Integrar para fortalecer

26/09/2022 Noticias POR: FERNANDA CLARIANO

A 21ª edição do Congresso Brasileiro do Agronegócio destacou a importância da integração dos setores brasileiros para a garantia da segurança alimentar mundial

Baseado em ciência, pesquisas agronômicas e industriais e ao desenvolvimento de métodos, processos e tecnologias específicos para um solo tropical, o agronegócio brasileiro deve prosperar ainda mais nas próximas décadas com o avanço da automação, da conectividade, de ferramentas para gestão de etapas de produção e de novas tecnologias para monitoramento, rastreabilidade e de gerenciamento de dados. E há um apelo do mundo para que o Brasil continue produzindo e seja um player responsável pelo abastecimento interno e por socorrer o mundo. Foi o que apontaram as discussões durante o 21º Congresso da ABAG, para fomentar reflexões sobre o presente e o futuro do agro.

O evento foi realizado no início do mês de agosto na Capital paulista e contou com a participação de especialistas de vários segmentos da cadeia produtiva que integraram painéis sobre Geopolítica, Segurança Alimentar e Interesses; Agronegócios: meio ambiente e mercados; Agronegócios: tecnologia e integração e agronegócios: perspectivas 2023/2026.


Carvalho: “Suportar a segurança alimentar, apoiar a sustentabilidade global pressupõe protagonismo, que, por sua vez, inclui negociação competente”

 

Na abertura, o presidente da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, destacou que a integração nas cadeias produtivas viabilizará o complexo mundo tropical brasileiro, fortalecendo a biodiversidade, provendo segurança alimentar e energética, produzindo mercados menos voláteis, reduzindo comportamentos individualistas, populistas e protecionistas. Além disso, estimula a competitividade em processo mais aberto e criativo, e une o público e o privado em ações conjuntas. “Suportar a segurança alimentar, apoiar a sustentabilidade global pressupõe protagonismo, que, por sua vez, inclui negociação competente. É uma qualidade da diplomacia brasileira que precisa ser valorizada, principalmente em momentos como o atual, com enormes tensões geopolíticas. Nossa capacidade de competir, aliás, somada a dos nossos parceiros de países do Sul, merece regras globais que beneficiem e que não prejudiquem essa capacidade competitiva”, disse Carvalho.

O CEO da B3, Gilson Finkelsztain, destacou a importância do agronegócio e a evolução do mercado financeiro que vêm contribuindo para a proteção de preços, para a gestão de riscos e ampliando a captação de recursos, crédito e investimentos para todos os agentes do setor. Presente na abertura, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, falou da importância do etanol, como um combustível que emite menos emissões e que propiciou
uma solução híbrida para os veículos automotores e destacou ainda o fornecimento de energia renovável mais barata e sobre mostrar na COP 27 o Brasil real, que é sustentável e verde.

Já o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, em seu discurso destacou que a competitividade brasileira no setor tem incomodado os demais players globais. “Todos nós buscamos a preservação
ambiental, mas ela não pode ser usada para nos prejudicar e para diminuir nossa competitividade. Temos projetos futuristas nessa área e estamos fazendo nosso dever de casa”. Na ocasião, o governador do Estado de São Paulo, Rodrigo Garcia, disse que o Brasil tem um papel preponderante como produtor de alimentos e que os preços das commodities podem variar, mas o alimento continuará a ser a mola propulsora do agro no mundo. Para ele, um dos principais desafios é a guerra da narrativa e da comunicação.

Geopolítica, segurança alimentar e interesses

O comércio agrícola é essencial para garantir a segurança alimentar, diversificação e melhores rendas rurais em muitas regiões. O último relatório da OCDE indica que, globalmente, o comércio das principais commodities agrícolas e de produtos processados deverá crescer em linha com a produção na próxima década. No entanto, espera se que algumas regiões exportem uma parcela crescente de sua produção doméstica. A América Latina e Caribe, Europa e Ásia Central, enquanto outros deverão importar uma parcela crescente de seu consumo total. Essa crescente interdependência entre parceiros comerciais ressalta a importância crítica de um sistema de comércio multilateral que funcione bem transparente e baseado em regras.

