Nasce a RaW, parceria entre Raízen e Wilmar

04/10/2016 Geral POR: Valor
A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou novas condições de financiamento para o setor de energia elétrica. A instituição elevou, de 70% para 80%, a sua participação em financiamentos para projetos de energia solar, de acordo com as novas condições de financiamento para o setor elétrico aprovadas pela diretoria do banco e divulgadas na manhã desta segunda¬feira. 
A instituição vai manter em 70% a sua participação em financiamento de energias alternativas: eólica, PCHs, biomassa e cogeração. O custo do financiamento, nas duas categorias, permanece em TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), atualmente em 7,5% ao ano. 
O banco também informou que, em linha com o objetivo de estimular alternativas de financiamento privado na composição dos novos financiamentos, reduziu sua participação para até 50%, em TJLP, em investimentos em grandes hidrelétricas — antes, era até 70%. O banco extinguiu, ainda apoio a térmicas a carvão, e a óleo combustível, mais poluentes ao ambiente.
As condições gerais, que servirão para todos os segmentos do setor de energia, incluem a possibilidade de o banco subscrever até 50% do valor das debêntures a serem emitidas pela empresa tomadora do crédito, e também o Índice de Cobertura do Serviço da Dívida (ICSD) mínimo de 1,3 para geração de energia e 1,5 para transmissão. O índice reflete capacidade de pagamento da dívida da empresa e é calculado como a geração de caixa operacional líquida de impostos, dividido pelo serviço da dívida da empresa. 
Outra exigência, nas condições gerais, é a participação mínima de 20% de recursos próprios do investidor. “O valor total do apoio do BNDES, incluindo o financiamento e as debêntures, não poderá ser superior a 80% do valor total dos itens financiáveis. O spread será de 1,5% para todos os segmentos e não haverá a concessão de empréstimos-ponte”, detalhou o banco.
 
Distribuição e transmissão
Houve, ainda, mudanças nas condições de apoio à transmissão e distribuição. Essas mudanças têm, como pano de fundo, a premissa de que “é papel do regulador garantir retorno que remunere os investidores pelo risco dos projetos e, ao mesmo tempo, garantir preços adequados ao consumidor”, detalhou o banco. Na análise do BNDES, as novas condições ampliam a participação do mercado privado no financiamento aos dois segmentos. 
De acordo com o BNDES, na distribuição o financiamento manteve¬se em até 50%, com redução da parcela em TJLP de 70% para 50%. 
Para projetos de leilões de transmissão de energia elétrica, o BNDES estrutura financiamento a custo de mercado, em vez de TJLP, com prazo mais longo: 20 anos de amortização, no sistema PRICE, ou seja, sistema francês de amortização, cuja principal característica é apresentar prestações iguais. Antes era de 14 anos, no sistema SAC (Sistema de Amortização Constante) e participação até 80% no financiamento total. 
Na análise do banco, essas mudanças abrem espaço para a emissão de debêntures de infraestrutura, cujos prazos de financiamento são de cerca de 10 anos. Nesse sentido, para estimular a emissão de debêntures, o valor do crédito do BNDES será calculado pelo índice de cobertura do serviço da dívida (ICSD) mínimo de 2,0, sendo que o limite de endividamento global (BNDES + outros credores) será dado pelo ICSD mínimo de 1,5.
Leilão de transmissão 
As novas condições de financiamento já valerão para o próximo leilão de linhas de transmissão, em 28 de outubro, e para o próximo leilão de energia de reserva, voltado para projetos eólicos e solares, em 16 de dezembro. 
“A política de apoio ao leilão de transmissão de outubro é esta que estamos divulgando hoje. Os leilões passados respeitam as condições divulgadas pelo banco antes dos leilões. Então eventualmente se existia algum projeto aqui dentro da casa [BNDES] para aprovação que foi objeto de um leilão passado, as condições passadas serão respeitadas”, afirmou a superintendente da área de energia do banco, Carla Primavera, em teleconferência com jornalistas sobre as novas condições de financiamento para o setor elétrico. 
Carla deixou claro que as novas condições não valerão para nenhum leilão anterior ao dia de hoje, inclusive o leilão de energia de reserva realizado na última semana, destinado a projetos de pequenas e micro hidrelétricas. 
“Elas [pequenas e micro hidrelétricas] seguem as políticas divulgadas antes do leilão. Isso é determinante e sagrado para o BNDES. Ou seja, condição divulgada antes de leilão é respeitada na tomada de decisão do empreendedor”, completou ela.
Projetos 
As novas condições de financiamento vão priorizar projetos com maior retorno socioambiental, afirmou a diretora de infraestrutura e sustentabilidade da instituição, Marilene Ramos. “O BNDES vai priorizar com TJLP [taxa de juros de longo prazo] projetos com maior retorno social e ambiental. E vai abrir espaço em setores com condições de atrair agentes privados”, disse a executiva, em teleconferência com jornalistas. 
De acordo com ela, para os projetos com o perfil de maior retorno socioambiental, o financiamento será por TJLP com participação do banco de até 80%, no caso de usinas solares. Para eólicas e outros projetos de energias alternativas, a participação do BNDES será de até 70%. 
Também se enquadra nesse perfil os projetos de eficiência energética. “É um setor que vai crescer muito”, disse Marilene, destacando o setor de iluminação pública com eficiência energética. 
Marilene explicou que, para setores com condições de atrair investidores privados para o financiamento, o banco terá participação menor, como é o caso da área de transmissão de energia. Para esse segmento, o banco financiará até 80%, porém a taxas de mercado, e não TJLP.
 
