Grupo Fitotécnico comemora 30 anos garantindo troca de conhecimento no mais alto nível por mais 30

01/07/2021 Noticias POR: MARINO GUERRA

Ata da primeira reunião do Grupo Fitotécnico com a presença da Copercana

O mundo vivia, na época da suposta fundação da Escola de Sagres, um dos mais importantes períodos de evolução da humanidade. Era o fim da Idade Média e início da Idade Moderna, ou seja, os tempos das descobertas estavam aflorando.

Sob o ponto de vista cultural, o renascimento eclodia como uma nova postura social baseada em conceitos racionais, científicos e humanistas. Do lado econômico, o mundo descobria as maravilhas do mercantilismo, sustentado pelo encontro de novos povos, continentes e principalmente riquezas, o que representou o fim da vida miserável do período feudal.

Então, viver não era mais preciso, mas navegar sim. Por isso, Dom Henrique, o Infante, pensando em aperfeiçoar a tecnologia marítima reuniu em Sagres, localizada no extremo sul de Portugal, um grupo formado por astrônomos, matemáticos, construtores de navios, cartógrafos e comandantes responsáveis por transmitir todo o conhecimento sobre navegação para que os grandes exploradores pudessem ganhar os oceanos e alcançar os novos mundos.

Passados mais de cinco séculos e meio, a humanidade vive mais um importante momento de mudança (fim da era do petróleo e início dos tempos da eletricidade) sendo a cana-de-açúcar, por sua capacidade de retirada de CO2 da atmosfera e ao mesmo tempo ser a matéria-prima para a geração de energia limpa, faz da definição de Marcos Landell para comemorar os 30 anos do Grupo Fitotécnico, igualando o grupo com a Escola de Sagres, ser totalmente pertinente.

Afinal de contas, da mesma forma que era preciso navegar da maneira mais eficiente no passado, hoje é preciso produzir cada vez mais energia sustentável.

Uma segunda constatação da edição histórica da reunião, que infelizmente aconteceu de maneira virtual, no final de abril, foi a de que todo o conhecimento gerado pela troca de experiências não será perdido, mas aprimorado por uma segunda geração de profissionais dos canaviais tão formidáveis quanto seus precursores.

Como o leitor poderá conferir nos resumos das apresentações.

Futuro do Fitotécnico 1: Marcus Paulo Pereira Lima – Usina Uberaba


Marcus Paulo Pereira Lima, da Usina Uberaba falou sobre os manejos que fazem da unidade uns dos destaques em produtividades nas últimas safras (Foto feita no Megacana de 2019)

 

Abrindo os trabalhos do evento, cujo o tema foi: “Fundação do canavial para altas produtividades”, o gerente agrícola da Usina Uberaba, Marcus Paulo Pereira Lima, expôs a experiência da empresa que representa.

Com uma moagem estimada para o atual período em pouco mais de três milhões de toneladas, o primeiro ponto abordado pelo especialista foi sobre o prepar, onde ele destacou como é executada a amostragem de solo, que reúne material de diversos pontos a cada 10 hectares e em duas profundidades (0-25 cm e 25-50 cm).

De posse das informações, as mesmas são interpretadas tendo tabelas desenvolvidas por especialistas como ferramentas e assim construídas as recomendações do uso de corretivos (calcário dolomítico, gesso e fosfato natural reativo) por talhão.

Quanto a sistematização e conservação do solo, a Usina Uberaba trabalha na execução do levantamento planialtimétrico da área para a definição da locação das curvas de nível e posteriormente faz o projeto de sulcação.

Como resultado, foram reduzidas, no exemplo de uma fazenda, em 1,06 hectares a área de carreador; 45 a quantidade de manobras e um ganho 23,15 metros no tiro médio da colheita.

Na conservação, o engenheiro agrícola disse que em razão da alta declividade da região, é preciso construir terraços embutidos e de base larga nas regiões mais acidentadas, além de fazer saídas de água em formato de vírgula evitando assim a erosão nas épocas de chuvas mais severas.

