IAC/SAA apresenta o Censo de Irrigação na Cana para 2019

05/07/2019 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
* Rubens L. do C. Braga Jr.
** Marcos G. A. Landell


O Instituto Agronômico (IAC) de Campinas, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, apresentou na reunião do Grupo Fitotécnico de Cana-de-Açúcar realizada no Centro de Cana do IAC, em maio/2019, o Censo de Irrigação na Cana-de-açúcar. Esse é o segundo ano consecutivo de realização desse trabalho e foram levantadas informações sobre 98 unidades produtoras de cana-de-açúcar no Brasil, totalizando uma área de 2,7 milhões de hectares amostrados. Essa região é 174% superior ao território alcançado no ano anterior, demonstrando um interesse crescente das empresas neste assunto.

O censo do uso de Irrigação na Cana-de-açúcar tem como objetivo gerar importantes conhecimentos referentes ao uso da irrigação nas suas diferentes formas, visando incentivar o uso dessa ferramenta nos canaviais brasileiros como estratégia de mitigação de déficit hídrico e de promoção de plantios de qualidade superior quando os mesmos são realizados no período outono/inverno, ou ainda, promovendo a brotação uniforme de canaviais cultivados em regiões de extremos déficits hídricos com a chamada “irrigação de salvamento”.

Para tanto, foram solicitadas informações sobres os sistemas de irrigação e fertirrigação (no sulco, aspersão convencional, autopropelido, pivô central e gotejamento) e os tipos e água/vinhaça utilizada (água, água residuária, vinhaça pura e vinhaça diluída), para todas as unidades produtoras brasileiras, ou seja, destilarias, usinas autônomas, usinas com destilarias anexas e associações de produtores (fornecedores).
 
Com o compromisso de apresentar as informações ao público de maneira transparente, o Censo de Irrigação do IAC garante o resguardo da confidencialidade da informação individual enviada por cada uma das unidades produtoras. Os dados agrupados permitem relevantes análises, gerando uma visão contextual do uso de irrigação por região produtora.

O projeto Censo de Irrigação na Cana-de-açúcar conta com o patrocínio de importantes agentes do setor canavieiro, como as empresas Netafim e Valley, com o apoio institucional da Fundag e com a orientação dos professores dra. Regina Celia de Matos Pires (IAC/APTA/SAA - Campinas) e dr. Alexandre Barcellos Dalri (UNESP  – Jaboticabal).

Os resultados apontaram que 44% da área amostrada com cana será irrigada ou fertirrigada em 2019, sendo que em praticamente metade dessa área foi aplicada a vinhaça diluída, como pode-se observar pela Figura 1. Existe, também, uma grande proporção de áreas com aplicação de vinhaça pura.
 
É interessante observar que essa distribuição varia de maneira significativa quando se altera a região estudada (Figura 2). Nas empresas produtoras de cana mais ao sul do país (Estados do Mato Grosso do Sul e Paraná e regiões de Assis, Jaú e Piracicaba no Estado de São Paulo) existe uma alta concentração de áreas com aplicação de vinhaça diluída (64% da área irrigada), vindo a seguir a vinhaça pura (27%). Já na região Centro/Oeste do Estado de São Paulo (regiões de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Araçatuba) existiu uma divisão similar entre as áreas com aplicação de vinhaça diluída (49% da área irrigada) e a vinhaça pura (47%).
No centro do país (Estados do Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais e Tocantins) a aplicação de vinhaça diluída permanece ocupando a maior parte da área irrigada (48%), seguida da vinhaça pura (30%), mas já se observa uma significativa participação da água pura, com 18%. Na região Nordeste a irrigação com água passa a ser a mais importante, com 69% da área de aplicação, seguida da vinhaça diluída (29%).
 
Outra informação importante coletada pelo censo se refere à época em que a irrigação ou fertirrigação será realizada em 2019. Entre os produtores da região Centro-Sul, independente da sua localização, a irrigação/fertirrigação será realizada entre os meses de abril e novembro (90% da área irrigada), quando a safra de cana ocorre nessa região (Figura 3).

Também em relação a esse aspecto, existe uma forte influência regional nos dados observados. Nos Estados da região Nordeste, os principais meses para a irrigação serão janeiro e fevereiro e entre agosto e dezembro, como se observa pela Figura 4. Nessa região, 87% da irrigação será realizada nesses meses.
 
Para concluir, foi solicitado aos produtores que opinassem sobre o motivo da não ampliação das suas áreas irrigadas (Figura 5). Ficou claro que a questão do custo de implantação (46% das respostas) ainda é o principal entrave para o uso de irrigação. Em seguida, aparecem as questões técnicas, associadas à falta de outorga para o uso da água (20%) e a não disponibilidade de recursos hídricos (16%).
 
Todas essas questões apontadas como principais entraves parecem se referir à irrigação convencional para produção, ou seja, a irrigação plena ou mesmo a irrigação deficitária com uso de pivôs e sistemas de gotejamento, principalmente. No entanto, uma análise mais profunda parece indicar que são questões relativas, que contém um pouco da subjetividade e que podem se originar da pouca experiência e conhecimento prático que os canavicultores possuem sobre estes tipos de irrigação.

* Rubens L. do C. Braga Jr é proprietário da RBJ Consult e consultor do IAC
** Marcos G. A. Landell é pesquisador científico e coordenador do Programa Cana do IAC
 
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