Marcello Brito assume a diretoria da Abag

05/02/2019 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Fernanda Clariano
 
Desde o dia 1º de janeiro de 2019, a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) conta com um novo diretor. A entidade, que é uma das mais atuantes do agronegócio brasileiro e nos últimos sete anos foi comandada pelo engenheiro agrônomo Luiz Carlos Corrêa Carvalho (Caio), passou a ter como presidente o engenheiro de alimentos Marcello Brito.  Formado pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos, com especialização no Palm Oil Research of Malaysia de Kuala Lumpur, Brito possui experiência de 30 anos como executivo do segmento de óleos vegetais e atualmente é diretor executivo do Grupo Agropalma.

Um dos objetivos da nova diretoria, que terá um mandato de três anos, é estimular e incrementar iniciativas no sentido de manter a entidade consolidada como uma das mais representativas do agronegócio brasileiro. A reportagem da Revista Canavieiros entrevistou o atual diretor da entidade. Confira!
 
Revista Canavieiros: A Abag é uma das entidades mais representativas do agronegócio brasileiro. O que significa para o senhor assumir uma entidade com 25 anos e grande importância e prestigio?
Marcello Brito: Significa um grande desafio. A Abag ao longo desses 25 anos tem sido fundamental para o fortalecimento dos elos das cadeias produtivas do agronegócio brasileiro. Nosso objetivo é dar sequência nesse trabalho e ampliar novos caminhos que prezem pelo desenvolvimento sustentável.
 
Revista Canavieiros: Quais são as principais propostas da sua gestão frente à Abag para o próximo triênio e quais são as prioridades?
Brito: Temos alguns temas prioritários, como Infraestrutura (conectividade, logística); Crédito (mecanismos e seguro); Comércio Internacional (imagem, sustentabilidade, cadeias) e Inteligência (territorial, P&D).
Também daremos sequência ao trabalho que o ex-presidente Caio Carvalho vinha fazendo, como a estruturação de 12 comitês temáticos (Agroenergia, Comércio Internacional, Assuntos Fundiários, Assuntos Jurídicos, Bioeconomia, Comunicação, Financeiro e Tributário, Inovação, Insumos, Logística e Competitividade, Gente e Gestão, Sustentabilidade e Inovação), de projetos liderados pelo IEAG (Instituto de Estudos do Agronegócio) e várias parcerias.
 
Revista Canavieiros: No seu ponto de vista, quais são os principais gargalos do agro?
Brito: Nas últimas décadas evoluímos muito, isso é inegável. Mas ainda temos um longo caminho para percorrer em várias áreas. Um grande gargalo do Brasil é a logística para escoar a produção. Somos um país produtor e exportador, com dimensões continentais, cada vez que melhorarmos a logística, teremos mais produção. O que não dá é continuar na dependência, quase exclusiva, do transporte rodoviário para a movimentação dos produtos agropecuários. Precisamos que outros modais de transporte – ferroviário e hidroviário - e da implementação de parcerias com a iniciativa privada.
 
Outro item é a infraestrutura, a conectividade. O atual estágio da agricultura brasileira demanda a adoção de modernas ferramentas de comunicação e a maioria delas depende de uma robusta plataforma digital e inserção de novas técnicas, cujo impacto na qualidade das lavouras é enorme. Uma agropecuária mais tecnificada e conectada trará alterações nas relações entre os produtores rurais e os consumidores. Olhamos esse ambiente com muita atenção, pois gera novos negócios e oportunidades.
A modernização da área de crédito é outra questão importante. A atividade agrícola cresceu muito e o crédito oficial é insuficiente. O setor precisa de novos mecanismos de crédito com juros compatíveis com a nossa atividade.
 
Revista Canavieiros: Como pretende olhar para a questão da imagem das cadeias produtivas? E como será a relação com os produtores agrícolas?
Brito: Essa é uma questão na qual o agro também vem evoluindo e se trata de uma estratégia de longo prazo, pois imagem e reputação se constroem com o tempo. Mas para isso precisamos posicionar o Brasil como protagonista, líder do agro, no ambiente que garanta maior segurança alimentar até 2030.
É preciso que o Brasil passe a ser reconhecido como um país que desenvolveu uma agricultura baseada na ciência. É por essa agricultura moderna, eficiente, forte e sustentável que o agro será reconhecido fora e aqui dentro do país.
A evolução do moderno setor agropecuário brasileiro foi um processo tão revolucionário e dinâmico que a maioria da população não chega a ter ideia do seu alcance. É fundamental que o setor aperfeiçoe sua comunicação com a sociedade para superar preconceitos históricos que afetam injustamente a imagem do agro no Brasil.
 
