Um ambicioso projeto de lei de flexibilização do mercado de trabalho na França, para melhorar a competitividade das empresas e facilitar a criação de empregos, está causando revolta de sindicatos, estudantes e ampliando um racha na esquerda francesa.
O projeto do governo socialista francês reúne o que tem sido bem sucedido em países como Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido e está previsto para ser apresentado ao Parlamento no dia 24. Mas opositores aumentam as manifestações de ruas. Uma greve geral está marcada para o dia 31 contra a "deriva sócio-liberal" dos socialistas.
A França, segunda maior economia da zona do euro, tem taxa de desemprego de 10,5%, o crescimento é medíocre e o temor em relação à globalização e concorrência do estrangeiro é persistente nesse país já normalmente refratário a reformas.
O plano do presidente François Hollande não elimina a lei das 35 horas de trabalho semanal, um dos símbolos sagrados da esquerda francesa, mas na prática a desmonta. Amplia as possibilidades para as empresas evitarem esse limite por razões de reestruturação, abertura de novos mercados ou causas excepcionais.
Estabelece que os acordos entre o comitê sindical e os patrões em cada empresa, para fixar salário e jornada de trabalho, valem mais do que os entendimentos setoriais, reduzindo a força das grandes organizações sindicais.
O plano facilita também rebaixas salariais generalizadas para a conquista de mercados, e demissões por razões econômicas (quatro trimestres de perdas ou redução do faturamento). As indenizações no caso de demissões sem justa causa baixam para 15 meses de salários em vez de 24 a 27 meses para empregados com mais de 20 anos de antiguidade.
O governo socialista alega que a reforma é vital, em reação à desaceleração econômica e tensões sociais. Mas a esquerda mais dura, a começar dentro do próprio Partido Socialista, está mobilizada. Sindicatos falam de uma "volta ao século XIX", reclamando da precarização das leis do trabalho. Os estudantes - tropa de choque de protestos políticos e temida por quem está no poder - também ocupam as ruas de grandes cidades francesas, não vendo muito futuro para eles.
A "decepção e cólera" de grupos de esquerda aumentam contra François Hollande, lembrando que ele foi eleito em meio a acusações contra o setor financeiro, que considerava seu maior inimigo, e prometia taxar mais a riqueza. E chega na reta final de seu mandato de cinco anos sob os aplausos de empresários e atacado por seus antigos eleitores.
Nos últimos dois anos, Hollande procurou impulsionar reformas para melhorar a competitividade, incluindo incentivo fiscal de ? 40 bilhões para as empresas. Depois de muita polêmica, conseguiu aprovar uma lei para abrir as lojas no domingo e alguns setores para mais concorrência.
Recentemente, o governo fez um gesto à esquerda, com um fundo de ? 2 bilhões para o treinamento de 500 mil desempregados no país. Mas o presidente continua sendo um dos líderes mais impopulares na França, com apenas 17% de apoio. Hollande e seu Partido Socialista perderam as últimas eleições na França, em níveis europeu, regional e nos departamentos.
Agora, certos analistas consideram que o presidente concluiu que precisa virar da esquerda para o centro do tabuleiro político. Somente assim teria chance de chegar ao segundo turno da eleição presidencial contra a extrema-direita, dentro de 14 meses.
Mas para a esquerda mais dura, o que ele vem fazendo poderá ter efeito duradouro sobre o futuro do Partido Socialista. De seu lado, os conservadores franceses, liderados por Nicolas Sarkozy, acham que Hollande só perderá mais apoio de seu próprio campo na esquerda. E prometem votar a reforma, se ela chegar ao Parlamento sem modificações - o que dificilmente ocorrerá, diante da pressão das ruas.
A flexibilização adotada nos vizinhos vem dando resultados positivos. Na Alemanha, os assalariados podem fazer acordo para garantir o emprego, aceitando o aumento da carga de trabalho e a baixa do salário por determinado período. No Reino Unido, a facilidade para fazer demissões por razões de cunho econômico ajuda as empresas a serem mais ativas nas contratações.
Na Espanha, uma reforma de 2012 permite às empresas rever as condições de salário e do trabalho, e assim ter flexibilidade interna em vez de demitir, em caso de dificuldades econômicas. Desde então, foram criados mais de um milhão de empregos.
Na Itália, uma reforma realizada pelo governo de Matteo Renzi facilita demissões nos três primeiros anos, compensada por proteção social para quem perde o emprego. A Itália reduziu um sistema com 40 tipos de contratos e 2 mil leis, para algo em torno de cinquenta normas claras no mercado de trabalho.
