Não são apenas as hidrelétricas do Rio Grande que sofrem com a estiagem. Sobre toda a área da bacia - que tem cerca de 143 mil km², a maior parte em São Paulo - há uma imensa bolha de calor castigando o agronegócio. Há muita terra limpa à espera da chuva para plantio de grãos. Pés de café e de laranja amarelam sob o sol. Os brotos da cana-de-açúcar da safra de 2015 não estão se desenvolvendo. Os pés têm metade, às vezes um terço, do tamanho adequado. Nesse ambiente de secura, uma praga em particular prospera: o fogo.
“Os incêndios surgem na beira das rodovias e vão consumindo tudo que há pela frente: cafezais, plantações de eucaliptos, canaviais, canteiros de rodovias, áreas de reserva”, diz Manoel Ortolan, presidente da Canaoeste, associação que reúne 2,3 mil produtores de cana de 70 municípios paulistas. “Ainda não contabilizamos os prejuízos do fogo, mas ficou claro com a seca que temos de nos preparar melhor contra ele.”
Por ironia, a cultura mais afetada pelos incêndios foi a cana - que por décadas usou o fogo para a colheita. Era assim porque o fogo consome as folhas, mas não a fruta, que permanece para ser moída na usina. Como as queimadas desgastam o solo, poluem e afetam as pessoas e o meio ambiente, foram proibidas. Adotou-se a colheita mecanizada. Nesse processo, as folhas são separadas da cana e jogadas no solo, onde ressecam e se transformam num tapete bege que protege e aduba o solo. É nessa palha que o fogo se alastra, matando os brotos da cana que estão embaixo.
Setembro e outubro foram meses dramáticos. “Em toda a região, era fogo todo dia”, diz Dorival Altino, 50 anos, fiscal de queima e proteção da Usina Batatais, no município de mesmo nome.
“Domingo passado choveu um pouquinho e o fogo sossegou, mas já secou tudo e ele voltou.” Quinta-feira, sua equipe gastou duas horas para controlar um incêndio numa área pública ao lado do canavial da usina que está brotando.
Espera. O fogo chegou a mudar a rotina dos produtores. A família Bazzo, tradicional em Terra Roxa, perdeu num único incêndio 100 hectares de cana que começava a brotar para a safra do ano que vem (algo como 100 estádios do Maracanã). “Foi-se 25% da minha produção”, diz Clemente Bazzo. “A gente só viu a fumaça subindo e já não tinha o que fazer.
Vieram caminhões-tanque das usinas, mas nada segurou o fogo, que parou no muro de casa.” Os Bazzo são conhecidos por viver para o trabalho. Os gêmeos Clemente e Camilo, 63 anos, nem sequer conhecem o mar. Mas estão parados à espera da chuva. “Não vamos plantar soja nem decidir o que fazer com a cana enquanto não chover”, diz Clemente.
Os irmãos Carlos Roberto Lovato Júnior, 36 anos, e Carlos Américo Sicchieri, 38 anos, têm convicção de que a chuva virá nesta semana. Na quarta-feira, Júnior caminhava ansioso na propriedade da família, junto à rodovia em Viradouro. Monitorava a preparação da terra. Sicchieri pilotava o trator vermelho. “Já trouxemos o trator aqui um monte de vezes, mas na terra seca ele não roda”, disse Júnior. Domingo passado choveu ali 50 mm, “um nada”, na definição dele. “Mas o suficiente para a gente ao menos preparar a terra e esperar a chuva que, dizem, agora vai começar.”
Não são apenas as hidrelétricas do Rio Grande que sofrem com a estiagem. Sobre toda a área da bacia - que tem cerca de 143 mil km², a maior parte em São Paulo - há uma imensa bolha de calor castigando o agronegócio. Há muita terra limpa à espera da chuva para plantio de grãos. Pés de café e de laranja amarelam sob o sol. Os brotos da cana-de-açúcar da safra de 2015 não estão se desenvolvendo. Os pés têm metade, às vezes um terço, do tamanho adequado. Nesse ambiente de secura, uma praga em particular prospera: o fogo.
“Os incêndios surgem na beira das rodovias e vão consumindo tudo que há pela frente: cafezais, plantações de eucaliptos, canaviais, canteiros de rodovias, áreas de reserva”, diz Manoel Ortolan, presidente da Canaoeste, associação que reúne 2,3 mil produtores de cana de 70 municípios paulistas. “Ainda não contabilizamos os prejuízos do fogo, mas ficou claro com a seca que temos de nos preparar melhor contra ele.”
Por ironia, a cultura mais afetada pelos incêndios foi a cana - que por décadas usou o fogo para a colheita. Era assim porque o fogo consome as folhas, mas não a fruta, que permanece para ser moída na usina. Como as queimadas desgastam o solo, poluem e afetam as pessoas e o meio ambiente, foram proibidas. Adotou-se a colheita mecanizada. Nesse processo, as folhas são separadas da cana e jogadas no solo, onde ressecam e se transformam num tapete bege que protege e aduba o solo. É nessa palha que o fogo se alastra, matando os brotos da cana que estão embaixo.
Setembro e outubro foram meses dramáticos. “Em toda a região, era fogo todo dia”, diz Dorival Altino, 50 anos, fiscal de queima e proteção da Usina Batatais, no município de mesmo nome.
“Domingo passado choveu um pouquinho e o fogo sossegou, mas já secou tudo e ele voltou.” Quinta-feira, sua equipe gastou duas horas para controlar um incêndio numa área pública ao lado do canavial da usina que está brotando.
Espera. O fogo chegou a mudar a rotina dos produtores. A família Bazzo, tradicional em Terra Roxa, perdeu num único incêndio 100 hectares de cana que começava a brotar para a safra do ano que vem (algo como 100 estádios do Maracanã). “Foi-se 25% da minha produção”, diz Clemente Bazzo. “A gente só viu a fumaça subindo e já não tinha o que fazer.
Vieram caminhões-tanque das usinas, mas nada segurou o fogo, que parou no muro de casa.” Os Bazzo são conhecidos por viver para o trabalho. Os gêmeos Clemente e Camilo, 63 anos, nem sequer conhecem o mar. Mas estão parados à espera da chuva. “Não vamos plantar soja nem decidir o que fazer com a cana enquanto não chover”, diz Clemente.
Os irmãos Carlos Roberto Lovato Júnior, 36 anos, e Carlos Américo Sicchieri, 38 anos, têm convicção de que a chuva virá nesta semana. Na quarta-feira, Júnior caminhava ansioso na propriedade da família, junto à rodovia em Viradouro. Monitorava a preparação da terra. Sicchieri pilotava o trator vermelho. “Já trouxemos o trator aqui um monte de vezes, mas na terra seca ele não roda”, disse Júnior. Domingo passado choveu ali 50 mm, “um nada”, na definição dele. “Mas o suficiente para a gente ao menos preparar a terra e esperar a chuva que, dizem, agora vai começar.”