F.O. Licht's Sugar & Ethanol Brazil expõe as perspectivas para o setor sucroenergético

20/06/2017 Cana-de-Açúcar POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – Edição 131
O novo ambiente econômico e o futuro das usinas no Brasil, as tecnologias que a indústria automobilística está buscando, novas oportunidades para as usinas Flex no Brasil, a viabilidade da produção de etanol 2G e as expectativas sobre o mercado de etanol e açúcar foram os assuntos principais debatidos durante a 13ª edição do F.O. Licht’s Sugar & Ethanol Brazil. O evento, realizado em São Paulo, iniciou com workshop, no dia 24 de abril, seguido de conferência nos dois dias seguintes, reuniu lideranças e profissionais nacionais e internacionais ligados ao setor sucroenergético.
Com o tema “Gestão e Produtividade no Setor Sucroenergético”, o workshop contou com representantes de usinas, institutos de pesquisa e empresas da cadeia produtiva da cana. Jaime Finguerut, engenheiro químico, consultor autônomo, ex-CTC, deu as boas-vindas aos participantes e Reberth B. Machado,
CEO da Bioenergia do Brasil SA, iniciou as palestras do dia, enfatizando que o setor ainda enfrenta dificuldades devido a vários fatores, entre eles, a mecanização, atividade que trouxe alguns impactos negativos ao processo produtivo. "A mecanização atingiu o ATR da cana devido ao aumento de impurezas levadas para a moenda", explicou, afirmando também que a falta de recursos é outro gargalo para diversas empresas, impossibilitando o investimento para ajudar no aumento da produtividade. Opinião compartilhada com Rodrigo Vinchi, diretor agrícola da Odebrecht Agroindustrial, que na ocasião apresentou uma evolução histórica do processo de plantio do grupo, ressaltando que nos últimos cinco anos se intensificaram os investimentos em mecanização.
"A integração de diversas tecnologias é fundamental para reverter a curva de produtividade que está estagnada nos últimos anos", disse ele, ressaltando que a não adoção dessa agricultura digital de um modo geral no setor é devido à falta de condições financeiras. No painel "Produtividade no campo", Marcos Landell, diretor do Centro de Cana IAC, comentou sobre o uso de diferentes variedades de cana-de-açúcar, mostrou as tendências para a próxima safra e deu dados sobre o Censo Varietal feito pelo instituto.
Segundo dados apresentados, as cinco variedades mais utilizadas pelos produtores brasileiros foram as seguintes: RB867515 (25,8%); RB 92579 (9,3%); RB966928 (8,2%); SP813250 (7,4%) e RB855453 (4,5%). "A tendência é de se adotar um novo grupo varietal, com a redução expressiva das duas variedades mais plantadas na última década, portanto deverá ocorrer maior diversificação nos canaviais", afirmou. Falando ainda sobre variedades, José Bressiani, diretor da GRANBIO, apresentou os benefícios da cana energia e afirmou que a cultivar pode ser uma opção para reduzir os custos de produção. A empresa iniciou suas atividades em 2011 e tem uma planta de etanol de segunda geração em operação em Alagoas, utilizando a cana energia como matéria-prima.
No painel Tecnologia no campo, René Sordi, assessor de Tecnologia Agronômica do Grupo São Martinho, apresentou as tecnologias adotadas pela companhia na busca do aumento de produtividade. Segundo ele, já foi possível implantar piloto automático em praticamente 100% da frota da usina, fato que auxilia nas operações de campo, e possibilitou a intensificação da aplicação de corretivos agrícolas, de calcário e gesso, como também de fertilizantes a taxa variável, ou seja, com aplicações indicadas através de mapas de fertilidade, com rendimentos operacionais muito bons e economia significativa. O uso de drones também é outra ferramenta utilizada para fazer o levantamento de falhas e monitoramento de pragas e doenças; citou ainda o uso da vinhaça in natura com aplicações localizadas. Outra tecnologia usada pelo grupo é a MPB (Mudas Pré-Brotadas). “Temos um projeto grande para fazer 15 a 20 milhões de mudas por ano. A MPB é uma tecnologia que, com certeza, vai nos impulsionar em produtividade porque a uniformidade das plantas geradas são muito interessantes, também é uma ferramenta muito forte para multiplicar variedades novas”, argumentou o assessor.
