Grupo argelino chega ao Brasil e quer investir US$ 2 bilhões

14/05/2015 Logística POR: Valor Econômico
O grupo argelino Cevital prepara um desembarque retumbante no Brasil. Tradicional importadora de
commodities agrícolas do país, a empresa está estruturando um plano de negócios que prevê investimentos
iniciais de mais de US$ 2 bilhões no processamento de grãos e na logística para o escoamento pelo Norte
brasileiro. A companhia já começou a adquirir terrenos e a expectativa é dar a partida nas operações em 2020.
"O ponto central desse movimento da Cevital é o reforço da segurança alimentar. E não apenas da Argélia, mas
também de países africanos vizinhos", disse ao Valor Paulo Hegg, representante do grupo no Brasil. Engenheiro
de formação, Hegg é da família fundadora da Laticínios Tirolez e cuida dos negócios de exportação da empresa de
queijos. Há cinco anos, passou a se dedicar também à produção de grãos e fibras no Sudão, leste da África, onde
conheceu a Cevital.
A família Rebrab, proprietária da Cevital, estudava a compra de usinas de açúcar no Sudão quando foi
apresentada a Hegg, em 2013. "O Ministério da Agricultura do Sudão, que é nosso sócio lá, sugeriu a eles que
conhecessem o nosso projeto", disse o brasileiro. As conversas revelaram que a empresa já comprava do Brasil US$
1,5 bilhão por ano em soja, milho e açúcar ­ montante que corresponde a 75% do comércio Brasil­Argélia, que é de
US$ 2 bilhões, conforme Hegg. "Mas essas negociações vinham sendo feitas por meio de tradings e achamos que a
empresa tinha que começar a fazer originação, conhecer melhor o Brasil".
Criada nos anos 1970 ­ e hoje a maior empresa privada argelina, com cerca de 15 mil funcionários ­, a Cevital
originalmente se dedicava à metalurgia e à indústria de vidros. A entrada no agronegócio ocorreu apenas no fim
da década de 1990, mas o setor já responde por cerca de 50% do faturamento total da empresa, que deve alcançar
US$ 8 bilhões em 2015. Na Argélia, a Cevital está voltada principalmente à produção de hortaliças e frutas, mas
em pequenas áreas, devido às limitações geográficas.
A mudança na Lei dos Portos no Brasil, ainda em 2013, que facilitou a instalação de novos terminais privados, foi
a deixa para que a Cevital decidisse se posicionar mais firmemente no país. "Como já tem o know­how do porto
próprio [em Bejaia, na Argélia], a companhia ficou interessada", afirmou Hegg. A Cevital constituiu então um
grupo técnico e o brasileiro passou a ajudá­la com a seleção de lugares a serem visitados, estudo de terrenos e
conversas com autoridades, preparando a implantação de uma estrutura que ainda está em formação.
As atenções do grupo se voltaram ao transporte fluvial e, naturalmente, à saída pelo Norte do país, que tem sido
alvo das maiores apostas para destravar o escoamento da produção nacional de grãos do Centro­Oeste, ainda
concentrado no eixo Sul­Sudeste.
A companhia argelina já adquiriu dois terrenos para os terminais fluviais, um em Miritituba e outro em Santarém,
por meio dos quais pretende movimentar de 3 milhões a 4 milhões de toneladas por ano. Em Miritituba, estão
previstos US$ 150 milhões em um terminal para transbordo, de caminhões para barcaças. Em Santarém, será
absorvido um montante maior: US$ 1,5 bilhão em uma agroindústria e um terminal fluvial­marítimo, para
transporte transoceânico. Conforme Hegg, esses aportes serão viabilizados com o apoio do Banco Africano de
Desenvolvimento, do IFC (braço do Banco Mundial para investimento no setor privado) e do BNDES.
"Como a empresa tem companhia marítima, vamos otimizar essa logística, trazendo insumos a Santarém ou
Miritituba, e levando soja e milho", disse Hegg. A expectativa, acrescentou ele, é que o custo do transporte de uma
tonelada de milho por esta via seja reduzido em pelo menos US$ 50, em relação aos atuais US$ 120 no caminho
para Santos (SP) ou Paranaguá (PR).
Para ajudar no fluxo de movimentação das commodities, a Cevital tem investido também em estocagem em Mato
Grosso, maior produtor nacional de grãos. A empresa injetou entre US$ 8 milhões e US$ 10 milhões na compra de
um armazém no município de Vera, norte do Estado, e adquiriu outra "meia dúzia" de terrenos que terão a mesma
finalidade. No momento, a Cevital está na fase de constituição de subsidiárias para solicitar as licenças
ambientais a cada um dos armazéns. "Não queremos fazer absolutamente nada que não esteja 100% de acordo
com as condições de meio ambiente que as autoridades definem", disse.
A Cevital também se prepara para construir um complexo agroindustrial de US$ 500 milhões em Vera. "O
diferencial é que a Cevital é um grupo agroindustrial, não uma trading. Eles compram para uso próprio", destacou
Hegg. O projeto envolverá uma esmagadora (inicialmente de milho), além de fábrica de etanol, ração animal e
eventualmente uma misturadora de fertilizantes, juntamente com uma plataforma logística. A previsão é que a
indústria comece com uma capacidade de processamento de um milhão de toneladas por ano.
O plano da empresa é que toda essa estrutura industrial e logística planejada para o Brasil esteja em operação em
2020. A Cevital estuda outras áreas em Mato Grosso e no Pará, e não descarta investir diretamente na produção
agrícola ­ o que, nesse caso, iria requerer um sócio brasileiro, já que a legislação restringe a compra de terras por
estrangeiros. "Podemos até fazer uma parceria com eles nesse sentido", adiantou Hegg.
O grupo argelino Cevital prepara um desembarque retumbante no Brasil. Tradicional importadora de commodities agrícolas do país, a empresa está estruturando um plano de negócios que prevê investimentos iniciais de mais de US$ 2 bilhões no processamento de grãos e na logística para o escoamento pelo Norte brasileiro. A companhia já começou a adquirir terrenos e a expectativa é dar a partida nas operações em 2020.
 
