Já significativa, a queda do número de postos de trabalho nas usinas de açúcar e etanol da região Centro-Sul apresentada nas estatísticas oficiais ainda não reflete, em sua maior parte, a crise que afeta esse setor desde 2008. A mecanização do plantio e da colheita da cana ainda representa o maior peso dessa retração. A perspectiva, contudo, é que o efeito do fechamento de usinas na região comece a emergir nas planilhas oficiais a partir do fim desta safra 2014/15, em outubro. Algumas demissões já começaram a ser feitas em setembro.
A seca que chegou a reduzir em até 40% a oferta de cana de algumas usinas do Centro-Sul, em especial as de São Paulo, deverá levar ao "último suspiro" um grupo de indústrias do setor, cujos problemas financeiros foram agravados com safras consecutivas afetadas por intempéries, custos altos e preços de açúcar e etanol em baixa.
Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) compilados, a pedido do Valor, pelo projeto de ocupação sucroalcooleira da Unesp de Jaboticabal (SP), mostram que o número de pessoas empregadas dentro das fábricas sucroalcooleiras se retraiu entre janeiro e agosto deste ano: 1,7%, para uma média mensal de 80.039, queda de 1.368 vagas em relação a igual intervalo de 2013. Trata-se de um percentual pequeno considerando que, na comparação, o número de pessoas ocupadas em todas as funções nas usinas da região recuou 6,2% e no corte manual de cana, 18,8%.
Mas o diretor-técnico da União da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, afirma que a tendência é que a indústria amplie essas demissões. As usinas em dificuldades financeiras, avalia ele, tendem a manter o quadro de funcionários em níveis mínimos para atravessar a longa entressafra - que normalmente começaria em dezembro e iria até o fim de março, mas que agora terá seu início em outubro. Algumas usinas terminaram a moagem ainda mais cedo, no início deste mês.
O corte de pessoal vai atingir todas as áreas das usinas e pode ser um sinal de que mais empresas terão dificuldades de se manter na atividade. "Essas usinas em dificuldades financeiras também tiveram quebra de safra e não terão mais produto [etanol] no tanque para vender nos próximos meses. Não vão conseguir fazer reforma do canavial e nem manutenção na indústria. Será que elas vão conseguir voltar a moer no ano que vem?", questiona Rodrigues.
A retração do número de empregados nas fábricas de açúcar e etanol ainda foi "modesta" até agosto, levando-se em conta que apenas neste ano 12 usinas sucroalcooleiras fecharam as portas na região, diz o diretor-técnico da Unica. Ele avalia, porém, que é possível que muitas das demissões já tenham sido homologadas em novembro ou dezembro de 2013, quando a moagem da última safra, a 2013/14, terminou. Por isso, não aparecem nas estatísticas que expressam a fotografia nos primeiros oito meses deste ano.
Rodrigues estima que, juntas, as 12 usinas fechadas empregavam, somente na operação industrial, cerca de 3,6 mil pessoas. Há ainda as usinas que estão terminando a safra mais cedo e já demitiram a partir de setembro, portanto, ainda fora das estatísticas oficiais divulgadas até agosto.
No mercado, só há até agora notícias de demissões na Usina Vista Alegre, localizada em Itapetininga (SP). A empresa encerrou a temporada no dia 5 deste mês com 665 mil toneladas processadas, 39,5% abaixo do projetado antes da estiagem (1,1 milhão de toneladas). Enfrentando a partir de agora a entressafra mais longa desde que foi fundada, em 1980, a empresa demitiu 500 pessoas, cerca de um terço de seu quadro de funcionários. No mercado, a informação é que a usina fez as demissões justamente para diminuir custos e conseguir operar na próxima temporada. Procurada, a Usina Vista Alegre não comentou.
Até agosto, os dados do MTE ainda deixam evidente a substituição do corte manual da cana pela mecanização. Na média mensal dos oito meses do ano, o número de pessoas empregadas em todas as funções nas usinas do Centro-Sul ficou 31.148 menor na comparação com a média mensal de janeiro a agosto de 2013. No período, o número de "trabalhadores canavieiros", que atuam em funções braçais ligadas ao corte e plantio da cana, caiu 31.358, para 135.507 pessoas empregadas.