Compondo o primeiro painel, o embaixador Alexandre Parola, representante permanente da Missão do Brasil junto à OMC (Organização Mundial do Comércio), afirmou que o equilíbrio internacional que se dá hoje em dia é entre a cooperação e a competição e que a diplomacia defende interesses criados a partir de realidades. “O Brasil está comprometido com novas formas de negociação, especialmente as agrícolas, que estão mais ágeis. Há uma reforma do sistema vindo aí e o Brasil é parte dessa reconstrução”, disse Parola.

O presidente do Cosag (Conselho Superior do Agronegócio), Jacyr Costa, em sua fala ponderou que a fome aumentou no mundo e, para garantir segurança alimentar, é preciso mais comércio, e isso não significa apenas exportar, mas saber importar, facilitar acordos comerciais e inserir o país neste cenário com fomento da produção regional.

Agronegócios: meio ambiente e mercados

No painel moderado pelo diretor Executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) André Guimarães, os debatedores avaliaram a necessidade de ampliar o diálogo entre todos os stakeholders; de investimentos para conservar ainda mais; de lideranças para que inspirem outras empresas e setores; e de ciência para resolver os problemas.

Na oportunidade, o embaixador José Carlos da Fonseca Júnior, cofacilitador da Coalizão Brasil - Clima, Florestas e Agricultura citou o segmento de florestas, que enquanto produz mais de 9,5 milhões de hectares com finalidade industrial, conserva mais de 6 milhões de hectares em floresta nativa. E ainda observou que o Brasil precisa estar na mesa de negociação do mundo.

Já o professor, coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp, Gonçalo Pereira, destacou a importância da ciência para promover a inovação em variados segmentos do agro.

Agronegócio: tecnologia e integração

O agronegócio brasileiro se torna mais produtivo com a inserção de novas tecnologias nos diferentes elos da cadeia e criadas na indústria, pelos produtores rurais, universidades, institutos de pesquisa ou advindas de startups. Essas inovações contribuem ainda para ampliar a conservação ambiental e diminuir o impacto das mudanças climáticas. As perspectivas para o setor, com o incremento de novas tecnologias, que também possibilitaram a integração entre as cadeias produtivas e conectaram os consumidores à realidade desse mercado. E neste painel, moderado pelo presidente da Embrapa, Celso Moretti, contou com a participação da presidente da ConectarAgro, Ana Helena de Andrade; do presidente do Conselho de Administração do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), Luís Pogetti e do conselheiro da Rede ILPF, Renato Ribeiro Rodrigues.

Pogetti, na ocasião, ressaltou dois grandes desafios para a humanidade que é conter o aquecimento global e seus impactos e dar conta da demanda cada vez mais crescente por alimentos no mundo, sobretudo em regiões mais carentes. “A agricultura brasileira, com a aplicação de tecnologias têm condições de produzir energia limpa e desenvolver a produtividade sem impactar no aquecimento global, mas para isso precisa ganhar produtividade com uma velocidade cada vez maior”. O executivo ainda destacou que até 2035 o objetivo é dobrar a produtividade dos canaviais e que o CTC tem trabalhado com pesquisas como a criação de semente sintética de cana e a realização de milhares de cruzamento de espécies.

Agronegócio: perspectivas 2023/2026

Quais são as perspectivas para o agronegócio nos quatro anos? Ilustres personalidades como o ex-presidente da República, Michel Temer, e os ex-ministros da Agricultura Alysson Paolinelli, Francisco Turra, e Roberto Rodrigues compartilharam suas avaliações sobre o futuro do setor no curto prazo, no último painel do evento.

O ex-presidente da República destacou a importância da evolução tecnológica do agronegócio e do incentivo às ações da iniciativa privada, com o intuito de obter financiamentos apropriados para o agro brasileiro. Já Paolinelli, que participou de forma virtual, analisou que o momento atual é uma grande oportunidade de o país reafirmar seu protagonismo no cenário da segurança alimentar mundial. Turra, por sua vez, salientou que o Brasil superou outros países produtores pela qualidade da produção, tecnologia e produtividade, mas que esses índices podem ser multiplicados com agregação de valor aos produtos exportados.

