O início dos anos 1990 não tem como ser esquecido pelos produtores de Cristalina, município situado no Cerrado de Goiás. Na época, eles tomaram um susto ao constatarem que alguns rios da cidade estavam secando e passou a faltar água, antes abundante, em plena fase de desenvolvimento das lavouras.
A demanda por esse recurso pela agricultura era tão intensa que não havia a preocupação de que um dia ele poderia faltar. "Mas a fonte secou e tivemos que aprender com nossos erros", relembra o agricultor Alécio Maróstica, diretor da Associação dos Irrigantes do Estado de Goiás (Irrigo).
Por isso, quando ele escuta que a agricultura é uma "gastadeira de água" em referência ao dado da Agência Nacional de Águas (ANA) ao apontar que a atividade responde por 72% do consumo de água no Brasil Maróstica sugere que se conheça a história dos produtores rurais de sua cidade e de como eles tornaram a irrigação sustentável juntando tecnologias e construções de barragens.
"Não existe alimento sem água", comenta Lineu Rodrigues, pesquisador da área de recursos hídricos e irrigação da Embrapa Cerrados (DF). "Hoje existem simulações de irrigação que levam em conta o regime de chuvas e a necessidade das plantas para evitar que a água seja usada aleatoriamente", explica. A própria ANA não tem
estatísticas oficiais sobre a extensão do desperdício de água na agricultura por uso excessivo desse recurso ou pela perda dele por evaporação.
A transformação de Cristalina teve início quando os produtores decidiram investir em um estudo hidrológico que concluiu que a construção de barragens para reter a água das chuvas era a chance deles de manter a irrigação em suas plantações. Pequenas barragens foram erguidas à beira dos rios (são mais de 250 na região) e feitas com
saída de fundo (desarenador) que permite a continuidade do curso d'água e o abastecimento da vizinhança.
O que sobra na barragem é apenas o excesso de chuva, que antes corria para o mar. "Com a mudança na captação conseguimos multiplicar em 65% a área irrigada na última década em Cristalina", afirma Maróstica.
Mas esse caso não representa o país de modo geral. Conforme Gustavo Diniz Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), "o Brasil faz a 'agricultura da chuva', pois apenas 10% da área agrícola do país (6 milhões de hectares) são irrigados, com lavouras de arroz, feijão, milho, trigo, hortaliças e fruticultura", informa.
Atualmente existem 700 pivôs centrais em Cristalina que dão conta de 38 culturas (batata, alho, cebola, trigo irrigado, milho doce, tomate, maçãs, entre outras). Mas os produtores empregam também gotejamento (mangueiras que direcionam gotas d'água às raízes das plantas) e sistema de lepas, uma adaptação que aproxima o aspersor de cada planta e faz uma espécie de chuveiro sobre cada pé. "O custo é alto, mas não há outro caminho para garantir a produção", diz o diretor da Irrigo.
Ele conta que agora os agricultores planejam a contratação de um hidrólogo para instalar equipamentos que medem a precipitação e a umidade do solo, como forma de usar a irrigação na quantidade certa, e de um especialista em proteção de barragens. "São as novas demandas do projeto encampado pelo município", informa.
O manejo racional da água em Cristalina serve cada vez mais de modelo para um dilema enfrentado pela agricultura: dar conta da demanda intensa da sociedade por alimentos e adotar um modelo de gestão da água, que pregou um susto com sua escassez nos últimos tempos especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
No início do ano, o secretário de Agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim, chegou a cogitar uma restrição ao uso da água pela agricultura nas bacias hidrográficas em situação crítica do ponto de vista do abastecimento humano. "Felizmente as chuvas vieram e não precisamos tomar essa atitude drástica", informa. A medida afetaria produtores responsáveis por 50% do abastecimento de hortifrútis do Estado.
Mas o estado de alerta não passou, diz o secretário. Segundo ele, uma série de ações estão em curso para atenuar os impactos da crise hídrica, como uma parceria com os municípios para a recuperação de nascentes e mata ciliar nas Áreas de Preservação Permanente (APP), que garantem a produção de água nas propriedades. Por sinal, a adoção desse modelo de conservação é uma das recomendações feita por Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da ONG SOS Mata Atlântica.
