edição uma conjugação de fatores difícil de acontecer. Quando você fala de agricultura, não está falando de café, de laranja e de cana. Você fala de grãos. Então tivemos uma produção agrícola brasileira de 210 milhões de toneladas, e o preço dos grãos caíram nas bolsas, porém, o câmbio corrigiu.
O outro fator é que a cana, o café e a laranja, coincidentemente, estão em um momento bom, e isso deu uma boa notícia para o agricultor brasileiro. E como pudemos ver, a cana contribuiu muito para o resultado positivo da Agrishow neste ano.
Revista Canavieiros: O que o senhor destacaria como ponto alto desta edição?
Maurilio Biagi Filho: As melhorias que a organização introduziu na Agrishow. A feira esteve mais bonita, mais alegre, florida, mais arrumada e é uma festa a Agrishow. Conversei com vários expositores e todos estavam animados, isso é um fato relevante. Tivemos vários momentos importantes, entre eles, cito o convênio firmado entre a Agrishow e a SIMA (Salon International de Machines et Equipaments Agrisole), que é a principal feira de máquinas e implementos agrícolas da Europa.
A proposta é intensificar as relações comerciais e o intercâmbio tecnológico entre Brasil e França. Este foi um ponto alto e, se isso for realmente executado,
pode ser uma coisa muito boa para os dois lados, portanto a Agrishow só teve notícias boas.
Revista Canavieiros: A agricultura tem sido a locomotiva do Brasil. Até quando o senhor acha que o segmento terá fôlego para continuar como base da economia brasileira?
Maurilio Biagi Filho: Por muito tempo ainda o setor será a base da economia brasileira. Estamos indo, neste ano, para quase 50% das exportações brasileiras e isso não é uma virtude da agricultura, mas sim porque os outros segmentos estão ruins. E a agricultura é a base porque não existe uma intervenção governamental. Na agricultura, o Governo se limitou a fazer o papel que deve executar em todas as atividades econômicas, ou seja, na pesquisa, através da Embrapa e de outros institutos existentes no país que foram responsáveis pelo alargamento das fronteiras agrícolas brasileiras. Então você tem crédito, os bancos, como o do Brasil, Bradesco, Santander e outros têm uma política clara com relação a financiamento agrícola. O Governo não se meteu, pois onde ele se meteu foi um desastre como, por exemplo, no setor sucroenergético.
Revista Canavieiros: Há um otimismo no setor sucroenergético com a safra 2016/2017. O que o senhor acha? Será uma boa temporada para o segmento canavieiro?
Maurilio Biagi Filho: Será, sem dúvida, pois o açúcar está em um ciclo positivo.
Há três anos eu falei que a recuperação do setor viria pelo açúcar e eu fui muito criticado na época, mas isso se comprova neste momento. Agora, o setor não gosta de ver nada caminhando bem, visto que está fazendo um esforço danado para derrubar os preços do açúcar, anunciando recorde de produção.
Vão deixar de produzir etanol para produzir mais açúcar. Nós entramos naquele velho negócio, de repente sobe o preço do etanol porque não tem o suficiente, cai o consumo. Os estoques sobem, cai o preço. É um sobe e desce, fica nesse pingue-pongue. Aí se anuncia uma safra maior de açúcar.
Não existe uma comunicação centralizada do segmento, o que prejudica muito.
Revista Canavieiros: As previsões para a safra atual são elásticas, indo de 580 milhões a 640 milhões de toneladas de cana. O senhor acha que ficará no mesmo patamar da 15/16 ou deve aumentar o volume?
Maurilio Biagi Filho: Acho que vai ficar em 640 milhões de toneladas. As usinas começaram muito cedo, a safra está indo super bem, há previsão de superprodução de açúcar e o mundo inteiro já sabe disso. Enfim, será uma safra muito mais açucareira do que alcooleira.