Sobre as pragas de solo, Pereira Lima contou que as maiores inimigas são o Sphenophorus e a broca gigante, sendo o principal manejo de combate a utilização do destruidor mecânico de soqueira (sem dessecação), isso porque o implemento é capaz de diminuir a infestação pois o expõe tanto ao clima quanto aos seus predadores, além de já incorporar a torta de filtro e cinza de caldeira aplicada sobre a palhada do último corte.

Para finalizar o processo de incorporação dos corretivos e subprodutos, são feitas duas passadas de grade aradora (24x34 polegadas), com a segunda posicionada a 45 graus. Em seguida, como medida de nivelamento do terreno entra uma grade intermediária de 44x28 polegadas.

Antes da entrada da cultura de rotação, a descompactação do solo é um manejo imprescindível dentro do processo da empresa, lá é utilizado um subsolador com sete hastes e profundidade de 45 centímetros, o que demanda um trator de no mínimo 345 cavalos de potência.

No verão, 100% das áreas de reforma recebem um cultivo intercalar, de forma que a escala de plantio e as condições de mercado são os principais fatores para a tomada de decisão. Na adubação verde são utilizadas duas espécies, Juncea e Ochroleuca, com preferência pela segunda nos relevos mais acidentados, por sua capacidade de proteger o terreno contra a erosão.

Toda operação de plantio (manual ou mecanizada) é feita de forma direta, com a utilização de GPS e a busca pela introdução de novas variedades dos três principais centros desenvolvedores (CTC, Ridesa e IAC).

Um ponto levado muito a sério pela equipe agrícola da usina no plantio de cana é quanto à época, que vai de outubro a abril com estratégias divididas em três blocos. O primeiro se refere a outubro e novembro, entrando em áreas de expansão e pousio, escolhidas variedades tardias e com adaptação comprovada ao ambiente; a colheita programada para abril (cana de dois verões).

A segunda época corresponde aos meses de dezembro, janeiro e fevereiro que abrange o que sobrou dos terrenos de expansão e pousio e entram os ocupados com a crotalaria, abre-se o leque para a escolha de variedades tendo como atenção o ambiente; a colheita é marcada para os meses de abril e maio.

Foto 1 e 2: Plantio direto da Crotalária Ochroleuca na Usina Uberaba

 

 

O último bloco de plantio fica para os meses de março e abril, quando a sucessão é feita com a soja, aqui também há maior liberdade para a escolha da variedade, contudo a qualidade da muda é um pré-requisito inegociável e o primeiro corte é marcado para maio, junho e julho.

Como resultado, do período que consistiu de outubro de 2018 a maio de 2019, obteve-se um TCH (Toneladas de Cana por Hectare) médio de 150, com tempo de corte num intervalo entre 17 e 13 meses.

Numa outra conta, foi mostrada a produtividade média em cinco cortes, conforme tabela proposta pelo Marcos Landell (IAC), nela fica evidente que quanto maior a produtividade no primeiro corte, maiores serão as chances de ela permanecer na casa dos três dígitos (TCH) ao longo das cinco safras, com o detalhe da programação atender à estratégia do terceiro eixo.

Futuro do Fitotécnico 2: Josué Oliveira – BP Bunge


Josué Oliveira (BP Bunge) explorou os tratos dos canaviais do cerrado na sua apresentação

O segundo convidado do evento foi o representante da BP Bunge, Josué Oliveira, que logo no início de sua palestra apresentou o caso de uma fazenda que depois de um processo de sistematização aumentou em 99% o comprimento médio dos sulcos, chegando próximo dos 500 metros; reduziu em 90% o número de manobras, abaixando ainda em 80% o tempo e diminuiu de 30 para 13 a quantidade de talhões que passaram de um tamanho médio de 4,23 hectares para 9,88.

Talvez o crescimento baixo da área plantada de 1,40 hectares leve o leitor a ter o raciocínio prematuro de que a prática não é tão eficiente assim, contudo o maior benefício é na redução do pisoteio e tráfego, que além de compactar o solo, prejudica ou até mesmo inviabiliza as soqueiras.

