Reflexões dos fatos e números do agro em janeiro/fevereiro e o que acompanhar em março
Na economia mundial e brasileira
- O Banco Central atualizou os indicadores da economia brasileira no Boletim Focus divulgado no dia 17/02. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi projetado em 5,60% no final deste ano e em 4,35% no término do próximo (ambos em alta de um mês a outro). Já o PIB (Produto Interno Bruto) deve crescer 2,01% em 2025 e 1,70% em 2026 (os dois em queda). Enquanto isso, a taxa de câmbio é prevista para encerrar o ano atual e o subsequente a R$ 6,00 (manutenção). Para terminar, a projeção para a taxa Selic é de 15,00% neste ano (manutenção) e 12,50% no próximo (alta).
No agro mundial e brasileiro
- O Índice de Preços dos Alimentos calculado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) ficou em 124,9 pontos em janeiro de 2025, uma redução de 1,6% (2,1 pontos) em relação a dezembro. As quedas nos índices do açúcar, óleos vegetais e carnes superaram os aumentos observados nos setores dos laticínios e cereais. Os cereais valorizaram ligeiramente (+0,3%), principalmente devido aos preços do milho que ultrapassaram os níveis alcançados há um ano, impulsionados por estoques apertados, condições adversas na Argentina, avanços mais tímidos na safrinha brasileira e menor produção norte-americana. Os óleos vegetais também apresentaram queda (-5,6%), resultado da queda nos preços internacionais do óleo de palma e de canola, enquanto as cotações do óleo de soja e de girassol se mantiveram estáveis. Para as carnes, o índice também caiu (-1,4%), sendo influenciado pela demanda reduzida das carnes ovina e suína após o período de festas e restrições da União Europeia. Os laticínios registraram alta (+2,4%) muito por conta das cotações do queijo que obtém forte demanda global em meio a uma produção em recuperação lenta e fortes vendas no varejo doméstico nos principais países produtores. Por fim, o açúcar obteve queda significativa (-6,8%) atribuída às melhores perspectivas de oferta global para a temporada 2024/25, devido a condições climáticas favoráveis no Brasil. Além disso, a decisão do governo indiano de retomar as exportações de açúcar, após um período de restrições iniciadas em outubro de 2023, também contribuiu para pressionar os preços para baixo.
- No 5º relatório mensal de acompanhamento da safra 2024/25 de grãos no Brasil, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estimou uma oferta de 325,7 mi de t de grãos, ampliando em mais 3,4 mi de t no comparativo com o relatório passado. Se confirmada, essa produção será 9,4% superior à da safra passada. Em relação a área, a Conab indica 81,6 mi de ha, 200 mil a mais do que no último mês e 2,1% superior ao do ciclo passado; ou 1,69 milhão de ha adicionais.
No milho
- No relatório de fevereiro, referente a safra global de grãos 2024/25, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reduziu, em mais um mês, a oferta: de 1.214,34 mi de t para 1.212,47 mi de t. Se este volume for confirmado, ele será 1,4% inferior ao da safra passada. Entre os principais produtores, o USDA: manteve os volumes dos Estados Unidos (377,6 mi de t) e da China (294,9 mi de t); reduziu o do Brasil (de 127 para 126 mi de t); manteve o da União Europeia (58 mi de t); e reduziu o da Argentina (de 51 para 50 mi de t). Ao final do ciclo, os estoques devem fechar em 290,3 mi de t, 8,0% inferior ou 25,5 mi de t a menos do que 2023/24; daí vemos as reações de preços que citaremos adiante.
- No Brasil, a Conab elevou as projeções para a oferta de milho, em vista da perspectiva climática positiva e do ritmo acelerado de plantio. No relatório de fevereiro, o órgão estima 122 mi de t, 2,4 mi de t a mais do que no último mês; e 5,5% superior a produção do ciclo passado. Em relação a área, A Conab manteve 21,2 mi de ha (+ 0,7% do que 2023/24), sendo esta distribuída: 3,71 mi de ha em 1ª safra (- 6,6%); 16,83 mi de ha em 2ª safra (+ 2,4%); e 649,4 mil ha em 3ª safra (+ 0,9%). Em relação a produtividade, a Conab estima 5.496 kg/ha nas três safras, 4,8% maior.
