Linhagem puro sangue

Agricultura POR: Marino Guerra

Propriedade preserva não apenas o primórdio da criação da raça, mas a história da revolução da pecuária brasileira

A criação nacional de bovinos pode ser dividida em duas épocas, antes e depois das importações do início da década de 60. “Anteriormente, eram poucos que sabiam exatamente o que era um animal puro sangue no Brasil. O plantel nacional era formado por tourinhos, dos quais, embora zebuínos, não era possível definir sua raça”, disse o pecuarista e produtor de cana de Barretos, José Milani, da Fazenda Santa Adelaide, única mantenedora da linhagem original (Khrish) POI (Puro de Origem Importado) vinda da Índia.

O movimento que revolucionou a pecuária, em decorrência da conscientização do investimento em genética, teve como partida o ano de 1962, numa expedição de cinco pecuaristas (Jacinto Honório da Silva Filho, Rubico de Carvalho e Veríssimo Costa Júnior "Nenê Costa”, ambos de Barretos-SP; Celso Garcia Cid, de Londrina-PR; e Torres Homem Rodrigues da Cunha, de Araçatuba-SP) com a missão de encontrar e trazer exemplares das principais raças.

Vaca (gir) da Índia na década de 60

Depois de “rasgarem” o país em busca de animais que nem eles haviam tido a experiência de ter conhecido, a empreitada deu resultado e, então, chegaram os primeiros puro sangue de nelores, guzerás e girs.

Cerca de dois anos depois, Armando Milani, então pecuarista de Jaguariúna-SP e pai de José Milani, comprou a propriedade de Jacinto Honório da Silva Filho com a “porteira fechada”. Dentro dela haviam exemplares POI vindos do país asiático.

Desde então, com extrema organização e disciplina, a família trabalha na preservação dessa ancestralidade, ofertando ao mercado touros e sêmen de nelore e, principalmente, de gir.

“Aqui na fazenda fazemos há mais de 40 gerações um trabalho de melhoramento genético, sempre evoluindo na qualidade racial, o que é importante para os pecuaristas apurarem o seu rebanho e, em se tratando do gir com foco na produção de leite, inserir genes qualificados na formação do girolando”, disse Milani.

Pedigree de animal importado da Índia

Em busca da genética perdida

A seriedade da Santa Adelaide é tamanha que recentemente o marajá de Bahadur Singh, um dos fornecedores de 1962, veio em busca de sêmen para recuperar a linhagem perdida do gir.

Outro ponto importante em relação ao intercâmbio com o país de origem da raça, segundo Milani, é o fato de que, com o passar dos anos, é preciso importar ou comprar de outros criadores POI gado novo como estratégia para evitar problemas de consanguinidade.

Exemplo dos “grandes reprodutores” da década de 50, quando a pureza das raças indianas não existia no Brasil

O pecuarista e produtor de cana José Milani ao lado de um touro reprodutor gir, cujo embrião veio da Índia para reforçar seu plantel e, ao lado, um touro nelore, também POI, com cerca de 1,90 m de altura do cupim até o chão