Antonio Eduardo Tonielo - Presidente do Conselho de Administração da Copercana
É essa frase que define a maneira de enxergar de Antonio Eduardo Tonielo, presidente do Conselho de Administração da Copercana, sobre o ano de 2021. Sempre com uma visão otimista sobre o setor sucroenergético, Sr. Toninho se refere ao ano dos incêndios, geadas e seca, mas que também eliminou pragas que beneficiarão os canaviais em 2022.
Durante entrevista à redação da Revista Canavieiros, o empresário falou da pujança da Copercana, refletiu sobre preços e produção de cana, soja, milho e amendoim, principalmente depois da guerra Rússia x Ucrânia e, desabafou sobre os candidatos e as eleições que estão por vir.
Aos cooperados, Tonielo agradeceu a confiança: “agradeço todos os nossos cooperados pelos anos que estive à frente da cooperativa. Posso afirmar que trabalhei e sempre procurei fazer o melhor para a cooperativa e quando fiz para a cooperativa acho que fiz para todos os cooperados. Desejo que todos tenham um ano bem melhor do que esse que passou e quem sabe até com uma política diferente. Que possamos crescer ainda mais nesse setor”.
Para finalizar, deixou o recado para a diretoria executiva e os companheiros do Conselho de Administração. “Não posso me esquecer de parabenizar toda a diretoria pelo trabalho e também pelo apoio que sempre me deram. Como presidente do Conselho, também agradeço aos meus companheiros. Graças a Deus nunca tive problemas e sempre convivi bem com todos e quero continuar assim, se eu ficar por mais alguns anos aqui, quero estar sempre bem com todos”. Leia a entrevista:
Revista Canavieiros: 2021 foi um bom ano para o setor sucroenergético?
Antonio Eduardo Tonielo: Foi bom, não podemos nos queixar. Pelo menos tudo o que tivemos de quebra, recuperamos em preço com um pouco de ganho. Fazendo um balanço, tivemos um ano bom, apesar de ter sido um ano de muitos incêndios, geadas e seca. Tudo aconteceu! Mas felizmente o produto valorizou e conseguimos tirar a diferença na indústria e acabou sendo bom negócio para os produtores e para os empresários.
Revista Canavieiros: Para 2022 haverá perda significativa de produtividade da cana até por consequência das condições climáticas enfrentadas em 2021?
Tonielo: Eu penso um pouco diferente do que vejo por aí. Acredito que nem todas as experiências ruins que tivemos em 2021 vão atingir a nova safra. Talvez tenhamos compensações, já que teremos menos pragas, como por exemplo as brocas e cigarrinhas. A geada matou muitas pragas, é claro que não conseguiu acabar, mas eliminou bastante e isso gera benefício para o setor. Se as condições climáticas ficarem dentro da normalidade, teremos uma safra que pode surpreender positivamente.
Revista Canavieiros: Como será o mix dessa nova safra? E como devem se comportar os preços?
Tonielo: Costumo dizer que quem manda no mix é o preço. Se o preço do açúcar estiver melhor vamos fazer mais açúcar. Os empresários procuram resultados, querem melhoria nos preços para aumentar os lucros. O etanol não depende muito do açúcar e sim do petróleo. Se o petróleo se mantiver firme, o preço do etanol se mantém também. Se o petróleo cai, automaticamente cai o preço da gasolina e dificulta a venda de etanol. E se sobrar açúcar acaba ficando ruim para os dois. O fato é que as cotações de petróleo dispararam depois da invasão da Rússia à Ucrânia, chegou a US$ 123/barril no início de março, mas voltaram a ficar em torno de US$ 112/barril recentemente. Isso afetou nos preços dos combustíveis no Brasil. Aliás, o petróleo interfere na inflação mundial porque afeta todas as cadeias. Hoje, os preços do açúcar estão caindo, mas tudo vai depender da oferta e da demanda. O Brasil é um termômetro de preço porque somos os maiores produtores de açúcar do mundo e temos capacidade para fazer bem mais. E temos capacidade para fazer etanol. Isso tudo vai depender do que acontecerá na época da produção.
Revista Canavieiros: E os grãos? No caso da soja, estamos vendo que vai ter uma quebra no Brasil, principalmente pelo clima que tivemos na região Sul. E o amendoim, que também é um dos ‘carros-chefe’ dos cooperados da Copercana?
Tonielo: O estado de São Paulo representa pouco em soja no país, mas acompanhei através da imprensa um problema grave no Sul. Todas as atenções estavam voltadas para os problemas climáticos que atingiram a nova safra da América do Sul. O mês de dezembro de 2021 trouxe problemas importantes para parte das lavouras brasileiras, com pouca umidade para aquela região e excesso de umidade em outras áreas do país. O Paraguai e a Argentina tiveram problemas seríssimos de pouca umidade. Mesmo assim, eu acredito que a soja ainda vai ser um mercado de preços altos pelo que estou acompanhando. A gente que analisa o mercado e as notícias percebe que a soja vai ser uma mercadoria em que não devemos ter pressa de vender e esperamos que os preços se comportem para cima – todo mundo fala que a soja tem espaço para subir mais um pouco. Eu acho que isso é muito importante para que o pessoal acompanhe e possa vender num melhor momento. Em relação ao amendoim, as perspectivas eram boas até a guerra Rússia x Ucrânia começar. O Brasil exporta cerca de 260 mil toneladas de amendoim. Desse montante, em torno de 50% são destinados para a Rússia (40%) e Ucrânia (10%). Com a guerra, existe uma incerteza de quando as exportações estarão normalizadas para esses países. Fato é que nesse momento temos a paralização nos embarques de amendoim para esses destinos. O Brasil está buscando outros mercados para escoar a produção. Austrália, Argélia, Turquia e África do Sul são possíveis compradores. Mas será difícil conseguir vender tudo porque o amendoim é um produto mais para consumo humano, não é industrial como a soja que vai para o diesel e outras coisas. O amendoim é um consumo que chamamos de ‘confeitaria’, não tem uma grande produção, mas também não tem grandes mercados consumidores. O Brasil é o terceiro maior exportador de óleo de amendoim, esse mercado pode gerar demanda e também minimizar os impactos da guerra. Outro gargalo foi na questão logística de 2021 para 2022. O estoque de passagem ficou alto porque a pandemia retardou as entregas. Muitos navios e containers ficaram parados em portos porque a pandemia gerou lockdown. Isso aumentou o custo logístico em quase 100%. Por isso não temos como saber quais serão as consequências. O mercado de amendoim foi diretamente afetado pela guerra.