- No campo, a colheita do milho 1ª safra estava em 21,1% até 16 de fevereiro, pouco abaixo do avanço no mesmo período do ano passado, de 21,4%. Os estados com maior avanço são o Paraná com 67,0% (2024: 40,0%), Rio Grande do Sul com 60,0% (2024: 59,0%) e Santa Cataria com 24,2% (2024: 32,0%). Em relação ao milho 2ª safra, o plantio havia alcançado 35,7% das áreas até 16/02, abaixo dos 45,3% registrados no mesmo período do ano passado. No Paraná, o progresso é de 46,0% (2024: 40,0%); no Mato Grosso, de 43,3% (2024: 67,1%); e no Tocantins, de 40% (2024: 35,0%).
- O contrato de milho com vencimento em mai/25 estava cotado em US$ 4,974/bushel no fechamento da nossa coluna, 2,2% acima dos preços registrados na mesma data do mês anterior (US$ 4,865/bushel).
Na soja
- O USDA também reduziu os números da soja. No relatório de jan/2025, a previsão era de 424,25 mi de t e, neste (fev/2025), fomos a 420,76 mi de t. Apesar da baixa, ainda estamos falando de uma produção 6,5% maior do que a do último ciclo; ou 25,8 mi de t adicionais. Brasil segue com 169,0 mi de t (+ 10,4%) e os Estados Unidos com os mesmos 118,84 (+ 4,9%). Na Argentina, a condição climática desfavorável fez o órgão baixar em 2,0 mi de t a previsão de produção, agora em 49,0 mi de t (+ 1,6%). Já os estoques finais devem ficar em 124,4 mi de t, 10,6% maiores ou 11,9 mi de t adicionais.
- Com pouco mais de ¼ das áreas colhidas, a Conab manteve a estimativa de produção de soja no mesmo nível do relatório anterior: 166,01 mi de t, 12,4% superior a 2023/24 ou 6,7 mi de t adicionais. Em relação a área, o órgão manteve 47,5 mi de ha, 2,8% maior do que a safra passada ou 1,2 mi de ha adicionais. Já a produtividade foi reduzida um pouco neste relatório: de 3.509 kg/ha (jan) para 3.499 kg/ha (fev). Vamos observar como vem o relatório de março, afinal, pelo que temos visto junto a produtores, os resultados tem sido bem positivos nas principais regiões produtoras.
- O progresso da colheita de soja no Brasil alcançou 25,5% até o dia 16 de fevereiro, um pouco abaixo dos 29,4% de avanço na mesma data de 2024. O Mato Grosso, maior produtor, registra progresso de 47,3% (2024: 61,3%); o Tocantins encontra-se com 35,0% dos campos colhidos (2024: 20,0%); o Paraná está com 33,0% (2024: 30,0%); e Goiás tem 24,0% de avanço (2024: 26,0%).
- O contrato da soja para mar/25 em Chicago estava cotado em US$ 10,318/bushel em 24/02, conclusão de nossa coluna, 0,3% abaixo da cotação há um mês (24/01: US$ 10,558/bushel)
No algodão
- O USDA praticamente manteve a oferta global de algodão em 2024/25 nos mesmos níveis do relatório anterior: 26,2 mi de t, volume que é 6,5% maior do que o último ciclo ou 1,64 mi de t adicionais. Nos principais produtores, as estimativas são: China com 6,75 mi de t (+ 13,4%); Índia com 5,44 mi de t (- 1,6%); Brasil com 3,70 mi de t (+ 16,7%) e Estados Unidos com 3,13 mi de t (+ 19,4 mi de t). Os estoques globais da pluma devem fechar 2024/25 com 17mi de t, 6,3% superior ao de 2023/24.
- No Brasil, a Conab elevou a estimativa de oferta do algodão neste mês de fevereiro; estava em 3,69 mi de t (jan) e fomos a 3,76 mi de t. Se confirmada, essa produção será 1,6% maior do que a do último ciclo. O efeito de alta na oferta é resultado do crescimento da área plantada, que está estimada em 2,04 mi de ha, 4,8% maior do que 2023/24. Já a produtividade segue em 1.847 kg/ha de pluma (- 3,0%).
