Highway da cana

15/01/2018 Geral POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra

A estrada do setor no primeiro ano do projeto caminhos da cana estava praticamente intransitável, era 2014, e um enorme caminhão vermelho chamado Dilma Rousseff transitava pelo local deixando o trecho seriamente esburacado, o qual causou diversos acidentes gravíssimos. Como andava de maneira lenta e desgovernada, sua passagem atrapalhou a viagem até meados de 2016.

Com a saída do veículo pesado, o setor começou as obras para consertar os grandes estragos feitos por ele, através de um grande empurrão divino (a explosão recorde dos preços do açúcar no mercado internacional) e a criação de duas geniais tecnologias: uma no campo da política pública voltada para a cadeia produtiva (Renovabio), e o lançamento do protótipo do primeiro carro do mundo movido por eletricidade gerada a partir da combinação de hidrogênio e etanol (célula a combustível).

Para o ano que se encerra, o setor já andou em uma pista com condições um pouco melhores. O principal avanço foi sem dúvida a vitória política do Renovabio. No entanto, ele poderia ter feito uma viagem um pouco mais eficiente se tivesse virado a chave da produção, de açúcar para etanol, em setembro, e não quinze dias antes do término da safra.Isso porque a redução da oferta do alimento no mercado manteria ou reduziria menos o seu preço enquanto que as unidades industriais poderiam ampliar o estoque de biocombustível para ser vendido a preços melhores na entressafra, estratégia errada na qual terá como consequência a queda de 2 a 4 centavos no valor do Kg do ATR. Mesmo assim, deu para chegar no trevo e pegar a moderna, veloz e segura highway chamada 2018.

Desafios para 2018


Não é o fato do setor sair de uma simples pista vicinal e pegar uma Bandeirantes que a viagem não terá sustos, pelo contrário, a tensão deve aparecer logo no começo do ano, quando ainda haverá a expectativa do presidente Michel Temer sancionar o Renovabio, ato político final antes de sua regulamentação, com previsão de finalização até meados de abril ou maio, pouco depois do início da safra 18/19, para então entrar em prática.

Os debates e negociações a respeito da remodelação do Consecana, surgindo o ATR Pro-Int, modelo que visa aumentar a remuneração do fornecedor de cana conforme o seu aumento de eficiência, pautado em diversas metas,as quais cumpridas integralmente podem lhe render até 17% (número ainda não definitivo) como premiação do valor a receber em uma safra, deverão ganhar corpo e forma mais ajustada também no primeiro mês do ano.

No melhor dos cenários, a próxima safra teria seu início ao lado da implantação do Renovabio, um Consecana novo e um mercado totalmente satisfeito.Entretanto, mesmo com essa conjuntura perfeita, existem diversos desafios a serem cumpridos para o setor conseguir chegar em seu destino no final do ano, o local onde será construída uma grande metrópole chamada mercado previsível de etanol, no qual a previsão para o aumento da produçãoé passar dos 26 bilhões de litros atuais e chegar nos 54 bilhões em uma década.

Baseado nesse cenário, o professor da FEA-USP e colunista da Revista Canavieiros, Marcos Fava Neves, enumera 10 objetivos a serem conquistados pelo setor.

O primeiro é o mais evidente, aproveitar o Renovabio com eficiência para crescer de maneira sustentável, tendo em vista a meta de ultrapassar a casa dos 50 bilhões de litros de etanol até 2030. Fava Neves garante a necessidade de ampliação em 3,3 milhões de hectares (número baixo considerando somente o fato do estado de São Paulo ter hoje 3 milhões de hectares com pastagem, sendo possível manter o número de cabeças de gado utilizando metade dessa área através de técnicas pecuárias mais intensivas ou até mesmo adotando estratégias agrosilvopastoris,deixando 1,5 milhão  para o resto do Brasil, somente a área de grãos cresceu mais de 2 milhões de hectares na última safra), isso considerando uma produtividade de 100 toneladas por hectare e 148 kg de ATR por quilo de tonelada de cana (nesse cenário, se não chegar a isso, é melhor arrendar a terra e deixar quem sabe tocar a roça).