"O ponto central desse movimento da Cevital é o reforço da segurança alimentar. E não apenas da Argélia, mas também de países africanos vizinhos", disse ao Valor Paulo Hegg, representante do grupo no Brasil. Engenheiro de formação, Hegg é da família fundadora da Laticínios Tirolez e cuida dos negócios de exportação da empresa de queijos. Há cinco anos, passou a se dedicar também à produção de grãos e fibras no Sudão, leste da África, onde conheceu a Cevital.
 
A família Rebrab, proprietária da Cevital, estudava a compra de usinas de açúcar no Sudão quando foi apresentada a Hegg, em 2013. "O Ministério da Agricultura do Sudão, que é nosso sócio lá, sugeriu a eles que conhecessem o nosso projeto", disse o brasileiro. As conversas revelaram que a empresa já comprava do Brasil US$ 1,5 bilhão por ano em soja, milho e açúcar ­ montante que corresponde a 75% do comércio Brasil­Argélia, que é de US$ 2 bilhões, conforme Hegg. "Mas essas negociações vinham sendo feitas por meio de tradings e achamos que a empresa tinha que começar a fazer originação, conhecer melhor o Brasil".
 
Criada nos anos 1970 ­ e hoje a maior empresa privada argelina, com cerca de 15 mil funcionários ­, a Cevital originalmente se dedicava à metalurgia e à indústria de vidros. A entrada no agronegócio ocorreu apenas no fim da década de 1990, mas o setor já responde por cerca de 50% do faturamento total da empresa, que deve alcançar US$ 8 bilhões em 2015. Na Argélia, a Cevital está voltada principalmente à produção de hortaliças e frutas, mas em pequenas áreas, devido às limitações geográficas.
 
A mudança na Lei dos Portos no Brasil, ainda em 2013, que facilitou a instalação de novos terminais privados, foi a deixa para que a Cevital decidisse se posicionar mais firmemente no país. "Como já tem o know­how do porto próprio [em Bejaia, na Argélia], a companhia ficou interessada", afirmou Hegg. A Cevital constituiu então um grupo técnico e o brasileiro passou a ajudá­la com a seleção de lugares a serem visitados, estudo de terrenos e conversas com autoridades, preparando a implantação de uma estrutura que ainda está em formação.
 
As atenções do grupo se voltaram ao transporte fluvial e, naturalmente, à saída pelo Norte do país, que tem sido
alvo das maiores apostas para destravar o escoamento da produção nacional de grãos do Centro­Oeste, ainda
concentrado no eixo Sul­Sudeste.
 
A companhia argelina já adquiriu dois terrenos para os terminais fluviais, um em Miritituba e outro em Santarém, por meio dos quais pretende movimentar de 3 milhões a 4 milhões de toneladas por ano. Em Miritituba, estão previstos US$ 150 milhões em um terminal para transbordo, de caminhões para barcaças. Em Santarém, será absorvido um montante maior: US$ 1,5 bilhão em uma agroindústria e um terminal fluvial­marítimo, para transporte transoceânico. 
Conforme Hegg, esses aportes serão viabilizados com o apoio do Banco Africano de Desenvolvimento, do IFC (braço do Banco Mundial para investimento no setor privado) e do BNDES. 
 
"Como a empresa tem companhia marítima, vamos otimizar essa logística, trazendo insumos a Santarém ou Miritituba, e levando soja e milho", disse Hegg. A expectativa, acrescentou ele, é que o custo do transporte de uma tonelada de milho por esta via seja reduzido em pelo menos US$ 50, em relação aos atuais US$ 120 no caminho para Santos (SP) ou Paranaguá (PR).
 
Para ajudar no fluxo de movimentação das commodities, a Cevital tem investido também em estocagem em Mato Grosso, maior produtor nacional de grãos. A empresa injetou entre US$ 8 milhões e US$ 10 milhões na compra de um armazém no município de Vera, norte do Estado, e adquiriu outra "meia dúzia" de terrenos que terão a mesma finalidade. No momento, a Cevital está na fase de constituição de subsidiárias para solicitar as licenças ambientais a cada um dos armazéns. "Não queremos fazer absolutamente nada que não esteja 100% de acordo com as condições de meio ambiente que as autoridades definem", disse.
 
A Cevital também se prepara para construir um complexo agroindustrial de US$ 500 milhões em Vera. "O diferencial é que a Cevital é um grupo agroindustrial, não uma trading. Eles compram para uso próprio", destacou Hegg. O projeto envolverá uma esmagadora (inicialmente de milho), além de fábrica de etanol, ração animal e eventualmente uma misturadora de fertilizantes, juntamente com uma plataforma logística. A previsão é que a indústria comece com uma capacidade de processamento de um milhão de toneladas por ano.
 
O plano da empresa é que toda essa estrutura industrial e logística planejada para o Brasil esteja em operação em 2020. A Cevital estuda outras áreas em Mato Grosso e no Pará, e não descarta investir diretamente na produção agrícola ­ o que, nesse caso, iria requerer um sócio brasileiro, já que a legislação restringe a compra de terras por estrangeiros. "Podemos até fazer uma parceria com eles nesse sentido", adiantou Hegg.