- E com o avanço da colheita da safra verão, o plantio de algodão deu grande salto neste último mês. Segundo a Conab, até 16/02, o avanço era de 95,9% das áreas previstas no Brasil para 2024/25, enquanto estava em 99,0% na mesma data de 2024. Mato Grosso do Sul, Maranhão e Piauí já concluíram o plantio; enquanto os maiores produtores, Mato Grosso e Bahia, seguem com 95,8% (2024: 100,0%) e 95,0% (2024: 96,2%), respectivamente. Goiás e Minas Gerais, os outros 2 estados de destaque, encontram-se com iguais 97,0%.
- Em Chicago, o contrato futuro de algodão para mai/25 estava em 67,91 centavos de dólar por libra-peso no fechamento da nossa coluna, apenas 0,1% acima da cotação há 30 dias (67,81 cents/lbp).
Outras culturas
- Outro grupo que sofreu revisão das estimativas pela Conab foi o das culturas de inverno. Segundo a companhia, a produção total em 2025 será de 11,04 mi de t, 14,9% superior a do ciclo passado. Os destaques serão: trigo com 9,12 mi de t (+ 15,6%); a aveia com 1,11 mi de t (+ 6,9%); a cevada, entregando 464,7 mil t (+ 6,0%); e a canola com 294,5 mil t (+ 50,6%). A área com culturas de inverno deve somar 3,83 mi de ha, 0,3% inferior a do ciclo 23/24.
- As exportações do agro do Brasil totalizaram R$ 11 bilhões em janeiro de 2025, isto é, o segundo maior valor da série histórica para o mês. Mesmo assim, o montante é 5,3% menor do que o registrado no mesmo período de 2024 (R$ 11,6 bilhões), de acordo com dados da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI/Mapa). O cenário é explicado pela queda no volume exportado (-10,10%), principalmenteda soja e do milho, que recuaram 3,0mi de t em conjunto (de 7,7 para 4,7 mi de t) de um ano a outro. Isso porque mesmo com estimativas recorde para a safra de grãos, o atraso no início do plantio reduziu a oferta disponível para este mês. Porém, os preços dos produtos valorizaram 5,3%, o que compensou, em parte, a queda no volume.
- Os seis principais setores exportadores do setor agro foram, em ordem: carnes (US$ 2,08 bilhões | 18,9% do total exportado); produtos florestais (US$ 1,51 bilhão |13,8%); café (US$ 1,45 bilhão | 13,2%); complexo soja (US$ 1,11 bilhão | 10,1%); complexo sucroalcooleiro (US$ 1,10 bilhão | 10,0%); e cereais, farinhas e preparações (9,1%).Além disso, as exportações de café verde, celulose, algodão e carne suína foram recordes para o mês. Enquanto isso, todos os demais setores do agro foram responsáveis por US$ 2,7 bilhões embarcados ao exterior, o que representa um aumento anual de 32,5%, demostrando um nível de desconcentração entre os produtos.
- Nas importações de produtos agropecuários, o valor foi de US$ 1,8 bilhão em janeiro deste ano, sendo 9,5% acima do mesmo mês de 2024. Desse total, os fertilizantes contribuíram com US$ 931,3 mi (+15,5%) e os defensivos com US$ 409,9 mi (+11,4%). Com isso, o superávit da balança comercial do setor em janeiro foi de US$ 9,6 bilhões, abaixo dos US$ 9,9 bilhões do ano anterior.
- O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgou que as exportações de café brasileiro em janeiro apresentaram uma queda de 16,0% em volume, masregistraram um aumento expressivo de 60,0% em receita. A redução no volume exportado reflete desafios logísticos e oscilações na produção, enquanto a valorização dos preços no mercado internacional impulsionou o faturamento. A demanda global segue aquecida, e os preços mais elevados têm compensado a menor quantidade de café embarcada.
- A previsão para a safra de laranja 2024/25 foi revisada para 228,5 mi de cx, o que representa uma redução de 1,7% em relação à estimativa anterior (232,4mi de cx), segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). O ajuste reflete os impactos das condições climáticas adversas, que reduziram a produtividade nas principais regiões produtoras, levando a uma projeção menor do que a inicialmente prevista. Apesar dessa revisão, o novo volume estimado ainda indica uma recuperação em comparação com as safras anteriores, demonstrando a resiliência do setor e seu potencial de crescimento.
