Há risco de faltar etanol hidratado, mas indústria pesquisa alternativas
25/02/13 - Os estoques das usinas produtoras de álcool para oferta do etanol anidro, que é misturado à gasolina, estão em níveis satisfatórios. No entanto, isso não representa um fator positivo para o setor, segundo o presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), Celso Torquato Junqueira Franco.
"As usinas trabalham sem reserva de capital e perspectiva de rentabilidade diante da política de preço praticada pelo governo", alerta.
Sem uma política de regras claras para o etanol, em cinco anos não existirá mais ampliação de capacidade de produção de etanol hidratado, que é vendido diretamente nas bombas dos postos de combustíveis.
"O preço do hidratado é inferior ao do anidro, por isso a produção do etanol hidratado é a última opção dos usineiros", diz Franco, alertando para o fechamento de uma centena de unidades de usinas nos próximos dois anos.
Crescem investimentos no etanol de segunda geração
Se a produção do etanol hidratado está ameaçada, a maior promessa do setor de biocombustíveis nos últimos anos chama-se etanol celulósico. Feito no Brasil a partir da palha e do bagaço da cana-de-açúcar - restos do processo atual de produção de álcool -, o chamado "etanol de segunda geração" é visto como a principal alternativa para aumentar a oferta sem a necessidade de crescimento significativo da área plantada.
O consumo de etanol aumentará 45% até 2020, para cerca de 48 bilhões de litros ao ano. Com a produção de etanol a partir da celulose, será possível elevar a oferta entre 35% e 50% em uma mesma área plantada.
O custo de produção, especialmente o investimento inicial na indústria, era um entrave até agora. Pioneiros, no entanto, começam a se arriscar e o etanol de segunda geração passa a representar uma oportunidade de investimento.
A GraalBio inaugura no início de 2014 a primeira fábrica de etanol celulósico do Brasil. A unidade, com capacidade para produzir 82 milhões de litros por ano, está sendo erguida em São Miguel dos Campos (AL).
Cerca de R$ 350 milhões são investidos na fábrica, mas os recursos podem chegar a R$ 4 bilhões em sete anos com a construção de novas unidades e pesquisa prevê a empresa que em janeiro conquistou um sócio de peso: o BNDES comprou, por R$ 600 milhões, 15% da GraalBio.
A segunda fábrica do "novo etanol" no Brasil será erguida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), empresa voltada à pesquisa em cana, nas dependências da Usina São Manoel, no interior de São Paulo. Com capacidade para cerca de 3 milhões de litros por safra, a unidade começará a produzir, em estágio pré-comercial, em 2014.
Para acelerar o acesso à tecnologia, usinas nacionais optaram pelo modelo de parceria com estrangeiros. É o caso da Raízen, sociedade entre a Cosan e a Shell, que planeja para o final de 2014 a inauguração de sua primeira fábrica comercial, com capacidade para 40 milhões de litros ao ano. O projeto deve consumir R$ 200 milhões.
A GraalBio também é parceira do grupo italiano Mossi&Ghisolfi, que neste mês inaugura uma fábrica de etanol celulósico na Itália. Já a ETH, empresa do grupo Odebrecht, anunciou parceria com a dinamarquesa Inbicon, que produz etanol a partir da palha de trigo na Europa.
A Petrobras preferiu desenvolver a sua própria tecnologia. Com pesquisadores dedicados ao etanol de segunda geração desde 2004, a estatal tem a meta de levar o combustível aos postos em 2015.
Aproveitamento de resíduos é alternativa por não ampliar área plantada
O principal fator que impulsiona investimentos no etanol de segunda geração é que sua produção não exigirá maior área plantada. Estudos já apontam a relativa estagnação de novas áreas para plantio no Brasil. Com isso, o crescimento da produção se dará por meio da aplicação maciça de tecnologia para utilização de segundas safras, para aumento da produtividade e maior aproveitamento de resíduos.
O crescimento registrado em área de lavouras, no Brasil, tem sido no máximo entre 1,5% a 2% ao ano. Outros países produtores como EUA, Argentina, China e Índia têm tido crescimento e perspectivas ainda menores que o Brasil.
Se comprovada a viabilidade econômica do etanol feito com resíduos da cana, a oferta do combustível crescerá, o que pode evitar aumentos de preço ao consumidor. Como a tecnologia usa restos como matéria-prima, reduz a necessidade de desmatamento para elevar a produção, beneficiando também o meio ambiente e a produção de alimentos.
