Presidentes avaliam evento e o segundo semestre do setor
Com uma maratona de programas semanais, iniciada em agosto, e encerramento em dezembro, o Megacana 2021 fez história com um conteúdo que praticamente abordou todos os detalhes do setor.
Durante o jantar de encerramento, realizado em Uberaba--MG, atendendo todo ao protocolo sanitário em decorrência da pandemia, a reportagem da Revista Canavieiros conversou com os presidentes das duas entidades promotoras do evento: Daine Frangiosi (Canacampo) e Mario Campos (Siamig).
Confira a conversa com Daine Frangiosi
Revista Canavieiros: Qual o maior legado que o novo formato proposto pelo Megacana 2021 deixa para o setor?
Daine Frangiosi: Nossa proposta foi levar informações de qualidade e contextualizadas com o momento que o setor canavieiro estava vivendo a cada programa, assim colocamos no ar diversas conversas sobre os problemas causados, por exemplo, pela agressividade do clima envolvendo profissionais de referência com pontos de vista distintos, como o pessoal de usinas, fornecedores e parceiros.
Acho que conseguimos chegar nessa meta e com isso ajudar os produtores a entender melhor o que fazer para conseguir ter sucesso nesse momento de retomada.
Revista Canavieiros: Perante tudo que foi discutido. O que dever ser feito para que a recuperação aconteça da forma mais rápida possível?
Frangiosi: A conclusão é de que não há uma tecnologia pronta que vai alavancar os números de produtividade.
Cada produtor terá que olhar para os seus diversos ambientes de produção e evoluir o manejo dividido em três pilares.
O primeiro é o físico, principalmente nos cuidados com a colheita e pisoteamento, mas sem esquecer da observação se os equipamentos estão executando a função desejada e relacionar o custo disso.
Depois vem os manejos químicos, que trazem as dificuldades na oferta e também o aumento do preço como fatores obrigatórios para o produtor elevar o grau de precisão nas suas aplicações.
E, por fim, as questões biológicas, e nesse quesito é preciso estudar melhor o solo para conseguir atingir o seu equilíbrio, o que é a primeira medida para quem quer uma recuperação veloz.
Ainda aponto uma quarta tarefa, é preciso o produtor estar dentro do canavial, sujar a botina, olhar a área e reconhecer suas reais necessidades antes de colocar um manejo em prática e depois verificar seu resultado.
Presidente da Canacampo, Daine Frangiosi
Revista Canavieiros: Quais os planos sobre o Megacana 2022?
Frangiosi: Para o ano que vem deverá ser adotada uma estratégia híbrida, sabemos da importância da volta do networking, do encontro das pessoas para conversar e trocar ideias. Mas acreditamos que o digital também ganhou o seu espaço, o Megacana sempre traz em sua filosofia a inovação. Neste ano gostamos muito do formato mais longo, pois foi possível conversar sobre os diversos assuntos de uma maneira mais leve.
Confira a conversa com Mário Campos
Revista Canavieiros: Estamos em dezembro de 2021, como você vê a conjuntura do setor hoje?
Mário Campos: Depois de uma safra recorde em 2020, tivemos uma temporada decepcionante em função da somatória de crise hídrica, incêndios e geada. Apesar disso estamos vendo um cenário de expansão do setor com diversos investimentos sendo realizados por exemplo na produção de bioeletricidade, com várias usinas aumentando sua capacidade de produção.
Também estamos vendo movimentação para aumento de capacidade de moagem, o que vai acarretar no ganho na produção de açúcar e etanol.
Revista Canavieiros: E quanto a novos produtos? Qual movimentação você percebe da indústria?
Campos: Eu não tenho dúvidas que o biogás vai emplacar e fazer parte da rotina do setor nos próximos anos, isso porque vejo diversas companhias conversarem sobre o assunto e analisarem as possibilidades, seja na produção de energia ou de biometano, que demanda um investimento maior, mas gera combustível não só para abastecer a frota da usina, mas a comercialização externa.
Revista Canavieiros: Quem vai custear esses investimentos?
Campos: Os créditos verdes, nacionais e internacionais estão cada vez mais consolidados como uma fonte de diversificação de recursos, e o setor tem a vocação para receber esses investimentos, claro que as exigências, pensando em ações e comprovações relacionadas ao conceito ESG, serão cada vez maiores, mas vejo grande parte das indústrias preparadas para isso.
Presidente da Siamig, Mario Campos
Destaques dos últimos capítulos
O programa do dia 18 de novembro teve a gestão de pessoas como um dos temas principais através da entrevista com o diretor de administração e recursos humanos da Usina Coruripe, Juliano Pereira, que contou um pouco sobre os processos de gestão estratégica desenvolvidos na empresa.