- A previsão de uma supersafra de grãos para 2025 pode levar o Brasil a registrar um recorde de déficit em armazenagem, já que o volume de produção tende a ultrapassar de forma significativa a capacidade de estocagem atual, estimada em estimada em 210,1 mi de t.O cenáriorevela uma disparidade de 112,2 mi de t entre o crescimento da produção e os investimentos em infraestrutura logística, o que pode resultar em sérios gargalos na comercialização, perdas pós-colheita e impactos negativos nos preços internos. Especialistas alertam que a insuficiência de silos e depósitos adequados pressiona o setor e o governo a adotar medidas emergenciaispara evitar que esse excesso produtivo se converta em um problema econômico e logístico sem precedentes para o agronegócio brasileiro.
- Concluindo a nossa análise do agro, apresentamos os principais preços do setor na data de fechamento da coluna. Na soja, considerando entrega em cooperativa do estado de São Paulo, a saca (60kg) estava em R$ 123,10 no mercado SPOT. Já o contrato para mai/2025 era cotado em R$ 126,00/sc. No milho, o preço físico era de R$ 81,00/sc; enquanto o futuro para mai/2025 (na B3) fechava em R$ 81,07/sc. Já o algodão (Base Esalq) estava em R$ 138,18/@. Demais preços, considerando Cepea/Esalq como referência, seguem: café arábica, R$ 2.588,42/sc, alta mensal de 3,20%; trigo Paraná em R$ 1.470,97/t (+ 3,1%); laranja indústria em R$ 80,91/cx (40,8kg) (-6,4%); e o boi gordo em R$ 314,20/@ (-3,2%).
Os cinco fatos do agro para acompanhar em março são:
- Progresso da colheita de soja no Brasil e as produtividades registradas. Com ritmo um pouco mais lento do que no último ano (MT está 14 p.p. “atrasado”), vamos avaliar se teremos algum impacto na produtividade, mesmo que positivo (mais tempo no campo; melhor distribuição de chuvas).
- No milho e no algodão (2ª safras), apesar dos atrasos no plantio, há uma percepção de maior interesse por parte do agricultor. O cereal está 10 p.p. atrasado no comparativo com o plantio do último ano. Ainda assim, a Conab ampliou a área e oferta, demonstrando um aumento da área cultivada.
- Clima e previsões para este mês de março que marca o limite de janela de plantio da 2ª safra nas principais regiões produtoras. Vale analisar também os estágios e condições de desenvolvimento, especialmente do milho e do algodão.
- Acompanhar o dólar e a inflação, que veio forte. Quais os impactos na economia, na taxa de juros e nas expectativas de plantio e comercialização
- Seguir acompanhando o cenário internacional: as medidas de Donald Trump e seus impactos no agro; as possíveis negociações para fim da guerra entre Rússia e Ucrânia; as medidas de resposta de grandes economias como a China e União Europeia; e a nova forma que se instala na relação entre países e blocos comerciais na geopolítica global.
Reflexões dos fatos e números da cana em janeiro/fevereiro e o que acompanhar em março
Na cana
- A moagem acumulada desde o início da safra 2024/25 até 01/02 na região Centro-Sul foi de 614,2 mil t, configurando uma queda de 4,9%, ante as 646,0 mi de t registradas no mesmo período no ciclo anterior, de acordo com a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). A entidade destaca que esse momento é de entressafra na região, sendo que o processamento deve começar a se restabelecer na metade de março.
- Já o ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) acumulado atingiu 141,27 kg/t, sendo 1,2% maior do que o registrado há um ano (139,5 kg/t). Quanto ao mix de produção, a posição acumulada é de 48,15% para o açúcar (queda) e 51,85% (alta) para o etanol.
- As condições climáticas passaram a ser mais favoráveis desde novembro para a cana-de-açúcar, trazendo perspectivas mais positivas para a safra 2025/26. As chuvas acima da média nos últimos 4 meses ajudaram a reverter o déficit hídrico causado pela estiagem no final da última moagem, principalmente no oeste paulista, onde a produtividade pode crescer até 8%, segundo o professor Fabio Marin, da Esalq/USP. Caso esse aumento se estenda pelo Centro-Sul, a região poderá compensar grande parte da quebra da temporada 2024/25, que teve uma média de 69,7 t/ha (-10,8%). No entanto, fatores como as ondas de calor previstas para fevereiro, a área destinada ao replantio, os investimentos no manejo agrícola e estratégias adotadas para o impacto dos incêndios ainda influenciarão o volume final da colheita. A produtividade da primeira fase da safra já apresenta sinais de melhora, enquanto o desempenho da etapa intermediária tende a se manter estável e a última parte da colheita pode superar os resultados do ciclo atual.
