Hoje 2019, em breve 2030...
06/02/2019
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
O ano de 2018 encerrou muito agitado após as eleições de deputados estaduais, federais, senadores, presidente e o povo brasileiro, juntamente com toda cadeia produtiva do agronegócio, deposita no resultado destas eleições o desejo e esperança de um novo país. Para que isso se concretize é necessário muito trabalho, dedicação e informação. Nada se muda do dia para a noite, mas felizmente já existem sinais de melhorias econômicas em diversos setores e nosso agronegócio continua sendo a roda motriz de nossa balança comercial.
Para quem pensa que 2030 demorará a chegar, ledo engano! Se não começarmos a nos preparar a partir de agora, não teremos capacidade de atender à demanda de alimentos necessária para alimentar o Brasil e o mundo.
O Brasil conta atualmente com 72 milhões de hectares de terras aradas, sendo 9,8 milhões de (13,6%) tomadas pela cana-de-açúcar. O setor saltou de 270 milhões de toneladas na safra 2002/03 com 3,9 milhões de hectares plantados para 596 milhões de toneladas na safra 2017/18. Este crescimento significativo foi alavancado não apenas nas áreas tradicionais, mas também sobre regiões de pastagens degradadas, solos mais pobres e clima mais adverso com maior déficit hídrico.
Para ilustrar a minha preocupação, a produção agrícola mundial precisa aumentar aproximadamente 20%, o que não significa simplesmente aumentar a área e/ou produção de alimentos em 1/5 de todos os países produtores, pois isso é impossível devido a uma série de limitações. De onde virá este crescimento? Adivinhem a resposta? Sim, do Brasil, que já é visto como o maior protagonista e deverá crescer 40% sua produção atual, seguido da Ásia em 15%, da Europa, Estados Unidos e Canadá em 10% cada. Mas como faremos isso?
A agricultura brasileira, desde o início da colonização, estava localizada principalmente nas regiões costeiras do país. Durante os anos 80 começou a migrar para a região Centro-Oeste buscando ampliar as fronteiras agrícolas. No entanto, a logística necessária para transportar todos os insumos e escoar a produção não acompanhou este movimento na mesma velocidade devido à falta de investimentos em infraestrutura.
Uma das formas de se fazer isso é através das Parcerias Público-Privada (PPP) que visam, em relação ao Poder Público, suprir a insuficiência de investimentos em silos, armazéns, rodovias, ferrovias e portos, pelo uso de recursos próprios. O governo não tem condições de fazer isso sozinho, então a iniciativa privada vem promovendo investimentos importantes não apenas para o escoamento de produtos, mas para reduzir custos de produção, melhorando sua margem operacional.
É cada vez maior a exigência em relação à qualidade dos alimentos e seus subprodutos produzidos em todo o mundo. Ser corretamente sustentável e ao mesmo tempo manter os altos índices de produtividade são dois pontos fortes do Brasil, país pioneiro em uma das mais bem-sucedidas estratégias de produção agropecuária, a ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) que combina diferentes sistemas produtivos dentro de uma mesma área de produção, gerando benefícios mútuos.
São mais de 11 milhões de hectares no Brasil, que promovem diversos benefícios: 1) Estabilidade econômica com redução de riscos; 2) Otimização e intensificação da ciclagem de nutrientes no solo; 3) Mitigação das emissões de gases causadores de efeito estufa; 4) Manutenção da biodiversidade e sustentabilidade agropecuária; 5) Redução da pressão de abertura de novas áreas com vegetação nativa; 6) Aumento da renda líquida permitindo maior capitalização do produtor; 7) Geração de empregos diretos e indiretos; 8) Melhoria do bem-estar animal em decorrência do maior conforto térmico; 9) Maior otimização dos processos e fatores de produção; 10) Melhoramento da qualidade e conservação das características do solo; 11) Maior eficiência na utilização dos recursos (água, luz, nutrientes e capital) e ampliação do balanço energético; 12) Aumento da produção de grãos, carne, leite, produtos madeireiros e não madeireiros em uma mesma área, 13) Possibilidade de aplicação em propriedades rurais de qualquer tamanho e 14) Redução da sazonalidade do uso da mão de obra no campo e do êxodo rural.
O uso das terras no Brasil é seguramente um dos melhores do mundo, pois 2/3 do território ainda estão preservados (a Europa, por exemplo, tem menos de 10%) promovendo uma agricultura equilibrada e sustentável. Apenas 8% do território são utilizados para fins agrícolas e, mesmo assim, houve um crescimento de produção de 60% no período de 2004 a 2011, com relevante redução nas despesas com o uso de defensivos agrícolas.
Devido as constantes mudanças de regimes hídricos, vivemos momentos de novas técnicas de irrigação mais eficientes que visam aplicar realmente o necessário para atender às necessidades das plantas. Modelos alternativos de produção e reaproveitamento de resíduos vêm ganhando atenção, chamados de economia circular, que se torna indispensável. Um fato preocupante é que metade da população mundial em 2030 viverá em áreas com escassez severa de água. Já imaginaram o que significa isso?
Com a mudança deste ambiente de produção, fizeram-se necessárias novas práticas agrícolas que promovessem maior ganho de produtividade. Na cultura da cana-de-açúcar, por exemplo, diversas usinas, principalmente nas áreas de expansão, adotaram, dentre as diversas práticas de manejo, novas tecnologias mais eficientes relacionadas ao controle de pragas, doenças e daninhas, preparo de solos e nutrição, uso de maturadores, etc. Entretanto, um aspecto que varia muito e chama a atenção, mas ainda pouco abordado da forma correta, está relacionado à utilização de pivôs centrais para a irrigação que pode utilizar água limpa e águas residuais da indústria.
Outro fato é que para 2030 se espera um aumento das emissões de carbono em 16% e elevação das médias de temperaturas em 1,5oC que, como consequência, fará com que a produção agrícola na África, por exemplo, possa sofrer uma redução de 1/3 em até 60 anos. E o que este aumento pode gerar de impacto em outros países produtores?
A escassez de mão de obra nas áreas rurais irá aumentar. Em 2014, 45% da população mundial vivia no campo e em 2050 chegará a apenas 34%, acumulando nas cidades aproximadamente 6,3 bilhões de pessoas, trazendo grandes desafios à produção (já mencionado inicialmente), armazenamento e distribuição. Fazendas urbanas, hortas coletivas e o conceito de produção vertical estão cada vez mais presentes nos centros urbanos. Serão cada vez menos agricultores alimentando mais pessoas nos centros urbanos.
O agronegócio carece de uma legislação ambiental mais moderna, menos engessada, que permita a utilização de insumos cada vez mais modernos e com menor impacto ambiental. Carece também de linhas de captação de dinheiro mais atrativas que proporcione ao produtor rural mais fôlego.
Por fim, com os atuais avanços tecnológicos, foi possível o uso cada vez mais consciente e eficiente dos meios de produção e o custo para aquisição de novas soluções de ponta vem diminuindo, permitindo acesso não mais apenas ao grande e médio produtor, mas também ao pequeno. Projeta-se para 2050 um ganho de produção mundial de 70% quando comparada a valores presentes e em reflexo ao uso destas tecnologias.
Por ora é isso, mas há muito a se fazer!
O agro não para!
* Marco Lorenzzo Cunali Ripoli é engenheiro agrônomo e mestre em Máquinas Agrícolas pela Esalq-USP e doutor em Energia na Agricultura pela Unesp, executivo, disruptor, empreendedor, inovador e mentor. Proprietário da Bioenergy Consultoria, Energia da Terra empresa de alimentos saudáveis e investidor em empresas.