Lúcio André de Castro, pesquisador e coordenador das pesquisas envolvendo os vants (veículos aéreos não tripulados) da EMBRAPA, falou sobre a evolução do uso dos drones na agricultura e das pesquisas realizadas pela Embrapa Instrumentação desde 1997, com o desenvolvimento de softwares que analisam com precisão e rapidez as imagens captadas por meio das câmeras fotográficas embarcadas nos aparelhos, possibilitando acompanhar o desenvolvimento da cultura, detectar e mapear pragas e estimar estresse hídrico, entre outros. O pesquisador informou também que a empresa está desenvolvendo uma pesquisa em parceria com a Qualcomm Incorporated, por meio da iniciativa Qualcomm® Wireless Reach™, e o Instituto de Socioeconômia Solidária (ISES) para o desenvolvimento de tecnologias para drones, com o objetivo de apoiar os agricultores no Brasil. 
Já José Alexandre Dematte, da ESALQ/USP, falou sobre os trabalhos realizados nos últimos anos pela instituição e afirmou que o sensoriamento remoto apresenta-se como opção relevante e com implicação em várias esferas da área agrícola, com diminuição de custos e tempo, além de aumento da densidade de informação. “Porém, conhecer o solo da área é a base para todo o planejamento. O uso de sensores nesta tarefa mostra-se de extrema importância, mas persistir em realizar operações como AP, sem conhecer o solo, implica em perda financeira continua”, avaliou. Outros palestrantes analisaram ainda a questão da produtividade na indústria e como a melhora na gestão pode resultar em pontos positivos na produtividade do negócio.
O futuro do etanol
Elizabeth Farina, presidente da UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar) ressaltou as perspectivas para o setor nos próximos anos durante o painel “Rumo a um programa de longo prazo para o etanol no Brasil”. A executiva lembrou que há um compromisso brasileiro de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030 e, para que isso ocorra, uma das ações é alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030. “Isso significa produzir 50 bilhões de litros, sendo que hoje a produção é de 28 bilhões” disse, ressaltando que o RenovaBio, programa lançado para incentivo da expansão e produção de biocombustíveis no Brasil, que atualmente se encontra em fase de consulta pública no MME (Ministério de Minas e Energia), é um caminho para atender aos acordos previstos na COP-21.
Segundo a presidente da UNICA, o programa possibilitará a criação de 750 mil empregos diretos e indiretos; o investimento de US$ 40 bilhões na economia brasileira, com a implantação de novas usinas; redução de 430 milhões de reais na saúde pública relacionados a doenças decorrentes da emissão de CO2 através de combustíveis fósseis; a economia de 45 bilhões de dólares na balança comercial devido à redução da importação por volta de 95 bilhões de litros de gasolina; redução de 571 toneladas nas emissões de CO2, além do desenvolvimento regional de 1.600 municípios produtores de cana-de-açúcar e a promoção internacional de comercializadoras da indústria nacional relacionada ao setor sucroenergértico. 
“Este programa vai exigir esforços tanto da área pública quanto da área privada e é essencial, a nosso ver, para a reconquista da competitividade do etanol e eu acho que é uma oportunidade única que nós não podemos desperdiçar”, concluiu. O RenovaBio também foi tema central da palestra de Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, diretor do DCR (Departamento de Biocombustíveis Renováveis), do Ministério de Minas e Energia. "É uma estratégia de Estado para os biocombustíveis que tem como objetivo expandir a produção de biocombustíveis no Brasil baseada na previsibilidade e na sustentabilidade, além de ser compatível com o crescimento do mercado", explicou. 
