Falta um planejamento energético

19/05/2015 Cana-de-Açúcar POR: Jornal do Commércio
A mudança de prioridades e os erros de planejamento têm sido uma constante na forma como o governo federal trata os biocombustíveis no Brasil. Primeiro, foi o biodiesel que iria gerar milhares de empregos na agricultura familiar, “tornando mais desenvolvidas as regiões mais pobres do Brasil”, como disse o presidente Lula (PT). Depois, foi o boom do etanol defendido por Lula como uma das soluções energéticas para o mundo. Nenhum dos dois deslanchou no ritmo anunciado. O setor de álcool está passando por uma grande crise e o biodiesel é produzido apenas por grandes empresas sem qualquer participação da agricultura familiar. E, de quebra, ainda tem o pré-sal que mais recentemente foi apontado pelo presidente Lula (PT) como uma das riquezas que iriam tornar o País desenvolvido, o que pode até a voltar a ocorrer no futuro, mas que agora está em compasso de espera com a queda no preço do barril de petróleo e a Operação Lava Jato, um esquema milionário de propinas envolvendo diretores da Petrobras, empreiteiras e políticos.
No Brasil, cerca de 80 usinas fecharam – incluindo seis em Pernambuco – e 67 estão em recuperação judicial num período que vai 2008 a 2014. O que mais contribuiu para o cenário de dificuldade foi o preço da gasolina controlado pelo governo federal para conter a inflação, segundo empresários e executivos. “O governo federal gosta de fazer uma política suicida com o subsídio da gasolina, beneficiando um consumidor que usa um transporte individual. Esse controle também teve fins eleitoreiros”, critica o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
O preço da gasolina tem uma relação com o do álcool, que é competitivo, quando corresponde a cerca de 70% do preço da primeira. “Nos últimos seis anos, a gasolina teve um preço artificial mais baixo do que a realidade do custo da Petrobras e dos nossos”, explica o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha. O subsídio a gasolina e ao diesel custou R$ 80 bilhões a Petrobras, segundo especialistas que dizem que esse número foi apresentado ao conselho de administração da estatal no final de 2013. A Petrobras não se posicionou sobre a informação. “Mas tudo que foi subsidiado será cobrado de todos os brasileiros”, acrescenta Adriano.
Em 2005-2006, o planejamento do governo federal era estimular a produção de biocombustíveis para depender menos do petróleo e derivados. “A falta de uma política de longo prazo para os combustíveis renováveis nos condena a ser um grande importador de diesel e gasolina”, afirma o presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari, um dos maiores conhecedores do setor sucroalcooleiro. No ano passado, o País importou 11,27 bilhões de litros de diesel e 2,17 bilhões de litros de gasolina. Em 2013, foram 10,2 bilhões de litros de diesel importados. “É um dispêndio enorme para o consumidor que podia ser evitado”, diz.
Enquanto as importações aumentaram, a previsão era de que o Brasil apresentasse uma colheita de 710 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2015/2016, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica (PDE-2006-2015). A atual safra (2015/2016) vai ficar em 653 milhões de toneladas. A crise reduziu o plantio em 50 milhões de toneladas entre 2011 e 2014.
Também contribuíram para a estagnação do setor a crise internacional de 2008 que restringiu o crédito no mundo e a queda no preço do barril de petróleo. Em 2008, o barril chegou ao ápice de US$ 145. No ano passado, o Brasil produziu 28,2 bilhões de litros de álcool, enquanto os Estados Unidos fabricaram 54,1 bilhões de litros de etanol. O produto norte-americano é importado pelo Nordeste. “É mais um fator a complicar a produção na região”, conclui Nastari.
Nem parece que o País precisa de energia, porque não houve estímulo à produção a partir do bagaço. Com algumas adequações nas usinas, poderiam ser gerados 10 mil MW médios usando o que já está plantado. É quase uma Belo Monte.
BIODIESEL
No agreste pernambucano, a cidade de Caetés chegou a recrutar pequenos agricultores interessados em plantar mamona, que seria uma das oleaginosas mais empregadas na fabricação de biodiesel. Mais de mil produtores iniciaram o cultivo em 2005 e 2006 incluindo os que moravam em algumas cidades próximas. “O projeto não foi adiante porque o preço da mamona era muito baixo. E o pessoal voltou a plantar mandioca que rende mais”, resume o secretário de Agricultura de Caetés, Lucivalter Santana.