Na observação de Rodrigues, alguns temas devem ser analisados no curto prazo, dentre eles a nova globalização; o novo cenário transformado pela pandemia e a segurança alimentar. “O mundo está em busca de autossuficiência, por isso precisamos trabalhar para garantir nosso papel, que depende de estratégias, como tecnologia e inovação, acordos comerciais fortes, não aceitação de ilegalidades no país, infraestrutura e logística, além de organização da classe rural, através das cooperativas brasileiras”.

Homenagem


Celso Moretti (presidente da Embrapa), Tânia Zanella (superintendente do Sistema OCB) e Luiz Carlos Corrêa Carvalho (presidente da ABAG), fizeram a entrega da homenagem à Mariangela Hungria da Cunha

 

Prêmio Norman Borlaug de Sustentabilidade 2022

O engenheiro agrônomo Norman Borlaug transformou-se em sinônimo de sustentabilidade. Ele foi um dos agrônomos que mais contribuíram para melhorar a vida no planeta e suas ações e iniciativas mudaram o destino de muitos países e ajudou nações em desenvolvimento a combater a miséria, principalmente com o salto de produção e qualidade da cultura do trigo, tão necessária na mesa de milhões de pessoas. Receber uma homenagem com o seu nome significa ser reconhecido como alguém que contribuiu de maneira decisiva na luta por assegurar a todos o direito a uma alimentação segura e saudável.

Este ano, a homenageada com o Prêmio Norman Borlaug é a pesquisadora da Embrapa Soja, Mariangela Hungria da Cunha. Através de sua pesquisa, Mariangela traz orgulho para a agricultura brasileira por dar sequência à revolução verde iniciada por Norman e por, no decorrer dos anos, continuar sendo exemplo no estudo de formas para manter o agronegócio pujante. “Recebi a notícia de que ia ter esse prêmio e um filme se passou pela minha mente e pelo meu coração, o filme de sustentabilidade. Desde criança luto pela preservação dos rios, oceanos e solo, pelo qual me apaixonei. Sustentabilidade dá retorno social e econômico, mas exige investimento de tempo. Precisamos dar continuidade em outro rumo, a microrrevolução verde com uso de microrganismos e preservação do meio ambiente. Temos vocação e capacidade para produzir mais com cada vez menos. Sem dúvida, o solo representa o ponto inicial da jornada rumo à segurança alimentar que todos almejamos”.


Francisco Turra (ex-ministro da Agricultura), Luiz Carlos Corrêa Carvalho (presidente da ABAG) e Nilson Leitão (presidente do Conselho de Administração do IPA) entregaram a homenagem ao deputado federal Arnaldo Jardim

 

Prêmio Ney Bittencourt de Araújo – Personalidade do Agronegócio 2022

A homenagem que leva o nome do engenheiro agrônomo Ney Bittencourt de Araújo é um reconhecimento às personalidades do agronegócio brasileiro que também trilham o mesmo caminho vitorioso. Ney Bittencourt de Araújo foi um dos homens mais importantes da história do desenvolvimento da agricultura brasileira. Este ano, o prêmio Personalidade do Agronegócio Ney Bittencourt de Araújo foi concedido ao deputado federal e criador do Fiagro - Fundo de Investimentos para o Setor Agropecuário, Arnaldo Jardim, pelo seu relevante trabalho prestado ao agro brasileiro. “Recebo com muita alegria este prêmio e compartilho com os demais parlamentares que têm se dedicado no Congresso Nacional com orgulho e garra para defender o setor agropecuário. Temos novos desafios pela frente, o que nos move é a certeza de que somos capazes, podemos corresponder a uma necessidade que é manter o desenvolvimento.

Tudo o que o agro precisa é da boa política, respeito para que possamos ter segurança jurídica, leis para favorecer a inovação. É o agro que constrói o nosso país. Peço a Deus que me dê discernimento, saúde, energia para poder corresponder ao prêmio e a confiança de todos. Estamos juntos pelo agro, juntos pelo Brasil”.