Já Luís Fernando C.S. Machado, da Divisão de Recursos Energéticos Novos e Renováveis do Ministério das Relações Exteriores, falou sobre os objetivos da Plataforma para o Biofuturo, lançada em novembro passado, na COP 22, realizada em Marraquexe, e que dá seguimento aos compromissos estabelecidos na Rio + 20, nos objetivos de desenvolvimento sustentável e no Acordo de Paris. A iniciativa representa um esforço coletivo, com a participação de países de grande potencial no setor, para acelerar o desenvolvimento e a implantação de biocombustíveis e avanços dos setores mais diversos, como alternativas sustentáveis dos combustíveis fósseis. 
Visão das players do setor sucroenergético sobre o desenvolvimento da indústria
Ao falar sobre as barreiras para o expansão do setor, Pedro Mizutani, presidente do Conselho Deliberativo da UNICA e vice-presidente de Relações Externas e Estratégicas da Raízen, afirmou que o novo ciclo de crescimento da produção dependerá de dois elementos fundamentais: a manutenção do esforço do setor privado visando novos ganhos de eficiência e produtividade e um ambiente regulatório estável, além de políticas públicas consistentes.
O executivo citou a disparidade nos tributos federais entre etanol e gasolina, dizendo que a diferença atual é significativamente inferior ao que se tinha quando os investimentos foram realizados e que o aumento no tributo cobrado sobre o etanol no início de 2017, reduziu ainda mais a sua competitividade. "No momento de decisão dos investimentos o diferencial de tributos federais era de 13 p.p. A desoneração da gasolina e a oneração do etanol em 2017, reduziu esse valor para menos da metade (6 p.p.)", explicou. 
Mizutani ressaltou ainda os desafios e ameaças de políticas protecionistas e distorcidas do mercado internacional e a vilanização do açúcar que reduzem a competitividade da commodity, citando o Projeto Doce Equilíbrio, da UNICA, que visa esclarecer o consumidor final sobre o consumo equilibrado do açúcar. Ainda neste painel, o presidente da Tietê Agroindustrial, Dário Gaeta, afirmou que o setor sucroenergético sofreu por muitos anos uma sequência de decisões equivocadas resultando no aumento de seu endividamento, colocando em risco sua capacidade de sobrevivência. "Há muitas usinas para serem compradas por US$ 1,00, basta assumir seu passivo, e muitas que ainda não fecharam, mas estarão fora de combate se não agirem imediatamente", alertou ele.
O economista Sênior do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Ernest Carter, disse que o potencial de expansão do consumo global de etanol está limitado e isso pode mudar dependendo do que acontecer nos mercados internacionais nos próximos anos. China e Índia podem alterar essa projeção, aumentando a importação, ao contrário de outros mercados, onde a previsão continua sendo de pouca demanda. Com relação à produção, Carter afirmou que a expansão deverá vir do Brasil, Argentina, Tailândia e Filipinas.
Viabilidade do etanol de segunda geração
O painel "Transformando a Economia 2G em realidade: Superando os desafios e riscos no desenvolvimento do processo", contou com palestras de Artur Milanez, gerente setorial do Departamento de Biocombustíveis do BNDES; Bernardo Silva, presidente Executivo do ABBI; Jaime Finguerut, consultor autônomo; Antonio Alberto Stuchi, diretor de tecnologias e projetos da Raízen e Martin Mitchell, gerente de Desenvolvimento de Negócios para as Américas da Clariant.
O representante do BNDS destacou a visão histórica do banco em relação à evolução da produção de etanol celulósico nos últimos 10 anos, afirmando que neste período diversas iniciativas surgindo neste sentido, mas poucas vingaram. “Com o advento do Programa PAISS, do BNDES e da Finep, lançado em 2011, nós conseguimos fomentar iniciativas de porte no Brasil, principalmente as plantas comerciais da GranBio e da Raízen. Hoje, temos seis plantas comerciais no mundo, contando com as duas brasileiras, e elas passam por desafios similares no pré-tratamento da biomassa, e cada uma tem sua estratégia para solucionar esses problemas, como ocorreu com a planta da Raízen, e isso nos deixa otimistas com o futuro da tecnologia”, elucidou, afirmando que com sua consolidação, haverá uma mudança de paradigma no segmento. 