Ainda sob o ponto de vista da eficiência, o lado industrial também precisa evoluir, não somente em novos projetos, o desafio com certeza será trazer o etanol de segunda geração para uma realidade economicamente viável, e implantar o conceito das destilarias flex (capazes de produzir o biocombustível, tendo o milho como matéria-prima).

Mas anos de crise exigirão passos mais acelerados na maneira já consolidada de se produzir açúcar e etanol. Estudo feito em 33 unidades, no qual a metodologia se baseou em pegar a mais eficiente do grupo e analisar o valor de perdas das outras 32, mostra o desperdício de R$ 2,5 bilhões em uma safra. A lição de casa não será nada fácil.

Os maiores desafios, seguindo a visão do professor, estão em como os diversos atores desenvolvem seus processos, tanto internamente como também no seu relacionamento mútuo. No campo agrícola, o destaque é a busca da gestão por metro quadrado do canavial através da adoção de tecnologias pertencentes ao conceito de “digital farm”.

Dentro dessa necessidade, outra mudança dos produtores está em implantar modelos relacionados à “economia do compartilhamento”, na qual está incluída a interação entre vizinhos e a adoção de soluções parecidas com o “Uber” no uso de maquinário. Essas ações ganharam uma grande ajuda de implementação, tendo em vista a entrada em vigor da lei da terceirização.Ao abrir mais o zoom, a necessidade de intensificar as ferramentas voltadas à “economia circular” (cooperativismo tanto para a aquisição de insumos e crédito, além da participação ativa nas associações) conhecidas por todos envolvidos na cadeia será fundamental.

Dentro dos conceitos de economia circular, Fava Neves traz um exemplo assimilado em sua viagem para conhecer o setor sucroenergético colombiano, onde não é adotado, pelo menos de maneira formal aqui no Brasil. O associativismo vertical (representantes de todos os setores da cadeia participam para trabalhar em prol de interesses comuns em uma entidade) seria uma ferramenta extremamente útil. Já nesse parâmetro, o pesquisador traça dois programas existentes nesse sentido, precisando de reformulação: O Consecana e o estreitamento entre o que é produzido nas universidades e centro de pesquisas (na maioria públicos) e o setor privado.

Tão urgente quanto o Renovabio, é a necessidade de as lideranças empresariais colocar uma cadeira a mais em suas reuniões do conselho estratégico para seus profissionais de comunicação. É gritante o hiato existente sobre o quanto o setor evoluiu, principalmente quando se olha a sustentabilidade, e como a maioria da população enxerga ele (se fizer uma pesquisa no centro de São Paulo a maioria vai achar que a cana ainda é queimada, ou então acredita na presença de trabalhadores em situações similares à escravidão ou na evaporação do etanol dentro do tanque dos automóveis).

Como exemplo de como poderia ser essa ação, o colunista da Revista Canavieiros apresenta a forma de se comunicar do setor de etanol dos Estados Unidos, utilizando estratégias de marketing forte e viral, no qual disparam verdadeiras balas de canhões com números, onde mostram, por exemplo, a importância de como a escolha pelo biocombustível prejudica os interesses de “inimigos da nação americana” pertencentes a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Fava Neves acredita piamente nos postos de combustíveis como um dos principais pontos para disseminar essas informações, tanto é que inspirado no setor cafeeiro colombiano, o qual criaram uma rede mundial para, no estilo Starbucks, agregarem valor à sua produção, ele propaga a criação de uma rede “eco” de postos, tendo todo o seu conceito baseado na sustentabilidade, deixando bem claro para o público qual deve ser a escolha do dono do carro flex preocupado com as questões ambientais.

A expansão considerada desse conceito de venda do biocombustível também seria um dispositivo importante para combater algo que já passou da questão do desafio e se tornando um problema crônico. A questão de distribuidoras ou postos sempre taxarem o valor do etanol como sendo 70% da gasolina, mesmo quando esse está menor nas unidades produtoras, é o fator crítico da cadeia no qual pode atrasar as metas de crescimento de consumo.

Para falar sob a óptica política, na qual não precisa nem comentar a sua importância em 2018, o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, acredita na união de três fatores para fechar o ano de maneira positiva. A primeira é sobre o conceito de “menos Brasília e mais Brasil”, ou seja, quem participa da realidade virtuosa brasileira, e nisso o agronegócio está completamente envolvido, precisa inserir o seu modo como vê a vida, através do trabalho e produtividade, em relação aos personagens interessados em deixar o estado cada vez mais gordo, para cada vez mais a nação ser dependente de quem tiver a caneta do poder.

