GAF 16 aponta caminhos para o agronegócio brasileiro

20/10/2016 Agronegócio POR: Andréia Vital, Revista Canavieiros, edição 124
São Paulo virou a capital do agronegócio no começo de julho quando ocorreu o GAF (Global Agribusiness Forum 2016), evento que reuniu os grandes expoentes da agricultura mundial para discutir o tema "Agropecuária do Amanhã: Fazer mais com menos - Disseminando as bases do desenvolvimento sustentável". O encontro, realizado pela DATAGRO, juntamente com a SRB (Sociedade Rural Brasileira), Abramilho (Associação Brasileira de Produtores de Milho) e ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) contou com a participação de mais de 1,4 mil profissionais de todo o mundo.
“O agronegócio precisa trabalhar o máximo possível para depender o mínimo possível do governo”, enfatizou na abertura, o presidente do GAF, Cesário Ramalho. Segundo ele, o governo cresce mais do que a iniciativa privada e isso precisa mudar. “O agronegócio tem que mostrar a competência da iniciativa privada”, afirmou. Já Plínio Nastari, presidente da DATAGRO, reforçou a importância da realização do encontro global, que acontece a cada dois anos no Brasil e conta com apoio dos EUA, da Comissão Europeia, França, Canadá, Austrália, Singapura, Turquia e Cuba, entre outros países, além de organizações de commodities e de mais de 120 associações de produtores de todo o mundo.
“O evento tem como objetivo discutir o futuro da agricultura, da pecuária e do agronegócio a nível global. Existe no mundo uma atenção muito grande sobre o protagonismo que o Brasil já realiza e deve continuar expandindo com a expectativa que até 2050, 40% do aumento da produção venha daqui. Então personalidades de renome, pesquisadores formadores de políticas públicas do mundo inteiro comparecem ao GAF para discutir esses elementos”, disse ele, lembrando que a educação do produtor e do consumidor também fez parte dos debates. 
Classe política participa em peso do evento
A potência do agronegócio foi destacada por Michel Temer, presidente em exercício, na ocasião, ao afirmar que o Brasil é um grande celeiro do mundo e que a população deve muito à agricultura. 
“O agronegócio atualmente responde
por mais de 40% das exportações, 25% da geração de empregos e 20% do Produto Interno Bruto”, lembrou o presidente, que recebeu dos organizadores do evento, um manifesto favorável ao seu governo de transição. O documento, assinado por 46 entidades de vários segmentos do agrobrasileiro, destacava a importância do setor produtivo na geração de divisas, emprego, renda e estratégias para o desenvolvimento sustentável do Brasil.
Temer afirmou ainda que em algum momento, irá implantar medidas mais impopulares. “As pessoas me perguntam, mas você não teme propor medidas impopulares? Eu digo, não, porque o meu objetivo não é eleitoral, meu objetivo nestes dois anos e meio, ainda há o episódio do Senado Federal, sou cauteloso em relação a isso. Se conseguir colocar o Brasil nos trilhos para mim é o quanto basta, eu não quero mais nada da vida pública”, concluiu, sendo muito aplaudido pelos participantes do evento.
A importância do agro também esteve presente no discurso do ministro das Relações Exteriores, José Serra, ao afirmar que o setor tem peso no comércio internacional, sendo o responsável por mais de 40% das exportações e 20% do PIB (Produto Interno Bruto), além de dar sustentação à balança de pagamento. “O Brasil é um país com grande potencial para exportar cada vez mais alimentos, mas é preciso reduzir o custo Brasil, pois os tributos oneram as exportações”, disse ele, citando ainda, que melhorar a infraestrutura também é essencial para que isso aconteça.
Serra destacou também as atividades da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). “A China é um dos nossos focos, tanto que criamos departamentos específicos, na Apex e no Ministério da Agricultura, para cuidar deste mercado”, contou. Além de Serra, o evento contou com a presença do ministro Fernando Bezerra Correia Filho, de Minas e Energia.