O setor de etanol é historicamente baseado na conversão apenas do caldo da cana e o etanol 2G é permitido agregar palha e bagaço, então mudaremos o paradigma tecnológico, aumentando em até 50% o rendimento por hectare. O que era um sonho, passou a ser uma promessa e agora está muito próximo de se tornar uma realidade”, disse.
Papel de palha de cana é destaque no Sugar & Ethanol Brazil
O processo para a fabricação de papel de palha de cana foi apresentado por Mário Welber, relações institucionais da FibraResist, durante o evento. “O Grupo Cem investiu cerca de R$ 4 milhões em pesquisas para encontrar uma alternativa sustentável para a produção de celulose. Analisada por instituições, a palha da cana-de-açúcar foi indicada como compatível para o processo fabril de celulose. Assim nasceu a FibraResist, a primeira indústria do mundo a extrair pasta celulósica a partir da palha da cana, por meio de uma tecnologia exclusiva, inovadora e 100% sustentável”, explicou.
A pasta celulósica produzida pela FibraResist é matéria-prima para fabricação de papéis tissue, papel capa de 1ª (Kraftliner), papel miolo, papel cartão, papel marrom e embalagens. A planta fica localizada em Lençóis Paulista-SP, em uma área de 60 mil m², dividida entre indústria e depósito, e tem capacidade para produzir até 72 mil toneladas de pasta celulósica por ano, embora esteja funcionando em escala reduzida neste primeiro ano de atividades. “A matéria-prima é adquirida de produtores da região e já chega em nosso pátio fabril enfardada”, contou o executivo.
Saúde financeira das usinas Sucroenergéticas
De acordo com Andy Duff, gerente do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank, os preços altos e margens boas têm ajudado empresas que já estavam em uma situação financeira boa a ficar ainda melhor. Em contraste, um ou dois anos de preços altos, não resolvem os problemas das empresas com dificuldade.
"A avaliação da situação financeira de uma empresa por um banco é baseada em vários indicadores-chave. A liquidez e a estrutura de capital geralmente contam com pesos significativos", explicou o executivo, em painel que discutia a saúde financeira das unidades produtoras. Para Duff “o ano-safra 2017/2018 deverá trazer uma queda significativa dos juros, junto com margens razoáveis/boas, dando mais escopo para baixar a dívida e/ou aumentar a liquidez”, sugeriu. Já Claudio Miori, diretor do Fitchratings relevou que cerca de 56 empresas sucroenergéticas pediram RJ (recuperação judicial) nas últimas cinco safras. No total, 82 unidades produtoras estão operando em RJ ou paradas”, disse. 
Segundo ele, a dívida líquida média supera faturamento anual (BRL 70 bilhões) e 15% da receita está comprometida com pagamentos de juros. Igor Ferreira Bueno, superintendente de saúde, Agronegócio e Química da Finep, falou sobre o PAISS Agrícola lançado pela empresa e o BNDES, em fevereiro de 2014, com o foco em desenvolvimento de novas variedades, novas máquinas e implementos, novas tecnologias de propagação de mudas e adaptação de sistemas industriais para outras culturas, como milho e sorgo. E citou as possibilidades de ações futuras, como a redução líquida de GEE (mitigação) com o uso de biocombustíveis avançados e da geração de energia a partir de biomassa – a partir da execução dos projetos apoiados.
O evento contou ainda com outras palestras nacionais e internacionais que abordaram diversos assuntos ligados ao setor, entre eles, as perspectivas do combustíveis para a indústria automobilística com apresentação de representantes da Toyota, BYD Brasil e Scania e projeção da safra canavieira, feita por Francisco Marcelo Rodrigues Bezerra, presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Segundo ele, a primeira estimativa do órgão para a temporada 2017/2018, é de 647 milhões de toneladas; produção de 38,70 milhões de toneladas de açúcar e 26,45 bilhões de litros de etanol.
