Mais difícil que descascar, é cultivar o abacaxi

Conheça como os produtores de Frutal, em Minas Gerais, produzem uma das principais frutas do Brasil

Por: Marino Guerra

Quando um abacaxi é encontrado na mesa das festas de fim de ano, oferecido no final de um rodízio de carnes ou é saboreado com hortelã num delicioso suco, poucas pessoas têm a noção do tamanho do desafio para produzir a fruta, que é uma das principais culturas do município de Frutal (MG), e tem a sua produção dividida basicamente em duas variedades: havaiano e pérola.

Produzido em menor escala, somente em 10% da área total, o cultivo do abacaxi havaiano exige do agricultor maior conhecimento e experiência na cultura. É o caso do produtor e cooperado Geraldo Fernando Mariano da Costa.

Na cultura desde 1992, ele tem propriedade para falar dos principais desafios da roça, sendo o trabalho com as mudas um dos de maior destaque, pois uma planta do abacaxi havaiano rende a média de uma muda e meia para a seguinte, o que é muito pouco pensando na quantidade de perda, que chega a 25% do que é plantado.

Diante disso, a necessidade de salvar a muda para a safra seguinte se torna fundamental em decorrência do baixo número e da baixa qualidade encontrados no mercado devido ao tamanho da área plantada, não viabilizando um viveiro interessante sob o ponto de vista financeiro.

Para entender a dinâmica do mercado da fruta, a variedade havaiana é destinada à indústria de sucos, ao mercado do Sul do Brasil e também ao aumento de sua busca no final do ano (como item de decoração nas mesas das festas). No caso do pérola, o grande mercado vai para os supermercados e varejões, e por ser mais doce é vendido in natura.

A definição do preço também muda. No havaiano, a fruta de até 1,3 quilo tem um preço, acima disso é mais valorizada e, se ultrapassar os dois quilos, o seu valor chega a ser o dobro do valor das frutas menores. Já o pérola é sempre vendido por unidade, não importando o tamanho ou peso.

Voltando ao manejo, antes do plantio a cultura exige um preparo de solo caprichado, tendo como procedimentos a sua correção e, posteriormente, a aração, passagem da grade e nivelação. Tudo isso para eliminar completamente a presença de torrões.

A principal muda a ser plantada é o rebentão, espécie de coroa inversa que fica em contato com o solo plantado como uma muda. A área cultivada por Costa é de 15 hectares por temporada, o período do plantio até a colheita dura cerca de 15 meses e utiliza uma fazenda da família, que entra em rotação na reforma de pasto.

Vale ressaltar que depois de colhido o abacaxi e retirada a muda, a matéria orgânica que fica no campo é um excelente alimento para o gado, sendo a silagem uma interessante fonte de renda extra.

O alto período de cultivo faz com que o produtor identifique o principal apoio que a Copercana presta para ele - os prazos, tanto de pagamento como retirada. “80% da minha compra de insumos é realizada na feira Agronegócios Copercana, quando aproveito os preços mais atrativos e a facilidade que a cooperativa oferece em retirar o produto somente na época em que precisarei dele”, disse o produtor.

Outros manejos que pedem atenção constante do agricultor é a irrigação, isso porque a cultura precisa de, no mínimo, 60 milímetros por mês, quantidade de chuva que pode ser menor nos períodos mais secos (maio-outubro) e veranicos, exigindo do produtor uma estrutura de irrigação móvel. A adubação é outro processo que merece atenção especial, pois além da aplicação no plantio, é preciso fazer pelo menos mais quatro coberturas.

Para encerrar os problemas que precisam ser descascados, há a baixa mecanização dos trabalhos na lavoura, fazendo com que quase todos os processos tenham um custo elevado de mão-de-obra.

Essa realidade serviu de estímulo para o ex-produtor, Wagner Guidi, sair do campo e fundar uma empresa de implementos que atendessem aos serviços demandados pela cultura. Em 2006, sentindo a necessidade de otimização dos trabalhos da lavoura, ele criou o primeiro equipamento que, acoplado a uma moto, fazia a função de adubação e pulverização.

Vendo a invenção, os vizinhos e parentes que também cultivavam abacaxi se interessaram pela novidade e fizeram pedidos. Com o aumento da procura, o empreendedor percebeu o potencial e colocou o implemento à venda pela internet, formalizando o negócio.

Nascia assim a Motoagro Indústria de Equipamentos Agrícolas, localizada na própria fazenda de Guidi, que fica no distrito de Frutal denominado Aparecida de Minas. O tempo foi passando, o equipamento inicial passou por evoluções e hoje a empresa tem um portfólio vistoso de soluções.

Entre elas estão o Tratorito Agro, capaz de executar a adubação e pulverização; podadora vertical e roçadora; a primeira plantadora de muda de abacaxi do mundo, que trabalha tanto em duas como em quatro linhas; o sulcador de abacaxi, capaz de pulverizar o fungicida, executar a adubação do plantio e ainda marcar as covas, e a garra, utilizada para abastecer a transplantadora ou então a carreta ou caminhão (no caso do plantio manual).

O negócio deu tão certo que além dos produtos voltados para a lavoura da fruta, Guidi já tem plantadora de mudas de café, eucalipto, banana e também duas inovações bastante interessantes para cana-de-açúcar: uma plantadora de MPB e outra de toletes, alternativas que vale a pena conhecer principalmente em tempos em que o plantio canavieiro está numa fase de reinvenção.

Um dos primeiros clientes de Guidi foi seu cunhado, Júlio César Leonel, plantador da variedade pérola, que diz ter economizado o custo de mão-de-obra em 80% depois de ter mecanizado sua operação.

Cultivando uma roça de 12 hectares a cada temporada, ele diz conseguir plantar cerca de 40 mil plantas (cerca de 1,5 hectare) num período de 8 horas com o implemento de duas linhas.

Um detalhe interessante da operação de Leonel está no fato de reformar, neste ano, o seu canavial de maneira prolongada, entrando com uma lavoura de abacaxi. Com isso, ele espera deixar o solo em condições ideais quando a cana voltar em 2021.