Revista Canavieiros: Como o senhor vê o processo de evolução do agronegócio brasileiro?
Brito: É extraordinária. Na década de 1970 importávamos alimento, hoje somos um dos maiores exportadores do mundo, mas ainda longe do potencial disponível. Entre 2000 e 2017, as exportações totais do agronegócio brasileiro passaram de US$ 20,6 bilhões ao ano, para US$ 96 bilhões. Foi uma expansão cinco vezes maior em 17 anos. O feito é ainda mais relevante quando se lembra que, nesse período, houve a grave crise financeira global entre 2008 a 2010, quando o comércio mundial teve um refluxo significativo. Atualmente, exportamos para mais de 140 países. Precisamos continuar evoluindo para merecer o título de celeiro mundial. Essa é uma alusão repetida há décadas, mas que não reflete a verdadeira posição brasileira, apenas o potencial ainda inexplorado.
As projeções para a safra de grãos 2018/19 são de 238 milhões de toneladas. De café deve chegar a 59 milhões de sacas e 11,2 milhões de toneladas de laranja. O Brasil é e continuará sendo um dos países responsáveis pela produção de alimentos no mundo até 2050, assim como de biocombustíveis e de produtos florestais.
Temos o reconhecimento do agronegócio como o setor mais dinâmico e competitivo da economia brasileira, mesmo atravessando por profundas crises que têm abalado o nosso país. Apesar disso, as perspectivas continuam sendo de aumento na produção, na produtividade e no volume de vendas no exterior.
 
Revista Canavieiros: Crescer de forma sustentável é uma oportunidade ou uma ameaça para o Brasil?
Brito: É uma oportunidade, com certeza. No mundo de hoje, a sustentabilidade socioambiental não pode mais ser dissociada dos negócios, são interdependentes. No Brasil podemos ser líderes se agirmos com estratégia e inteligência.
Em termos de sustentabilidade, a estratégia pressupõe a utilização de áreas limitadas, mas já antropizadas na Amazônia para produção agrícola, a recuperação de pastagens degradadas no cerrado e a geração de conhecimento para analisar os desafios e as potencialidades da caatinga. Temos ainda de fortalecer o Plano Agricultura de Baixo Carbono como instrumento de promoção comercial do País, além de privilegiar a sinergia entre os vários sistemas: zoneamento ecológico econômico, zoneamento agroecológico e zoneamento agrícola de risco climático.
É indispensável um esforço para aumentar a eficiência dos motores automotivos para o maior uso de etanol, com ênfase em políticas públicas para estimular a tecnologia voltada principalmente para o transporte coletivo e de carga. Vale destacar também que para incrementar o desenvolvimento sustentável, ganha relevância o papel de inclusão social e econômica. Sendo assim, devemos privilegiar todas as ações voltadas para o seu fortalecimento, especialmente do Programa de Capitalização de Cooperativas de Crédito, que necessita ser transformado em política pública permanente.
 
Revista Canavieiros: O que o senhor espera para 2019 com o novo governo?
Brito: Como a maioria dos brasileiros, torço pelo melhor, para que o país entre nos eixos novamente e volte a crescer. O presidente Bolsonaro terá grandes desafios pela frente. Esperamos que ele consiga aprovar as reformas, principalmente da Previdência, isso é essencial para a retomada do crescimento.
 
Revista Canavieiros: O senhor acredita que este ano será marcado pela retomada da economia?
Brito: Acredito que teremos alguns avanços, mas ainda será um ano de ajustes, pois estamos saindo de um período de crise econômica bastante complicado. O Banco Mundial reduziu as previsões de crescimento do Brasil para este ano de 2,5% para 2,2%. Sobretudo, essa redução reflete os efeitos da greve dos caminhoneiros e as incertezas políticas. Preocupa também a questão da disponibilidade de energia caso o crescimento venha a ser maior que o projetado.
 
Revista Canavieiros: O Congresso Brasileiro do Agronegócio é sempre esperado com expectativa pelo setor. Teremos novidades este ano?
Brito: Sim, teremos muitas novidades. Este ano será a 18ª edição do Congresso e é um evento que já faz parte da agenda dos principais formadores de opinião e dos executivos do agronegócio brasileiro. Será mais uma edição com debates desafiadores e instigantes, que visam trazer um norte para o setor poder enfrentar as adversidades do mercado cada vez mais competitivo e com estratégia. 
 
Revista Canavieiros: A nova ministra da Agricultura, Tereza Cristina, conhece bem o agronegócio e tem ótimo relacionamento com as entidades. O presidente Jair Bolsonaro acertou na indicação?
Brito: Sim, acreditamos que ele acertou na indicação. A ministra Tereza Cristina conhece o assunto com profundidade e tem larga experiência, inclusive como empresária rural. O secretário executivo, Marcos Montes, também teve um desempenho exemplar na presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária, com muita sensibilidade para tratar as necessidades do setor. Podemos dizer que a equipe nomeada para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é de primeiríssima linha. Estamos saindo de um período de crise econômica muito difícil. O agro, em todo momento, mostrou a sua força para segurar o país. Agora, com essa equipe formidável, os resultados deverão ser ainda melhores.