No açúcar
- A fabricação acumulada da safra é de 39,8 mi de t, isto é, uma retração de 5,5% frente ao ciclo anterior (42,1 mi de t), segundo a Unica. Enquanto isso, nas exportações, o país embarcou 2,1 mi de t em janeiro, configurando uma redução expressiva de 34,9% ante o mesmo período de 2024 (3,2 mi de t), de acordo com o Mapa. Já o valor exportado foi de US$ 994 mi, com queda anual de 41,5% (era US$ 1,7 milhão do ano passado). Com isso, preços médios caíram 10,1% para US$ 482/t, frente US$ 537/t há um ano.
- A Conferência Anual de Açúcar de Dubai - um dos maiores eventos sobre a commodity- aconteceu no dia 13/02 nos Emirados Árabes Unidos. Na ocasião, foram discutidas as principais perspectivas para o setor em 2025. Segundo análises do Rabobank sobre as projeções, a disponibilidade do adoçante para exportação deve ser limitada nos próximos meses. Mesmo com o anúncio de uma cota de exportação de 1 milhão de t pela Índia, os estoques do Brasil seguem baixos. No entanto, para 2025/26 a expectativa é de um excedente global entre 2 e 5 mi de t. No Brasil, a moagem do Centro-Sul para 2025/26 é projetada entre 600 e 620 mi de t, com produção de açúcar entre 40 e 42 mi de t, aliviando o mercado no segundo semestre deste ano. Enquanto na Índia, a safra atual foi impactada pela doença da podridão vermelha, reduzindo a produção para 27 mi de t, abaixo do consumo entre 28 e 29 mi de t. Para 2025/26, é esperada uma recuperação com possível excedente de 4 a 5 mi de t para exportação no país.
- Ainda segundo o Rabobank, a incerteza deve dominar o mercado na próxima temporada, devido ao clima adverso no Brasil e à produção indiana. Além disso, grandes importadores, como a China, podem aumentar as compras se o excedente global pressionar os preços para a paridade do etanol. Na sondagem final do evento em Dubai, 90% dos participantes projetaram preços entre R$0,16 e R$0,22/lp para dezembro de 2025, refletindo as possibilidades de uma supersafra indiana e os riscos climáticos no Brasil.
- De acordo com aHedgepoint Global Markets, a produção de açúcar no Brasil para a safra 2025/26 deve atingir 43,3 mi de t, um aumento anual de 8,5%. O crescimento é reflexo da maior disponibilidade de cana e direcionamento da matéria-prima para a produção do adoçante. No entanto, a recuperação pode ser limitada pelas condições desfavoráveis em 2024. A produtividade média esperada é de 82,0t/ha, com uma colheita projetada em 630,0mi de t, superando as 617,7 mi estimadas para 2024/25. Além disso, as exportações devem crescer, alcançando 34,3 mi de t em 2025/26, porém, a infraestrutura logística do país, já sobrecarregada por safras recordes de milho e soja, representa um desafio adicional.
- Enquanto isso, na Tailândia (2º maior exportador global), a produção de açúcar pode atingir seu maior volume em 7 anos na safra 2025/26, impulsionada pela migração de agricultores da mandioca para a cana devido à queda nos preços da raiz. Segundo oMitrPholGroup, a colheita de cana deve crescer de 92 para 105 mi de t, elevando a produção de açúcar de 10,3 para 11,5 mi de t. Com um consumo interno baixo, entre 2,5 e 3 mi de t, o excedente deverá reforçar as exportações.
