Nas culturas de inverno houve incremento de área plantada em 11,6%

30/10/2020 Agricultura POR: * Marcos Fava Neves ** Vítor Nardini Marques *** Vinícius Cambaúva

*Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).

**Vítor Nardini Marques é analista associado da Markestrat.

***Vinícius Cambaúva é consultor da Markestrat.

Segunda parte da coluna de mercados "engenheiro agrônomo Manoel Ortolan" publicada na edição de outubro de 2020

Reflexões dos fatos e números do agro - No agro mundial e brasileiro

  • A peste suína africana chegou ao maior produtor europeu de carne de porco. Os alemães identificaram um caso da doença no leste do país, e já começam a sofrer as consequências de embargos internacionais. A Coreia do Sul, a China e o próprio Brasil já suspenderam a entrada da carne alemã como medida preventiva.
  • Na Argentina, a produção de soja no ciclo 2020/21 está estimada em 50 milhões de toneladas, segundo a bolsa de Rosário. A área de produção deve crescer 0,6%, chegando a 17,3 milhões de hectares.
  • Já para os Estados Unidos, o USDA em seu relatório de setembro reduziu as estimativas de produção de soja e milho da safra 2020/21, as quais devem atingir 117,4 milhões e 378,5 milhões de toneladas, respectivamente. A diminuição é devido ao agravamento da seca com déficits de chuvas nas regiões Oeste, Meio-Oeste e Nordeste. A USDA estima a nossa produção de milho em 110 milhões de toneladas e de soja em 133 milhões na safra que está começando a ser plantada.
  • A agricultura de precisão deve movimentar US$ 7 bilhões no mercado global de 2020, crescendo 82,8% e atingindo US$ 12,8 bilhões em 2025, de acordo com a MarketsandMarkets. No Brasil, o mercado é atualmente de US$ 388,7 milhões.
  • Em seu último levantamento para a safra 2019/20, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) reforçou a estimativa de safra recorde de grãos, agora em 257,8 milhões de toneladas, 4,5% a mais que no ciclo passado. A área plantada aumentou 4,2%, enquanto que a produtividade 0,3%. Ainda restam as culturas de inverno para a confirmação desses dados. A safra de algodão também deve ser recorde, produzindo 2,93 milhões de toneladas de pluma (+4,2%) e com 90% da área já colhida. A colheita da soja já terminou, com 124,8 milhões de toneladas produzidas (+4,3%), enquanto que o milho aguarda a segunda e terceira safra, mas deve totalizar 102,5 milhões de toneladas (+2,5%). Nas culturas de inverno houve incremento de área plantada em 11,6%, com grandes expectativas para a produção de trigo com 6,8 milhões de toneladas.

  • Atualizações do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) apontam que o VBP da agropecuária para 2020 passou a ser calculado em R$ 771,4 bilhões, 10,1% superior ao ano passado e R$ 29 bilhões a mais que a estimativa de julho. Em comparação ao ano anterior, os destaques ficaram com a soja, que passou a R$ 194,2 bilhões (26,1% maior), os bovinos em R$ 110,9 bilhões (12,3% maior), o frango que passou a R$ 67,2 bilhões (8,3% maior) e a carne suína que foi a R$ 21,9 bilhões (10,4% superior). No total, as cinco cadeias da pecuária tiveram incremento de R$ 3,8 bilhões em comparação a julho, alcançando R$ 252,3 bilhões, e as 21 principais lavouras foram elevadas em R$ 25,2 bilhões, totalizando R$ 519,1 bilhões.
  • Com vistas à safra 2020/21, o Rabobank estimou a produção de soja brasileira em 130,1 milhões de toneladas em uma área de 37,9 milhões de hectares. O câmbio e as boas margens da cultura são os grandes motivadores desse aumento.
  • Enquanto isso, no cinturão citrícola, a safra 2020/21 de laranja, estimada pelo Fundecitrus, deve ser de apenas 287 milhões de caixas, 25,87% a menos que no ciclo anterior. O resultado foi agravado pelo período de estiagem prolongado (julho a setembro) que reduziu o tamanho dos frutos e favoreceu a incidência de doenças.
  • As vendas externas do agronegócio totalizaram US$ 8,91 bilhões em agosto, aumento de 7,8% frente ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Mapa. 50,2% de tudo que o Brasil exportou no mês veio do agro. Dentre os setores com maior contribuição nesse resultado destacamos: complexo soja com vendas de US$ 2,77 bilhões (+19,9%); carne bovina com recorde de US$ 753 milhões (+14,4%), suína também com recorde de US$ 196,09 milhões (+79,7%), e de frango com US$ 491 milhões (-17,2%); cereais, farinhas e preparações com US$ 1,14 bilhão (-12,2%); complexo sucroenergético com US$ 1,10 bilhão (+75,6%); e produtos florestais somando US$ 891 milhões (-13%). Por outro lado, as importações do agro atingiram US$ 912 milhões (-17,3%), gerando um superávit em sua balança de US$ 8,0 bilhões (+11,7%).
  • Levando em consideração o acumulado de janeiro a agosto, o agro já exportou US$ 69,63 bilhões (50,3% de tudo que país exportou), 8,3% a mais frente ao mesmo horizonte de 2019, consolidando saldo positivo em sua balança de US$ 61,50 bilhões.

