O pacote com medidas de estímulo ao etanol ainda vai ser detalhado pelo governo, mas levando-se em conta o que está previsto, é tímido. Os produtores estavam esperando um pouco mais. Por exemplo, um crédito tributário poderá ser usado para abater PIS/Cofins, em vez de se fazer uma desoneração do setor, levando-se em conta as vantagens ambientais do uso do etanol.
A gasolina teve redução forte de tributos - a Cide, imposto mais forte que incidia sobre o combustível, foi eliminado. Ela teve mais vantagens ao longo dos últimos anos em relação ao álcool. Essa é uma das raízes do problema, mas também há vários outros. É preciso, por exemplo, renovar o canavial.
Quando veio a crise de 2008, os produtores estavam no meio de um projeto de ampliar a produção. Acreditavam que o Brasil exportaria mais etanol e o mercado local se ampliaria com o crescimento do carro flex. A crise veio, portanto, naquele momento em que estavam investindo.
Por outro lado, o governo fez uma opção pelo combustível fóssil e deu muitos incentivos à gasolina: além da redução da Cide e do PIS/Cofins, o preço ficou congelado por muito tempo. Isso desorganizou o setor do etanol. Usinas foram fechadas, empresas tiveram que abortar projetos, canaviais não foram renovados.
Hoje, o setor tem problemas em várias áreas. Precisa de horizonte. O governo tem de criar medidas definitivas para que os investimentos sejam retomados. Não adianta medida paliativa, um "curativo" num setor que está politraumatizado, muito afetado pelos erros na condução da política dos combustíveis.
O ideal seria o repasse no preço do álcool para as bombas. O pacote pode ser incompleto, pode ser insuficiente, mas o fato é o seguinte: o governo abriu mão dos impostos, e o empresário tem que repassar esse desconto para o consumidor. Porque o que os empresários precisam agora é de consumidor. De quem vai ao posto de gasolina e prefira o etanol. Se não tiver o consumidor preferindo etanol, nada disso acontece. Então não adianta engordar os lucros e perder o consumidor. Então, o essencial é ter essa atitude de repassar. A presidente Dilma disse que não pode garantir que a empresa vai repassar, mas a empresa deveria repassar sim.
Porque isso melhora um pouquinho o problema do setor, mas não resolve o principal. O consumidor de etanol abandonou o etanol pela gasolina e ele precisa voltar para o etanol.
Juros e Inflação
"O Brasil não negocia com inflação, não flerta com a inflação. Que nós temos um histórico de combate a inflação de controle da inflação", declarou Dilma Rousseff.
Sobre juros, a presidente disse que eles estão em patamares competitivos, mas que isso não quer dizer que eles não subam e não desçam. Que vão continuar subindo e descendo, mas dentro de padrões adequados a nível internacional de forma competitiva.
O que a presidente estava dizendo é o seguinte: no governo dela os juros foram elevados para 13%, depois caiu muito. E agora, subiu novamente, o que ela está falando é que em vez de oscilar entre 12%, 23%, vai oscilar entre 7%, 8%. Talvez tenha tido esse ganho de um patamar mais baixo de juros. Agora, o fato é que a política toda de anti-inflação, que não é apenas taxa de juros, está errada. Se não estivesse errada não estava em torno de 6% com o país crescendo menos de 1%. Então alguma coisa está errada na política econômica. E seria melhor se o governo fizesse mais autocrítica, pra ver onde ele está errando. É preciso calibrar principalmente a política fiscal. Não é só com taxa de juros que se combate a inflação, é com o corte de gastos eficiente. O patamar de juros ideal é o que permite que o país cresça sem inflação.