Muito além do clima

20/08/2015 Geral POR: Folha de S. Paulo
Seria esperar demais que uma visita de menos de 24 horas da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, produzisse avanços nas relações diplomáticas e comerciais de seu país com o Brasil.
Esse gênero de encontro serve mais para oficializar acordos já negociados -e eles indicam que a pauta entre a quarta e a sétima economia do mundo vai muito além da questão da mudança climática.
A Alemanha é o quinto principal destino dos produtos exportados pelo Brasil, com 2,9% de participação no período de janeiro a julho deste ano. Mas ela nos vende mais que compra há pelo menos uma década. Pior, nosso deficit era de US$ 1,12 bilhão em 2005 e fechou 2014 em US$ 7,2 bilhões.
A queda dos preços internacionais de commodities contribui para esse quadro. O Brasil embarca para a terra de Merkel principalmente bens de baixo valor agregado, como minério de ferro e café cru em grãos, e importa produtos elaborados, como medicamentos e componentes automotivos.
Dado esse cenário, é auspicioso que estejam na agenda acordos de inovação industrial e uma parceria sobre registro e certificação de produtos médicos. São áreas em que o Brasil tem muito a assimilar da excelência alemã -embora a cooperação técnica, sozinha, não possa conter a tendência de desindustrialização.
O governo Merkel acena, ademais, com recursos para projetos de mobilidade urbana e popularização de painéis solares fotovoltaicos (para gerar eletricidade). Eis aí outro campo em que a Alemanha se destaca no cenário mundial.
É uma das nações campeãs em energia renovável e limpa. Sua disseminação contribui para substituir combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) e, assim, combater o aquecimento global.
Nos últimos anos, os alemães lograram chegar a 25,8% de fontes renováveis em sua matriz elétrica, com pouquíssima hidreletricidade (3,4% do total gerado). Seu forte está naenergia eólica (8,6%), de biomassa (8%) e solar (5,8%).
O Brasil, em contraste, tem 69,2% de renováveis (59,8% de origem hídrica). Ainda engatinha em energias como a dos ventos (meros 2%) e solar (0,003%). Só se destaca na de bagaço de cana (5,2%).
Há grandes oportunidades para o Brasil nesse front. Na Alemanha, as fontes alternativas impulsionam novos setores industriais. Também sustentam a posição de vanguarda que o governo Merkel tem adotado nas negociações internacionais sobre mudança do clima.
A administração Dilma Rousseff (PT), entretanto, procede com timidez nessa seara. Acomodou-se sobre os louros conquistados com hidrelétricas e a redução do desmatamento. Em boa hora vem a insistência alemã em obter do Brasil posição mais avançada para a Conferência de Paris, em dezembro.
Editorial
Seria esperar demais que uma visita de menos de 24 horas da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, produzisse avanços nas relações diplomáticas e comerciais de seu país com o Brasil.
Esse gênero de encontro serve mais para oficializar acordos já negociados -e eles indicam que a pauta entre a quarta e a sétima economia do mundo vai muito além da questão da mudança climática.
A Alemanha é o quinto principal destino dos produtos exportados pelo Brasil, com 2,9% de participação no período de janeiro a julho deste ano. Mas ela nos vende mais que compra há pelo menos uma década. Pior, nosso deficit era de US$ 1,12 bilhão em 2005 e fechou 2014 em US$ 7,2 bilhões.
A queda dos preços internacionais de commodities contribui para esse quadro. O Brasil embarca para a terra de Merkel principalmente bens de baixo valor agregado, como minério de ferro e café cru em grãos, e importa produtos elaborados, como medicamentos e componentes automotivos.
Dado esse cenário, é auspicioso que estejam na agenda acordos de inovação industrial e uma parceria sobre registro e certificação de produtos médicos. São áreas em que o Brasil tem muito a assimilar da excelência alemã -embora a cooperação técnica, sozinha, não possa conter a tendência de desindustrialização.
O governo Merkel acena, ademais, com recursos para projetos de mobilidade urbana e popularização de painéis solares fotovoltaicos (para gerar eletricidade). Eis aí outro campo em que a Alemanha se destaca no cenário mundial.
É uma das nações campeãs em energia renovável e limpa. Sua disseminação contribui para substituir combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) e, assim, combater o aquecimento global.
Nos últimos anos, os alemães lograram chegar a 25,8% de fontes renováveis em sua matriz elétrica, com pouquíssima hidreletricidade (3,4% do total gerado). Seu forte está naenergia eólica (8,6%), de biomassa (8%) e solar (5,8%).
O Brasil, em contraste, tem 69,2% de renováveis (59,8% de origem hídrica). Ainda engatinha em energias como a dos ventos (meros 2%) e solar (0,003%). Só se destaca na de bagaço de cana (5,2%).
Há grandes oportunidades para o Brasil nesse front. Na Alemanha, as fontes alternativas impulsionam novos setores industriais. Também sustentam a posição de vanguarda que o governo Merkel tem adotado nas negociações internacionais sobre mudança do clima.
A administração Dilma Rousseff (PT), entretanto, procede com timidez nessa seara. Acomodou-se sobre os louros conquistados com hidrelétricas e a redução do desmatamento. Em boa hora vem a insistência alemã em obter do Brasil posição mais avançada para a Conferência de Paris, em dezembro.
Editorial