“O RH será o fiel da balança no sentido de manter uma liderança engajada, comprometida, com processos de comunicação muito claros. É preciso verificar continuamente como o colaborador está no desenvolvimento da atividade, o que contribui com o objetivo a ser alcançado pelo negócio. O RH entra, então, com o conhecimento, as ferramentas que irá utilizar para possibilitar atração e retenção de pessoas, além do desenvolvimento em linha com as necessidades dos negócios. As competências precisam ser mapeadas e isso gera valor agregado, com um foco muito humanizado, já que a empresa estará sempre preocupada com as pessoas, na sua parte técnica e no seu desenvolvimento comportamental”, disse Pereira.
A necessidade de descarbonização do planeta também foi um assunto de destaque tratado pelo presidente do conselho de administração da Copersucar, Alvean e CTC, Luis Roberto Pogetti, que relacionou o perigo do aquecimento global e o potencial de tornar a terras áridas, o que influenciará na produtividade agrícola e com isso no abastecimento mundial de alimentos.
O capítulo do dia 25 foi marcado por um importante encontro de fornecedores de cana que discutiram aspectos da conjuntura atual na produção canavieira contando com a participação dos associados da Canacampo, Marcos César Brunozzi, proprietário da Brunozzi Agropecuária, e Franciele Bernal Rivero, administrativo da fazenda Santo Antônio, juntamente com o produtor de Lençóis Paulistas, Paulo Roberto Artioli (Betão), proprietário e diretor agrícola da Tecnocana, sob a mediação do presidente da Canacampo, Daine Frangiosi.
O primeiro assunto abordado foram os problemas na cadeia de suprimentos e o papel do Governo Federal na questão. Para Franciele, mediante a situação, é necessária a redução dos impostos. Ela ainda lembrou da visita da ministra Tereza Cristina na Rússia, com o objetivo de amenizar a falta do suprimento de fertilizantes para o Brasil.
Marcos César Brunozzi, produtor e proprietário da Brunozzi Agropecuária
Em relação a minimizar fatores climáticos, Betão revelou algumas estratégias que está utilizando, como a avaliação genética da cana buscando variedades mais resistentes à seca e a utilização de insumos mais apropriados.
Na sua participação, Marcos Brunozzi ratificou o problema do estresse hídrico, agravado pelas geadas e posteriores incêndios, que impactou na produção, e trouxe prejuízos pela queda na eficiência dos insumos.
Já em clima de encerramento dos trabalhos, o programa que foi ao ar no dia 2 de dezembro transmitiu a cerimônia que homenageou personalidades do setor. Receberam a premiação Antônio de Pádua Rodrigues (diretor técnico Unica); Pedro Luciano Penna Rocha de Oliveira (Fórum Nacional Sucroenergético); José Vítor (deputado federal); Marcos Guimarães Landell (diretor do IAC); Bruno Bach Frangiosi (representando o Grupo Irmãos Frangiosi); Jorge Petribu (diretor presidente do Grupo Petribu) e Luís Cláudio Inácio da Silveira (pesquisador da Ridesa).
Para abrilhantar o final das atividades, nada como um dos maiores nomes da história do agro nacional, isso mesmo, o último programa da temporada 2021 contou com a participação de Alysson Paulinelli, reconhecido como um ícone na implementação da agricultura eficiente no cerrado, ele concorreu ao prêmio Nobel da Paz.
Durante a sua participação no programa, Paulinelli fez um balanço histórico sobre a fome no Brasil. Ele também se lembrou do estímulo ao treinamento de profissionais no exterior, quando gestor da Embrapa, no sentido de melhorar o serviço no bioma brasileiro. “Voltaram com uma nova mentalidade e foco científico. Estamos falando de tecnologia e informação já naquela época”, disse ele.
Em relação à fome, o ex-ministro destacou que todos os organismos de combate já sabem que será preciso aumentar a oferta de alimentos no mundo, visto a quantidade de habitantes em 2050. Ele disse ainda que em diversos países já não há condições de se aumentar a área plantada, mas que o Brasil terá um papel definitivo nesta questão, pois poderá oferecer até 70% mais de alimentos. Ele destacou o trabalho dos produtores que vêm evoluindo em tecnologia. “Fico feliz quando visito produtores e eles querem me mostrar seu laboratório, demonstrando a evolução que estão fazendo”.
A maratona de programas teve o seu encerramento com a realização de um dia de campo na sede da Canacampo, em Campo Florido-MG