Linha do BNDES para usineiros não decola
13/07/2012
Etanol
POR: O Estado de S. Paulo
Lançado no início de janeiro para ampliar a oferta de etanol no Brasil, o Prorenova, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ainda não decolou. Até 30 de junho, nenhum centavo havia sido liberado para os usineiros. Dos R$ 4 bilhões reservados para plantio e renovação dos canaviais, só R$ 1,4 bilhão estava em carteira, afirma o chefe do Departamento de Biocombustíveis do banco, Carlos Eduardo Cavalcanti.
Desse total, R$ 250 milhões haviam sido aprovados; R$ 200 milhões estavam em análise; R$ 150 milhões enquadrados; e R$ 800 milhões em carta-consulta. Cavalcanti reconhece que os números estão aquém das expectativas iniciais, mas destaca que a partir de maio as operações subiram de forma significativa. "Até então a carteira tinha apenas R$ 500 milhões em pedidos."
Em janeiro, quando o BNDES lançou o programa, esperava-se que o dinheiro fosse suficiente para ampliar em 1 milhão de hectares a área plantada de cana-de-açúcar e, consequentemente, elevar a produção de etanol. Mas as dificuldades do setor travaram as negociações entre os bancos e as empresas. O dinheiro do BNDES é repassado pelos bancos comerciais, que cobram um prêmio a mais para conceder o financiamento.
Segundo Cavalcanti, com o setor altamente endividado e a deterioração do cenário internacional, as instituições financeiras ficaram mais cautelosas na análise de risco de crédito. As negociações entre empresas e bancos em torno dos spreads ficaram travadas e demoraram mais para serem concluídas, completa o executivo. A taxa de juros do Prorenova é de 8,3% ao ano.
O presidente interino da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, observa que uma somatória de fatores dificultou o acesso das empresas ao programa de financiamento. Um deles foi a indefinição em torno das regras para compra de terra por estrangeiro. Parte das empresas do setor tem capital internacional e não tem conseguido financiamento estatal, afirmou um executivo do setor bancário.
Além disso, o BNDES exige uma série de requisitos ambientais que as empresas precisam cumprir para obter financiamento. Nesse caso, o banco flexibilizou alguns pontos para facilitar o empréstimo, afirmou Pádua. Ele observa ainda que as empresas têm achado o custo da linha de crédito do banco bastante elevado. Diante da queda da taxa Selic, agora em 8% ao ano, alguns empresários estão preferindo outras modalidades de crédito, cujas exigências são menores.
Dívida. Pádua acrescenta ainda que cerca de 30% do setor não tem condições de obter um financiamento bancário por causa dos níveis de endividamento. Estudo feito no primeiro trimestre pelo Itaú BBA mostra que o setor tem cerca de R$ 42 bilhões em dívidas. Quase um terço das empresas tem dificuldade para fazer novos investimentos.
Outras 17% estão alavancadas e precisam de alguma operação estratégica - ou seja, injeção de dinheiro - para continuar funcionando. Nessas empresas, a dívida por tonelada de cana moída é superior a R$ 100. Entre as cinco piores, esse número chega a R$ 144,6. Na prática, isso significaria dizer que, para cada R$ 100 de faturamento, a empresa tem R$ 144 de empréstimos e financiamentos.