Não à toa que o Triângulo Mineiro foi a região escolhida pela Associação das Indústrias Sucroenergética de Minas Gerais (Siamig) para sediar o primeiro evento de lançamento da safra 2016/2017, de cana-de-açúcar do estado. Das 36 usinas de Minas, 21 estão no Triângulo. Na safra passada, a região respondeu por 72% da produção de cana do estado, 78% do açúcar e 68% do etanol. A fazenda Santa Vitória, de propriedade da Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA), localizada no município de Uberaba, o maior produtor de cana do Brasil, foi a sede do evento. O grupo é o dono da Usina Vale do Tijuco, que está operando em sua capacidade quase total. A região também abriga as maiores e mais modernas usinas.
Minas Gerais é o segundo maior estado produtor de açúcar, o terceiro em cana e etanol e ocupa a segunda colocação no consumo de etanol. “Isso foi possível por causa da redução da alíquota de ICMS que incide sobre o etanol, em março de 2015, de 19% para 14%. O aumento do consumo foi de 140% porque deixou o preço do etanol produzido em Minas mais competitivo”, diz o presidente da Siamig, Mário Campos. De acordo com ele, a safra 2016/2017 deverá ser recorde na produção de etanol. Na passada, o estado moeu 65 milhões de toneladas de cana, a maior de sua história. Nos últimos 10 anos, a produção subiu de 30 milhões para 60 milhões de toneladas. Neste mesmo período, foram abertas 23 novas usinas no estado, o que triplicou sua capacidade de produção. “Isso levou o desenvolvimento para os pequenos e médios municípios mineiros.”
O estado também ganhou em produtividade nos últimos tempos, subindo da média de 74 toneladas/hectare na safra 2014/2015 para 80,03 toneladas/hectare na safra seguinte. Para a safra 2016/2017, deve ter ligeiro aumento para 80,6 toneladas/hectare em função do aumento da sucralose na cana, que é beneficiada pelo clima que deverá ser mais seco no momento da colheita. Minas tem 903 mil hectares de cultivo de cana em 130 municípios, sendo que 28 deles abrigam plantas industriais. Boa parte delas utiliza 100% de colheita mecanizada. Isso somente não ocorre nas áreas onde a topografia não favorece o uso de máquinas. “Apenas entre 2% a 3% da área plantada não é feita a colheita mecânica”, informa o presidente da Siamig.
A produção das usinas mineiras é bastante variável. A menor processa 200 mil toneladas de cana por ano, enquanto a maior chega a 5 milhões por safra. “A menor empresa gera, no mínimo, 500 empregos diretos e hoje, essas são vagas de qualidade”, destaca Mário Campos. Além do etanol, essas indústrias também são responsáveis pela produção de açúcar e de bioeletricidade. Minas produz 20 mil gigawatts/hora/ano. No caso da Usina Vale do Tijuco, por exemplo, são gerados 250 mil megawatts/hora/ano. “Energia suficiente para abastecer Uberaba”, garante o presidente do conselho de administração da CMAA, José Francisco de Fátima Santos. Sessenta por cento da produção da Vale do Tijuco são de açúcar e os outros 40%, de etanol. Setenta por cento do açúcar produzido em Minas são exportados, por meio de tradings, principalmente para a Ásia, África e Oriente Médio, tendo a China como maior comprador. E a boa notícia para os produtores é que o preço do açúcar no mercado externo está bem valorizado porque a estimativa é de que o mundo produza menos açúcar do que a sua demanda atual. Minas deve chegar a 3,5 milhões de toneladas de açúcar nesta safra.