Apesar de insuficiente para suprir essa perda no campo, a mecanização da lavoura demandou mais gente na média mensal de janeiro a agosto deste ano. O número de pessoas empregadas nessas atividades, como tratoristas, operadores de colheitadeiras, mecânicos, e outros, cresceu 4,5% para 72.107 pessoas, um aumento de 3.128 vagas em comparação com os mesmos oito meses de 2013.
O coordenador do projeto de extensão de ocupação sucroalcooleira da Unesp de Jaboticabal, José Giacomo Baccarin, diz que, desde 2007, a tendência de ocupação em empresas sucroalcooleiras no Centro-Sul e em São Paulo é de decréscimo, considerando-se as médias mensais de ocupação de cada ano. Isso, mesmo com o aumento da moagem de cana-de-açúcar pelas usinas nas últimas seis safras, de 431 milhões de toneladas, em 2007/08, para 597 milhões em 2013/14, um aumento de 38,5%, conforme dados da Unica. Nesse intervalo, a moagem só recuou em 2011/12, quando foram processadas 493 milhões de toneladas da matéria-prima, queda de 11,3% em relação aos 556 milhões do ciclo anterior, o 2010/11.
"A causa básica da queda do número de pessoas empregadas no setor é a decisão empresarial de acelerar a mecanização canavieira", explica Baccarin. Mas ele avalia que essa substituição já foi mais intensa. Daqui em diante, segundo ele, a curva deverá se estabilizar, uma vez que cerca de 90% da área de cana do Centro-Sul já é operada com máquinas - ante 42% em 2007.
Os números compilados pelo programa da Unesp no acumulado do ano até agosto mostraram por outro lado que o número de pessoas ocupadas no setor administrativo das usinas cresceu 1,2%, com adição de 1.895 pessoas empregadas, em relação ao acumulado de janeiro e agosto de 2013. Outras categorias de funcionários das usinas, como "outras agrícolas", que não envolvem o trato com canaviais, e as "não sucroalcooleiras", que incluem, por exemplo, profissionais contratados para ministrar aulas de coral aos funcionários, recuaram 13%, com uma queda de 3.212 pessoas empregadas.
Já significativa, a queda do número de postos de trabalho nas usinas de açúcar e etanol da região Centro-Sul apresentada nas estatísticas oficiais ainda não reflete, em sua maior parte, a crise que afeta esse setor desde 2008. A mecanização do plantio e da colheita da cana ainda representa o maior peso dessa retração. A perspectiva, contudo, é que o efeito do fechamento de usinas na região comece a emergir nas planilhas oficiais a partir do fim desta safra 2014/15, em outubro. Algumas demissões já começaram a ser feitas em setembro.
A seca que chegou a reduzir em até 40% a oferta de cana de algumas usinas do Centro-Sul, em especial as de São Paulo, deverá levar ao "último suspiro" um grupo de indústrias do setor, cujos problemas financeiros foram agravados com safras consecutivas afetadas por intempéries, custos altos e preços de açúcar e etanol em baixa.
Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) compilados, a pedido do Valor, pelo projeto de ocupação sucroalcooleira da Unesp de Jaboticabal (SP), mostram que o número de pessoas empregadas dentro das fábricas sucroalcooleiras se retraiu entre janeiro e agosto deste ano: 1,7%, para uma média mensal de 80.039, queda de 1.368 vagas em relação a igual intervalo de 2013. Trata-se de um percentual pequeno considerando que, na comparação, o número de pessoas ocupadas em todas as funções nas usinas da região recuou 6,2% e no corte manual de cana, 18,8%.
Mas o diretor-técnico da União da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, afirma que a tendência é que a indústria amplie essas demissões. As usinas em dificuldades financeiras, avalia ele, tendem a manter o quadro de funcionários em níveis mínimos para atravessar a longa entressafra - que normalmente começaria em dezembro e iria até o fim de março, mas que agora terá seu início em outubro. Algumas usinas terminaram a moagem ainda mais cedo, no início deste mês.
O corte de pessoal vai atingir todas as áreas das usinas e pode ser um sinal de que mais empresas terão dificuldades de se manter na atividade. "Essas usinas em dificuldades financeiras também tiveram quebra de safra e não terão mais produto [etanol] no tanque para vender nos próximos meses. Não vão conseguir fazer reforma do canavial e nem manutenção na indústria. Será que elas vão conseguir voltar a moer no ano que vem?", questiona Rodrigues.