 
O novo ambiente econômico e o futuro das usinas no Brasil, as tecnologias que a indústria automobilística está buscando, novas oportunidades para as usinas Flex no Brasil, a viabilidade da produção de etanol 2G e as expectativas sobre o mercado de etanol e açúcar foram os assuntos principais debatidos durante a 13ª edição do F.O. Licht’s Sugar & Ethanol Brazil. O evento, realizado em São Paulo, iniciou com workshop, no dia 24 de abril, seguido de conferência nos dois dias seguintes, reuniu lideranças e profissionais nacionais e internacionais ligados ao setor sucroenergético.
Com o tema “Gestão e Produtividade no Setor Sucroenergético”, o workshop contou com representantes de usinas, institutos de pesquisa e empresas da cadeia produtiva da cana. Jaime Finguerut, engenheiro químico, consultor autônomo, ex-CTC, deu as boas-vindas aos participantes e Reberth B. Machado, CEO da Bioenergia do Brasil SA, iniciou as palestras do dia, enfatizando que o setor ainda enfrenta dificuldades devido a vários fatores, entre eles, a mecanização, atividade que trouxe alguns impactos negativos ao processo produtivo.


"A mecanização atingiu o ATR da cana devido ao aumento de impurezas levadas para a moenda", explicou, afirmando também que a falta de recursos é outro gargalo para diversas empresas, impossibilitando o investimento para ajudar no aumento da produtividade. Opinião compartilhada com Rodrigo Vinchi, diretor agrícola da Odebrecht Agroindustrial, que na ocasião apresentou uma evolução histórica do processo de plantio do grupo, ressaltando que nos últimos cinco anos se intensificaram os investimentos em mecanização.

"A integração de diversas tecnologias é fundamental para reverter a curva de produtividade que está estagnada nos últimos anos", disse ele, ressaltando que a não adoção dessa agricultura digital de um modo geral no setor é devido à falta de condições financeiras. No painel "Produtividade no campo", Marcos Landell, diretor do Centro de Cana IAC, comentou sobre o uso de diferentes variedades de cana-de-açúcar, mostrou as tendências para a próxima safra e deu dados sobre o Censo Varietal feito pelo instituto.
Segundo dados apresentados, as cinco variedades mais utilizadas pelos produtores brasileiros foram as seguintes: RB867515 (25,8%); RB 92579 (9,3%); RB966928 (8,2%); SP813250 (7,4%) e RB855453 (4,5%). "A tendência é de se adotar um novo grupo varietal, com a redução expressiva das duas variedades mais plantadas na última década, portanto deverá ocorrer maior diversificação nos canaviais", afirmou. Falando ainda sobre variedades, José Bressiani, diretor da GRANBIO, apresentou os benefícios da cana energia e afirmou que a cultivar pode ser uma opção para reduzir os custos de produção. A empresa iniciou suas atividades em 2011 e tem uma planta de etanol de segunda geração em operação em Alagoas, utilizando a cana energia como matéria-prima.
No painel Tecnologia no campo, René Sordi, assessor de Tecnologia Agronômica do Grupo São Martinho, apresentou as tecnologias adotadas pela companhia na busca do aumento de produtividade. Segundo ele, já foi possível implantar piloto automático em praticamente 100% da frota da usina, fato que auxilia nas operações de campo, e possibilitou a intensificação da aplicação de corretivos agrícolas, de calcário e gesso, como também de fertilizantes a taxa variável, ou seja, com aplicações indicadas através de mapas de fertilidade, com rendimentos operacionais muito bons e economia significativa. O uso de drones também é outra ferramenta utilizada para fazer o levantamento de falhas e monitoramento de pragas e doenças; citou ainda o uso da vinhaça in natura com aplicações localizadas. Outra tecnologia usada pelo grupo é a MPB (Mudas Pré-Brotadas).