Revista Canavieiros: O atual cenário político e econômico nacional pode prejudicar ainda mais o setor sucroenergético?
Maurilio Biagi Filho: Já prejudicou o que podia prejudicar. Eu acho que tende
a melhorar no futuro. Vale lembrar que o setor sucroenergético está começando a voltar agora, não em função de política interna, mas pela diminuição da produção de etanol e pelo mercado internacional de açúcar estar muito forte.
O setor de energia no Brasil enfrentou a crise como também outros setores. Sabemos o que aconteceu com a Petrobras, o setor sofreu um baque gigantesco. Eu não sei o que está por vir, só sei que, com qualquer coisa que aconteça, ainda vamos ter muita dificuldade para progredir.
Revista Canavieiros: Quais ajustes deveriam ser feitos para o setor sucroenergético voltar a ser competitivo?
Maurilio Biagi Filho: É preciso uma matriz energética e o setor ter uma condução mais unânime. A infraestrutura também é um gargalo para o setor, mas acredito que este cenário está mudado sendo que a única forma efetiva de mudança é a privatização.
De um modo geral, eu continuo com uma ideia antiga sobre necessidade do setor se comunicar mais. Qual é a presença do setor sucroenergético aqui na Agrishow? Uma das três principais feiras do agronegócio do mundo? Qual é a presença institucional do segmento, você não acha que o setor deveria ter um estande institucional na Agrishow? É uma coisa barata, uma bobagem, para mostrar quais são os benefícios do setor, o que é o setor, suas externalidades.
É para estar na Agrishow e em todas as feiras de agronegócio brasileiro. É um trabalho que se você fizer durante 20 anos, você colhe um fruto extraordinário, isso não dá fruto no dia seguinte. Alias, é como na agricultura, é uma coisa sempre de longo prazo. Você tem de plantar, esperar, tem que chover, para depois colher.
O setor reclama muito, mas não faz o que tem que fazer. A vida inteira eu falei
isso, precisa rever o lado da comunicação, no amplo sentido da palavra. Não é
dar entrevista, aparecer. Tem que se juntar institucionalmente, quer dizer, ter um só falando. Só que não funciona assim, então o Governo joga com a divisão e quando quer ouvir o setor, chama 10 pessoas e cada um fala uma coisa e fica o dito pelo não dito. Aí você me diz, tem a UNICA (União das Indústrias de Cana-de-açúcar) que fala pelo setor, e não é verdade, pois é só um dos que vão lá falar.
Portanto, é preciso pensar na comunicação, organizar as informações, ser um setor unido. Só assim vai conseguir voltar e continuar progredindo.
Maurílio Biagi Filho, presidente de honra da Agrishow, ressaltou a importância do setor sucroenergético para o resultado positivo da edição de 2016 da feira, mas ponderou que o segmento perdeu mais uma vez a chance de mostrar suas externalidades em uma das principais eventos do agronegócio do mundo.
“O setor precisa ter uma presença mais atuante, não só na Agrishow, mas em todas as feiras de agronegócio. Precisa se comunicar melhor e se juntar institucionalmente para ter um só falando sobre o segmento”, afirmou o empresário, que foi substituído na presidência da Agrishow por Fábio Meirelles em 2015, depois de três anos no comando.
Biagi, que também é presidente do Grupo Maubisa, um dos maiores do agronegócio nacional, deu uma entrevista exclusiva para a Canavieiros. Confira:
Revista Canavieiros: Qual a contribuição da Agrishow para o agronegócio?
Maurilio Biagi Filho: Eu acho que a Agrishow dá uma contribuição enorme para o agronegócio, no seguinte contexto: primeiro que durante um ano inteiro todos os produtores de equipamentos represam os seus lançamentos e só liberam na Agrishow. Todos os desenvolvimentos tecnológicos normalmente são guardados para serem lançados na feira, onde temos uma diversidade enorme de produtos que são vendidos um pouco mais barato do que no mercado.
