Muladeiros de Pontal

30/03/2021 Noticias POR: MARINO GUERRA

O produtor e empresário Ademir Lucio Cornachini divide a paixão pelas mulas com o filho, Guilherme Guidi. No detalhe perceba a tralha dos animais e também sua pelagem exótica

 

Andando pela zona rural da plana Pontal em pleno ano de 2021, poucos sabem que é possível encontrar, em meio ao mar de cana, ilhas onde são criadas mulas com uma das melhores genéticas de todo país, concebidas através do cruzamento do jumento com éguas da raça Mangalarga.
Um desses locais é a Fazenda Campo Alegre, onde está instalada, sob a administração do produtor e empresário Ademir Lúcio Cornachini, uma operação de melhoramento genético do animal. O trabalho é focado na busca por três características: docilidade, pelagem e marchado.
O criador destaca que para ter um animal dócil a genética é importante, porém o trabalho de doma é fundamental, sendo necessário um profissional qualificado para a sua execução. Sobre as pelagens, o objetivo é conseguir cores mais exóticas (baia amarilho, pampa, rosilha e ruana) que agregam bastante valor ao animal.
Quanto ao marchado, um dos principais pontos é a mistura entre o jumento da raça Nacional com a égua Mangalarga, animais reconhecidos por seu ótimo andamento.
Cornachini expõe que conseguir unir esses três talentos é algo muito difícil, perante sua experiência, com a utilização de éguas top, somente metade dos indivíduos nascidos consegue unir essas características.
A complexidade do trabalho tem seus custos, que são em parte amortizados em três práticas de negócios distintas. Os animais prontos, que são vendidos já adestrados; os que não conseguem atingir os quesitos para ser enquadrados na elite, que são comprados por produtores rurais para a lida no campo; e a venda de uma égua comum fecundada por um embrião com genética superior.

O melhoramento genético realizado por Cornachini consiste no cruzamento de um jumento Nacional com uma égua Mangalarga

 

Amor e união familiar

Contudo, o criador fala que dificilmente é possível conseguir ter lucro no negócio como o dele, e que todo o trabalho só é justificado por dois motivos: a paixão pelos animais e a união familiar que ele gera. E a prova disso fica evidente em apenas pouco tempo de conversa com o seu filho, Guilherme Guidi, que além de acompanhar o pai nas cavalgadas, é perceptível nos olhos todo o amor pelos equinos.
Assim, pai e filho trabalham juntos na criação e diversão, que são as cavalgadas, podendo durar dias, como a que sai de Pontal e vai até Barretos, passando por Terra Roxa e Jaborandi, acontecendo todos os anos durante a festa do peão.
Além dos finais de semana, quando a turma de muladeiros se reúne para percorrer trajetos mais curtos (geralmente da sede de uma fazenda para outra) e termina sempre numa amistosa confraternização a qual o principal assunto não poderia ser outro, senão as mulas.

Onde tudo começou

Se fizer uma pesquisa entre o pessoal envolvido na região, todos vão apontar para o produtor agropecuário Rivaldere de Castro, mais conhecido como Riva, como o precursor da criação dos animais.
Com a vida inteira passada no campo, ele recorda que sua paixão teve início ainda na infância, quando de vez em quando montava escondido dos adultos.
Como antigamente os animais eram destinados para o trabalho na roça e não eram adestrados, os antigos tinham medo de que as crianças acabassem se machucando ao montá-los.
Há quase trinta anos iniciou a criação, no princípio era o único que ia aos encontros de cavaleiros montado numa mula: “quando chegava com o animal todo traiado, não havia cavalo de raça que chamava mais a atenção”, conta Riva.
E as tralhas são itens obrigatórios para um verdadeiro muladeiro, sendo constituída além dos itens de monta (como sela e cabresto), também de uma infinidade de enfeites, que são geralmente constituídos de algum metal e couro, fazendo com que o animal, que já é belo ao natural, se torne muito mais reluzente.
Possuindo em seu plantel indivíduos que o acompanham desde o início, com destaque para a “Vera Fisher”, que inclusive foi a grande influenciadora para a entrada de vários criadores no ramo, entre eles o Lúcio Carnechini, Riva sente orgulho de contar as incontáveis histórias de cavalgadas (que se relatadas daria material para um livro) e mostrar o nível de adestramento que é possível atingir, conduzindo-os a cumprimentar as visitas, sentar e até mesmo deitar e rolar.

Exemplo de doma a mula senta, deita e (como é muito bem-educada) cumprimenta. Na foto, o produtor Riva ao lado do veterinário da Copercana, Gustavo Lopes, e montado o colaborador, Ivo Alves Pires