“Temos um projeto grande para fazer 15 a 20 milhões de mudas por ano. A MPB é uma tecnologia que, com certeza, vai nos impulsionar em produtividade porque a uniformidade das plantas geradas são muito interessantes, também é uma ferramenta muito forte para multiplicar variedades novas”, argumentou o assessor.


Lúcio André de Castro, pesquisador e coordenador das pesquisas envolvendo os vants (veículos aéreos não tripulados) da EMBRAPA, falou sobre a evolução do uso dos drones na agricultura e das pesquisas realizadas pela Embrapa Instrumentação desde 1997, com o desenvolvimento de softwares que analisam com precisão e rapidez as imagens captadas por meio das câmeras fotográficas embarcadas nos aparelhos, possibilitando acompanhar o desenvolvimento da cultura, detectar e mapear pragas e estimar estresse hídrico, entre outros. O pesquisador informou também que a empresa está desenvolvendo uma pesquisa em parceria com a Qualcomm Incorporated, por meio da iniciativa Qualcomm® Wireless Reach™, e o Instituto de Socioeconômia Solidária (ISES) para o desenvolvimento de tecnologias para drones, com o objetivo de apoiar os agricultores no Brasil. 

Já José Alexandre Dematte, da ESALQ/USP, falou sobre os trabalhos realizados nos últimos anos pela instituição e afirmou que o sensoriamento remoto apresenta-se como opção relevante e com implicação em várias esferas da área agrícola, com diminuição de custos e tempo, além de aumento da densidade de informação. “Porém, conhecer o solo da área é a base para todo o planejamento. O uso de sensores nesta tarefa mostra-se de extrema importância, mas persistir em realizar operações como AP, sem conhecer o solo, implica em perda financeira continua”, avaliou. Outros palestrantes analisaram ainda a questão da produtividade na indústria e como a melhora na gestão pode resultar em pontos positivos na produtividade do negócio.
O futuro do etanol
Elizabeth Farina, presidente da UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar) ressaltou as perspectivas para o setor nos próximos anos durante o painel “Rumo a um programa de longo prazo para o etanol no Brasil”. A executiva lembrou que há um compromisso brasileiro de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030 e, para que isso ocorra, uma das ações é alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030. “Isso significa produzir 50 bilhões de litros, sendo que hoje a produção é de 28 bilhões” disse, ressaltando que o RenovaBio, programa lançado para incentivo da expansão e produção de biocombustíveis no Brasil, que atualmente se encontra em fase de consulta pública no MME (Ministério de Minas e Energia), é um caminho para atender aos acordos previstos na COP-21.
Segundo a presidente da UNICA, o programa possibilitará a criação de 750 mil empregos diretos e indiretos; o investimento de US$ 40 bilhões na economia brasileira, com a implantação de novas usinas; redução de 430 milhões de reais na saúde pública relacionados a doenças decorrentes da emissão de CO2 através de combustíveis fósseis; a economia de 45 bilhões de dólares na balança comercial devido à redução da importação por volta de 95 bilhões de litros de gasolina; redução de 571 toneladas nas emissões de CO2, além do desenvolvimento regional de 1.600 municípios produtores de cana-de-açúcar e a promoção internacional de comercializadoras da indústria nacional relacionada ao setor sucroenergértico. 
“Este programa vai exigir esforços tanto da área pública quanto da área privada e é essencial, a nosso ver, para a reconquista da competitividade do etanol e eu acho que é uma oportunidade única que nós não podemos desperdiçar”, concluiu. O RenovaBio também foi tema central da palestra de Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, diretor do DCR (Departamento de Biocombustíveis Renováveis), do Ministério de Minas e Energia. "É uma estratégia de Estado para os biocombustíveis que tem como objetivo expandir a produção de biocombustíveis no Brasil baseada na previsibilidade e na sustentabilidade, além de ser compatível com o crescimento do mercado", explicou. 
