Indústria e agricultura na nova equipe econômica

30/12/2014 Geral POR: Sérgio Leo – Valor Econômico
Ao convidar, para os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, executivos com passagem pela presidência de confederações nacionais do setor agrícola e industrial, a presidente Dilma Rousseff indicou que ambos farão parte integral da política econômica - isto é, serão consultados para a tomada de decisão das medidas de ajuste e de promoção do crescimento.
Dilma deu poderes ao ministro indicado da Fazenda, Joaquim Levy, para restaurar a credibilidade da política econômica, mas espera corrigir os rumos enquanto elimina atritos na relação com os setores produtivos.
Fricções são inevitáveis. O vazamento da escolha de Kátia Abreu como ministra da Agricultura irritou o PMDB, especialmente o vice-presidente Michel Temer, que não havia sido consultado.
O curativo para as suscetibilidades feridas, segundo um ministro que acompanhou as negociações de formação do novo ministério, foi entregar ao partido um posto a mais, indicado por Temer: a secretaria de Portos, que não estava destinada ao PMDB, nos planos iniciais de Dilma. Kátia Abreu não entrou na cota dos ministros partidários, mas como escolha pessoal da presidente.
No caso da indústria, o novo ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, assume com o compromisso de que terá voz e voto nas decisões da equipe. Mas sem garantias de que sairá satisfeito de toda discussão sobre o que fazer. O governo tomou em conta o roteiro criado pela Confederação Nacional da Indústria - da qual Monteiro foi presidente por oito anos - na definição dos rumos de sua política industrial. Uma das medidas desejadas pela confederação, porém, já foi descartada de saída: a criação de adidos especiais para promover o comércio exterior, nas embaixadas brasileiras.
Mas foi levada a sério: sob a coordenação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, chegou-se a criar um grupo para estudar a viabilidade da nomeação, nas embaixadas do país, de adidos para cuidar especialmente da promoção exterior - há demandas da CNI para que, apesar do bom trabalho de alguns diplomatas, o Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty tenha suas funções substituídas por profissionais ligados mais estreitamente ao setor privado. Os custos da mudança, calculados pelo governo, sepultaram a ideia, e o Itamaraty seguirá dividindo com a Agência de Promoção de Exportações (Apex) a responsabilidade no setor.
A proposta da CNI caiu por entrar em choque com um princípio básico definido por Dilma: especialmente em meio a um brutal esforço fiscal, qualquer solução que implique aumento da folha de pagamentos da burocracia ou em mais despesas de custeio está descartada, por princípio. A lista de propostas da indústria levada á presidente é bem extensa, e nem todas as sugestões significam gastos adicionais. Essa lista será repassada por Monteiro, e deve orientar as iniciativas do ministério.
Segundo um auxiliar de Dilma, a presidente quer maior participação dos dois novos ministros na condução da política econômica, ainda que, nos primeiros dois anos, a prioridade seja para o ajuste das contas públicas e controle da inflação. Diferentemente da gestão Guido Mantega, na qual os ministérios do Desenvolvimento e da Agricultura costumavam ser surpreendidos por medidas tomadas pela Fazenda, no novo mandato deve haver reuniões frequentes dos ministérios, especialmente antes de decisões importantes.
O que ainda não está claro é o papel do Ministério das Relações Exteriores nesse quadro. Durante o primeiro mandato, negociações diplomáticas importantes foram assumidas por outros ministérios, como o do Desenvolvimento, que passou a dirigir as iniciativas no comércio com a Argentina, devido à forte influência do setor automotivo nas relações bilaterais.
O programa Inovar-Auto, hoje contestado por parceiros comerciais do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), não seguiu recomendações do Itamaraty, que também não foi ouvido previamente quando Dilma decidiu romper o acordo automotivo com o México (mantido, afinal, após negociadas cotas de importação, a pedido dos mexicanos).
Os aspectos da política externa que mais interesse despertam na presidente tradicionalmente já se abrigam na assessoria internacional do Ministério da Fazenda: as relações com as economias mais influentes do planeta, no chamado G-20; as discussões por maior poder aos emergentes no FMI e Banco Mundial; as relações no chamado Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no aspecto financeiro-comercial, com iniciativas como o banco dos Brics. Diplomatas competentes costumam ser designados para essa assessoria, hoje a cargo do embaixador Carlos Márcio Cozendey, mas as diretrizes são decididas no Ministério da Fazenda.
Na semana passada, havia quem apostasse, no círculo próximo de Dilma, que ela não mudaria o comando do Itamaraty, pelo menos nesses seis primeiros meses, quando o Brasil detém a presidência temporária do Mercosul, com desafios a enfrentar nas crises políticas e econômicas na Argentina e na Venezuela. O chanceler Luiz Alberto Figueiredo, no entanto, já havia manifestado interesse em sair. Quem não manifesta exatamente o que quer da diplomacia brasileira é a presidente da República.
