Herdeiro do futuro
03/01/2018
Geral
POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra
João Marcos era um garoto simples, que cursava a oitava série na rede pública de ensino de Sertãozinho. Magro, baixo e dono de uns óculos todo remendado, era vítima fácil de bullying por parte de seus colegas de sala, os quais já conheciam de cor letras de funk e rap, as quais o conteúdo era sempre baseado na revolta contra a sociedade e na idolatria às drogas e sexo. As meninas de sua sala mal sabiam dele, aliás lembravam de sua existência quando algum garoto mais deslocado o usava para impor a sua moral.
Embora as atitudes o chateava, João sabia muito bem o que queria. Quando se deitava para dormir, seus sonhos eram quase sempre com números sendo usados como matéria-prima na construção de coisas boas, de alegria. Ele também tinha seus ídolos, mas ao contrário de seus colegas, que idolatravam cantores ostentando correntões de ouro, carros importados e mulheres seminuas, ele se espelhava em um cientista em uma cadeira de rodas incapaz de mexer um órgão do corpo e que, mesmo assim, era respeitado por onde ele passava.
Do pouco que pôde ler sobre ele, havia uma matéria onde alertava sobre 8 previsões a respeito do fim da humanidade as quais se baseavam nas seguintes causas: crescimento populacional, uso errado da inteligência artificial, mega uso de energia e ainda de fontes não renováveis, a vinda de alienígenas como saqueadores da humanidade, mudanças climáticas, grande guerra mundial e uso da engenharia genética para o mal. E isso permaneceu na cabeça do jovem até ele notar que todos os atores da sociedade que estava inserido, se tivessem oportunidade poderiam desencadear um evento que seria determinante para a destruição do Planeta Terra, ou pela raiva, ou pela ganância.
Isso lhe causou grande desilusão, e então em uma noite teve um tenebroso pesadelo, onde toda a sociedade apertava em conjunto, por simplesmente uma estar com raiva da outra, o botão vermelho e a terra explodia.
Ao chegar em sua escola, na manhã seguinte do pesadelo, meio
ensonado, ficou sabendo que naquela tarde eles iriam conhecer um colégio diferente. A professora disse que havia uma destilaria de etanol lá dentro, e quem conseguisse entrar lá poderia ter uma futura profissão a qual seria um dos responsáveis por salvar o mundo de um dos efeitos elencados por seu gênio-ídolo, o aquecimento global.
Isso foi o suficiente para o garoto transbordar de ansiedade, ele ficava imaginando a escola com uma chaminé enorme, como ele via ao longe da janela de sua casa uma destilaria, ou então os professores com jalecos brancos explicando reações químicas complexas as quais gerariam produtos que borrifados no ar aglutinariam os gases negros, iguais aos que soltavam os ônibus e caminhões velhos que passavam em frente da sua casa, e então eles caiam no chão deixando o ar com cheiro de casa limpa.
Enfim chegou a hora de conhecer.Quando o ônibus passou em frente à entrada, ele já percebeu que havia algo diferente, foi inevitável a comparação do prédio recém-pintado e com uma arquitetura em relação a sua escola com os muros sujos, e uma arquitetura de dar medo. Mesmo com o grande movimento da rua, com esforço ele conseguiu ler o nome da escola: Escola Senai Ettore Zanini.
Entrando no saguão principal se assustou, pois estava praticamente lotado e com pessoas de todos os tipos. Em cima de um palco, vários senhores com roupas sociais recebendo uma premiação, a qual ele não conseguia entender o motivo devido ao barulho, próximo a ele, aplaudindo cada nome chamado, uma porção de pessoas também vestidas com roupa de escritório.
No canto esquerdo uma banda de fanfarra se preparava para iniciar uma apresentação a qualquer momento, enquanto que ao lado dela garotos com roupas esportivas formavam uma roda, entre eles, ele reconheceu um de seu bairro, já conhecido na vizinhança por conseguir faturar algumas medalhas na natação.
Ele e sua turma foram instalados ao fundo do salão e orientados de que conheceriam as dependências da escola assim que a cerimônia de abertura encerrasse, ele ficou observando, porém sua cabeça só pensava no mundo novo que estava prestes de descortinar sobre os seus olhos.
Ao finalizar a tal “cerimônia”, depois que todos sociais haviam conquistado suas respectivas fotos, com o salão somente com os alunos, era chegada a hora de conhecer as dependências do mundo perfeito de João Marcos.
O tour, tendo um aluno como guia, no qual já era nítida uma mudança de postura, primeiro os levou para conhecer algumas salas de aula, arejadas, espaçosas e limpas, algumas com a presença de um computador por aluno. Os olhos do garoto não paravam de brilhar e seu coração pulsava, a emoção tomou conta a ponto de perceber que algumas gotas de lágrimas saíam de seus olhos embaçando ainda mais a velha e surrada lente de seus óculos, quando começou a conhecer os 16 laboratórios.
Era uma enxurrada de novos nomes como: pneumática,hidráulica, metrologia, CAD/CAM, eletricidade, comandos eletrônicos, instrumentação, automação de processos, cromatografia, espectrofotometria e microbiologia. Por todos que passava havia um clima diferente de sua sala de aula, ali tanto os professores como os alunos demonstravam felicidade, foi quando concluiu que ela não estava nas coisas fúteis valorizadas pelos colegas, pois era raro ver em seu convívio de classe algum sorriso sem ser o maldoso de ter prejudicado ou ofendido alguém.Mas ali a felicidade era por ter descoberto algo ou ainda realizado alguma tarefa utilizando o conhecimento obtido.
Seu grau de emoção só ia aumentando quando passou a conhecer as oficinas: calderaria, manutenção eletromecânica, instrumentação, tornearia, fresagem, ajustagem, CNC e solda. A hora que conheceu a Unidade Piloto de Produção de Etanol ele simplesmente ficou estático, só voltou à terra depois de um flash em seu rosto. Ao passar por ele, o jornalista que havia feito a foto bateu em seu ombro e disse: - Somente pelo seu olhar eu sei que ano que vem você estará aqui, pois se conhece de longe um digno herdeiro do futuro.
A partir daquela noite o menino não teve mais pesadelos com o fim do mundo, pois tinha certeza de que havia pessoas boas construindo um futuro bom, e que ele com certeza faria parte daquele time.
Nota: A escola que mudou a imagem de João Marcos sobre o mundo é real, foi reinaugurada em Sertãozinho no dia 24/11, depois de receber quase R$ 50 milhões em investimentos para a sua reforma. Na ocasião, dentre as diversas autoridades presentes, esteve o presidente da Fiesp, do Sesi-SP e do Senai-SP, Paulo Skaf, além do presidente da Copercana, Antonio Eduardo Tonielo e o presidente da Canaoeste, Manoel Ortolan.
Dentre as centenas de frases ditas no evento uma foi marcante. De Skaf para Tonielo depois de conhecer toda a estrutura: “Esse com certeza é o Senai que mais me impressionou nos últimos tempos”.