O volume de chuvas registrado nas áreas de produção de cana-de-açúcar do Centro-Sul do Brasil não deve se tornar um padrão na maior parte da região durante os próximos meses, mas a perspectiva de um clima mais frio do que no ano passado, diante da formação cada vez mais provável do fenômeno La Niña ainda este ano, coloca o rendimento para a produção de açúcar em xeque.
O próximo inverno promete ser tipicamente seco no Sudeste do país, com chuvas dentro ou mesmo abaixo da média, segundo a Climatempo. As temperaturas, por sua vez, não deverão ser tão altas como no ano passado, o que tende a reter um pouco de umidade nas plantações.
O inverno seco, porém, não significa uma repetição da estiagem atípica ocorrida em abril, quando a ausência de precipitações nos principais polos produtores do Centro-Sul turbinou a moagem de cana-de-açúcar, no início da safra de 2016/17, para patamares bastante elevados.
A seca recente tanto não deve se repetir como, nas duas primeiras semanas de maio, as precipitações em algumas cidades já ultrapassaram até a média para o mês. Contudo, a previsão é de que as chuvas se prolonguem somente no máximo até a próxima semana, indicou Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo.
A tendência de um clima frio e seco pelos próximos meses deve ser intensificado pelo La Niña, que, se confirmado, sucederá um dos mais fortes El Niño de que se tem notícia. Mas as chances para a formação do fenômeno ainda são incertas. Até o momento, as probabilidades de formação do La Niña neste ano calculadas pelos principais institutos de meteorologia que acompanharam esses fenômenos oscilam entre 50% e 75%.
Assim, a umidade que deve ser observada nos próximos meses pode até continuar favorecendo um avanço mais rápido da colheita de cana e do processamento industrial, mas não terá potencial para compensar os efeitos negativos da estiagem recente sobre o desenvolvimento da cana que será colhida mais para frente. "Chuvas dentro do normal já são um sinal negativo porque o período de maio a julho já é seco", avaliou Vanessa Nardy, analista de mercado do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
Além de chuvas limitadas na maior parte dos canaviais, as previsões apontam para a queda das temperaturas, com possibilidade de amplitude térmica considerável ao longo dos dias, detalhou o meteorologista da Climatempo. E esse tempo frio costuma manter a umidade, ainda que limitada, nos pés de cana-de-açúcar.
Para Nascimento, essa característica pode levar a uma redução da concentração de sacarose na cana (o chamado ATR, Açúcar Total Recuperado) da cana que será colhida no fim da safra. Para a técnica do CTC, se o La Niña se formar, a produtividade dessas plantas pode recuar muito. "A cana colhida no fim da safra passada, entre outubro e dezembro, está em crescimento e já não recebeu chuva em abril. Se continuarmos com chuva baixa até julho, o desenvolvimento vai atrasar", sinalizou.
O rendimento da cana-de-açúcar também depende de outras variantes, como a distribuição e a intensidade das pancadas de chuva. Segundo o meteorologista da Climatempo, as precipitações em épocas de La Niña são geralmente bastante espaçadas. "O volume de chuvas costuma ficar dentro da média em anos de La Niña, mas é mais concentrado em alguns momentos", explicou Alexandre Nascimento.
Vanessa Nardy, do CTC, ressalta que a baixa intensidade das chuvas também pode ser um fator negativo para o desenvolvimento das gramíneas. "O problema é a chuva pinga-pinga, que não penetra no solo", ressaltou.
O padrão seco, porém, não deve se repetir em toda a área produtora de cana do Centro-Sul. No norte do Paraná e no sul de Mato Grosso do Sul, o tempo já tem sido mais úmido desde o fim de abril, o que chegou a provocar algumas interrupções pontuais na colheita.
Na segunda metade do mês passado, as usinas dessas duas regiões e das áreas de Araçatuba e Assis, onde as precipitações aumentaram de volume nos últimos dias de abril, processaram um volume de matéria-prima menor do que na primeira quinzena do mês, conforme o último balanço quinzenal da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). E o padrão úmido deve se manter nas próximas semanas nessas regiões.