Fazer mais com menos “Queremos desburocratizar o ministério, simplificar as regras para conseguir ampliar a participação do agronegócio brasileiro no mercado internacional dos 7% atuais para 10% nos próximos cinco anos”, afirmou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, ao participar do fórum. Neste sentido, segundo o ministro, reuniões estão sendo feitas para limpar a pauta, com representantes dos diversos setores da agricultura. “Não temos dinheiro para inventar coisas novas, criar novos programas. Temos que olhar para dentro do nosso negócio e resolver grande parte dos problemas que aqui estão e não significam gastos, não significam dinheiro, significam atitude e decisão política de fazer”, disse, esclarecendo que o momento é de fazer mais com menos, justamente como propõe o GAF, lembrou.
Maggi pontuou que há possibilidade de aumentar a participação do etanol no mercado internacional e que pretende tomar as medidas que cabem ao ministério para ajudar o setor sucroenergético a “sair do vermelho”. O potencial do segmento, como da agricultura nacional, é apontado como principal ator para atender a crescente demanda futura com o aumento previsto da população mundial.
“Se olharmos para os países produtores de alimentos, vemos que o Brasil tem um potencial enorme para atender essa necessidade, temos terra e água disponíveis ao contrário de outros países produtores”, disse o ministro. Ele ainda ressaltou que o mundo fala muito de preservação e critica o Brasil nesta modalidade, mas desconhece o que o país faz neste sentido, mostrando que 61% do território nacional ainda tem vegetação nativa e somente 11% desse total está em propriedades rurais, sendo que após o CAR (Cadastro Ambiental Rural), representará somente 7% ou 8% desse percentual. “Com cerca de 80% do CAR implantado, o total de vegetação nativa nos imóveis rurais, já ultrapassa 97 milhões de hectares. É possível que no final do cadastramento, as áreas agrícolas preservem tanto ou mais vegetação nativa que o conjunto das unidades de Conservação”, comentou.
Apesar de concordar com o ministro da Agricultura, que afirmou na oportunidade, que há muito espaço para o etanol crescer em termos de exportação, Elizabeth Farina, presidente da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), ponderou que para isso acontecer, há muito ainda que se avançar. “Este ano é um ano melhor do que os anos passados para o setor sucroenergético.
Começamos a safra com preços melhores, porém ainda se enfrenta uma situação muito difícil, principalmente, de endividamento de grande parte das usinas. De fato, estamos em uma situação melhor, mas está longe de estar tudo equacionado, como também, está longe de ter uma retomada de investimentos para recuperar a capacidade de processamento, a capacidade industrial das usinas. Tem muita coisa para fazer ainda, muita conversa para ter com ministros e presidente da República”, afirmou ela nos bastidores do evento.
Homenagens
“Em reconhecimento à enorme contribuição que o Banco e a Fundação Bradesco têm dado à formação de mão-de-obra no setor da agropecuária e o seu apoio ao financiamento da atividade agropecuária, as entidades representativas do segmento reunidas no GAF homenageiam o presidente do conselho da administração do banco, senhor Lázaro de Mello Brandão”, disse Plínio Nastari, presidente da DATAGRO, durante o primeiro dia do GAF 2016. Uma placa foi entregue pelo presidente em exercício, Michel Temer, a Brandão. Na ocasião, o coral e outros 30 alunos da fundação participaram do evento.
O reconhecimento pela condução do agro e de atividades ligadas a institutos de pesquisas também foi feito ao governador de Mato Grosso, Pedro Taques, e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também fizeram parte das homenagens do dia. “Este é o setor que está salvando a lavoura brasileira. Vai muito bem e é o mais eficiente dos trópicos. Com empenho, inovação e sustentabilidade permanentes, o agronegócio paulista tem superado grandes desafios de logística e estrutura”, ressaltou Alckmin ao receber a homenagem pelo trabalho de inovação tecnológica, desenvolvido pelos institutos de pesquisa ligados à APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O governador recebeu a placa dos presidentes da SRB, Gustavo Junqueira, da ABCZ, Luiz Cláudio Paranhos e da Abramilho, Sérgio Bortolozzo.
