O clima entre produtores de cana e Palácio do Planalto há muito tempo não era tão tenso. Depois de uma lua de mel nos mandatos de Lula, o setor canavieiro vive no governo Dilma Rousseff uma crise que está levando a industria do açúcar e do etanol a um buraco que só afunda. Usineiros acusam o governo federal de abandonar o etanol e cresce na lavoura de cana a simpatia de alternância de poder em Brasília.
“Não tem havido um diálogo institucional entre o setor e a chefe de governo”, resumiu na noite de quinta-feira o presidente do Conselho Deliberativo da Única, Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, chamado pela indústria para tentar conter a carreira ladeira abaixo dos números do setor e reconstruir pontes avariadas na crise com o Planalto.
Rodrigues acaba de tomar posse no Conselho da entidade em clima de terra arrasada. A quebradeira de usinas, que chegou a operar com 415 unidades, virou rotina – em cinco anos, pelo menos 60 usinas fecharam e outras 66 têm problemas graves de recuperação judicial. O endividamento líquido médio do setor come 104% do faturamento anual de US$ 43 bilhões e 60 mil empregos diretos foram cortados em dois anos.
Além disso, o etanol, o queridinho estratégico brasileiro fundamental na recuperação dessa engrenagem, está saindo da fábrica ao preço de R$ 1,20 o litro, enquanto o custo de produção já alcança R$ 1,25. E mais: na bomba, o consumidor quase não vê diferença entre etanol e gasolina, o que detona o discurso do flex e o caixa de usinas, destilarias e canavieiros.
Nesse ambiente adverso, a campanha eleitoral amplia a pressão por todo o lado. E o empresariado canavieiro não ouve do Planalto as respostas que acha necessárias para o rumo da saída, que passariam, de imediato, por uma mexida dos preços de combustíveis – etanol e gasolina, esta última a grande vilã da história, principalmente depois da desoneração dos R$ 0,28 da Cide.
Resultado: o cordão de usineiros que defende a ideia de um eventual desembarque da nave Dilma-Lula para embarque no voo eleitoral do tucano Aécio Neves (PSDB) ou até do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), só cresce – o que pode atrapalhar o caminho para soluções dos problemas mais urgentes.
“É natural que isso ocorra. Essa tensão era inevitável”, pondera Rodrigues, admitindo que o clima da campanha eleitoral pode criar dificuldades para o que ele chamou de “início de uma conversa política com o governo federal” por conta das urgências nas usinas.
“As conversas nos níveis técnicos estão ocorrendo bem, mas há que avançar no plano político com transparência e sem preconceitos”, disse Rodrigues, que defendeu o retorno da cobrança da Cide na gasolina, entre outras medidas emergenciais.
Representando os cerca de 35% da produção que está na mão de fornecedores de cana independentes, Rodrigues não é o negociador dos sonhos de Dilma. Mas tem no currículo passagem pelo ministério nos áureos tempos da cana com Lula e o aval dos industriais para buscar consensos dentro e fora de suas fileiras.
Amanhã, no Hotel Hyatt, em São Paulo, o setor assistirá à Cerimônia de Entrega do 5º Prêmio Top Etanol, e cada pré-candidato terá 20 minutos para discursar. A Única enviou documento com diagnóstico da crise para as assesorias de Aécio, Campos e Dilma. Os dois primeiros confirmaram presença; Dilma avisou que não vai.
Única cobra promessas de Dilma ao setor
O governo federal deveria sinalizar logo com medidas para o setor de açúcar e etanol, cumprindo promessas da presidente Dilma Rousseff para o PIS-Cofins, recuperação de créditos no valor de R$ 1 bilhão, retorno da Cide, alteração da mistura de 25% para 27,5% de etanol anidro na gasolina e recursos para armazenagem de açúcar. A afirmação é de Elizabeth Farina, presidente da Única, alegando que essas iniciativas aliviariam o caixa das empresas.
A presidente da Única acrescentou que o setor quer também a inclusão na lista dos beneficiados com a desoneração da folha de pagamento, que teve a permanência anunciada na semana passada.
Para André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, que no último dia 23 esteve em um jantar com Dilma e outros produtores rurais (a Única não foi convidada), ainda é cedo para definições eleitorais, mas “não há porta fechada para ninguém”.
“Queremos que se comprometam com o etanol como política de Estado”, afirmou Rocha. Ele disse ainda que as conversas com Dilma devem prosseguir nas próximas semanas.