A mudança de prioridades e os erros de planejamento têm sido uma constante na forma como o governo federal trata os biocombustíveis no Brasil. Primeiro, foi o biodiesel que iria gerar milhares de empregos na agricultura familiar, “tornando mais desenvolvidas as regiões mais pobres do Brasil”, como disse o presidente Lula (PT). 
Depois, foi o boom do etanol defendido por Lula como uma das soluções energéticas para o mundo. Nenhum dos dois deslanchou no ritmo anunciado. O setor de álcool está passando por uma grande crise e o biodiesel é produzido apenas por grandes empresas sem qualquer participação da agricultura familiar. E, de quebra, ainda tem o pré-sal que mais recentemente foi apontado pelo presidente Lula (PT) como uma das riquezas que iriam tornar o País desenvolvido, o que pode até a voltar a ocorrer no futuro, mas que agora está em compasso de espera com a queda no preço do barril de petróleo e a Operação Lava Jato, um esquema milionário de propinas envolvendo diretores da Petrobras, empreiteiras e políticos.
No Brasil, cerca de 80 usinas fecharam – incluindo seis em Pernambuco – e 67 estão em recuperação judicial num período que vai 2008 a 2014. O que mais contribuiu para o cenário de dificuldade foi o preço da gasolina controlado pelo governo federal para conter a inflação, segundo empresários e executivos. “O governo federal gosta de fazer uma política suicida com o subsídio da gasolina, beneficiando um consumidor que usa um transporte individual. Esse controle também teve fins eleitoreiros”, critica o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
O preço da gasolina tem uma relação com o do álcool, que é competitivo, quando corresponde a cerca de 70% do preço da primeira. “Nos últimos seis anos, a gasolina teve um preço artificial mais baixo do que a realidade do custo da Petrobras e dos nossos”, explica o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha. O subsídio a gasolina e ao diesel custou R$ 80 bilhões a Petrobras, segundo especialistas que dizem que esse número foi apresentado ao conselho de administração da estatal no final de 2013. A Petrobras não se posicionou sobre a informação. “Mas tudo que foi subsidiado será cobrado de todos os brasileiros”, acrescenta Adriano.
Em 2005-2006, o planejamento do governo federal era estimular a produção de biocombustíveis para depender menos do petróleo e derivados. “A falta de uma política de longo prazo para os combustíveis renováveis nos condena a ser um grande importador de diesel e gasolina”, afirma o presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari, um dos maiores conhecedores do setor sucroalcooleiro. No ano passado, o País importou 11,27 bilhões de litros de diesel e 2,17 bilhões de litros de gasolina. Em 2013, foram 10,2 bilhões de litros de diesel importados. “É um dispêndio enorme para o consumidor que podia ser evitado”, diz.
Enquanto as importações aumentaram, a previsão era de que o Brasil apresentasse uma colheita de 710 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2015/2016, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica (PDE-2006-2015). A atual safra (2015/2016) vai ficar em 653 milhões de toneladas. A crise reduziu o plantio em 50 milhões de toneladas entre 2011 e 2014.
Também contribuíram para a estagnação do setor a crise internacional de 2008 que restringiu o crédito no mundo e a queda no preço do barril de petróleo. Em 2008, o barril chegou ao ápice de US$ 145. No ano passado, o Brasil produziu 28,2 bilhões de litros de álcool, enquanto os Estados Unidos fabricaram 54,1 bilhões de litros de etanol. O produto norte-americano é importado pelo Nordeste. “É mais um fator a complicar a produção na região”, conclui Nastari.
Nem parece que o País precisa de energia, porque não houve estímulo à produção a partir do bagaço. Com algumas adequações nas usinas, poderiam ser gerados 10 mil MW médios usando o que já está plantado. É quase uma Belo Monte.


BIODIESEL
No agreste pernambucano, a cidade de Caetés chegou a recrutar pequenos agricultores interessados em plantar mamona, que seria uma das oleaginosas mais empregadas na fabricação de biodiesel. Mais de mil produtores iniciaram o cultivo em 2005 e 2006 incluindo os que moravam em algumas cidades próximas. “O projeto não foi adiante porque o preço da mamona era muito baixo. E o pessoal voltou a plantar mandioca que rende mais”, resume o secretário de Agricultura de Caetés, Lucivalter Santana.