- Em relação aos preços, o contrato para entrega em mar/2025 estava sendo negociado em 21,31 centavos de dólar por libra-peso em Nova York, alcançando o maior patamar dos últimos 2 meses; já o contrato de mai/25 ficou em 19,92 cents/lbp e o de jul/2025 em 19,47 cents/lbp. Em Londres, a reação também foi positiva e o contrato de mai/2025 estava fechou em US$ 526,20/t na data de fechamento da nossa coluna; ago/25 estava em US$ 541,10/t. No mercado interno, o açúcar cristal branco (São Paulo) registrava queda mensal de 7,5%, estando em R$ 141,66/sc (50kg), segundo dados do Cepea/Esalq.
No etanol
- A produção do biocombustível no acumulado da safra 2024/25 somou 33,2 bilhões de litros, isto é, 3,43% acima do mesmo período do último ciclo, sendo 21,1 bilhões de litros foram de etanol hidratado (+9,8%) e 12,1 bilhões de anidro (-6,1%).Do total, a fabricação do etanol proveniente do milho foi de 6,8 bilhões de litros, um aumento expressivo de 31,3% no comparativo com o mesmo período do ano anterior. Essa produção com origem no cereal já é maior do que todo o volume produzido na temporada 2023/24, configurando um recorde na região. Dados também são da Unica.
- As vendas de etanol nas unidades do Centro-Sul atingiram 3,1 bilhões de litros em janeiro, um avanço de 2,1% em relação ao ciclo passado. No mercado interno, o volume vendido do biocombustível do tipo hidratado foi de 1,8 bilhão de litros (+3,9%), enquanto o anidrototalizou 1,1 bilhão de litros em vendas(+5,3%). Vale ressaltar que na última metade de janeiro o volume do hidratado no mercado doméstico superou a marca de 1 bilhão de litros pela primeira vez na safra corrente, se tornando o maior valor quinzenal observado desde julho de 2019. Já no acumulado da safra até 01/02, as vendastiveram crescimento de 10,7%, totalizando 29,8 bilhões de litros: 19,2 bilhões de litros de hidratado (+18,2%) e 10,6 bilhões de litros de anidro (-0,6%).
- Ainda de acordo com a Unica, apesar da redução na moagem, a oferta de etanol se expandiu, impulsionada pelo incremento da produção a partir do milho, por um mix mais voltado à produção alcooleira nas usinas de cana, pelo acúmulo maior de estoques de passagem no início do ciclo 2024/25 e pela queda nas exportações do biocombustível, o que resultou em um notável avanço das vendas no mercado interno.
- Segundo dados da B3 até 10/02, os produtores de biocombustíveis emitiram 4,5mi de créditos para 2025, enquanto o total de CBios disponíveis para negociação - abrangendo as partes obrigadas, não obrigadas e os emissores - alcança 20,6 mi de créditos de descarbonização.
- A Unica e a Bioenergia Brasil manifestaram preocupação com a inclusão do etanol no Memorando de Tarifas Recíprocas, anunciado dia 13/02 pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida busca equiparar o etanol brasileiro ao norte-americano, desconsiderando as diferenças em termos de sustentabilidade e redução de emissões de carbono, tornando inadequado o conceito de reciprocidade. As entidades esperam que governos estaduais e a indústria americanase mobilizem para barrar a iniciativa.
- Com a entressafra da cana-de-açúcar em curso, os estoques de etanol no Centro-Sul seguem em queda. No fim da 2ª quinzena de janeiro, as usinas da região armazenavam 6,5 bilhões de litros, representando uma redução de 16,2% em relação à quinzena anterior e de 12,5% na comparação anual. Em São Paulo, os estoques somavam 3,5 bilhões de litros em 1º de fevereiro, queda de 15,5% na quinzena e de 14,1% frente aos 4,0 bilhões de litros do ano passado, segundo o Mapa.
- Um estudo da consultoria Céleres aponta que, nos próximos 5 anos, 18 novas usinas de etanol de cereais devem entrar em operação no Brasil, adicionando de 5 a 7 bilhões de litros anuais ao setor de combustíveis. A expectativa é que até 2028, a produção desse biocombustível, principalmente a partir de milho, sorgo e trigo, alcance 12,2 bilhões de litros, representando cerca de 35,0% do total nacional. Na safra 2023/24, o etanol de milho respondeu por 6,2 bilhões de litros, ou 18,7% da produção do Centro-Sul. Apesar de margens menos atrativas do que nos primeiros anos das novas usinas, a consultoria destaca que elas continuam positivas e atraem investidores.