  • Dentre outros produtos que vêm se destacando na pauta de exportações (acumulado de jan-ago) estão o café, com vendas de 26,4 milhões de sacas e US$ 3,4 bilhões (-0,8%); carne bovina com 1,3 milhão de toneladas e US$ 5,46 bilhões (+23,3%); e carne suína com 678,3 mil toneladas e US$ 1,49 bilhão (+54,5%).
  • Um levantamento realizado pelo Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal) revelou que, no acumulado de janeiro a julho, a área tratada com defensivos atingiu 64,3 milhões de hectares, o que representa um crescimento de 6% frente ao mesmo período de 2019. As culturas que tiveram o maior crescimento na utilização foram: soja com incremento de 33%, milho com 22% e algodão com 18%. Em termos de receita, o resultado do primeiro semestre foi de US$ 6,04 bilhões, ligeiro aumento frente aos US$ 6,03 bilhões de 2019.
  • 45 entidades do agro assinaram um manifesto para renovação dos convênios que reduzem a base de cálculo sobre insumos agrícolas e operações com implementos agrícolas. A não renovação poderá gerar impacto direto estimado em R$ 16 bilhões e aumento da inflação em 9,5%.
  • A BrasilAgro registrou lucro líquido de R$ 119,5 milhões no ciclo 2019/20, 32% a menos que no anterior, apesar da receita líquida ter aumentado 4%, atingindo R$ 599,1 milhões. No entanto, as expectativas da empresa para o ciclo 2020/21 são positivas, com novos investimentos em conversão de áreas, intensificação da produção e aposta no milho safrinha. O grupo conta com 11 propriedades e soma 215,3 mil hectares.
  • Estimativas apontam que o potencial de geração de biogás no Brasil é de 82 milhões de metros cúbicos por dia, um total de 115 mil GWh/ano. O setor sucroenergético seria o responsável por 68% desse total, o aproveitamento de resíduos industriais 24,4%, e a reutilização de lixo urbano em 7,6%. Mais uma oportunidade que se abre.

  • As iniciativas de economia circular trazem expressiva redução dos custos de produção das empresas. Segundo a Exame, a CMPC (fabricante de celulose) tem reduzido em 50% seus custos de produção a partir da reutilização de 99,8% dos resíduos gerados pela fábrica na produção de outros 15 novos produtos. Uma outra prática interessante é a pirólise do plástico, que está sendo conduzida pela Braskem, processo que retorna o plástico velho à sua forma original, utilizando matérias-primas renováveis à base de cana-de-açúcar. A reutilização do material é algo essencial para evitar o seu descarte ao meio ambiente.
  • Visando contornar as dificuldades impostas pelo isolamento social, produtores e cooperativas investiram em novos canais de comercialização por meio das redes sociais, vendas on-line e delivery. São os locais que os setores de floricultura e hortifrúti vêm trabalhando, de modo a reduzir os prejuízos do início da pandemia com o cancelamento de eventos, feiras ao ar livre e restrições ao food service. As linhas especiais de crédito e prorrogação das amortizações também foram essenciais para a manutenção das atividades de produção.
  • As variedades de trigo desenvolvidas pela parceria entre a Embrapa e a iniciativa privada apresentaram ótimos resultados para produção no Ceará. A primeira colheita do cereal foi realizada com 75 dias, muito inferior à média de 140 a 180 dias em outras regiões produtoras. Além disso, a produtividade chegou a 5,4 toneladas por hectare, pouco inferior à região Centro-Oeste (5,5 t/ha), mas mais que o dobro da região Sul (2,4 t/ha). Atualmente, o Nordeste importa quase todo o trigo que consome.
  • Terminamos o mês de setembro com preços absolutamente altos em reais para os grãos. No fechamento desta coluna, a entrega de soja em cooperativa de São Paulo estava em R$ 145/saca e a safra 2020/21 já estava sendo negociada a R$ 135. No caso do milho, o valor estava em R$ 60/saca, e para entregas em agosto de 2021, R$ 50/saca. A arroba era negociada a quase R$ 260.

Os cinco fatos do agro que deveriam acontecer em outubro:

  1. As chuvas no Brasil e as expectativas de plantio. Previsões do clima para a safra 2020/21 de grãos;
  2. O fechamento da safra nos EUA, performance da colheita e comportamento do clima neste mês final;
  3. O comportamento da China nas importações de carnes e grãos e de outros países asiáticos principalmente, e os preços dos grãos no mercado interno com seus impactos no setor de carnes e ovos;
  4. As dificuldades de acertos na política econômica brasileira e seus impactos no câmbio. Como esta anda derrapando em mostrar o caminho e a ação estratégica, errei minha previsão de câmbio feita no primeiro semestre, que viria abaixo de 1 US$ = R$ 5. Não creio que a valorização chegue a esse ponto neste ano;
  5. Os resultados das ações do governo na questão do desmatamento ilegal e os impactos nas pressões contra o Brasil.