Levantamentos de campo após a colheita: práticas que podem aumentar a rentabilidade do canavial

Cana-de-Açúcar POR: Daniela Aragão Bacil - Agrônoma da Canaoeste de Pontal

De acordo com o levantamento realizado pela Conab (2020), a produtividade média dos canaviais na região Sudeste do país na safra 19/20 foi de 79,81 t/ha. Muitos fatores influenciam na produtividade agrícola, sendo destaques o clima e o manejo da cultura. Com o aumento crescente do custo de produção nos últimos anos, os agricultores buscam melhores produtividades com o objeto de otimizar o processo e assim garantir bons resultados.

A produtividade da cana-de-açúcar é resultado, principalmente, do manejo adotado, clima, solo e época de colheita. Vale dizer que nos últimos anos as mudanças climáticas globais estão afetando diretamente a produtividade da cana-de-açúcar.

Com o advento da colheita mecanizada, as operações realizadas no canavial vêm sofrendo adaptações, elevando muitas vezes os custos de produção. Dessa forma, para otimizar e racionalizar as operações é recomendado realizar levantamentos nos talhões após a colheita e, assim, adotar os manejos necessários de acordo com os dados levantados.

Os levantamentos de campo possibilitam aumentar a produtividade e a longevidade do canavial, desde que o manejo realizado seja de acordo com as necessidades da cultura. Eles possibilitam também conhecer os impedimentos biológicos, físicos e químicos dos talhões, agregando um manejo correto e seguro. Os levantamentos de campo geram informações para dar suporte à tomada de decisão, garantindo melhores resultados e eficiências operacional e econômica.

Os levantamentos recomendados após a colheita da cana-de-açúcar são:

1) Amostra de solo

Atualmente, a adubação é uma das práticas que tem maior representatividade no custo de produção da cultura da cana-de-açúcar.

 A amostragem de solo é um levantamento que permite, através dos resultados da análise, avaliar as suas propriedades químicas. É uma ferramenta simples, econômica e eficiente de diagnose da fertilidade do solo e constitui uma base imprescindível para a recomendação de quantidades adequadas de corretivos e fertilizantes.

A amostragem consiste em dividir a área em glebas homogêneas. São coletadas porções de terra (subamostras) em locais diferentes e ao acaso, realizando o caminhar em zigue-zague de forma a percorrer toda a área. Geralmente são coletadas de dez a 12 subamostras por gleba/talhão. O solo coletado de cada um desses locais (subamostras) deverá ser colocado em recipiente limpo, devendo ser bem misturado. Posteriormente, coleta-se uma amostra de cerca de meio quilo, que será acondicionada em sacos plásticos devidamente identificados.

Uma ferramenta moderna de manejo é a Agricultura de Precisão (AP), que nos últimos anos vem se destacando no mercado. Na AP, as amostragens de solo são georreferenciadas, o que possibilita um mapeamento mais preciso das áreas em relação à fertilidade do solo e, portanto, racionaliza as operações a serem realizadas.

2) Levantamento de pragas de solo

As pragas na cultura da cana-de-açúcar são fatores limitantes para a produção, pois se não controladas, os prejuízos econômicos serão expressivos.

O uso incorreto de inseticidas pode favorecer o aumento das pragas e/ou não trazer um controle eficiente. Dessa forma, o levantamento de pragas de solo é uma ferramenta importante que ajuda na tomada de decisão. Permite conhecer as espécies e quantificar as pragas de solo presentes nos talhões que estão causando prejuízos à cultura e, assim, adotar as estratégias necessárias para o controle.

Devem-se abrir trincheiras (50x50x30cm) em pontos aleatórios nos talhões, retirar as soqueiras dessas trincheiras, avaliar os danos e quantificar as formas biológicas das pragas.

As principais pragas de solos encontradas são Sphenophorus, Migdolus, Cupins, Hyponeuma, Metamasius, entre outras.

3) Avaliação de plantas daninhas

As plantas daninhas, quando existentes no canavial, competem por luz, água e nutrientes. Não é interessante a presença de plantas daninhas devido aos prejuízos que podem ocorrer. Assim, o produtor deve fazer o controle das plantas daninhas existentes e uma das formas de realizar o manejo eficiente é através do levantamento das espécies, o que permite conhecer a flora infestante.

É necessário deixar áreas testemunhas, ou seja, sem a aplicação de herbicidas, dentro dos talhões para realizar a avaliação.

Através de escala visual é dada uma nota de 0 a 100 em relação ao percentual de cobertura da planta daninha no solo. Em seguida, deve-se avaliar as espécies predominantes e depois analisar as demais espécies; relacionar os herbicidas que controlam as espécies predominantes, de acordo com suas características físico-químicas e, após, os herbicidas que controlam as demais espécies. Dessa forma, poderá associar herbicidas de acordo com o tipo de solo e época de controle.

Nos primeiros 120 dias após o plantio da cana e 90 dias após a colheita da cana soca não deve existir competição com plantas daninhas. Assim, é preciso avaliar o período residual dos herbicidas e a necessidade de associar outros tipos de controles para garantir que a cana tenha um desenvolvimento pleno, sem competição.

4) Compactação do solo

A compactação acontece devido ao trânsito de maquinários e implementos nos talhões, criando uma camada de impedimento físico. Como consequência, ocorre a redução da qualidade física do solo, comprometendo o crescimento das raízes e desenvolvimento das plantas.

O penetrômetro de impacto permite mensurar a resistência do solo em função da penetração da haste. Através dos resultados obtidos no campo e da confecção de gráficos, é possível verificar a localização das camadas compactadas e adotar estratégias de manejo necessárias para romper essa barreira no solo.

O ideal é que os levantamentos sejam realizados por talhão ou em pelo menos 50% deles. Com os dados planilhados é possível adotar manejos mais eficientes.