FGV IBRE realiza 1º Seminário "Desafios e Perspectivas do Agronegócio Brasileiro"

18/04/2018 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Tamiris Dinamarco


Quando falamos sobre o agronegócio brasileiro logo pensamos nos primórdios da economia do país e não muito distante a agropecuária que mobilizou o ano de 2017, voltou a ser o centro das atenções no debate promovido no último dia 16 de março, na FGV (Fundação Getulio Vargas) em São Paulo.
 
O seminário intitulado "Desafios e Perspectivas do Agronegócio Brasileiro" foi promovido pela Revista Conjuntura Econômica e pelo FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e contou com a participação de importantes personalidades do setor.
 
Commodities e impactos
 
Na primeira mesa de debates o assunto principal foi o futuro para o mercado de commodities e seus impactos sobre o agronegócio. Participaram das discussões o mediador Luiz Cornacchioni, diretor executivo da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio); Celso Vegro, diretor técnico do IEA (Instituto de Economia Agrícola) e Fernando Lobo Pimentel, sócio da Agrosecurity Consultoria e da Agrometrika Informática.
 
Para Vegro, a tendência é que o preço das commodities seja sempre declinante, sendo essa uma das premissas do setor. Além disso, citou ainda o eixo pacífico, os hábitos de consumo, o protecionismo e a geopolítica. O diretor do IEA ainda apresentou um infográfico com a variação real do PIB (produto Interno Bruto) por regiões:"O Sudeste é uma região que não teve muito impacto no agronegócio brasileiro e a previsão é que se mantenha assim", concluiu.
 
Pimentel enalteceu a evolução e os desafios para o crédito no mercado de commodities com dados e gráficos que apresentaram o modelo do sistema financeiro que, ainda limitado pela falta do seguro rural, busca alternativas para acessar agentes intermediários e produtores.

Para concluir sua apresentação, o sócio da Agrosecurity e da Agrometrika apresentou os desafios do mercado incluindo temas sobre como melhorar a governança de crédito integrando as operações comerciais e bancárias; ampliar a oferta do seguro rural para atrair mais capital privado pela via bancária e melhorar as vias de escoamento.
 
Economia
 
No período da tarde, a primeira mesa trouxe à tona as mudanças na economia mundial e seus reflexos sobre o agronegócio brasileiro com a participação de Alan Bojanic, representante da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) no Brasil; Luís Rangel, secretário de Defesa Agropecuária do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento); do diretor geral da Agroicone, Rodrigo Lima; e da especialista em comércio exterior da FGV IBRE, Lia Valls Pereira, que foi a moderadora do painel.
 
Bojanic falou sobre a previsão de crescimento do PIB até 2050, apresentando números importantes que também influenciaram na evolução do índice Dow Jones nos últimos anos, as condições macroeconômicas e da evolução da população mundial rural e urbana. Ainda em destaque foram citadas as tendências no comércio agrícola mundial baseando-se na configuração da economia com a desaceleração do comércio mundial, acordos regionais de comércio, as implicações para o agronegócio, e por fim, deixou "avisos para o futuro". "As mudanças climáticas e o crescimento da competição por recursos naturais continuará a contribuir para a degradação dos mesmos recursos naturais e para a escassez, gerando impactos negativos nas moradias da população e na segurança alimentar da mesma", finalizou.
 
Rangel começou sua palestra falando sobre os desafios em um mundo globalizado em que os consumidores mais exigentes e interessados por informação, demandam transparências em assuntos sobre agrossistemas (produção de agropecuária e agroindústria). Depois reafirmou a importância de aumentar a participação no mercado mundial, como oportunidades para o Brasil, já que é um dos países maiores exportadores mundiais de alimentos, gerando empregos e trazendo divisas e por fim encerrou a temática sobre a evolução do sistema brasileiro. "É importante reconstruir hábitos alimentares, sabendo que matrizes diferenciadas impactam em todas as commodities no geral. Ressaltamos que a demanda por alimentos continuará crescente nos próximos anos e isso aumenta a participação no mercado mundial", complementou.

Lima foi direto ao assunto principal sobre riscos climáticos, a intensificação da pecuária, com um salto na produtividade para exportar mais e sobre os acordos comerciais no setor. "Esses acordos comerciais nunca agradam a todos, mas criam ramais para expandir mercados", explicou.

Após explanada a opinião individual de cada presente, um debate foi iniciado para discutir desigualdade, o acesso a alimentos e a qualidade no campo. Além disso foi citado a mecanização para todos e a modernização da agricultura. Lima encerrou o debate defendendo os alimentos orgânicos: "Eles precisam virar acessíveis ou serão sempre 'boutique' das compras".