Revista Canavieiros: Este ano a Copercana completa 59 anos, o que isso representa – tradição e segurança para o cooperado?
Tonielo: A Copercana hoje é um exemplo na nossa região e até em nosso Estado. Uma cooperativa que começou muito simples, antigamente só podia ser sócio quem plantava cana. Nos estatutos de fundação, só podia fazer parte da cooperativa quem produzia cana. Hoje é uma cooperativa que está integrada no setor do agronegócio com insumos, compra de produtos, com desenvolvimento e tecnologia. Penso que a Copercana hoje é um exemplo de pujança no Estado e é uma cooperativa que está sendo muito bem administrada, a diretoria executiva leva muito a sério e isso reflete também nos colaboradores que se preocupam em manter a Copercana em um alto nível. Não são só os diretores que fazem a empresa, os funcionários ajudam na alavancagem da Copercana, que é uma cooperativa que vai dar muito retorno para o cooperado, vai dar muito retorno para a sociedade na área de agronegócios, tecnologia e meio ambiente. A Copercana sempre se preocupou com sustentabilidade e esse é o assunto do momento. A diretoria quer manter a Copercana nessa forma segura de administrar e melhorar cada vez mais levando sucesso para o produtor, inclusive para os colaboradores.
Revista Canavieiros: A Copercana está investindo também na modernização das lojas, supermercados e postos de combustíveis. Há planos de expansão nessa área. O que o varejo representa para quem é cooperado da Copercana?
Tonielo: Estamos fazendo a nossa parte também no varejo. É através do varejo que atendemos o produtor, o colaborador e não só o colaborador da Copercana, mas o colaborador de quem é produtor. Atendemos a sociedade. Estamos crescendo e melhorando dentro da área territorial da Copercana e tem que continuar expandindo, crescendo, tem que ter mais lojas, sou favorável a isso. O grande resultado da Copercana é chegar a todas as cidades com lojas que melhoraram muito, não são grandes, mas são eficientes. Isso traz segurança tanto para a Copercana quanto ao cooperado. O poder de barganha que a Copercana tem na hora da compra é muito importante. Ter volume de compras em uma negociação é estratégia com os fornecedores e nessa lógica temos um grande favorecimento para quem está comprando da Copercana. Isso é fundamental! Eu acompanho através do Conselho de Administração e vejo que a diretoria está sempre fazendo esforço em comprar terrenos tanto em Sertãozinho quanto em outras cidades para que já tenha um bom local para a Copercana construir. Aqui na cooperativa, quando termina uma obra já começa a outra. A preocupação é sempre crescer.
Revista Canavieiros: É comum ouvir que ‘quem entra no cooperativismo não quer mais sair’, que as pessoas se apaixonam pela cooperativa. A Copercana bateu mais um recorde de faturamento em 2021. É isso mesmo, quem entra no cooperativismo não quer mais sair?
Tonielo: É claro, mas não é só paixão, são bons resultados mesmo. É de grande interesse do cooperado e da sociedade. Veja a Copercana, ela é de todos. A cooperativa é baliza dos preços, principalmente no setor agrícola, tanto de venda quanto de compra. Uma cooperativa que trabalha com seriedade como trabalhamos e se continuar desse jeito, ninguém segura. É um trabalho muito sério que segue sem fazer besteira, sem atropelo e isso ainda vai trazer muitas coisas boas para os nossos cooperados e para a nossa diretoria também.
Revista Canavieiros: 2022 é um ano de eleição, isso deve refletir na nossa economia?
Tonielo: Sim, o grande risco é o dólar. É bom de um lado e ruim de outro, porque o dólar traz até bons negócios para a agricultura, mas encarece os insumos, traz uma inflação que corrige os preços dos produtos e quanto mais corrige mais caro fica e gera mais inflação. Tudo vai depender de como vai caminhar o quadro eleitoral. Ninguém sabe quem vai chegar para o final e sabemos que dependendo de quem chegar, o dólar dispara. Se isso acontecer, o país terá grandes problemas para enfrentar com uma pessoa que não deixou saudades pela corrupção, pelo que fez no país com os bancos estatais, com todas as entidades. A Petrobras quase quebrou e o nosso setor também com a Dilma na presidência. Essas são algumas preocupações, se não fosse isso talvez a eleição não atrapalhasse em nada. O que nos atrapalha são os candidatos que aparecem, pessoas que já foram presas, que saíram da cadeia há pouco tempo, condenados liberados e ninguém sabe qual a justificativa para estarem livres. É muita insegurança para a sociedade que não sabe o que vai acontecer. Alguns candidatos não têm preocupação com ninguém, acham que o país tem que virar uma Venezuela, uma Argentina que está indo no mesmo caminho. Isso preocupa todos os brasileiros que querem o melhor para o país!