A participação de representantes do governo no evento foi considerada muito importante pelo presidente da Canaoeste, Manoel Ortolan, “Se eles vieram é porque acreditam no agronegócio, sinaliza um apoio ao setor”, disse ele, lembrando que o setor é o carro chefe do país e vem há tempos mantendo a balança comercial brasileira.
Cartas na mesa
Os desafios e oportunidades do agronegócio brasileiro, assim como a promoção comercial, o desafio de abastecer o mundo; a produção sustentável, as projeções globais para a agricultura até 2050 foram debatidos em 10 painéis por especialistas de vários países.
Ao falar sobre segurança alimentar e geopolítica, primeiro painel do fórum, Marcos Jank, vice-presidente de Assuntos Corporativos e Desenvolvimento de Negócios da BR Foods, afirmou que o Brasil precisa melhorar em cinco pontos para conseguir vencer os desafios promoção do comércio, criar uma melhor imagem do país, tornar-se parte de uma cadeia de valor global e aumentar sua competitividade, neste caso, reduzindo os custos de infraestrutura e gerando mais produtividade. “Ter uma vi são de interação da cadeia de valor é um desafio à negociação, não de acesso ao mercado de um ou outro produto, mas para se pensar em parceria estratégica de 20 a 30 anos para resolver o problema de segurança alimentar”, explicou, destacando ainda que, a parceria entre Brasil e China deve ser intensificada devido à demanda existente ali.
Seu companheiro de painel, Luiz Vieira, vice-presidente da PWC Brasil, também apontou atenção para países asiáticos. “51% da população mundial vive na Ásia, que é o maior importador global de alimentos”, elucidou. Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil, afirmou na oportunidade, que cabe à população ficar contra o desperdício de alimentos. "É inaceitável que um terço da produção mundial de alimentos é jogado fora", alertou. O painel contou ainda com apresentação de Jean-Pierre Lehmann, professor da universidade de Hong Kong.
Reconhecimento para o etanol
Durante o painel “Agricultura energética como fator de desenvolvimento”, Erasmo Carlos Battistella, presidente da Aprobio (Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil), debateu o tema com Luis Roberto Pogetti, presidente do Conselho da Copersucar; Jacyr Costa Filho, diretor presidente da Tereos; e Monte Shaw, diretor-executivo da Iowa Renewable Fuels.  
De acordo com Battistella, o programa de biodiesel gerou muitos resultados positivos ao país, vencendo os desafios e respondendo à demanda e que a produção tem espaço para crescer. “É preciso mais apoio político para o setor se desenvolver, senão o seu crescimento fica limitado quando não há incentivos para o aumento da mistura”, assegura, lembrando que, atualmente, o percentual de biodiesel adicionado ao óleo diesel é de 7% e que este ano a comercialização de biodiesel prevista é de 4,1 bilhões de litros. “Com a aprovação do B15, o mercado tem condições de produzir 10 bilhões de litros por ano até 2020”, estimou.
A necessidade de políticas públicas para o setor também foi apontada por Pogetti. “É preciso o reconhecimento para o etanol e de políticas públicas de longo prazo que reconheçam as externalidades positivas do combustível limpo, ou então que penalizem o combustível fóssil”, afirmou dizendo que até 2030, o Brasil pode produzir 54 bilhões de litros de etanol. “A cada litro de etanol produzido, deixamos de jogar 2 mil kg de carbono na atmosfera”, assegurou. Já o diretor presidente da Tereos destacou a importância do etanol para o meio ambiente. “Hoje, vivemos um cenário de alta produtividade no agronegócio e não podemos deixar de pensar e praticar a sustentabilidade neste setor, principalmente diante das metas propostas durante a COP 21. Para o setor sucroenergético, especificamente, temos o grande desafio de dobrar a produção do etanol de cana para colaborar com a redução dos gases de efeito estufa”, disse.
