Na expectativa de mudanças positivas para o setor sucroenergético já em 2015, Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da UNICA, está otimista para a recuperação das usinas e dos produtores de cana. Um dos principais motivos, segundo ele, será a retomada do diálogo com o Governo Federal para que sejam definidas medidas de longo prazo, como a posição do etanol na matriz energética brasileira.
Ele não acredita, no entanto, que a retomada será imediata. Afirma que, para isso, será preciso, primeiramente, conter a bola de endividamento que assola o setor. E continuar trabalhando, incessantemente, para reduzir custos e aumentar produtividade, o que, na visão dele, nunca deixou de ser feito. Padua atribui os problemas de gestão enfrentados à falta de rentabilidade, impactada pela concorrência desleal com a gasolina e pelas mudanças tecnológicas nos processos de plantio, colheita e transporte da cana.
Durante o 13º Seminário de Produtividade e Redução de Custos, promovido pelo Grupo IDEA nos dias 3 e 4 de dezembro, em Ribeirão Preto-SP, o diretor concedeu a seguinte entrevista.
Canavieiros: O que esperar da safra 2015/16?
Antonio de Padua Rodrigues: Provavelmente, a oferta de cana não será maior que a da safra 2014/15, podendo até ser inferior, se as chuvas não vierem dentro da normalidade. Acho que a grande mudança que pode haver é uma retomada do diálogo com a nova equipe do Governo Dilma. E isso vai passar por algumas medidas que podem melhorar efetivamente o setor. A primeira, já em andamento, é o aumento da mistura, de 25% para 27,5%, de etanol na gasolina. Estamos na reta final e tudo indica que, no início de fevereiro, vamos tomar a decisão de quando iniciar a nova mistura. E, sem dúvida alguma, vai haver um tributo na gasolina, que é a volta da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Ninguém sabe ainda efetivamente qual será o valor, mas dará um novo impacto nos preços da gasolina para o consumidor, o que vai aumentar a competitividade do etanol hidratado. Eu diria que essa é a principal medida a ser ajustada para ajudar a resolver o grande problema de falta de competitividade do setor. Outro grande movimento que está acontecendo, aqui da região Centro-Sul do país, que poderá e deve ser coordenado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), é de um grupo de governadores, de Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais, que vai buscar uma redução do ICMS nesses Estados (como já acontece em São Paulo e foi aprovado, neste mês de dezembro, em Minas Gerais, onde a alíquota que incide sobre o etanol cairá de 19% para 14%). E mais: esses governadores estariam dispostos a ir para Brasília fazer uma agenda com a Presidente da República, em prol da recuperação, não só do setor, mas de seus agregados: a indústria de bens de capital, os fornecedores de cana. Os municípios hoje estão muito prejudicados pela falta de receita, pelo fim da CIDE, pelo não crescimento do ICMS, pela quebra agrícola, que vai haver este ano, principalmente no Estado de São Paulo. É uma ação com expectativas muito positivas. E a última expectativa é que, provavelmente, o ciclo de excedentes de açúcar no mundo deve se encerrar em setembro de 2015. Com isso, o Brasil, de novo, será o país mais capacitado para voltar a crescer, produzir e exportar açúcar a preços competitivos.
Canavieiros: Com todas essas medidas, dá para prever já uma retomada do setor?
Padua: Eu diria que retomada não. Acho difícil haver uma retomada da expansão, do investimento. Num primeiro momento, é estancar essa bola crescente de endividamento, de prejuízo, de falta de preços que o setor enfrenta. É começar a recuperar as empresas que estão operando e que ainda têm condições de serem recuperadas. Evidentemente que, muitas delas, mesmo com essas medidas, vão ficar no meio do caminho.
Canavieiros: Você falou em retomada do diálogo com o Governo. Por que acha que não houve uma aproximação maior nos últimos quatro anos?