Nesse sentido, é muito importante a escolha do próximo representante máximo da política nacional. O amadurecimento democrático brasileiro, o qual muito insignificante se considerada uma linha do tempo histórica, porém que já deve ter ensinado um pouco à sociedade devido à sua intensidade, estará em prova, principalmente na necessidade dos eleitos (e nessa prateleira entram deputados, senadores e governadores) serem construtores e não gladiadores. Eleger uma maioria de virtuosos seria um baile, do ponto de vista de qualidade democrática, em potências nessa área como Estados Unidos e Inglaterra.

Para fechar o cenário político ideal, traçado por Arnaldo Jardim, os cargos políticos precisam ser ocupados por “construtores”, que enxergam o agronegócio como o protagonista da economia nacional, como o setor responsável por garantir o crescimento do Brasil, enfim, tornar a nação uma grande potência mundial, sonho não alcançado desde a independência.

Canavieiros 2017


Como fonte de informação para contar como foi o ano de 2017 para o setor, nada melhor que usar a Revista Canavieiros, e o ponto de partida foi a edição de dezembro de 2016, mês marcado pela bipolaridade jornalística em contar o epílogo do período que se encerra e o prólogo do próximo período de 12 meses, a qual abordou dois temas de fundamental importância: o mais buscado ao longo do período, o Renovabio, onde na época foi timidamente anunciado por dois colunistas (Diego Henrique Rossaneis e Marcos Fava Neves), acredito ainda pelo seu caráter pré-maturo, naquele momento ninguém apostaria em uma arrancada do projeto lançado pelo Ministério de Minas e Energia, principalmente pelo cenário político confuso.

O outro tema relevante, que  teve um destaque um pouco maior, mas ainda tímido se comparado a sua relevância para o futuro, foi o lançamento da minivan e-NV200, na 16ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol, primeiro protótipo, desenvolvido pela Nissan, de veículo movido por eletricidade gerada a partir da combinação de hidrogênio e o biocombustível em todo mundo, assunto que não pegou ao longo do ano, mas deverá ganhar mais linhas nas edições futuras da revista, principalmente para mostrar o seu ponto de maturação e comparar com o seu modelo concorrente de movimentação elétrica, à bateria.

Por tudo aquilo que deverá acontecer no ano, a edição de janeiro de 2018 será muito mais quente se comparada aos12 meses anteriores, porém nela foram tratados assuntos de muita relevância. O Renovabio ganhou a sua primeira matéria com a presença de lideranças do setor em seu lançamento oficial. A reportagem sobre o biometano produzido a partir da vinhaça também abordou um assunto já bastante discutido em 2017,tendo potencial para ganhar maior relevância em 2018, principalmente pelo apoio do Governo estadual nessa iniciativa.

O secretário de Agricultura publicou pesado artigo em defesa do agronegócio sobre o samba-enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, o qual de maneira equivocada apontava o agronegócio através do uso de agroquímico como um dos responsáveis pela tragédia ocasionada no rio Xingu, através da construção da hidrelétrica de Belo Monte.Sobre o assunto, onde a escola pagou o preço não indo nem para o desfile das campeãs, acredito que embora diversas lideranças tenham se manifestado, era a oportunidade perfeita para o agronegócio brasileiro mostrar toda a sua competência, principalmente quebrando mitos orgânicos. Outra vez a falta de uma política estratégia fez a oportunidade passar.

A segunda edição do ano tratou de dois assuntos tecnológicos que perduraram durante todo o período e entraram de vez no dia-a-dia do setor sucroenergético, o crescimento da participação de startups e também o uso da meiose foram destaque como alternativas para o ganho de eficiência e produtividade nos canaviais, até para depender menos do humor do tempo e condições climáticas, capa da respectiva publicação.

Os primeiros indícios sobre uma possível redução dos preços do açúcar ao longo do ano foram divulgados na Canavieiros de março, na coluna do professor Marcos Fava Neves, que apresentou a tendência nos estoques do alimento para um deficit menor e superavit a partir de 2018. Também houve pautas positivas: a primeira entrevista onde se falou de Renovabio, com a presidente da Unica, Elizabeth Farina; a última etapa do programa “Caminhos da Cana” e os seus expressivos resultados do ponto de vista de difusão e absorção de conhecimento, o crescimento da produção própria de MPB (mudas pré-brotadas) nas unidades industriais e o crescimento da Copercana de 9% em 2016.