No caso do açúcar, ao explanar no painel sobre mercados, José Orive, diretor executivo da ISO (International Sugar Organization) afirmou que, pela primeira vez, desde 2008/09, o deficit de açúcar deverá ficar acima de sete milhões de toneladas. Segundo ele, o clima foi um dos fatores cruciais para a queda na produção da commodity no globo. “O consumo mundial em 2015/16 deverá crescer 1,83%, registrando 170,556 milhões de toneladas. A taxa de crescimento previsto é menor do que a média de 10 anos: 1,93%”, disse ele.
Consumidor
A importância do posicionamento do consumidor diante do agronegócio foi destacada por Nizan Guanaes, fundador do Grupo ABC, durante painel moderado pelo presidente da DATAGRO. "O programa social que o Brasil precisa é Minha Empresa, Minha Vida" afirmou Guanaes. O publicitário ressaltou também que o mercado passa por uma revolução, portanto, além de se comunicar melhor, é preciso saber qual o desejo do consumido. “O agronegócio brasileiro precisa mostrar mais suas externalidades e ser do "tamanho que é" destacando sua importância para o mundo”, ressaltou.
Drauzio Varella, oncologista e autor de diversos artigos sobre qualidade dos alimentos, também participou do fórum e deu sua visão sobre os ataques a alguns alimentos, como a carne vermelha e os transgênicos. “Não existe, mundialmente, nenhum estudo que mostre algum malefício desta tecnologia (transgênicos) à saúde humana, dos animais e/ou ao meio ambiente”, ponderou. “A transgenia foi envolvida numa discussão absurda, ignorante, de quem não tem informação científica alguma”, disse o especialista, explicando que a transgenia simplesmente acelera a seleção natural de variedades de plantas, o que já é feito de modo empírico há milhares de anos na agricultura e também na medicina.
No caso das carnes vermelhas, o médico disse que não há nenhum estudo científico que comprove, por exemplo, a relação entre o seu consumo e problemas cardíacos e que os estudos que existem na área de saúde e nutrição são conflitantes.
Tecnologia é essencial para o desenvolvimento da agricultura
“A agricultura digital está para a lavoura assim como o aplicativo ‘Waze’ está para o tráfego nas grandes cidades”, afirmou Rodrigo Santos, CEO da Monsanto Company na América Latina, ao apresentar a palestra Tecnologia ou ideologia. Segundo ele, 95% do aumento da produção mundial de alimentos demandados a partir de agora terão que vir de ganhos de produtividade. “As tecnologias que auxiliam o agricultor a fazer mais com menos, de modo mais eficiente, rápido e com menos custos, serão cada vez mais necessárias”, destacou.
A tecnologia também foi tema do último painel do fórum, que contou com moderação de Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e teve Warren Preston, economista chefe do Departamento de Agricultura dos Estado Unidos, também como palestrante. “A Agricultura não pode ser vista como problema, mas como solução e componente crítico na busca de um futuro sustentável”, afirmou de Maurício Lopes, presidente da Embrapa, ao apresentar a palestra “Agricultura na Transformação Digital”. Ao falar sobre projeções futuras para o agro, pontuou que é preciso elevar a produtividade e qualidade com tecnologias de baixo impacto, reduzir riscos e emissões, poupando recursos, agregando valor, assim eleva-se a renda, diversificando a produção. “É necessário para responder às expectativas de uma sociedade mais exigente e atender mercados mais sofisticados, competitivose rentáveis”, concluiu.
Durante o GAF foram discutidos ainda planejamento da agricultura para o futuro, desafios do abastecimento global e produção sustentável, entre outros assuntos debatidos por José Manuel Silva Rodríguez, ex-diretor geral de agricultura da Comissão Europeia; Juan Carlos Marroquín, presidente da Nestlé Brasil e Julius Schaaf, ex-presidente da United States Grains Council e Maizall, José Maria Sumpsi, presidente da Fundação Triptolemos, da Espanha, Itamar Glazer, diretor da ARO (Agricultural Reserarch Organization) e professor da Hebrew University, de Israel, Lawrence Summers, o ex-secretário do tesouro dos EUA, Warren Preston, Deputy Chief Economist, USDA, Washington, EUA. e Darci Vetter, embaixadora americana, entre outros.
