*Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).
**Analista associado da Markestrat.
***Consultor da Markestrat.
Primeira parte da coluna de mercados "engenheiro agrônomo Manoel Ortolan" publicada na edição de outubro de 2020
Reflexões dos fatos e números do agro - Na economia mundial e brasileira
A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aponta que a economia deve se recuperar mais rápido do que o esperado. A Organização melhorou a estimativa sobre a economia global, a qual deve retrair 4,5% em 2020 (antes projetada em -6%) e crescer 5% no próximo ano. A China deve ser o único país do G20 a crescer neste ano, com alta de 1,8%, enquanto que os EUA devem ter queda de 3,8%.
Estudo da Universidade Estadual de Nova York indica que a maior exposição à poluição do ar pode acarretar em agravamento de casos de Covid-19, podendo aumentar as mortes pela doença em até 9%.
A economia brasileira segue dando sinais de melhora, mesmo ainda em ritmo lento. O relatório Focus (Bacen) de 3 de outubro projeta redução do PIB em 5,02% em 2020, e crescimento de 3,5% para o ano seguinte. O IPCA deve fechar o ano em 2,23% e alcançar 3,02% em 2021. A Selic, por sua vez, deve ser de 2,0% e 2,5%, respectivamente. Finalmente, o dólar deve se manter em R$ 5,25 em dezembro deste ano e encerrar 2021 em R$ 5,00.
O terceiro trimestre de 2020 iniciou em ritmo de retomada da economia brasileira, segundo apontam os dados setoriais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A FGV (Fundação Getúlio Vargas) estima que o crescimento econômico de julho foi de 2,8% frente ao mês anterior, o qual já havia apresentado alta de 3,9%. Tal cenário está motivando recontratações no setor industrial.
Durante a pandemia, muitas empresas das cadeias do agronegócio foram forçadas a redirecionar suas vendas do food service para o varejo, visto que o primeiro apresentou queda de até 80% na demanda. Essa mudança de canal gerou reduções nas margens de muitas organizações, com incrementos de custos nas embalagens, logística e espaço nas gôndolas.
A Unilever anunciou que deve eliminar o uso de derivados de petróleo como fonte de matéria-prima em diversos produtos da companhia, investindo cerca de US$ 1 bilhão no projeto. A iniciativa reforça a ideia da economia circular, que vem ganhando grande espaço no mercado financeiro.
A B3 está em processo de atualização de seus índices de carbono e desenvolvimento sustentável, de modo a torná-los mais atrativos aos investidores. Há a expectativa do lançamento de um índice ESG (Environment, Social and Governance) com empresas listadas no mercado de capitais brasileiro, englobando aquelas elegíveis aos novos critérios ambientais, sociais e de governança. O ESG entrou com tudo na agenda das organizações em suas ações de sustentabilidade.
Segundo Pavan Sukhdev, presidente global da WWF, as movimentações do mercado financeiro para a economia verde estão crescendo exponencialmente e podemos esperar um tsunami de investimentos ESG. O executivo reconhece as iniciativas de organizações do Brasil e comenta que não há outro país com tanto capital natural como o nosso. De acordo com ele, existem muitas oportunidades para cobranças por serviços de compensação de carbono no país.
A exemplo disso, conforme o Valor Econômico, as emissões de títulos verdes da Zurich no Brasil chegaram a R$ 62 milhões em julho de 2020, 36% do total (R$ 170 milhões) previsto pela empresa para os próximos dois anos. O valor foi investido em projetos de geração e transmissão de energia renovável e de saneamento básico. A concessionária de energia EDP, por sua vez, passou a utilizar as cinzas produzidas pela termelétrica Pecém para produzir um tipo de cimento usado na pavimentação de estradas. A empresa tem planos de gerar 100% da energia que consome via fontes renováveis, em 10 anos.
Um programa criado pelo governo brasileiro e que envolve 20 países, a Plataforma para o Biofuturo, foi lançada recentemente com a intenção de promover estudos e replicar experiências sobre os projetos de transição energética. A iniciativa tem por objetivo fortalecer pautas de bioenergia, estimulando programas de sustentabilidade e a cooperação entre esses países.
De acordo com o PDE (Plano Decenal de Expansão de Energia), o Brasil deve aumentar sua demanda energética em 2,9% ao ano até 2029, com 380 milhões de toneladas equivalentes de petróleo. A participação das fontes renováveis poderia chegar a 48% desse total.