A cooperativa foi o personagem principal de abril, onde recebeu o selo energia verde, dado às instituições compradoras de pelo menos 20% de sua demanda por energia elétrica de uma unidade sucroenergética, concedido pela Unica, além de ter realizado com a eficiência de sempre e ao lado das co-irmãs, Canaoeste e Sicoob Cocred, de mais uma edição do show em prol do Hospital de Amor de Barretos, no qual foi quebrado o recorde de público, 1,7 mil pessoas, para ver o cantor Luan Santana, sendo mais uma vez o evento responsável pelo maior faturamento da instituição.

Nessa edição também ficou evidente que o sonho dos preços estratosféricos do açúcar começava a terminar, o qual já havia registrado queda de 14% no primeiro trimestre do ano.

Maio foi o mês da Agrishow, a primeira depois dos furacões Dilma e Darcy,mostrando que muito ajuda aqueles que não atrapalham,a feira registrou crescimento de 13% no montante de vendas em relação ao período anterior. Outro destaque foi o apetite do público sucroenergético em investir, o ano positivo de 2016, também refletiu no aumento significativo no número de negócios de máquinas e implementos da cultura canavieira. Sob o quesito novidade, com certeza os holofotes foram para a demonstração do trator autônomo, sem cabine, da Case IH.

O grande destaque da edição de meio de ano não foi muito animador, com certeza junho foi o mês da morte do sonho dos preços altos do açúcar, vários fatores como a entrega física de um grande produtor, desvalorização do real, expectativa de aumento de produção nos concorrentes mundiais e elevação do imposto de importação na China; fizeram do preço do produto mais tradicional da sucroenergia atingir a maior depressão dos últimos 20 meses (naquele momento).

No entanto, dois textos envolvendo a Canaoeste, o primeiro um artigo muito importante assinado pelos advogados Diego Henrique Rossaneis e Juliano Bortoloti, que mostrava o tamanho do esforço dos agricultores brasileiros em cumprir as determinações do código florestal e, mesmo assim, setores vitimistas da sociedade ainda insistem em estigmatizar a categoria; e o outro onde a associação demonstrou sua preocupação em ampliar cada vez mais seu portfólio de serviços ao produtor associado através da implantação do serviço de geotecnologia. O reaparecimento do Renovabio, em evento promovido pela Fiesp, mostrou a movimentação de todas as peças da engrenagem, passando a dar esperanças, ainda que somente ao mais otimistas, de sua aprovação até dezembro.

Julho foi o mês das grandes instituições, a primeira foi a realização do 13º Agronegócios Copercana, em uma estrutura moderna e aconchegante, realizado no Centro de Eventos da cooperativa, um dos mais modernos locais de convenções de toda a região. Esse evento contou com 90 expositores e movimentou R$ 280 milhões em negócios. Para se ter ideia do tamanho, esse montante corresponde a 15% do que vendeu toda a Agrishow, isso levando em consideração o caráter nacional e multicultural da feira de Ribeirão Preto.

Ainda se tratando do evento, a Sicoob Cocred teve um resultado bastante expressivo, principalmente na realização de negócios envolvendo o consórcio para a aquisição de propriedades rurais.Produtos tradicionais de seu portfólio também contaram com o interesse de seus cooperados, mais uma prova do apetite dos fornecedores de cana em modernizar suas lavouras a fim de elevar a produtividade.

Outra instituição em evidência nas páginas da Canavieiros nesse mês foi o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), a mais antiga instituição de pesquisa científica do país, que completou 130 anose teve um pouco de sua história contada.

Temas quentes pautaram a revista de agosto!O Renovabio esquentou de vez entrando em sua fase decisiva, quando encontrou seus primeiros adversários políticos, ao ser o assunto mais comentado do Ethanol Summit, porém outras matérias envolvendo o Governo também mereceram menção, como o cumprimento do código florestal e aspectos da nova reforma trabalhista.