Ao convidar, para os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, executivos com passagem pela presidência de confederações nacionais do setor agrícola e industrial, a presidente Dilma Rousseff indicou que ambos farão parte integral da política econômica - isto é, serão consultados para a tomada de decisão das medidas de ajuste e de promoção do crescimento.
Dilma deu poderes ao ministro indicado da Fazenda, Joaquim Levy, para restaurar a credibilidade da política econômica, mas espera corrigir os rumos enquanto elimina atritos na relação com os setores produtivos.
Fricções são inevitáveis. O vazamento da escolha de Kátia Abreu como ministra da Agricultura irritou o PMDB, especialmente o vice-presidente Michel Temer, que não havia sido consultado.
O curativo para as suscetibilidades feridas, segundo um ministro que acompanhou as negociações de formação do novo ministério, foi entregar ao partido um posto a mais, indicado por Temer: a secretaria de Portos, que não estava destinada ao PMDB, nos planos iniciais de Dilma. Kátia Abreu não entrou na cota dos ministros partidários, mas como escolha pessoal da presidente.
No caso da indústria, o novo ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, assume com o compromisso de que terá voz e voto nas decisões da equipe. Mas sem garantias de que sairá satisfeito de toda discussão sobre o que fazer. O governo tomou em conta o roteiro criado pela Confederação Nacional da Indústria - da qual Monteiro foi presidente por oito anos - na definição dos rumos de sua política industrial. Uma das medidas desejadas pela confederação, porém, já foi descartada de saída: a criação de adidos especiais para promover o comércio exterior, nas embaixadas brasileiras.
Mas foi levada a sério: sob a coordenação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, chegou-se a criar um grupo para estudar a viabilidade da nomeação, nas embaixadas do país, de adidos para cuidar especialmente da promoção exterior - há demandas da CNI para que, apesar do bom trabalho de alguns diplomatas, o Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty tenha suas funções substituídas por profissionais ligados mais estreitamente ao setor privado. Os custos da mudança, calculados pelo governo, sepultaram a ideia, e o Itamaraty seguirá dividindo com a Agência de Promoção de Exportações (Apex) a responsabilidade no setor.
A proposta da CNI caiu por entrar em choque com um princípio básico definido por Dilma: especialmente em meio a um brutal esforço fiscal, qualquer solução que implique aumento da folha de pagamentos da burocracia ou em mais despesas de custeio está descartada, por princípio. A lista de propostas da indústria levada á presidente é bem extensa, e nem todas as sugestões significam gastos adicionais. Essa lista será repassada por Monteiro, e deve orientar as iniciativas do ministério.
Segundo um auxiliar de Dilma, a presidente quer maior participação dos dois novos ministros na condução da política econômica, ainda que, nos primeiros dois anos, a prioridade seja para o ajuste das contas públicas e controle da inflação. Diferentemente da gestão Guido Mantega, na qual os ministérios do Desenvolvimento e da Agricultura costumavam ser surpreendidos por medidas tomadas pela Fazenda, no novo mandato deve haver reuniões frequentes dos ministérios, especialmente antes de decisões importantes.
O que ainda não está claro é o papel do Ministério das Relações Exteriores nesse quadro. Durante o primeiro mandato, negociações diplomáticas importantes foram assumidas por outros ministérios, como o do Desenvolvimento, que passou a dirigir as iniciativas no comércio com a Argentina, devido à forte influência do setor automotivo nas relações bilaterais.
O programa Inovar-Auto, hoje contestado por parceiros comerciais do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), não seguiu recomendações do Itamaraty, que também não foi ouvido previamente quando Dilma decidiu romper o acordo automotivo com o México (mantido, afinal, após negociadas cotas de importação, a pedido dos mexicanos).
Os aspectos da política externa que mais interesse despertam na presidente tradicionalmente já se abrigam na assessoria internacional do Ministério da Fazenda: as relações com as economias mais influentes do planeta, no chamado G-20; as discussões por maior poder aos emergentes no FMI e Banco Mundial; as relações no chamado Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no aspecto financeiro-comercial, com iniciativas como o banco dos Brics. Diplomatas competentes costumam ser designados para essa assessoria, hoje a cargo do embaixador Carlos Márcio Cozendey, mas as diretrizes são decididas no Ministério da Fazenda.
Na semana passada, havia quem apostasse, no círculo próximo de Dilma, que ela não mudaria o comando do Itamaraty, pelo menos nesses seis primeiros meses, quando o Brasil detém a presidência temporária do Mercosul, com desafios a enfrentar nas crises políticas e econômicas na Argentina e na Venezuela. O chanceler Luiz Alberto Figueiredo, no entanto, já havia manifestado interesse em sair. Quem não manifesta exatamente o que quer da diplomacia brasileira é a presidente da República.