São Paulo virou a capital do agronegócio no começo de julho quando ocorreu o GAF (Global Agribusiness Forum 2016), evento que reuniu os grandes expoentes da agricultura mundial para discutir o tema "Agropecuária do Amanhã: Fazer mais com menos - Disseminando as bases do desenvolvimento sustentável". O encontro, realizado pela DATAGRO, juntamente com a SRB (Sociedade Rural Brasileira), Abramilho (Associação Brasileira de Produtores de Milho) e ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) contou com a participação de mais de 1,4 mil profissionais de todo o mundo.
“O agronegócio precisa trabalhar o máximo possível para depender o mínimo possível do governo”, enfatizou na abertura, o presidente do GAF, Cesário Ramalho. Segundo ele, o governo cresce mais do que a iniciativa privada e isso precisa mudar. “O agronegócio tem que mostrar a competência da iniciativa privada”, afirmou. Já Plínio Nastari, presidente da DATAGRO, reforçou a importância da realização do encontro global, que acontece a cada dois anos no Brasil e conta com apoio dos EUA, da Comissão Europeia, França, Canadá, Austrália, Singapura, Turquia e Cuba, entre outros países, além de organizações de commodities e de mais de 120 associações de produtores de todo o mundo.
“O evento tem como objetivo discutir o futuro da agricultura, da pecuária e do agronegócio a nível global. Existe no mundo uma atenção muito grande sobre o protagonismo que o Brasil já realiza e deve continuar expandindo com a expectativa que até 2050, 40% do aumento da produção venha daqui. Então personalidades de renome, pesquisadores formadores de políticas públicas do mundo inteiro comparecem ao GAF para discutir esses elementos”, disse ele, lembrando que a educação do produtor e do consumidor também fez parte dos debates. 
Classe política participa em peso do evento
A potência do agronegócio foi destacada por Michel Temer, presidente em exercício, na ocasião, ao afirmar que o Brasil é um grande celeiro do mundo e que a população deve muito à agricultura.
“O agronegócio atualmente responde

 
por mais de 40% das exportações, 25% da geração de empregos e 20% do Produto Interno Bruto”, lembrou o presidente, que recebeu dos organizadores do evento, um manifesto favorável ao seu governo de transição. O documento, assinado por 46 entidades de vários segmentos do agrobrasileiro, destacava a importância do setor produtivo na geração de divisas, emprego, renda e estratégias para o desenvolvimento sustentável do Brasil.
Temer afirmou ainda que em algum momento, irá implantar medidas mais impopulares. “As pessoas me perguntam, mas você não teme propor medidas impopulares? Eu digo, não, porque o meu objetivo não é eleitoral, meu objetivo nestes dois anos e meio, ainda há o episódio do Senado Federal, sou cauteloso em relação a isso. Se conseguir colocar o Brasil nos trilhos para mim é o quanto basta, eu não quero mais nada da vida pública”, concluiu, sendo muito aplaudido pelos participantes do evento.
A importância do agro também esteve presente no discurso do ministro das Relações Exteriores, José Serra, ao afirmar que o setor tem peso no comércio internacional, sendo o responsável por mais de 40% das exportações e 20% do PIB (Produto Interno Bruto), além de dar sustentação à balança de pagamento. “O Brasil é um país com grande potencial para exportar cada vez mais alimentos, mas é preciso reduzir o custo Brasil, pois os tributos oneram as exportações”, disse ele, citando ainda, que melhorar a infraestrutura também é essencial para que isso aconteça.
Serra destacou também as atividades da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). “A China é um dos nossos focos, tanto que criamos departamentos específicos, na Apex e no Ministério da Agricultura, para cuidar deste mercado”, contou. Além de Serra, o evento contou com a presença do ministro Fernando Bezerra Correia Filho, de Minas e Energia.