O clima entre produtores de cana e Palácio do Planalto há muito tempo não era tão tenso. Depois de uma lua de mel nos mandatos de Lula, o setor canavieiro vive no governo Dilma Rousseff uma crise que está levando a industria do açúcar e do etanol a um buraco que só afunda. Usineiros acusam o governo federal de abandonar o etanol e cresce na lavoura de cana a simpatia de alternância de poder em Brasília.
“Não tem havido um diálogo institucional entre o setor e a chefe de governo”, resumiu na noite de quinta-feira o presidente do Conselho Deliberativo da Única, Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, chamado pela indústria para tentar conter a carreira ladeira abaixo dos números do setor e reconstruir pontes avariadas na crise com o Planalto.
Rodrigues acaba de tomar posse no Conselho da entidade em clima de terra arrasada. A quebradeira de usinas, que chegou a operar com 415 unidades, virou rotina – em cinco anos, pelo menos 60 usinas fecharam e outras 66 têm problemas graves de recuperação judicial. O endividamento líquido médio do setor come 104% do faturamento anual de US$ 43 bilhões e 60 mil empregos diretos foram cortados em dois anos.
Além disso, o etanol, o queridinho estratégico brasileiro fundamental na recuperação dessa engrenagem, está saindo da fábrica ao preço de R$ 1,20 o litro, enquanto o custo de produção já alcança R$ 1,25. E mais: na bomba, o consumidor quase não vê diferença entre etanol e gasolina, o que detona o discurso do flex e o caixa de usinas, destilarias e canavieiros.
Nesse ambiente adverso, a campanha eleitoral amplia a pressão por todo o lado. E o empresariado canavieiro não ouve do Planalto as respostas que acha necessárias para o rumo da saída, que passariam, de imediato, por uma mexida dos preços de combustíveis – etanol e gasolina, esta última a grande vilã da história, principalmente depois da desoneração dos R$ 0,28 da Cide.
Resultado: o cordão de usineiros que defende a ideia de um eventual desembarque da nave Dilma-Lula para embarque no voo eleitoral do tucano Aécio Neves (PSDB) ou até do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), só cresce – o que pode atrapalhar o caminho para soluções dos problemas mais urgentes.
“É natural que isso ocorra. Essa tensão era inevitável”, pondera Rodrigues, admitindo que o clima da campanha eleitoral pode criar dificuldades para o que ele chamou de “início de uma conversa política com o governo federal” por conta das urgências nas usinas.
“As conversas nos níveis técnicos estão ocorrendo bem, mas há que avançar no plano político com transparência e sem preconceitos”, disse Rodrigues, que defendeu o retorno da cobrança da Cide na gasolina, entre outras medidas emergenciais.
Representando os cerca de 35% da produção que está na mão de fornecedores de cana independentes, Rodrigues não é o negociador dos sonhos de Dilma. Mas tem no currículo passagem pelo ministério nos áureos tempos da cana com Lula e o aval dos industriais para buscar consensos dentro e fora de suas fileiras.
Amanhã, no Hotel Hyatt, em São Paulo, o setor assistirá à Cerimônia de Entrega do 5º Prêmio Top Etanol, e cada pré-candidato terá 20 minutos para discursar. A Única enviou documento com diagnóstico da crise para as assesorias de Aécio, Campos e Dilma. Os dois primeiros confirmaram presença; Dilma avisou que não vai.
Única cobra promessas de Dilma ao setor
O governo federal deveria sinalizar logo com medidas para o setor de açúcar e etanol, cumprindo promessas da presidente Dilma Rousseff para o PIS-Cofins, recuperação de créditos no valor de R$ 1 bilhão, retorno da Cide, alteração da mistura de 25% para 27,5% de etanol anidro na gasolina e recursos para armazenagem de açúcar. A afirmação é de Elizabeth Farina, presidente da Única, alegando que essas iniciativas aliviariam o caixa das empresas.
A presidente da Única acrescentou que o setor quer também a inclusão na lista dos beneficiados com a desoneração da folha de pagamento, que teve a permanência anunciada na semana passada.
Para André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, que no último dia 23 esteve em um jantar com Dilma e outros produtores rurais (a Única não foi convidada), ainda é cedo para definições eleitorais, mas “não há porta fechada para ninguém”.
“Queremos que se comprometam com o etanol como política de Estado”, afirmou Rocha. Ele disse ainda que as conversas com Dilma devem prosseguir nas próximas semanas.