Mais-valia da cana-energia

06/11/2015 Geral POR: Udop
O recente aumento dos preços dos combustíveis fósseis não foi suficiente para resolver os problemas de caixa da Petrobras nem deu melhores condições ao etanol. Economistas de peso têm mostrado a grande vantagem de resgatar a Cide sobre a gasolina.
Em primeiro lugar, é uma taxa que já existe, que foi zerada no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff e apenas parcialmente recuperada em março deste ano. Portanto, não necessita ser aprovada ou votada no Congresso Nacional. Isso daria competitividade ao etanol, mostrando que o Brasil nâo teria jogado fora o maior, mais importante e mais admirado programa global de alternativa energética (renovável e ambientalmente superior) desde a crise do petróleo, em 1974/75. Por outro lado, seria uma injeção direta de recursos no Tesouro, sem a oposição que existe em torno da volta da CPMF. Por fim, seria o reconhecimento das externalidades do etanol para a saúde pública e o meio ambiente, cantadas e decantadas em todo o mundo. E ainda salvaria um setor que gera empregos e economiza divisas.
Não existe nenhuma explicação plausível para essa teimosia do governo em não aumentar a Cide. Nem mesmo o eventual aumento da inflação, sempre levantado, serve como argumento, de acordo com o que dizem respeitados analistas.
Independentemente dessa questão, entretanto, o setor sucroenergético, que vem naufragando desde que o governo segurou os preços da gasolina, para frear a inflação nos quatro anos passados, precisa investir em avanços tecnológicos para encontrar outras formas de sobrevivência e progresso. E já existem muitas inovações, tanto na área agrícola quanto na industrial. Novos equipamentos de plantio e colheita são aperfeiçoados para evitar perdas ou má brotação das soqueiras; entram no mercado fórmulas especiais de adubação com nutrientes mais bem calibrados; e estudos são desenvolvidos para obter o melhor espaçamento entre ruas de cana e perfilhamento das plantas, e assim por diante.
Mas uma das mais extraordinárias novidades é a chamada "cana-energia". Acontece que, contrariamente a diversas culturas - soja, milho, algodão, entre outras -, cujas novas variedades são sistemática e rapidamente desenvolvidas com maior produtividade e adaptabilidade às áreas de cultivo, a produtividade da cana-de-açúcar, que teve grandes avanços nos anos 70 do século passado, estagnou na última década. Está difícil superar a média de 85/90 toneladas por hectare em quatro ou cinco cortes.
Pois a cana-energia surge como uma resposta impressionante a essa necessidade. Com maior participação da S. Spontaneum nos cruzamentos com a S. Offici-narum, ela facilmente supera as 100 toneladas por hectare. Além disso, a cana-energia tem um sistema radicular muito mais forte do que as variedades hoje cultivadas, de modo que tem muito maior brotação das socas, o que lhe dá uma vida útil mais longa e melhor resistência a secas eventuais. Isso também permite o seu cultivo em regiões com menor pluviosidade que aquelas atualmente utilizadas em canaviais. E tem mais: com a cogeraçâo de eletricidade a partir da biomassa de bagaço e palha, a cana-energia se torna uma alternativa agrícola muito melhor, notadamente com o avanço do etanol de segunda geração. Com seu uso, as atuais usinas de açúcar e álcool se transformarão em biorrefinarias modernas e competitivas, produzindo uma gama de novos produtos de maior valor agregado.
Cide e cana-energia, eis o binômio para a recuperação do setor sucroenergético: uma política pública e uma ação técnico-empresarial.
*Artigo publicado originalmente na Revista Globo Rural, edição de Novembro de 2015.
Roberto Rodrigues
Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias do Estado de SP (Fiesp) e ex-ministro da Agricultura
O recente aumento dos preços dos combustíveis fósseis não foi suficiente para resolver os problemas de caixa da Petrobras nem deu melhores condições ao etanol. Economistas de peso têm mostrado a grande vantagem de resgatar a Cide sobre a gasolina.
Em primeiro lugar, é uma taxa que já existe, que foi zerada no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff e apenas parcialmente recuperada em março deste ano. Portanto, não necessita ser aprovada ou votada no Congresso Nacional. Isso daria competitividade ao etanol, mostrando que o Brasil nâo teria jogado fora o maior, mais importante e mais admirado programa global de alternativa energética (renovável e ambientalmente superior) desde a crise do petróleo, em 1974/75. Por outro lado, seria uma injeção direta de recursos no Tesouro, sem a oposição que existe em torno da volta da CPMF. Por fim, seria o reconhecimento das externalidades do etanol para a saúde pública e o meio ambiente, cantadas e decantadas em todo o mundo. E ainda salvaria um setor que gera empregos e economiza divisas.
Não existe nenhuma explicação plausível para essa teimosia do governo em não aumentar a Cide. Nem mesmo o eventual aumento da inflação, sempre levantado, serve como argumento, de acordo com o que dizem respeitados analistas.
Independentemente dessa questão, entretanto, o setor sucroenergético, que vem naufragando desde que o governo segurou os preços da gasolina, para frear a inflação nos quatro anos passados, precisa investir em avanços tecnológicos para encontrar outras formas de sobrevivência e progresso. E já existem muitas inovações, tanto na área agrícola quanto na industrial. Novos equipamentos de plantio e colheita são aperfeiçoados para evitar perdas ou má brotação das soqueiras; entram no mercado fórmulas especiais de adubação com nutrientes mais bem calibrados; e estudos são desenvolvidos para obter o melhor espaçamento entre ruas de cana e perfilhamento das plantas, e assim por diante.
Mas uma das mais extraordinárias novidades é a chamada "cana-energia". Acontece que, contrariamente a diversas culturas - soja, milho, algodão, entre outras -, cujas novas variedades são sistemática e rapidamente desenvolvidas com maior produtividade e adaptabilidade às áreas de cultivo, a produtividade da cana-de-açúcar, que teve grandes avanços nos anos 70 do século passado, estagnou na última década. Está difícil superar a média de 85/90 toneladas por hectare em quatro ou cinco cortes.
Pois a cana-energia surge como uma resposta impressionante a essa necessidade. Com maior participação da S. Spontaneum nos cruzamentos com a S. Offici-narum, ela facilmente supera as 100 toneladas por hectare. Além disso, a cana-energia tem um sistema radicular muito mais forte do que as variedades hoje cultivadas, de modo que tem muito maior brotação das socas, o que lhe dá uma vida útil mais longa e melhor resistência a secas eventuais. Isso também permite o seu cultivo em regiões com menor pluviosidade que aquelas atualmente utilizadas em canaviais. E tem mais: com a cogeraçâo de eletricidade a partir da biomassa de bagaço e palha, a cana-energia se torna uma alternativa agrícola muito melhor, notadamente com o avanço do etanol de segunda geração. Com seu uso, as atuais usinas de açúcar e álcool se transformarão em biorrefinarias modernas e competitivas, produzindo uma gama de novos produtos de maior valor agregado.
Cide e cana-energia, eis o binômio para a recuperação do setor sucroenergético: uma política pública e uma ação técnico-empresarial.
*Artigo publicado originalmente na Revista Globo Rural, edição de Novembro de 2015.
Roberto Rodrigues - Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Federação das Indústrias do Estado de SP (Fiesp) e ex-ministro da Agricultura