Fazer mais com menos “Queremos desburocratizar o ministério, simplificar as regras para conseguir ampliar a participação do agronegócio brasileiro no mercado internacional dos 7% atuais para 10% nos próximos cinco anos”, afirmou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, ao participar do fórum. Neste sentido, segundo o ministro, reuniões estão sendo feitas para limpar a pauta, com representantes dos diversos setores da agricultura. “Não temos dinheiro para inventar coisas novas, criar novos programas. Temos que olhar para dentro do nosso negócio e resolver grande parte dos problemas que aqui estão e não significam gastos, não significam dinheiro, significam atitude e decisão política de fazer”, disse, esclarecendo que o momento é de fazer mais com menos, justamente como propõe o GAF, lembrou.
Maggi pontuou que há possibilidade de aumentar a participação do etanol no mercado internacional e que pretende tomar as medidas que cabem ao ministério para ajudar o setor sucroenergético a “sair do vermelho”. O potencial do segmento, como da agricultura nacional, é apontado como principal ator para atender a crescente demanda futura com o aumento previsto da população mundial.
“Se olharmos para os países produtores de alimentos, vemos que o Brasil tem um potencial enorme para atender essa necessidade, temos terra e água disponíveis ao contrário de outros países produtores”, disse o ministro. Ele ainda ressaltou que o mundo fala muito de preservação e critica o Brasil nesta modalidade, mas desconhece o que o país faz neste sentido, mostrando que 61% do território nacional ainda tem vegetação nativa e somente 11% desse total está em propriedades rurais, sendo que após o CAR (Cadastro Ambiental Rural), representará somente 7% ou 8% desse percentual. “Com cerca de 80% do CAR implantado, o total de vegetação nativa nos imóveis rurais, já ultrapassa 97 milhões de hectares. É possível que no final do cadastramento, as áreas agrícolas preservem tanto ou mais vegetação nativa que o conjunto das unidades de Conservação”, comentou.
Apesar de concordar com o ministro da Agricultura, que afirmou na oportunidade, que há muito espaço para o etanol crescer em termos de exportação, Elizabeth Farina, presidente da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), ponderou que para isso acontecer, há muito ainda que se avançar. “Este ano é um ano melhor do que os anos passados para o setor sucroenergético.
Começamos a safra com preços melhores, porém ainda se enfrenta uma situação muito difícil, principalmente, de endividamento de grande parte das usinas. De fato, estamos em uma situação melhor, mas está longe de estar tudo equacionado, como também, está longe de ter uma retomada de investimentos para recuperar a capacidade de processamento, a capacidade industrial das usinas. Tem muita coisa para fazer ainda, muita conversa para ter com ministros e presidente da República”, afirmou ela nos bastidores do evento.
Homenagens
“Em reconhecimento à enorme contribuição que o Banco e a Fundação Bradesco têm dado à formação de mão-de-obra no setor da agropecuária e o seu apoio ao financiamento da atividade agropecuária, as entidades representativas do segmento reunidas no GAF homenageiam o presidente do conselho da administração do banco, senhor Lázaro de Mello Brandão”, disse Plínio Nastari, presidente da DATAGRO, durante o primeiro dia do GAF 2016. Uma placa foi entregue pelo presidente em exercício, Michel Temer, a Brandão. Na ocasião, o coral e outros 30 alunos da fundação participaram do evento.
O reconhecimento pela condução do agro e de atividades ligadas a institutos de pesquisas também foi feito ao governador de Mato Grosso, Pedro Taques, e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também fizeram parte das homenagens do dia. “Este é o setor que está salvando a lavoura brasileira. Vai muito bem e é o mais eficiente dos trópicos. Com empenho, inovação e sustentabilidade permanentes, o agronegócio paulista tem superado grandes desafios de logística e estrutura”, ressaltou Alckmin ao receber a homenagem pelo trabalho de inovação tecnológica, desenvolvido pelos institutos de pesquisa ligados à APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O governador recebeu a placa dos presidentes da SRB, Gustavo Junqueira, da ABCZ, Luiz Cláudio Paranhos e da Abramilho, Sérgio Bortolozzo.