Logística e infraestrutura
Os especialistas da segunda mesa do dia analisaram os gargalos em logística e infraestrutura e de que forma isso impede o Brasil de ser ainda mais competitivo no setor. Entre os assuntos destacados estiveram a falta de crédito e acesso às novas tecnologias. A mesa foi moderada pelo coordenador da FGV Agro, Roberto Rodrigues, e contou com a presença de Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística (Aprosoja) e Evaristo Eduardo de Miranda, chefe geral do GITE (Grupo de Inteligência Territorial Estratégica) da Embrapa.

Ferreira apresentou o crescimento da produção de soja em Mato Grosso, no período 2016/2017, onde chegou-se ao número de 30,6 milhões/toneladas. Ele também apontou a previsão para 2024/2025 em que chegaríamos até em 46,2 milhões/toneladas.  O diretor ainda citou as rotas de escoamento no Centro-Oeste com as highways, railways e waterways e mostrou a capacidade dos portos, com destaque ao Norte e Sul/Sudeste.
 
Logo depois, Miranda da Embrapa deu ênfase ao sistema de inteligência territorial da macrologística na agropecuária brasileira. Também foi discutido como a mineração e cargas de alto valor têm um planejamento de logística e a agricultura não. No caso da agricultura, primeiro é produzido e depois pensado na logística que vem apenas depois. Já a agropecuária não tinha esse sistema e através de uma solicitação do MAPA, a Embrapa desenvolveu essa logística onde são mostrados a origem, os caminhos e o destino dos principais produtos da agricultura e pecuária nacionais.

Com informações georreferenciadas, foram identificadas as rotas preferenciais utilizadas e delimitadas as bacias logísticas da exportação de grãos no país. "Quando falamos de logística, temos que falar de bacias e ainda ressaltar a importância de armazenar a água, fazer eclusas onde pode se navegar mais", complementou.

Tecnologia e RenovaBio
A última mesa foi considerada um olhar para o futuro, com debates sobre o avanço no campo tecnológico, carro elétrico e RenovaBio. Participaram das discussões, moderadas pelo vice-presidente da SNA (Sociedade Nacional de Agricultura), Tito Ryff; o vice-presidente da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), Francisco Matturro; o chefe geral da Embrapa Sudeste, Rui Machado, e o presidente da Datagro Consultoria e líder do RenovaBio, Plínio Nastari.

Matturro debateu os fatores que afetarão a demanda e a produção agropecuária. Ele também ressaltou o foco da inovação que inclui até o momento poupar terra, trabalho e capital, enquanto daqui em diante será necessário poupar água, energia, reduzir o tempo de cultivo e alimentos mais saudáveis. O presidente da ABAG ainda citou os avanços com a inovação tecnológica apresentando o caso iLPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta).

Machado apresentou a pesquisa,desenvolvimento e inovação com destaque as forças motrizes do agronegócio brasileiro e explicou o papel e a contribuição de PD&I Agrícola. Entre os fatores para o aumento da produção agrícola estão o trabalho, a terra e a tecnologia.

Para encerrar, o chefe geral da Embrapa Sudeste exibiu as unidades da Embrapa, como a de São Carlos, que trabalham com agricultura de precisão (Laboratório Nacional) e sobre a inovação "hightech", com automação e precisão através dos novos trabalhos com drones que rastreiam as áreas e transformam em informações.

Muito esperado o último a se apresentar foi Plínio Nastari, que iniciou o debate com as questões estruturais no setor de Biocombustíveis, entre elas a falta de referência de longo prazo para planejamento e investimento e o papel do etanol na matriz.

Já nas questões estruturais sobre a agricultura, uma das soluções apresentadas foi o aumento da eficiência energética (redução do consumo energético) no uso de combustível/energia.

Nastari ainda falou sobre a importância do etanol de milho nos EUA e o setor automotivo, que por mais que ainda não seja tão acessível, é necessário avaliar a rota tecnológica, além de defender a eletrificação com biocombustíveis.

Para encerrar o dia de debates, o RenovaBio não poderia ficar de fora e nada melhor que o líder do programa para falar sobre ele. Foram explicados os alvos, os mecanismos, a intenção de reduzir os custos e o preço final para o consumidor e como o Rota 2030 e o RenovaBio são uma plataforma para o biofuturo. Alguns questionamentos ainda foram levantados sobre o comprometimento do RenovaBio, as definições de metas e maiores dificuldades, além da insegurança jurídica.