Melhoramento genético aposta em alimentos funcionais

10/03/2014 Agricultura POR: Folha Web
Nova geração de transgênicos foca nas necessidades nutricionais e também na saúde do consumidor
 
Garantir alimentos altamente nutritivos é um dos novos desafios da engenharia genética mundial. Depois de anos desenvolvendo variedades de plantas resistentes a determinadas pragas, doenças e produtos químicos, a nova geração dos transgênicos do século 21 começa a focar nas necessidades nutricionais e também na saúde do consumidor. Muitas pesquisas estão sendo realizadas no Brasil na busca de plantas enriquecidas geneticamente com vitaminas, minerais, entre outros compostos que beneficiam a saúde.
 
Chamados de alimentos funcionais, esses produtos contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população, além de serem um mercado bem atrativo. Pioneiras no segmento, as agroindústrias já entraram nesse campo antes da agricultura, com produtos que ajudam a melhorar a flora intestinal, enriquecidos com vitaminas e outras substâncias. Na agricultura, as pesquisas neste campo estão caminhado, mas ainda necessitam de muitos estudos para que estes produtos possam ser produzidos em escala comercial.
 
Uma das pesquisas que tem animado a comunidade científica é uma nova variedade de alface, desenvolvida pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, rica em ácido fólico, vitamina recomendada principalmente para mulheres grávidas. Coordenada pelo pesquisador da Dr. Francisco Aragão, a nova variedade de alface produz 15 vezes mais ácido fólico se comparada a uma planta comum.
 
O pesquisador explica que a alface já possui essa substância, mas em pequenas quantidades. O trabalho desenvolvido pela equipe de pesquisa foi aumentar a produção das moléculas que dão origem ao ácido fólico por meio da introdução de genes de uma planta modelo, chamada de Arabidopsis thaliana que, segundo ele, é utilizada com frequência na biologia vegetal. Aragão explica que a dose diária de ácido fólico recomendada para um adulto a partir dos 15 anos de idade, por exemplo, é de 0,4 mg. Se esse indivíduo consumir duas folhas de alface geneticamente modificada, 70% de sua necessidade diária por ácido fólico será suprida. A instituição também estuda obter uma folhosa mais resistente e com boas características estruturais.
 
Aragão observa que o Brasil possui muitos alimentos com baixo teor em nutrientes e excesso de calorias, o que resulta na chamada fome oculta. "Hoje, a pesquisa tem trabalhado para trazer alimentos mais nutritivos", completa. O especialista explica que a ausência de ácido fólico causa anecefalia em bebês e depressão. "No nosso caso, o nosso público-alvo são mulheres que estão tentando engravidar", completa o Aragão.
 
Ele completa que para o agricultor a nova variedade não deverá fazer diferença na produção. O pesquisador revela que a variedade ainda está em testes de campo, devendo demorar alguns anos para ser implantada em lavouras comerciais. Questionado sobre o custo da semente da nova variedade, Aragão explica que não há razão para o valor da semente ser mais alto se comparado a uma alface comum.
 
Nesta seara já existem outros diversos tipos de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) em estudo no Brasil que visam a melhoria nutricional, a exemplo da soja rica em Ômega 3 e o arroz enriquecido com betacaroteno.
 
Aprovação
Na opinião de especialistas da área, o uso de organismos geneticamente modificados voltado para o consumidor deveria ter acontecido antes da implantação da tecnologia direcionada para o aumento de produtividade e controle de pragas e doenças. Dessa maneira, avalia Eduardo Fermino, pesquisador do laboratório de biotecnologia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), a aceitação da população poderia ter sido melhor quando a tecnologia foi apresentada ao mundo. "O consumidor não sabe o que são os transgênicos." Segundo ele, falta informação sobre esses produtos.
 
O repórter viajou a Brasília a convite do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB)
Ricardo Maia