A retração do número de empregados nas fábricas de açúcar e etanol ainda foi "modesta" até agosto, levando-se em conta que apenas neste ano 12 usinas sucroalcooleiras fecharam as portas na região, diz o diretor-técnico da Unica. Ele avalia, porém, que é possível que muitas das demissões já tenham sido homologadas em novembro ou dezembro de 2013, quando a moagem da última safra, a 2013/14, terminou. Por isso, não aparecem nas estatísticas que expressam a fotografia nos primeiros oito meses deste ano.
Rodrigues estima que, juntas, as 12 usinas fechadas empregavam, somente na operação industrial, cerca de 3,6 mil pessoas. Há ainda as usinas que estão terminando a safra mais cedo e já demitiram a partir de setembro, portanto, ainda fora das estatísticas oficiais divulgadas até agosto.
No mercado, só há até agora notícias de demissões na Usina Vista Alegre, localizada em Itapetininga (SP). A empresa encerrou a temporada no dia 5 deste mês com 665 mil toneladas processadas, 39,5% abaixo do projetado antes da estiagem (1,1 milhão de toneladas). Enfrentando a partir de agora a entressafra mais longa desde que foi fundada, em 1980, a empresa demitiu 500 pessoas, cerca de um terço de seu quadro de funcionários. No mercado, a informação é que a usina fez as demissões justamente para diminuir custos e conseguir operar na próxima temporada. Procurada, a Usina Vista Alegre não comentou.
Até agosto, os dados do MTE ainda deixam evidente a substituição do corte manual da cana pela mecanização. Na média mensal dos oito meses do ano, o número de pessoas empregadas em todas as funções nas usinas do Centro-Sul ficou 31.148 menor na comparação com a média mensal de janeiro a agosto de 2013. No período, o número de "trabalhadores canavieiros", que atuam em funções braçais ligadas ao corte e plantio da cana, caiu 31.358, para 135.507 pessoas empregadas.
Apesar de insuficiente para suprir essa perda no campo, a mecanização da lavoura demandou mais gente na média mensal de janeiro a agosto deste ano. O número de pessoas empregadas nessas atividades, como tratoristas, operadores de colheitadeiras, mecânicos, e outros, cresceu 4,5% para 72.107 pessoas, um aumento de 3.128 vagas em comparação com os mesmos oito meses de 2013.
O coordenador do projeto de extensão de ocupação sucroalcooleira da Unesp de Jaboticabal, José Giacomo Baccarin, diz que, desde 2007, a tendência de ocupação em empresas sucroalcooleiras no Centro-Sul e em São Paulo é de decréscimo, considerando-se as médias mensais de ocupação de cada ano. Isso, mesmo com o aumento da moagem de cana-de-açúcar pelas usinas nas últimas seis safras, de 431 milhões de toneladas, em 2007/08, para 597 milhões em 2013/14, um aumento de 38,5%, conforme dados da Unica. Nesse intervalo, a moagem só recuou em 2011/12, quando foram processadas 493 milhões de toneladas da matéria-prima, queda de 11,3% em relação aos 556 milhões do ciclo anterior, o 2010/11.
"A causa básica da queda do número de pessoas empregadas no setor é a decisão empresarial de acelerar a mecanização canavieira", explica Baccarin. Mas ele avalia que essa substituição já foi mais intensa. Daqui em diante, segundo ele, a curva deverá se estabilizar, uma vez que cerca de 90% da área de cana do Centro-Sul já é operada com máquinas - ante 42% em 2007.
Os números compilados pelo programa da Unesp no acumulado do ano até agosto mostraram por outro lado que o número de pessoas ocupadas no setor administrativo das usinas cresceu 1,2%, com adição de 1.895 pessoas empregadas, em relação ao acumulado de janeiro e agosto de 2013. Outras categorias de funcionários das usinas, como "outras agrícolas", que não envolvem o trato com canaviais, e as "não sucroalcooleiras", que incluem, por exemplo, profissionais contratados para ministrar aulas de coral aos funcionários, recuaram 13%, com uma queda de 3.212 pessoas empregadas.