Todos têm um desconto, têm financiamento, pois os bancos estão na feira e é um grande benchmark. Agricultores de todo o Brasil visitam a feira, trocam ideias, veem as novidades, as tendências. Então é uma contribuição muito grande para o agronegócio brasileiro.
Em uma semana que só se fala de produção, de uma conversa muito positiva, muito otimista e ser otimista é uma característica do agricultor, que é uma pessoa diferente, que pensa diferente.
Revista Canavieiros: Durante a abertura da Agrishow, foi dito que a situação econômica brasileira, com elevação das taxas de juros e mais controle de crédito, poderia atrapalhar os negócios na feira, no entanto, os expositores estiveram mais confiantes e com várias vendas realizadas. Qual a sua avaliação?
Maurilio Biagi Filho: Temos uma situação global e geral no Brasil que, sem dúvida nenhuma, atrapalhou muito a Agrishow do ano passado (que vendeu menos 30% que a de 2014), e que atrapalhou essa Agrishow. No entanto, a edição de 2016 nos trouxe um balanço um pouco mais positivo na medida que vendeu 2,6% mais que em 2015, alcançando um total de R$ 1,95 bi, sem contar os negócios alavancados durante a feira e fechados depois. Não é um crescimento muito significativo, mas é um fato positivo, ainda que a situação nacional - política e econômica - não seja favorável.
Tivemos nesta edição uma conjugação de fatores difícil de acontecer. Quando você fala de agricultura, não está falando de café, de laranja e de cana. Você fala de grãos. Então tivemos uma produção agrícola brasileira de 210 milhões de toneladas, e o preço dos grãos caíram nas bolsas, porém, o câmbio corrigiu.
O outro fator é que a cana, o café e a laranja, coincidentemente, estão em um momento bom, e isso deu uma boa notícia para o agricultor brasileiro. E como pudemos ver, a cana contribuiu muito para o resultado positivo da Agrishow neste ano.
Revista Canavieiros: O que o senhor destacaria como ponto alto desta edição?
Maurilio Biagi Filho: As melhorias que a organização introduziu na Agrishow. A feira esteve mais bonita, mais alegre, florida, mais arrumada e é uma festa a Agrishow. Conversei com vários expositores e todos estavam animados, isso é um fato relevante. Tivemos vários momentos importantes, entre eles, cito o convênio firmado entre a Agrishow e a SIMA (Salon International de Machines et Equipaments Agrisole), que é a principal feira de máquinas e implementos agrícolas da Europa.
A proposta é intensificar as relações comerciais e o intercâmbio tecnológico entre Brasil e França. Este foi um ponto alto e, se isso for realmente executado, pode ser uma coisa muito boa para os dois lados, portanto a Agrishow só teve notícias boas.
Revista Canavieiros: A agricultura tem sido a locomotiva do Brasil. Até quando o senhor acha que o segmento terá fôlego para continuar como base da economia brasileira?
Maurilio Biagi Filho: Por muito tempo ainda o setor será a base da economia brasileira. Estamos indo, neste ano, para quase 50% das exportações brasileiras e isso não é uma virtude da agricultura, mas sim porque os outros segmentos estão ruins. E a agricultura é a base porque não existe uma intervenção governamental.
Na agricultura, o Governo se limitou a fazer o papel que deve executar em todas as atividades econômicas, ou seja, na pesquisa, através da Embrapa e de outros institutos existentes no país que foram responsáveis pelo alargamento das fronteiras agrícolas brasileiras. Então você tem crédito, os bancos, como o do Brasil, Bradesco, Santander e outros têm uma política clara com relação a financiamento agrícola. O Governo não se meteu, pois onde ele se meteu foi um desastre como, por exemplo, no setor sucroenergético.
Revista Canavieiros: Há um otimismo no setor sucroenergético com a safra 2016/2017. O que o senhor acha? Será uma boa temporada para o segmento canavieiro?