Por Camila Souza Ramos
O volume de chuvas registrado nas áreas de produção de cana-de-açúcar do Centro-Sul do Brasil não deve se tornar um padrão na maior parte da região durante os próximos meses, mas a perspectiva de um clima mais frio do que no ano passado, diante da formação cada vez mais provável do fenômeno La Niña ainda este ano, coloca o rendimento para a produção de açúcar em xeque.
O próximo inverno promete ser tipicamente seco no Sudeste do país, com chuvas dentro ou mesmo abaixo da média, segundo a Climatempo. As temperaturas, por sua vez, não deverão ser tão altas como no ano passado, o que tende a reter um pouco de umidade nas plantações.
O inverno seco, porém, não significa uma repetição da estiagem atípica ocorrida em abril, quando a ausência de precipitações nos principais polos produtores do Centro-Sul turbinou a moagem de cana-de-açúcar, no início da safra de 2016/17, para patamares bastante elevados.
A seca recente tanto não deve se repetir como, nas duas primeiras semanas de maio, as precipitações em algumas cidades já ultrapassaram até a média para o mês. Contudo, a previsão é de que as chuvas se prolonguem somente no máximo até a próxima semana, indicou Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo.
A tendência de um clima frio e seco pelos próximos meses deve ser intensificado pelo La Niña, que, se confirmado, sucederá um dos mais fortes El Niño de que se tem notícia. Mas as chances para a formação do fenômeno ainda são incertas. Até o momento, as probabilidades de formação do La Niña neste ano calculadas pelos principais institutos de meteorologia que acompanharam esses fenômenos oscilam entre 50% e 75%.
Assim, a umidade que deve ser observada nos próximos meses pode até continuar favorecendo um avanço mais rápido da colheita de cana e do processamento industrial, mas não terá potencial para compensar os efeitos negativos da estiagem recente sobre o desenvolvimento da cana que será colhida mais para frente. "Chuvas dentro do normal já são um sinal negativo porque o período de maio a julho já é seco", avaliou Vanessa Nardy, analista de mercado do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).
Além de chuvas limitadas na maior parte dos canaviais, as previsões apontam para a queda das temperaturas, com possibilidade de amplitude térmica considerável ao longo dos dias, detalhou o meteorologista da Climatempo. E esse tempo frio costuma manter a umidade, ainda que limitada, nos pés de cana-de-açúcar.
Para Nascimento, essa característica pode levar a uma redução da concentração de sacarose na cana (o chamado ATR, Açúcar Total Recuperado) da cana que será colhida no fim da safra. Para a técnica do CTC, se o La Niña se formar, a produtividade dessas plantas pode recuar muito. "A cana colhida no fim da safra passada, entre outubro e dezembro, está em crescimento e já não recebeu chuva em abril. Se continuarmos com chuva baixa até julho, o desenvolvimento vai atrasar", sinalizou.
O rendimento da cana-de-açúcar também depende de outras variantes, como a distribuição e a intensidade das pancadas de chuva. Segundo o meteorologista da Climatempo, as precipitações em épocas de La Niña são geralmente bastante espaçadas. "O volume de chuvas costuma ficar dentro da média em anos de La Niña, mas é mais concentrado em alguns momentos", explicou Alexandre Nascimento.
Vanessa Nardy, do CTC, ressalta que a baixa intensidade das chuvas também pode ser um fator negativo para o desenvolvimento das gramíneas. "O problema é a chuva pinga-pinga, que não penetra no solo", ressaltou.
O padrão seco, porém, não deve se repetir em toda a área produtora de cana do Centro-Sul. No norte do Paraná e no sul de Mato Grosso do Sul, o tempo já tem sido mais úmido desde o fim de abril, o que chegou a provocar algumas interrupções pontuais na colheita.
Na segunda metade do mês passado, as usinas dessas duas regiões e das áreas de Araçatuba e Assis, onde as precipitações aumentaram de volume nos últimos dias de abril, processaram um volume de matéria-prima menor do que na primeira quinzena do mês, conforme o último balanço quinzenal da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). E o padrão úmido deve se manter nas próximas semanas nessas regiões.
Por Camila Souza Ramos