Já Luís Fernando C.S. Machado, da Divisão de Recursos Energéticos Novos e Renováveis do Ministério das Relações Exteriores, falou sobre os objetivos da Plataforma para o Biofuturo, lançada em novembro passado, na COP 22, realizada em Marraquexe, e que dá seguimento aos compromissos estabelecidos na Rio + 20, nos objetivos de desenvolvimento sustentável e no Acordo de Paris. A iniciativa representa um esforço coletivo, com a participação de países de grande potencial no setor, para acelerar o desenvolvimento e a implantação de biocombustíveis e avanços dos setores mais diversos, como alternativas sustentáveis dos combustíveis fósseis. 
Visão das players do setor sucroenergético sobre o desenvolvimento da indústria
Ao falar sobre as barreiras para o expansão do setor, Pedro Mizutani, presidente do Conselho Deliberativo da UNICA e vice-presidente de Relações Externas e Estratégicas da Raízen, afirmou que o novo ciclo de crescimento da produção dependerá de dois elementos fundamentais: a manutenção do esforço do setor privado visando novos ganhos de eficiência e produtividade e um ambiente regulatório estável, além de políticas públicas consistentes.
O executivo citou a disparidade nos tributos federais entre etanol e gasolina, dizendo que a diferença atual é significativamente inferior ao que se tinha quando os investimentos foram realizados e que o aumento no tributo cobrado sobre o etanol no início de 2017, reduziu ainda mais a sua competitividade. "No momento de decisão dos investimentos o diferencial de tributos federais era de 13 p.p. A desoneração da gasolina e a oneração do etanol em 2017, reduziu esse valor para menos da metade (6 p.p.)", explicou. 
Mizutani ressaltou ainda os desafios e ameaças de políticas protecionistas e distorcidas do mercado internacional e a vilanização do açúcar que reduzem a competitividade da commodity, citando o Projeto Doce Equilíbrio, da UNICA, que visa esclarecer o consumidor final sobre o consumo equilibrado do açúcar. Ainda neste painel, o presidente da Tietê Agroindustrial, Dário Gaeta, afirmou que o setor sucroenergético sofreu por muitos anos uma sequência de decisões equivocadas resultando no aumento de seu endividamento, colocando em risco sua capacidade de sobrevivência. "Há muitas usinas para serem compradas por US$ 1,00, basta assumir seu passivo, e muitas que ainda não fecharam, mas estarão fora de combate se não agirem imediatamente", alertou ele.
O economista Sênior do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Ernest Carter, disse que o potencial de expansão do consumo global de etanol está limitado e isso pode mudar dependendo do que acontecer nos mercados internacionais nos próximos anos. China e Índia podem alterar essa projeção, aumentando a importação, ao contrário de outros mercados, onde a previsão continua sendo de pouca demanda. Com relação à produção, Carter afirmou que a expansão deverá vir do Brasil, Argentina, Tailândia e Filipinas.
Viabilidade do etanol de segunda geração
O painel "Transformando a Economia 2G em realidade: Superando os desafios e riscos no desenvolvimento do processo", contou com palestras de Artur Milanez, gerente setorial do Departamento de Biocombustíveis do BNDES; Bernardo Silva, presidente Executivo do ABBI; Jaime Finguerut, consultor autônomo; Antonio Alberto Stuchi, diretor de tecnologias e projetos da Raízen e Martin Mitchell, gerente de Desenvolvimento de Negócios para as Américas da Clariant.
O representante do BNDS destacou a visão histórica do banco em relação à evolução da produção de etanol celulósico nos últimos 10 anos, afirmando que neste período diversas iniciativas surgindo neste sentido, mas poucas vingaram. “Com o advento do Programa PAISS, do BNDES e da Finep, lançado em 2011, nós conseguimos fomentar iniciativas de porte no Brasil, principalmente as plantas comerciais da GranBio e da Raízen. Hoje, temos seis plantas comerciais no mundo, contando com as duas brasileiras, e elas passam por desafios similares no pré-tratamento da biomassa, e cada uma tem sua estratégia para solucionar esses problemas, como ocorreu com a planta da Raízen, e isso nos deixa otimistas com o futuro da tecnologia”, elucidou, afirmando que com sua consolidação, haverá uma mudança de paradigma no segmento. 