Maurilio Biagi Filho: Será, sem dúvida, pois o açúcar está em um ciclo positivo. Há três anos eu falei que a recuperação do setor viria pelo açúcar e eu fui muito criticado na época, mas isso se comprova neste momento. Agora, o setor não gosta de ver nada caminhando bem, visto que está fazendo um esforço danado para derrubar os preços do açúcar, anunciando recorde de produção.
Vão deixar de produzir etanol para produzir mais açúcar. Nós entramos naquele velho negócio, de repente sobe o preço do etanol porque não tem o suficiente, cai o consumo. Os estoques sobem, cai o preço. É um sobe e desce, fica nesse pingue-pongue. Aí se anuncia uma safra maior de açúcar.
Não existe uma comunicação centralizada do segmento, o que prejudica muito.
Revista Canavieiros: As previsões para a safra atual são elásticas, indo de 580 milhões a 640 milhões de toneladas de cana. O senhor acha que ficará no mesmo patamar da 15/16 ou deve aumentar o volume?
Maurilio Biagi Filho: Acho que vai ficar em 640 milhões de toneladas. As usinas começaram muito cedo, a safra está indo super bem, há previsão de superprodução de açúcar e o mundo inteiro já sabe disso. Enfim, será uma safra muito mais açucareira do que alcooleira.
Revista Canavieiros: O atual cenário político e econômico nacional pode prejudicar ainda mais o setor sucroenergético?
Maurilio Biagi Filho: Já prejudicou o que podia prejudicar. Eu acho que tende a melhorar no futuro. Vale lembrar que o setor sucroenergético está começando a voltar agora, não em função de política interna, mas pela diminuição da produção de etanol e pelo mercado internacional de açúcar estar muito forte.
O setor de energia no Brasil enfrentou a crise como também outros setores. Sabemos o que aconteceu com a Petrobras, o setor sofreu um baque gigantesco. Eu não sei o que está por vir, só sei que, com qualquer coisa que aconteça, ainda vamos ter muita dificuldade para progredir.
Revista Canavieiros: Quais ajustes deveriam ser feitos para o setor sucroenergético voltar a ser competitivo?
Maurilio Biagi Filho: É preciso uma matriz energética e o setor ter uma condução mais unânime. A infraestrutura também é um gargalo para o setor, mas acredito que este cenário está mudado sendo que a única forma efetiva de mudança é a privatização.
De um modo geral, eu continuo com uma ideia antiga sobre necessidade do setor se comunicar mais. Qual é a presença do setor sucroenergético aqui na Agrishow? Uma das três principais feiras do agronegócio do mundo? Qual é a presença institucional do segmento, você não acha que o setor deveria ter um estande institucional na Agrishow? É uma coisa barata, uma bobagem, para mostrar quais são os benefícios do setor, o que é o setor, suas externalidades.
É para estar na Agrishow e em todas as feiras de agronegócio brasileiro. É um trabalho que se você fizer durante 20 anos, você colhe um fruto extraordinário, isso não dá fruto no dia seguinte. Alias, é como na agricultura, é uma coisa sempre de longo prazo. Você tem de plantar, esperar, tem que chover, para depois colher.
O setor reclama muito, mas não faz o que tem que fazer. A vida inteira eu falei isso, precisa rever o lado da comunicação, no amplo sentido da palavra. Não é dar entrevista, aparecer. Tem que se juntar institucionalmente, quer dizer, ter um só falando. Só que não funciona assim, então o Governo joga com a divisão e quando quer ouvir o setor, chama 10 pessoas e cada um fala uma coisa e fica o dito pelo não dito. Aí você me diz, tem a UNICA (União das Indústrias de Cana-de-açúcar) que fala pelo setor, e não é verdade, pois é só um dos que vão lá falar.
Portanto, é preciso pensar na comunicação, organizar as informações, ser um setor unido. Só assim vai conseguir voltar e continuar progredindo.