Outro assunto que o agrônomo focou foi no trabalho com matéria orgânica e conservação da água para quem atua no cerrado, onde está instalada a maioria das unidades do grupo que atua, que precisa ser o básico para quem busca alta produtividade nesse ambiente.

Quanto a janela de plantio, Oliveira disse que plantar em janeiro e fevereiro é ter muito baixo rendimento nas áreas de baixa altitude do cerrado, isso porque como é época das águas o canavial vai perfilhar antes da seca, de modo que gastará energia para sustentar os colmos nascidos fazendo com que suas folhas sequem, assim, quando as águas chegarem, a planta terá que renovar sua massa verde para depois começar a se desenvolver, perdendo um tempo valioso.

Para comprovar o posicionamento técnico da usina, ele apresentou um gráfico de produtividade, no qual mostra que o canavial formado em janeiro de 2017 rendeu um TCH de 81, enquanto que o plantado em fevereiro chegou a 93 em 2017 e 101 em 2018. A curva de produtividade vai aumentando conforme o andar dos meses até chegar a 133 no plantio de junho de 2017.

O manejo nutricional também foi um assunto que o profissional detalhou, e ele o fez dividindo o canavial em duas situações. A primeira na fundação do plantio, quando ele faz uso de doses diferentes, considerando a concentração de fósforo e o uso de vinhaça, no sulco de plantio de NPK (04-30-10) e MAP. No quebra-lombo sua escolha é feita entre uma opção de NPK sólida (10-00-40) ou líquida (05-00-16) também levando em consideração a aplicação de vinhaça, mas dessa vez relacionada com a concentração de potássio.

Na segunda situação, a lavoura recebe foliares vegetativos e pré-maturadores. Com três aplicações, a primeira fase (início do crescimento da parte aérea logo após o fechamento do dossel) leva em consideração se a cana já tem porte (desenrolando novas folhas de dentro do cartucho) ou não.

Se classificada com o desenvolvimento bom, é aplicada a calda contendo foliar vegetativo, hormônios, aminoácidos e fungicida; se estiver mais fraca são retirados os foliares e o fungicida, até porque sua quantidade de massa verde não justifica o investimento em folha nesse estado.

A segunda aplicação (no meio da fase de crescimento da parte aérea) é feita com a mesma receita da primeira (quando a cana está com porte). Já na última passada, o planejamento de colheita entra em ação, de forma que se ela for acontecer em até 90 dias, é feito um pré-maturador e aminoácidos, enquanto que se for ultrapassar esse período entra o foliar vegetativo no lugar do pré-maturador, isso para a planta continuar se desenvolvendo.

Por último, ele expôs uma interessante tabela mostrando o percentual de queda de produtividade do canavial que não usa o conceito de colheita baseado na matriz tridimensional e a área que adota a metodologia.

Nela mostra que entre o primeiro e segundo corte a queda máxima na produtividade é de 20% na sequência básica (que contempla apenas as variedades como precoces, médias e tardias), enquanto que no 3D é de queda de 12%. Do segundo para o terceiro corte é 18% contra 19%, do terceiro para o quarto é 10% contra 6% e do quarto para o quinto é de 7% contra 6%. Números muito expressivos em favor da técnica do terceiro eixo.

Futuro do Fitotécnico 3: Carlos Daniel Berro Filho – Biosev


Carlos Daniel Berro Filho, da Biosev, mais de cinco anos de trabalho e ganho de três toneladas de açúcar por hectare (foto de arquivo)

Dentre o grande conjunto de estratégias desenvolvidas pela Biosev implementadas desde 2015 e que resultaram um salto de produtividade saindo da casa de 9 TAH (toneladas de açúcar por hectare) e indo para quase 12, seu representante, Carlos Daniel Berro Filho, relatou algumas que chamaram bastante a atenção, como a implementação das regiões de manejo.