Fonte: Valor Online 14/03/2016
Um ambicioso projeto de lei de flexibilização do mercado de trabalho na França, para melhorar a competitividade das empresas e facilitar a criação de empregos, está causando revolta de sindicatos, estudantes e ampliando um racha na esquerda francesa.
O projeto do governo socialista francês reúne o que tem sido bem sucedido em países como Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido e está previsto para ser apresentado ao Parlamento no dia 24. Mas opositores aumentam as manifestações de ruas. Uma greve geral está marcada para o dia 31 contra a "deriva sócio-liberal" dos socialistas.
A França, segunda maior economia da zona do euro, tem taxa de desemprego de 10,5%, o crescimento é medíocre e o temor em relação à globalização e concorrência do estrangeiro é persistente nesse país já normalmente refratário a reformas.
O plano do presidente François Hollande não elimina a lei das 35 horas de trabalho semanal, um dos símbolos sagrados da esquerda francesa, mas na prática a desmonta. Amplia as possibilidades para as empresas evitarem esse limite por razões de reestruturação, abertura de novos mercados ou causas excepcionais.
Estabelece que os acordos entre o comitê sindical e os patrões em cada empresa, para fixar salário e jornada de trabalho, valem mais do que os entendimentos setoriais, reduzindo a força das grandes organizações sindicais.
O plano facilita também rebaixas salariais generalizadas para a conquista de mercados, e demissões por razões econômicas (quatro trimestres de perdas ou redução do faturamento). As indenizações no caso de demissões sem justa causa baixam para 15 meses de salários em vez de 24 a 27 meses para empregados com mais de 20 anos de antiguidade.
O governo socialista alega que a reforma é vital, em reação à desaceleração econômica e tensões sociais. Mas a esquerda mais dura, a começar dentro do próprio Partido Socialista, está mobilizada. Sindicatos falam de uma "volta ao século XIX", reclamando da precarização das leis do trabalho. Os estudantes - tropa de choque de protestos políticos e temida por quem está no poder - também ocupam as ruas de grandes cidades francesas, não vendo muito futuro para eles.
A "decepção e cólera" de grupos de esquerda aumentam contra François Hollande, lembrando que ele foi eleito em meio a acusações contra o setor financeiro, que considerava seu maior inimigo, e prometia taxar mais a riqueza. E chega na reta final de seu mandato de cinco anos sob os aplausos de empresários e atacado por seus antigos eleitores.
Nos últimos dois anos, Hollande procurou impulsionar reformas para melhorar a competitividade, incluindo incentivo fiscal de ? 40 bilhões para as empresas. Depois de muita polêmica, conseguiu aprovar uma lei para abrir as lojas no domingo e alguns setores para mais concorrência.
Recentemente, o governo fez um gesto à esquerda, com um fundo de ? 2 bilhões para o treinamento de 500 mil desempregados no país. Mas o presidente continua sendo um dos líderes mais impopulares na França, com apenas 17% de apoio. Hollande e seu Partido Socialista perderam as últimas eleições na França, em níveis europeu, regional e nos departamentos.
Agora, certos analistas consideram que o presidente concluiu que precisa virar da esquerda para o centro do tabuleiro político. Somente assim teria chance de chegar ao segundo turno da eleição presidencial contra a extrema-direita, dentro de 14 meses.
Mas para a esquerda mais dura, o que ele vem fazendo poderá ter efeito duradouro sobre o futuro do Partido Socialista. De seu lado, os conservadores franceses, liderados por Nicolas Sarkozy, acham que Hollande só perderá mais apoio de seu próprio campo na esquerda. E prometem votar a reforma, se ela chegar ao Parlamento sem modificações - o que dificilmente ocorrerá, diante da pressão das ruas.
A flexibilização adotada nos vizinhos vem dando resultados positivos. Na Alemanha, os assalariados podem fazer acordo para garantir o emprego, aceitando o aumento da carga de trabalho e a baixa do salário por determinado período. No Reino Unido, a facilidade para fazer demissões por razões de cunho econômico ajuda as empresas a serem mais ativas nas contratações.
Na Espanha, uma reforma de 2012 permite às empresas rever as condições de salário e do trabalho, e assim ter flexibilidade interna em vez de demitir, em caso de dificuldades econômicas. Desde então, foram criados mais de um milhão de empregos.
Na Itália, uma reforma realizada pelo governo de Matteo Renzi facilita demissões nos três primeiros anos, compensada por proteção social para quem perde o emprego. A Itália reduziu um sistema com 40 tipos de contratos e 2 mil leis, para algo em torno de cinquenta normas claras no mercado de trabalho.