O setor de etanol é historicamente baseado na conversão apenas do caldo da cana e o etanol 2G é permitido agregar palha e bagaço, então mudaremos o paradigma tecnológico, aumentando em até 50% o rendimento por hectare. O que era um sonho, passou a ser uma promessa e agora está muito próximo de se tornar uma realidade”, disse.
Papel de palha de cana é destaque no Sugar & Ethanol Brazil
O processo para a fabricação de papel de palha de cana foi apresentado por Mário Welber, relações institucionais da FibraResist, durante o evento. “O Grupo Cem investiu cerca de R$ 4 milhões em pesquisas para encontrar uma alternativa sustentável para a produção de celulose. Analisada por instituições, a palha da cana-de-açúcar foi indicada como compatível para o processo fabril de celulose. Assim nasceu a FibraResist, a primeira indústria do mundo a extrair pasta celulósica a partir da palha da cana, por meio de uma tecnologia exclusiva, inovadora e 100% sustentável”, explicou.
A pasta celulósica produzida pela FibraResist é matéria-prima para fabricação de papéis tissue, papel capa de 1ª (Kraftliner), papel miolo, papel cartão, papel marrom e embalagens. A planta fica localizada em Lençóis Paulista-SP, em uma área de 60 mil m², dividida entre indústria e depósito, e tem capacidade para produzir até 72 mil toneladas de pasta celulósica por ano, embora esteja funcionando em escala reduzida neste primeiro ano de atividades. “A matéria-prima é adquirida de produtores da região e já chega em nosso pátio fabril enfardada”, contou o executivo.
Saúde financeira das usinas Sucroenergéticas
De acordo com Andy Duff, gerente do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank, os preços altos e margens boas têm ajudado empresas que já estavam em uma situação financeira boa a ficar ainda melhor. Em contraste, um ou dois anos de preços altos, não resolvem os problemas das empresas com dificuldade.
"A avaliação da situação financeira de uma empresa por um banco é baseada em vários indicadores-chave. A liquidez e a estrutura de capital geralmente contam com pesos significativos", explicou o executivo, em painel que discutia a saúde financeira das unidades produtoras. Para Duff “o ano-safra 2017/2018 deverá trazer uma queda significativa dos juros, junto com margens razoáveis/boas, dando mais escopo para baixar a dívida e/ou aumentar a liquidez”, sugeriu. Já Claudio Miori, diretor do Fitchratings relevou que cerca de 56 empresas sucroenergéticas pediram RJ (recuperação judicial) nas últimas cinco safras. No total, 82 unidades produtoras estão operando em RJ ou paradas”, disse.

Segundo ele, a dívida líquida média supera faturamento anual (BRL 70 bilhões) e 15% da receita está comprometida com pagamentos de juros. Igor Ferreira Bueno, superintendente de saúde, Agronegócio e Química da Finep, falou sobre o PAISS Agrícola lançado pela empresa e o BNDES, em fevereiro de 2014, com o foco em desenvolvimento de novas variedades, novas máquinas e implementos, novas tecnologias de propagação de mudas e adaptação de sistemas industriais para outras culturas, como milho e sorgo. E citou as possibilidades de ações futuras, como a redução líquida de GEE (mitigação) com o uso de biocombustíveis avançados e da geração de energia a partir de biomassa – a partir da execução dos projetos apoiados.
O evento contou ainda com outras palestras nacionais e internacionais que abordaram diversos assuntos ligados ao setor, entre eles, as perspectivas do combustíveis para a indústria automobilística com apresentação de representantes da Toyota, BYD Brasil e Scania e projeção da safra canavieira, feita por Francisco Marcelo Rodrigues Bezerra, presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Segundo ele, a primeira estimativa do órgão para a temporada 2017/2018, é de 647 milhões de toneladas; produção de 38,70 milhões de toneladas de açúcar e 26,45 bilhões de litros de etanol.