Padua: Eu diria que diálogo sempre houve, nunca faltou diálogo. Mas sempre faltou uma decisão de longo prazo. Várias medidas que aconteceram foram de curto prazo. Desonerar o etanol hidratado e o anidro de PIS e Cofins, por exemplo, foi uma medida de diálogo. Mas é pontual. E o que nós queremos são medidas de longo prazo, como definir, claramente, a participação do etanol na matriz de combustíveis e entender como é que vai ser daqui a 20 anos, para que haja um planejamento, crescimento e a volta do investimento. Isso é o que foi difícil e que esperamos que agora se retome.
Canavieiros: Além do diálogo com a esfera pública, como o setor está buscando medidas para continuar reduzindo custos e aumentando a produtividade?
Padua: Isso nunca deixou de ser feito. Vejam os investimentos que ocorreram na questão da logística, no alcoolduto, nos terminais, em sistemas novos de produção. Houve, de fato, uma perda de produtividade agrícola por mudanças de tecnologia nos processos de plantio, colheita, transporte de cana. Grande parte da nossa perda de competitividade não está no dia a dia, no operacional, mas nas pressões ambientais e sociais. E aí você não tem controle. Então, a busca incessante por melhores custos e produtividade nunca parou e vai continuar. Agora, jamais nós vamos ter ganhos de produtividade de 10% ao ano, que mantenham a competitividade dos nossos produtos, se, do outro lado, existe uma concorrência desleal e não sabe o que vai acontecer com seu produto concorrente (gasolina). A perda de competitividade não foi por um problema isolado de gestão do setor. Houve problemas, sim, com empresas que tiveram uma péssima gestão. Mas o que leva a uma gestão ruim? É a falta de rentabilidade. As empresas estão num ciclo de sobrevivência. Para que haja ganhos, venham novas tecnologias e seja possível pensar num salto tecnológico, tem que haver rentabilidade. Se não houver, o setor vai viver do sucateamento da lavoura, da frota e da indústria.
Na expectativa de mudanças positivas para o setor sucroenergético já em 2015, Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da UNICA, está otimista para a recuperação das usinas e dos produtores de cana. Um dos principais motivos, segundo ele, será a retomada do diálogo com o Governo Federal para que sejam definidas medidas de longo prazo, como a posição do etanol na matriz energética brasileira.
Ele não acredita, no entanto, que a retomada será imediata. Afirma que, para isso, será preciso, primeiramente, conter a bola de endividamento que assola o setor. E continuar trabalhando, incessantemente, para reduzir custos e aumentar produtividade, o que, na visão dele, nunca deixou de ser feito. Padua atribui os problemas de gestão enfrentados à falta de rentabilidade, impactada pela concorrência desleal com a gasolina e pelas mudanças tecnológicas nos processos de plantio, colheita e transporte da cana.
Durante o 13º Seminário de Produtividade e Redução de Custos, promovido pelo Grupo IDEA nos dias 3 e 4 de dezembro, em Ribeirão Preto-SP, o diretor concedeu a seguinte entrevista.
Canavieiros: O que esperar da safra 2015/16?