Outra pauta, que no começo tinha potencial de esquentar, mas acabou sumindo das páginas, foi sobre os carros elétricos, onde é apresentada a evolução da implantação dessa categoria de veículos na Europa e Estados Unidos, no entanto, deixa claro,a forma estática do tema no Brasil, bom para o etanol pois não faltará tempo para o desenvolvimentodo carro elétrico movido à célula de combustível.

A ansiedade em relação ao programa de estímulo aos biocombustíveis explodiu em setembro, nos 25 anos da Fenasucro&Agrocana, maior evento do setor. Todos os olhares apontavam para um horizonte com a implantação da nova política, até aquele ponto, seu processo de aprovação interna, dentro das diversas esferas do Governo federal, andava a uma expressiva velocidade (embora setores como a Fazenda e Casa Civil já demonstrassem cara feia ao projeto), animando todas as lideranças. Reflexo disso estão nos números da feira, a qual registrou aumento de 12% de público (37 mil) e a perspectiva da geração de R$ 3,1 bilhões nos próximos 12 meses em negociações. Vale lembrar o caráter industrial dos negócios fechados, os quais de valor final infinitamente mais altos, fazendo os seus números serem maiores em relação aos da Agrishow ou Agronegócios Copercana.

Em outubro, uma das metas do setor foi bastante discutida. A questão da integração entre os centros de pesquisa e o mercado, principalmente no sentido de se aproveitar o universo de conhecimento desenvolvido nas universidades e institutos.Para isso foi realizada a primeira edição da Esalqshow, evento anual criado com o objetivo de promover essa aproximação.

Outro passo muito importante pela escola de ciências agrárias da USP foi a criação da cátedra “Luiz de Queiroz”, a qual teve como seu primeiro ocupante o ex-ministro Roberto Rodrigues.A criação da cadeira visa reunir notáveis de diversos segmentos da sociedade para criar um plano de Governo a ser entregue aos candidatos à presidência da República, tendo a intenção de mostrar como e por que o agronegócio precisa ser o carro chefe da economia brasileira.

Também foi publicado interessante relato do colunista Marcos Fava Neves, contando sua viagem para conhecer o setor sucroenergético colombiano, o qual já desperta interesse pelos altos níveis de produtividade, no entanto o professor traz informações e exemplos valiosos, que poderiam ser perfeitamente, se não aplicáveis, inspiradores para o Brasil.

Passado inspirador, presente ansioso e futuro de esperança.Assim pode ser definida a edição de novembro da Revista Canavieiros. Enfim, o Renovabio desempacou e foi para o Congresso, que trabalhou de maneira ágil para sua aprovação em regime de urgência e mandou o texto para, rapidinho, ser aprovado pelos senadores, só falta o presidente sancioná-lo.Para quem precisa de votos na reforma da previdência, não vejo a menor possibilidade de um projeto aprovado por aclamação, não receber a valiosa assinatura presidencial.

A inspiração do passado vem de uma matéria especial sobre o ex-ministro Roberto Rodrigues, onde a sua vida é confundida com a evolução dos cursos superiores em ciências agrárias, do cooperativismo, principalmente o de crédito, onde ele foi peça fundamental tanto na aprovação da Constituição de 1988, a qual permitiu às instituições oferecerem quase que o mesmo portfólio de produtos e serviços oferecidos pelos bancos comerciais e públicos e também em sua passagem como ministro da Agricultura, na qual ele conseguiu modernizar o sistema de crédito rural, onde foi possível desenvolver ferramentas como o LCA e o CRA.

E a esperança que o mundo deposita no Brasil, como potência no desenvolvimento, não só de produtos, mas tecnologias, com o objetivo de diminuir a quantidade de gases provocadores do efeito estufa no ambiente também foi tratada apontando para 2018 como o ano em que o trabalho e as intenções finalmente começarão a ser concretizadas.

Caminhos da cana


Nenhuma travessia é fácil e para completá-las geralmente as pessoas precisam levar ao extremo as suas duas forças principais (física e mental). Andar um longo trecho (como o caminho da fé);atravessar o Oceano Atlântico (com fez o explorador Amyr Klink); conseguir finalizar uma prova de triátlons; estudar durante toda a adolescência e juventude para passar em um vestibular de medicina; cultivar uma cultura e conseguir ser produtivo durante sete anos, mesmo a sociedade te apontando como um poluidor nefasto e os órgãos governamentais e o próprio mercado exigindo cada vez mais ações sustentáveis.Esses são alguns exemplos de como é pesada uma travessia.