A participação de representantes do governo no evento foi considerada muito importante pelo presidente da Canaoeste, Manoel Ortolan, “Se eles vieram é porque acreditam no agronegócio, sinaliza um apoio ao setor”, disse ele, lembrando que o setor é o carro chefe do país e vem há tempos mantendo a balança comercial brasileira.
Cartas na mesa
Os desafios e oportunidades do agronegócio brasileiro, assim como a promoção comercial, o desafio de abastecer o mundo; a produção sustentável, as projeções globais para a agricultura até 2050 foram debatidos em 10 painéis por especialistas de vários países.
Ao falar sobre segurança alimentar e geopolítica, primeiro painel do fórum, Marcos Jank, vice-presidente de Assuntos Corporativos e Desenvolvimento de Negócios da BR Foods, afirmou que o Brasil precisa melhorar em cinco pontos para conseguir vencer os desafios promoção do comércio, criar uma melhor imagem do país, tornar-se parte de uma cadeia de valor global e aumentar sua competitividade, neste caso, reduzindo os custos de infraestrutura e gerando mais produtividade. “Ter uma vi são de interação da cadeia de valor é um desafio à negociação, não de acesso ao mercado de um ou outro produto, mas para se pensar em parceria estratégica de 20 a 30 anos para resolver o problema de segurança alimentar”, explicou, destacando ainda que, a parceria entre Brasil e China deve ser intensificada devido à demanda existente ali.
Seu companheiro de painel, Luiz Vieira, vice-presidente da PWC Brasil, também apontou atenção para países asiáticos. “51% da população mundial vive na Ásia, que é o maior importador global de alimentos”, elucidou. Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil, afirmou na oportunidade, que cabe à população ficar contra o desperdício de alimentos. "É inaceitável que um terço da produção mundial de alimentos é jogado fora", alertou. O painel contou ainda com apresentação de Jean-Pierre Lehmann, professor da universidade de Hong Kong.
Reconhecimento para o etanol
Durante o painel “Agricultura energética como fator de desenvolvimento”, Erasmo Carlos Battistella, presidente da Aprobio (Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil), debateu o tema com Luis Roberto Pogetti, presidente do Conselho da Copersucar; Jacyr Costa Filho, diretor presidente da Tereos; e Monte Shaw, diretor-executivo da Iowa Renewable Fuels.  

 
De acordo com Battistella, o programa de biodiesel gerou muitos resultados positivos ao país, vencendo os desafios e respondendo à demanda e que a produção tem espaço para crescer. “É preciso mais apoio político para o setor se desenvolver, senão o seu crescimento fica limitado quando não há incentivos para o aumento da mistura”, assegura, lembrando que, atualmente, o percentual de biodiesel adicionado ao óleo diesel é de 7% e que este ano a comercialização de biodiesel prevista é de 4,1 bilhões de litros. “Com a aprovação do B15, o mercado tem condições de produzir 10 bilhões de litros por ano até 2020”, estimou.

A necessidade de políticas públicas para o setor também foi apontada por Pogetti. “É preciso o reconhecimento para o etanol e de políticas públicas de longo prazo que reconheçam as externalidades positivas do combustível limpo, ou então que penalizem o combustível fóssil”, afirmou dizendo que até 2030, o Brasil pode produzir 54 bilhões de litros de etanol. “A cada litro de etanol produzido, deixamos de jogar 2 mil kg de carbono na atmosfera”, assegurou. Já o diretor presidente da Tereos destacou a importância do etanol para o meio ambiente. “Hoje, vivemos um cenário de alta produtividade no agronegócio e não podemos deixar de pensar e praticar a sustentabilidade neste setor, principalmente diante das metas propostas durante a COP 21. Para o setor sucroenergético, especificamente, temos o grande desafio de dobrar a produção do etanol de cana para colaborar com a redução dos gases de efeito estufa”, disse.