Antonio de Padua Rodrigues: Provavelmente, a oferta de cana não será maior que a da safra 2014/15, podendo até ser inferior, se as chuvas não vierem dentro da normalidade. Acho que a grande mudança que pode haver é uma retomada do diálogo com a nova equipe do Governo Dilma. E isso vai passar por algumas medidas que podem melhorar efetivamente o setor. A primeira, já em andamento, é o aumento da mistura, de 25% para 27,5%, de etanol na gasolina. Estamos na reta final e tudo indica que, no início de fevereiro, vamos tomar a decisão de quando iniciar a nova mistura. E, sem dúvida alguma, vai haver um tributo na gasolina, que é a volta da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Ninguém sabe ainda efetivamente qual será o valor, mas dará um novo impacto nos preços da gasolina para o consumidor, o que vai aumentar a competitividade do etanol hidratado. Eu diria que essa é a principal medida a ser ajustada para ajudar a resolver o grande problema de falta de competitividade do setor. Outro grande movimento que está acontecendo, aqui da região Centro-Sul do país, que poderá e deve ser coordenado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), é de um grupo de governadores, de Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais, que vai buscar uma redução do ICMS nesses Estados (como já acontece em São Paulo e foi aprovado, neste mês de dezembro, em Minas Gerais, onde a alíquota que incide sobre o etanol cairá de 19% para 14%). E mais: esses governadores estariam dispostos a ir para Brasília fazer uma agenda com a Presidente da República, em prol da recuperação, não só do setor, mas de seus agregados: a indústria de bens de capital, os fornecedores de cana. Os municípios hoje estão muito prejudicados pela falta de receita, pelo fim da CIDE, pelo não crescimento do ICMS, pela quebra agrícola, que vai haver este ano, principalmente no Estado de São Paulo. É uma ação com expectativas muito positivas. E a última expectativa é que, provavelmente, o ciclo de excedentes de açúcar no mundo deve se encerrar em setembro de 2015. Com isso, o Brasil, de novo, será o país mais capacitado para voltar a crescer, produzir e exportar açúcar a preços competitivos.
Canavieiros: Com todas essas medidas, dá para prever já uma retomada do setor?
Padua: Eu diria que retomada não. Acho difícil haver uma retomada da expansão, do investimento. Num primeiro momento, é estancar essa bola crescente de endividamento, de prejuízo, de falta de preços que o setor enfrenta. É começar a recuperar as empresas que estão operando e que ainda têm condições de serem recuperadas. Evidentemente que, muitas delas, mesmo com essas medidas, vão ficar no meio do caminho.
Canavieiros: Você falou em retomada do diálogo com o Governo. Por que acha que não houve uma aproximação maior nos últimos quatro anos?
Padua: Eu diria que diálogo sempre houve, nunca faltou diálogo. Mas sempre faltou uma decisão de longo prazo. Várias medidas que aconteceram foram de curto prazo. Desonerar o etanol hidratado e o anidro de PIS e Cofins, por exemplo, foi uma medida de diálogo. Mas é pontual. E o que nós queremos são medidas de longo prazo, como definir, claramente, a participação do etanol na matriz de combustíveis e entender como é que vai ser daqui a 20 anos, para que haja um planejamento, crescimento e a volta do investimento. Isso é o que foi difícil e que esperamos que agora se retome.
Canavieiros: Além do diálogo com a esfera pública, como o setor está buscando medidas para continuar reduzindo custos e aumentando a produtividade?
Padua: Isso nunca deixou de ser feito. Vejam os investimentos que ocorreram na questão da logística, no alcoolduto, nos terminais, em sistemas novos de produção. Houve, de fato, uma perda de produtividade agrícola por mudanças de tecnologia nos processos de plantio, colheita, transporte de cana. Grande parte da nossa perda de competitividade não está no dia a dia, no operacional, mas nas pressões ambientais e sociais. E aí você não tem controle. Então, a busca incessante por melhores custos e produtividade nunca parou e vai continuar. Agora, jamais nós vamos ter ganhos de produtividade de 10% ao ano, que mantenham a competitividade dos nossos produtos, se, do outro lado, existe uma concorrência desleal e não sabe o que vai acontecer com seu produto concorrente (gasolina). A perda de competitividade não foi por um problema isolado de gestão do setor. Houve problemas, sim, com empresas que tiveram uma péssima gestão. Mas o que leva a uma gestão ruim? É a falta de rentabilidade. As empresas estão num ciclo de sobrevivência. Para que haja ganhos, venham novas tecnologias e seja possível pensar num salto tecnológico, tem que haver rentabilidade. Se não houver, o setor vai viver do sucateamento da lavoura, da frota e da indústria.