Seu conceito está na padronização de regiões olhando para as características edafoclimáticas (tudo que pode influenciar na expressão produtiva da lavoura) semelhantes, gerando blocos com os manejos padronizados, porém atendendo às particularidades de cada um.

E assim possibilitou não só a organização de frentes de colheita com capacidade de 500 mil toneladas, mas ganho na fidelização das mesmas, de maneira que as equipes passassem a conhecer os detalhes de onde estavam trabalhando; melhora na gestão das fazendas, com aumento e direcionamento correto na frequência de visitação; evolução no relacionamento com os fornecedores através de um agendamento mais assertivo nas datas de colheita e melhor escolha varietal já considerando a implantação do terceiro eixo.

A produção de muda é outro trabalho muito forte desenvolvido pela Biosev, antes mesmo de começar a desenvolver é feito um ensaio de performance varietal, no qual são observadas em novos materiais, respeitando suas características de época de colheita e ambiente, sua produção de açúcar por hectare, a longevidade e o perfilhamento (característica essencial num ambiente de colheita mecanizada).

Em seguida, as escolhidas vão para o viveiro e passam pelo processo de multiplicação de forma que os materiais promissores são acelerados instalados inicialmente em vivieiros pré-primários, depois em regionais (que serão as fontes de mudas) e finalmente plantados de forma alinhada (cantose ou meiosi) para o futuro canavial comercial.

Como curiosidade, Berro revelou o “Top 3” das cultivares conforme o ambiente, sendo para os favoráveis: RB985476, IACSP95-5094 e CTC9003; favoráveis médios: RB005014, RB985476 e CTC4; médios desfavoráveis: IACSP01-5503, CTC9002 e RB975375 e desfavoráveis: RB915242, IACSP01-5503 e RB975033.

Na adubação, o agrônomo falou sobre a utilização de subprodutos e matéria orgânica, mostrando que hoje 100% da cana soca recebe vinhaça (40% através de aspersão e 60% localizada) enquanto que o composto formado pela torta de filtro, cinza de caldeira e cama de frango faz parte de todas as áreas de plantio e 30% das socas.

A principal cultura de rotação do grupo é a soja que responde por metade do espaço em reforma, seguido da crotalária com 35% e o amendoim com 5%, ficando cerca de 10% sem receber uma cultura intercalar de verão para passar por um processo mais forte de desinfestação.

Ele ainda explicou que o amendoim é uma opção nas áreas de bacia de vinhaça ou com alta infestação de Sphenophorus, enquanto que a crotalária é a escolhida nos talhões que serão plantados em janeiro e fevereiro.

Já os padrões para a escolha entre meiosi ou cantose são: colheita das áreas de reforma até no máximo agosto; para a meiosi: o talhão não deve apresentar grama seda ou outra invasora de difícil controle, ter baixa infestação de Sphenophorus e estar livre entre os meses de maio e julho; para a cantosi: precisa estar localizada preferencialmente numa bacia de vinhaça e estar livre para o plantio após julho até o mês de outubro.

Futuro do Fitotécnico 4: Tecnologia orgânica e fornecedor de cana

O estímulo para a produção de raízes secundárias, importante para a planta explorar todo o potencial das camadas mais rasas de solo foi o assunto abordado pelo representante da Sipcam Nichino, Fabiano Meyer, que falou sobre o Blackjak, um bioestimulante feito a partir de substâncias húmicas que oferta o enraizamento vertical da planta possibilitando a maior absorção de nutrientes e consequentemente seu desenvolvimento da parte aérea.

Para finalizar o resumo desse encontro histórico, segue o provérbio chinês contado pelo também palestrante o fornecedor José Antonio Rossato, que explica muito a essência tanto de sua atividade como do Grupo Fitotécnico.

“Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, ao se encontrarem, eles trocam os pães; cada um vai embora com um. Porém, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma ideia, ao se encontrarem, trocam as ideias, cada um vai embora com duas”.


Exemplo de um bom enraizamento horizontal (raízes secundárias) um dos benefícios do uso de bioestimulantes