A coragem é outro ingrediente que está presente em todas as pessoas vitoriosas em seus desafios. O escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910) definiu a palavra em sua essência, no que diz a respeito a este tipo de gente: “Coragem é a resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo”. Assim pode ser definida a iniciativa do então presidente da Orplana, na ocasião do nascimento do projeto, Manoel Ortolan, e o professor Marcos Fava Neves, os precursores do “Caminhos da Cana”.

Medo era o sentimento em todos os elos da cadeia produtiva da cana em 2014, os termos recuperação judicial e falência eram talvez mais citados que açúcar e etanol, a situação era similar à de muitos países afetados por um forte conflito militar. A criação de um projeto cujo o objetivo era profissionalizar e integrar as associações de fornecedores do Centro-Sul paulista não fazia sentido, isso pelo simples fato de se investir em profissionalização em algo condenado (se acham exagero, imagina quem conseguiria manter um canavial de pé com a presidente Dilma no poder até o final de 2018, ou então pesquisem como é o agronegócio na Venezuela).

Pois a dupla citada acima resistiu e dominou o medo, lançando um carro em uma espécie de road show,onde em cada parada seria feito um seminário no qual além da apresentação de soluções, também seriam ouvidas necessidades, com o objetivo de serem estudadas e atendidas no menor intervalo de tempo possível, e ninguém aqui está falando de dinheiro, mas de conhecimento.

Só em 2017 foram 14 paradas (Ourinhos, Jaú, Usina Itamaraty-MT, Nova Olímpia-MT, Sindicato do Açúcar e Álcool do Mato Grosso, Orindiúva, Monte Aprazível, Uberaba, Bebedouro, Capivari, Valparaíso, Araçatuba, Novo Horizonte e Ribeirão Preto), ao chegar no Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto, a Fiat Toro (carro utilizado nessa temporada) encerrou de vez esse projeto.No entanto, assim como um atleta olímpico encerra um ciclo em sua carreira após os jogos, e depois de um breve período se inicia outro, o trabalho pela evolução da gestão das associações e associados também encerrou um ciclo, para em 2018 iniciar outro.

Durante o evento de encerramento do programa, o gestor executivo da Orplana, Celso Albano, apresentou os novos programas da entidade, os quais serão responsáveis por dar continuidade a todo o desenvolvimento realizado ao longo dos últimos 4 anos.

A primeira ação será a implantação do “Muda Cana”, programa de EAD (ensino a distância) em que os fornecedores associados poderão adquirir e até mesmo ampliar seu conhecimento em temas relacionados a três pilares de conhecimento: produtividade e sustentabilidade, gestão de riscos e comercialização; e gestão eficaz do negócio. Um dos parceiros no fomento de cursos é o Pecege (Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas), da Esalq-USP, o qual promoverá conhecimento ligado a temas como precificação, custo de produção, práticas de negociação, análise comparativa de resultados e indicadores de desempenho.

Ao lado do projeto “segmentação”, que busca identificar os diversos perfis de associados baseado na quantidade de terra e também em sua forma de produção e uma programação extensiva de eventos, a entidade consegue preencher as necessidades de todos os envolvidos com o objetivo final de fornecer a cana-de-açúcar da maneira mais profissional possível elevando a rentabilidade da operação.

Quando questionado sobre como a Orplana pretende resgatar a imensa quantidade de produtores ausentes das associações, cerca de metade dos fornecedores de cana, ele se sente tranquilo ao dizer que a volta deles será de maneira natural, onde darão valor ao associativismo em decorrência da evolução profissional dos vizinhos participativos.

Bons presságios


O cérebro da sucroenergia esteve muito próximo de estourar, assim como uma barragem rachada, a cada virada de ano onde os maus presságios só aumentavam.

O próximo período começará com expectativas positivas, e se considerar o boom do preço do açúcar no ano retrasado e todos os fatos narrados na retrospectiva de 2017, poderá ser completado um triênio azul, como a muito tempo não se via.

No entanto, existem várias rachaduras para serem restauradas. É hora de trabalhar!