No caso do açúcar, ao explanar no painel sobre mercados, José Orive, diretor executivo da ISO (International Sugar Organization) afirmou que, pela primeira vez, desde 2008/09, o deficit de açúcar deverá ficar acima de sete milhões de toneladas. Segundo ele, o clima foi um dos fatores cruciais para a queda na produção da commodity no globo. “O consumo mundial em 2015/16 deverá crescer 1,83%, registrando 170,556 milhões de toneladas. A taxa de crescimento previsto é menor do que a média de 10 anos: 1,93%”, disse ele.
Consumidor
A importância do posicionamento do consumidor diante do agronegócio foi destacada por Nizan Guanaes, fundador do Grupo ABC, durante painel moderado pelo presidente da DATAGRO. "O programa social que o Brasil precisa é Minha Empresa, Minha Vida" afirmou Guanaes. O publicitário ressaltou também que o mercado passa por uma revolução, portanto, além de se comunicar melhor, é preciso saber qual o desejo do consumido. “O agronegócio brasileiro precisa mostrar mais suas externalidades e ser do "tamanho que é" destacando sua importância para o mundo”, ressaltou.
Drauzio Varella, oncologista e autor de diversos artigos sobre qualidade dos alimentos, também participou do fórum e deu sua visão sobre os ataques a alguns alimentos, como a carne vermelha e os transgênicos. “Não existe, mundialmente, nenhum estudo que mostre algum malefício desta tecnologia (transgênicos) à saúde humana, dos animais e/ou ao meio ambiente”, ponderou. “A transgenia foi envolvida numa discussão absurda, ignorante, de quem não tem informação científica alguma”, disse o especialista, explicando que a transgenia simplesmente acelera a seleção natural de variedades de plantas, o que já é feito de modo empírico há milhares de anos na agricultura e também na medicina.
No caso das carnes vermelhas, o médico disse que não há nenhum estudo científico que comprove, por exemplo, a relação entre o seu consumo e problemas cardíacos e que os estudos que existem na área de saúde e nutrição são conflitantes.

Tecnologia é essencial para o desenvolvimento da agricultura

“A agricultura digital está para a lavoura assim como o aplicativo ‘Waze’ está para o tráfego nas grandes cidades”, afirmou Rodrigo Santos, CEO da Monsanto Company na América Latina, ao apresentar a palestra Tecnologia ou ideologia. Segundo ele, 95% do aumento da produção mundial de alimentos demandados a partir de agora terão que vir de ganhos de produtividade. “As tecnologias que auxiliam o agricultor a fazer mais com menos, de modo mais eficiente, rápido e com menos custos, serão cada vez mais necessárias”, destacou.

A tecnologia também foi tema do último painel do fórum, que contou com moderação de Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e teve Warren Preston, economista chefe do Departamento de Agricultura dos Estado Unidos, também como palestrante. “A Agricultura não pode ser vista como problema, mas como solução e componente crítico na busca de um futuro sustentável”, afirmou de Maurício Lopes, presidente da Embrapa, ao apresentar a palestra “Agricultura na Transformação Digital”. Ao falar sobre projeções futuras para o agro, pontuou que é preciso elevar a produtividade e qualidade com tecnologias de baixo impacto, reduzir riscos e emissões, poupando recursos, agregando valor, assim eleva-se a renda, diversificando a produção. “É necessário para responder às expectativas de uma sociedade mais exigente e atender mercados mais sofisticados, competitivose rentáveis”, concluiu.
Durante o GAF foram discutidos ainda planejamento da agricultura para o futuro, desafios do abastecimento global e produção sustentável, entre outros assuntos debatidos por José Manuel Silva Rodríguez, ex-diretor geral de agricultura da Comissão Europeia; Juan Carlos Marroquín, presidente da Nestlé Brasil e Julius Schaaf, ex-presidente da United States Grains Council e Maizall, José Maria Sumpsi, presidente da Fundação Triptolemos, da Espanha, Itamar Glazer, diretor da ARO (Agricultural Reserarch Organization) e professor da Hebrew University, de Israel, Lawrence Summers, o ex-secretário do tesouro dos EUA, Warren Preston, Deputy Chief Economist, USDA, Washington, EUA. e Darci Vetter, embaixadora americana, entre outros.