Simone Kafruni - Jornalista especializada em economia
Fonte: Knowtec
Os estoques das usinas produtoras de álcool para oferta do etanol anidro, que é misturado à gasolina, estão em níveis satisfatórios. No entanto, isso não representa um fator positivo para o setor, segundo o presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), Celso Torquato Junqueira Franco.
"As usinas trabalham sem reserva de capital e perspectiva de rentabilidade diante da política de preço praticada pelo governo", alerta.
Sem uma política de regras claras para o etanol, em cinco anos não existirá mais ampliação de capacidade de produção de etanol hidratado, que é vendido diretamente nas bombas dos postos de combustíveis.
"O preço do hidratado é inferior ao do anidro, por isso a produção do etanol hidratado é a última opção dos usineiros", diz Franco, alertando para o fechamento de uma centena de unidades de usinas nos próximos dois anos.
Crescem investimentos no etanol de segunda geração
Se a produção do etanol hidratado está ameaçada, a maior promessa do setor de biocombustíveis nos últimos anos chama-se etanol celulósico. Feito no Brasil a partir da palha e do bagaço da cana-de-açúcar - restos do processo atual de produção de álcool -, o chamado "etanol de segunda geração" é visto como a principal alternativa para aumentar a oferta sem a necessidade de crescimento significativo da área plantada.
O consumo de etanol aumentará 45% até 2020, para cerca de 48 bilhões de litros ao ano. Com a produção de etanol a partir da celulose, será possível elevar a oferta entre 35% e 50% em uma mesma área plantada.
O custo de produção, especialmente o investimento inicial na indústria, era um entrave até agora. Pioneiros, no entanto, começam a se arriscar e o etanol de segunda geração passa a representar uma oportunidade de investimento.
A GraalBio inaugura no início de 2014 a primeira fábrica de etanol celulósico do Brasil. A unidade, com capacidade para produzir 82 milhões de litros por ano, está sendo erguida em São Miguel dos Campos (AL).
Cerca de R$ 350 milhões são investidos na fábrica, mas os recursos podem chegar a R$ 4 bilhões em sete anos com a construção de novas unidades e pesquisa prevê a empresa que em janeiro conquistou um sócio de peso: o BNDES comprou, por R$ 600 milhões, 15% da GraalBio.
A segunda fábrica do "novo etanol" no Brasil será erguida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), empresa voltada à pesquisa em cana, nas dependências da Usina São Manoel, no interior de São Paulo. Com capacidade para cerca de 3 milhões de litros por safra, a unidade começará a produzir, em estágio pré-comercial, em 2014.
Para acelerar o acesso à tecnologia, usinas nacionais optaram pelo modelo de parceria com estrangeiros. É o caso da Raízen, sociedade entre a Cosan e a Shell, que planeja para o final de 2014 a inauguração de sua primeira fábrica comercial, com capacidade para 40 milhões de litros ao ano. O projeto deve consumir R$ 200 milhões.
A GraalBio também é parceira do grupo italiano Mossi&Ghisolfi, que neste mês inaugura uma fábrica de etanol celulósico na Itália. Já a ETH, empresa do grupo Odebrecht, anunciou parceria com a dinamarquesa Inbicon, que produz etanol a partir da palha de trigo na Europa.
A Petrobras preferiu desenvolver a sua própria tecnologia. Com pesquisadores dedicados ao etanol de segunda geração desde 2004, a estatal tem a meta de levar o combustível aos postos em 2015.
Aproveitamento de resíduos é alternativa por não ampliar área plantada
O principal fator que impulsiona investimentos no etanol de segunda geração é que sua produção não exigirá maior área plantada. Estudos já apontam a relativa estagnação de novas áreas para plantio no Brasil. Com isso, o crescimento da produção se dará por meio da aplicação maciça de tecnologia para utilização de segundas safras, para aumento da produtividade e maior aproveitamento de resíduos.
O crescimento registrado em área de lavouras, no Brasil, tem sido no máximo entre 1,5% a 2% ao ano. Outros países produtores como EUA, Argentina, China e Índia têm tido crescimento e perspectivas ainda menores que o Brasil.
Se comprovada a viabilidade econômica do etanol feito com resíduos da cana, a oferta do combustível crescerá, o que pode evitar aumentos de preço ao consumidor. Como a tecnologia usa restos como matéria-prima, reduz a necessidade de desmatamento para elevar a produção, beneficiando também o meio ambiente e a produção de alimentos.
Simone Kafruni - Jornalista especializada em economia