No caso do etanol, o presidente da Siamig lembra que a produção de Minas é adequada ao consumo do estado, que este ano deve ser bem parecido com 2015. O preço do etanol em relação à gasolina em Belo Horizonte, Uberlândia e Uberaba, é de 65%, no momento, segundo Mário Campos. Ele destaca que o acordo de Paris – resultado da 21ª Conferência Mundial sobre o Clima – assinado recentemente na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, que prevê a descarbonização da economia global deverá impulsionar a produção de etanol, por ser combustível renovável. “O governo quer aumentar de 30 bilhões para 50 bilhões de litros o consumo de etanol no Brasil até 2030. Para chegarmos a isso, serão necessários muitos investimentos em pesquisa e tecnologia”, diz Mário Campos.
Em outras palavras, seria necessário quase dobrar a produção de cana. “O Brasil levou 500 anos para chegar a 680 milhões de toneladas de cana por ano e terá apenas 15 anos para aumentar essa produção em mais 300 milhões de toneladas. Isso é um desafio para as empresas e para o governo, que precisará definir políticas públicas que não atrapalhem o desenvolvimento do setor”, afirma o presidente da Siamig. Para isso, o país precisaria sair da produção dos atuais 7,2 mil litros de etanol por hectare para 13 mil litros. Se o acordo de Paris realmente vingar, mercado não faltará para o etanol. E o meio ambiente também agradece.
Estimativa da safra 2016/2017 para MG:
Cana: 65,5 milhões de toneladas
Açúcar: 3,5 milhões de toneladas
Etanol anidro (m³): 1,040 bilhão
Etanol hidratado (m³): 2,040 bilhões
Os valores internos do milho seguem em alta. Na sexta-feira, 6, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (base Campinas-SP) atingiu R$ 50,01/saca de 60 kg, o maior patamar nominal de toda a série do Cepea, iniciada em 2004. Já em termos reais, a média parcial de maio, de R$ 49,55/sc, é a maior desde janeiro de 2008 (valores atualizados pelo IGP-DI de abril/16). De acordo com dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, no Paraná, onde a disputa pelo grão está mais acirrada, alguns negócios já são realizados a R$ 52/sc.
O impulso vem da menor oferta. Segundo pesquisadores do Cepea, a colheita da safra de verão está na reta final, mas muitos produtores estão retraídos, negociando apenas lotes pontuais. Esses vendedores estão apreensivos quanto ao desenvolvimento do cereal da segunda safra. Apesar das chuvas em muitas regiões produtoras no final de abril, foi pequeno o alívio às lavouras – a situação é considerada crítica em alguns casos. Especulações indicam que a produtividade pode ser uma das menores das últimas temporadas. Enquanto isso, a demanda segue firme.
Novos dados oficiais indicam menor produtividade nas lavouras de milho. Após o Deral/Seab divulgar no final de abril queda de 6% na produtividade do Paraná frente à safra anterior, o Imea indicou, no início de maio, possível redução de 16,5% em Mato Grosso, com o rendimento na casa de 91 sc/ha. Apesar do aumento na área em importantes regiões, a menor produtividade pode resultar em queda considerável da produção da segunda safra.
Diante desse cenário, o Brasil já vem importando pequenas quantidades de milho, especialmente de países vizinhos. Segundo a Secex, 105,9 mil toneladas foram importadas em abril, ao preço médio de US$ 155,4/tonelada, o que seria equivalente a R$ 33,13/sc de 60 kg, bem abaixo das atuais cotações no físico nacional. Quanto às exportações, foram apenas 370,5 mil toneladas de milho embarcadas em abril, ao preço de US$ 178,2/tonelada, ou de R$ 37,98/sc, também inferior ao verificado nas regiões brasileiras.
Em abril, o valor médio do primeiro contrato em aberto na BM&FBovespa esteve 52% superior ao primeiro contrato da Bolsa de Chicago (CME/CBOT). A média de abril do milho no porto de Paranaguá (PR) esteve 37% acima do primeiro contrato da CBOT/CME e 17% superior ao valor de exportação da Argentina. Apesar do grande receio quanto ao desenvolvimento das lavouras do milho segunda safra, a menor competitividade do cereal brasileiro pode resultar em quedas internas e/ou, pelo menos, deve limitar novas altas no médio prazo.