- No relatório divulgado pela SCA do Brasil em 21/02, os preços do etanol estavam em R$ 3,390/lpara o hidratado (manutenção) e em R$ 3,300/l para o anidro (queda mensal de 0,3%). Os valores consideram a praça de Ribeirão Preto (SP) como referência e já incluem os impostos.
Valor do ATR: no primeiro mês de 2025, o preço do Açúcar Total Recuperável (ATR) fechou o mês em R$ 1,2866/kg, praticamente o mesmo valor do mês anterior; dados foram divulgados pelo Consecana. O histórico da safra 2024/25 é composto por: abr/24, R$ 1,1879/kg; mai/24, R$ 1,1684/kg; jun/24, R$ 1,1635; jul/24, R$ 1,1759/kg; ago/24, R$ 1,1730/kg; set/24, R$ 1,1507/kg; out/24, R$ 1,1716/kg; nov/24 R$ 1,2294; dez/24 em R$ 1,2872/kg; e jan/25 em R$ 1,2866/kg. No acumulado da safra, o valor do ATR está em R$ 1,1886/kg, em linha com a nossa sugestão de que fique entre R$ 1,18 e R$ 1,19 até o final da safra.
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em março na cadeia da cana:
- Seguir observando o clima e as estimativas de moagem para a safra 2025/26, que se inicia em abril. As mais recentes indicam 630 a 650 mi de t. Analisar a previsão do mix de produção pelas usinas, considerando um aumento na oferta dos produtos e seus impactos em preços.
- No mercado de combustíveis, vamos avaliar o preço do petróleo. Desde o último mês, os barris registram queda média de US$ 10. Com maior produção prevista e ritmo menor da demanda, as previsões atuais indicam baixa nos preços para os próximos meses.
- Resultado do item anterior, importante acompanhar como essas baixas impactam o etanol, em vista da tendência de queda no preço da gasolina e menor competitividade. No Centro-Sul, os preços do biocombustível seguem mais elevados na entressafra, mesmo com maior oferta do etanol de milho.
- No açúcar, analisar os contratos futuros e entender como a safra brasileira maior (e a tendência de crescimento na oferta do adoçante pelas usinas) pode impactar o mercado. Apesar da alta pontual nos preços esse mês, estando acima dos 20 cents/lbp, a tendência é de retração no cenário atual.
- Por fim, observar como as medidas de Donald Trump podem afetar o setor energético global. O presidente norte-americano já criticou as taxas brasileiras para venda do biocombustível (EUA são nosso principal comprador) e tem se posicionado cada vez mais favorável ao petróleo e outras fontes não renováveis; além de estar cessando alguns tratados como o “Acordo do Clima de Paris”, alterando a política energética.
Homenageado do Mês
Neste mês, nossa singela homenagem vai para Hugo Cagno Filho, o atual presidente da UDOP (União Nacional da Bioenergia). Hugo é Engenheiro Agrônomo pela UNIPINHAL (1974), cursou pós-graduação na ESALQ/USP por duas vezes e fez especialização na Universidade de Purdue (Estados Unidos). Após atuar no mercado de fertilizantes e nutrição por alguns anos, em 2000, Hugo contribuiu para o projeto e instalação da Usina Vertente em Guaraci (SP), onde ocupa o cargo de diretor-executivo atualmente. Com longa jornada no setor sucroenergético, já recebeu diversos prêmios como “100 Mais Influentes da Energia” e “Líder do Ano MasterCana”. Na esfera social, foi um dos fundadores do Hospital de Câncer de Ribeirão Preto. Em 2024, foi reeleito presidente da UDOP, onde segue por nova gestão até 2026. Fica aqui o nosso reconhecimento e homenagem por sua carreira e ações exemplares em prol do setor e da sociedade.

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) da Faculdade de Administração da USP (Ribeirão Preto - SP) e da Harven Agribusiness School (Ribeirão Preto – SP). Sócio da Markestrat Group. É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e professor na Harven Agribusiness School, em Ribeirão Preto - SP. Engenheiro Agrônomo pela FCAV/UNESP, mestre e doutorando em Administração pela FEA-RP/USP. É especialista em comunicação estratégica no agro.
Beatriz Papa Casagrandeé consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.