O início dos anos 1990 não tem como ser esquecido pelos produtores de Cristalina, município situado no Cerrado de Goiás. Na época, eles tomaram um susto ao constatarem que alguns rios da cidade estavam secando e passou a faltar água, antes abundante, em plena fase de desenvolvimento das lavouras.
A demanda por esse recurso pela agricultura era tão intensa que não havia a preocupação de que um dia ele poderia faltar. "Mas a fonte secou e tivemos que aprender com nossos erros", relembra o agricultor Alécio Maróstica, diretor da Associação dos Irrigantes do Estado de Goiás (Irrigo).
Por isso, quando ele escuta que a agricultura é uma "gastadeira de água" em referência ao dado da Agência Nacional de Águas (ANA) ao apontar que a atividade responde por 72% do consumo de água no Brasil Maróstica sugere que se conheça a história dos produtores rurais de sua cidade e de como eles tornaram a irrigação sustentável juntando tecnologias e construções de barragens.
"Não existe alimento sem água", comenta Lineu Rodrigues, pesquisador da área de recursos hídricos e irrigação da Embrapa Cerrados (DF). "Hoje existem simulações de irrigação que levam em conta o regime de chuvas e a necessidade das plantas para evitar que a água seja usada aleatoriamente", explica. A própria ANA não tem
estatísticas oficiais sobre a extensão do desperdício de água na agricultura por uso excessivo desse recurso ou pela perda dele por evaporação.
A transformação de Cristalina teve início quando os produtores decidiram investir em um estudo hidrológico que concluiu que a construção de barragens para reter a água das chuvas era a chance deles de manter a irrigação em suas plantações. Pequenas barragens foram erguidas à beira dos rios (são mais de 250 na região) e feitas com
saída de fundo (desarenador) que permite a continuidade do curso d'água e o abastecimento da vizinhança.
O que sobra na barragem é apenas o excesso de chuva, que antes corria para o mar. "Com a mudança na captação conseguimos multiplicar em 65% a área irrigada na última década em Cristalina", afirma Maróstica.
Mas esse caso não representa o país de modo geral. Conforme Gustavo Diniz Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), "o Brasil faz a 'agricultura da chuva', pois apenas 10% da área agrícola do país (6 milhões de hectares) são irrigados, com lavouras de arroz, feijão, milho, trigo, hortaliças e fruticultura", informa.
Atualmente existem 700 pivôs centrais em Cristalina que dão conta de 38 culturas (batata, alho, cebola, trigo irrigado, milho doce, tomate, maçãs, entre outras). Mas os produtores empregam também gotejamento (mangueiras que direcionam gotas d'água às raízes das plantas) e sistema de lepas, uma adaptação que aproxima o aspersor de cada planta e faz uma espécie de chuveiro sobre cada pé. "O custo é alto, mas não há outro caminho para garantir a produção", diz o diretor da Irrigo.
Ele conta que agora os agricultores planejam a contratação de um hidrólogo para instalar equipamentos que medem a precipitação e a umidade do solo, como forma de usar a irrigação na quantidade certa, e de um especialista em proteção de barragens. "São as novas demandas do projeto encampado pelo município", informa.
O manejo racional da água em Cristalina serve cada vez mais de modelo para um dilema enfrentado pela agricultura: dar conta da demanda intensa da sociedade por alimentos e adotar um modelo de gestão da água, que pregou um susto com sua escassez nos últimos tempos especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
No início do ano, o secretário de Agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim, chegou a cogitar uma restrição ao uso da água pela agricultura nas bacias hidrográficas em situação crítica do ponto de vista do abastecimento humano. "Felizmente as chuvas vieram e não precisamos tomar essa atitude drástica", informa. A medida afetaria produtores responsáveis por 50% do abastecimento de hortifrútis do Estado.
Mas o estado de alerta não passou, diz o secretário. Segundo ele, uma série de ações estão em curso para atenuar os impactos da crise hídrica, como uma parceria com os municípios para a recuperação de nascentes e mata ciliar nas Áreas de Preservação Permanente (APP), que garantem a produção de água nas propriedades. Por sinal, a adoção desse modelo de conservação é uma das recomendações feita por Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da ONG SOS Mata Atlântica.