Irrigação nas áreas de renovação em 2022

30/05/2022 Noticias POR: Rubens L. do C. Braga Jr. - Regina C. M. Pires - Marcos G. A. Landell

Rubens L. do C. Braga Jr.
Regina C. M. Pires
Marcos G. A. Landell
rubenscensoiac@fundag.br

 

Visando detalhar as principais práticas que estão sendo utilizadas nas áreas de renovação de cana-de-açúcar, pelo sexto ano consecutivo, o Centro de Cana IAC, vinculado ao Instituto Agronômico e pertencente à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realizou pesquisa entre os produtores brasileiros. O objetivo deste projeto é mapear as empresas que estão adotando as técnicas mais modernas e, com isso, obtendo melhores produtividades e com sustentabilidade econômica e ambiental.

Neste ano, o levantamento atingiu 172 empresas produtoras, totalizando uma área de aproximadamente 864 mil hectares a serem plantados, em 2022, em 13 estados brasileiros: Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, São Paulo e Tocantins.

Pela primeira vez, nesta pesquisa foram levantadas informações sobre a irrigação no processo de renovação dos canaviais.Perguntadas se usarão irrigação no plantio das áreas comerciais em 2022, 109 (63%) disseram que sim, o que demonstra um significativo uso dessa técnica na cana-de-açúcar. N ão obstante, quando se calculou a área que deverá ser irrigada, a proporção foi bem menor, totalizando 187 mil hectares (21% da área de renovação) como se pode observar na Figura 1.

Entre os produtores que utilizarão irrigação no plantio das áreas comerciais de 2022, o principal método utilizado será a aspersão com 63% de participação, vindo a seguir a o uso de caminhão e/ou trator (26%), a irrigação por superfície, nos sulcos (9%) e, finalmente, a irrigação por gotejamento (2%).

Importante salientar que nesta pesquisa não houve diferenciação das estratégias adotadas na irrigação, se apenas no plantio, ou se a área ficará equipada para irrigação em outros estágios de crescimento das plantas ou mesmo nos demais ciclos, seja em caráter por salvamento, deficitária ou plena. Considerando que o principal método adotado, a aspersão, pode se caracterizar pela facilidade na mobilidade de área e o aproveitamento do mesmo equipamento para irrigar diferentes talhões.


Figura 1 – Proporção da área de renovação por método de irrigação, em 2022.

 

Vale observar que o uso da irrigação não está difundido de maneira uniforme em todo o Brasil. Na região Norte-Nordeste, 100% das empresas disseram que utilizarão irrigação nas áreas de renovação em 2022. Nos estados de Goiás (83%) e Minas Gerais/Espírito Santo (80%) e nas regiões de Araçatuba (71%) e São José do Rio Preto (67%) do estado de São Paulo, mais de dois terços das empresas usarão irrigação. No entanto, no estado do Paraná (29% das empresas usarão irrigação), Mato Grosso/Mato Grosso do Sul (38%) e na região de Piracicaba (36%), o uso desta técnica ainda é muito restrito (Figura 2).

Estas diferenças estão atreladas ao clima das regiões bem como a tradição pelo uso da técnica. Nos estados característicos de ocorrência de deficiência hídrica acentuada, o uso e a adoção da técnica estão consolidados, mas, em outras regiões onde o balanço hídrico, considerando a ocorrência histórica ou mesmo as normais climatológicas, tem grande probabilidade de fornecimento hídrico pelas chuvas a adoção da técnica já é prevista por alguns agricultores. Vale salientar que os cenários climáticos ocorridos nos últimos anos têm apontado para um aumento dos eventos climáticos extremos ou mesmo o atraso na chegada das precipitações na estação tipicamente chuvosa. Neste contexto, o uso e o planejamento da irrigação assumem importante papel para segurança em caso de ocorrência de deficiência hídrica no plantio.


Figura 2 – Número de empresas que deverão ou não utilizar irrigação nas áreas de renovação em 2022, por região produtora.

 

Outras técnicas de plantio estudadas nesta pesquisa foram a MEIOSI e a CANTOSI. Os resultados mostraram que o sistema de MEIOSI, que tem como característica agilizar o processo de atualização varietal, atingiu uma importante participação entre os produtores. Além da atualização varietal, outra consideração em relação ao uso da água é que ao se estabelecer uma área de MEIOSI ou CANTOSI a necessidade de irrigação ocorre em reduzido número de linhas para desdobramento em época com boa a razoável disponibilidade hídrica, acarretando menor custo e eficiência na formação das novas áreas.

No ano de 2022, 63% das empresas pesquisadas disseram que utilizarão a MEIOSI em seus canaviais, ocupando 173 mil hectares (20% das áreas de renovação terão suas mudas oriundas desse sistema de produção). Já o uso da CANTOSI ficou um pouco mais restrito. Em 2022, 41% dos produtores pretendem se utilizar desse método, ocupando 74 mil hectares (8,5% das áreas de renovação do Brasil). Vale destacar que a soma das áreas de plantio com o uso de MEIOSI e CANTOSI vai representar 28,5% do total das áreas de renovação.

Quando se estuda a de irrigação associada aos métodos MEIOSI e CANTOSI, percebe-se que existem diferenças significativas entre os dois métodos de multiplicação. Em 42% das áreas de plantio com MEIOSI será usada a irrigação, enquanto que essa proporção é de apenas 29% nas áreas de CANTOSI (Figura 3).

Fato relevante a se considerar é que nas linhas de MEIOSI as plantas ficam mais expostas ao calor pelo deslocamento de massas de ar (advecção) enquanto na CANTOSI a maior parte das plantas não fica diretamente exposta a advecção. Além disso, o método de irrigação também não será o mesmo para as duas técnicas de multiplicação. Enquanto na MEIOSI o principal método utilizado será através caminhão e/ou trator (86% das áreas com irrigação), nas áreas com CANTOSI o método mais utilizado será por aspersão (55% das áreas irrigadas). Interessante notar que o uso do trator e/ou caminhão é mais acentuado na MEIOSI pela facilidade pelo uso da técnica, por se tratar de apenas uma ou duas linhas de plantas, assim o trânsito de equipamentos não é tão intenso. Por outro lado, na CANTOSI as linhas de plantas estão próximas e o uso da aspersão possibilita a aplicação em área maior sem a necessidade de trânsito na área para este fim. O uso da aspersão na MEIOSI leva a irrigar área maior que a(s) linha(s) de MEIOSI sem necessidade. Interessante observar que a irrigação por gotejamento não será utilizada em nenhum dos dois métodos de multiplicação.


Figura 3 – Proporção dos métodos de irrigação nas áreas MEIOSI e CANTOSI, em 2022.

 

A equipe do Programa Cana IAC agradece a confiança depositada pelos produtores que responderam os questionários enviados. Essa grande adesão permitiu a geração de importantes análises estratégicas para o setor canavieiro.