Spread 
As condições mantiveram, em todas as linhas, spread básico de 1,5%. O banco destacou ter mantido em até 80% participação em projetos de eficiência energética. Além disso, definiu o mesmo nível de participação em projetos de iluminação pública eficiente. 
Sobre a linha de eficiência energética, o BNDES detalhou que o crédito abrange investimentos em modernização de equipamentos, instalações e processos industriais. 
Além disso, na análise do banco, a inclusão do financiamento a projetos de iluminação pública eficientes busca “propiciar economia de energia associada a impacto sensível na qualidade de vida da população, em aspectos como segurança pública, segurança no trânsito e lazer noturno”. A instituição destacou, ainda, que até então, as condições de financiamento do banco a esses investimentos eram definidas caso a caso, nos editais de concessão.
Na análise do banco, as alterações nas condições de financiamento refletem a estratégia do BNDES para o setor, em cooperação com o Ministério de Minas e Energia e Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). As novas condições, na avaliação do BNDES, visam contribuir para a ampliação de fontes de energias alternativas na matriz elétrica brasileira e direcionar investimentos em Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para projetos com alto retorno social e ambiental.
Por Rodrigo Polito e Alessandra Saraiva
Já nasce grande no mercado de açúcar o resultado da aliança entre a Raízen, maior fabricante da commodity no Brasil, controlada por Cosan e Shell, e a Wilmar, uma das maiores tradings e refinadoras do produto na Ásia. Batizada de RaW ¬ em alusão ao termo em inglês que define o açúcar bruto ¬, a joint venture será lançada hoje pelas companhias com a promessa de ser a segunda maior originadora de açúcar brasileiro para exportação. 
Em seu primeiro ano completo de operação, que corresponderá à safra brasileira 2017/18, que terá início em abril, a RaW deverá entregar nos portos cerca de 4,5 milhões de toneladas de açúcar VHP, volume que é hoje originado no país pelas 24 usinas da Raízen e pela Wilmar.
Foi o que afirmou ao Valor Leonardo Gadotti, vice¬presidente executivo de logística, distribuição e trading da Raízen e que passa a presidir o conselho de administração da joint venture. A sede da RaW será em Cingapura, como a da Wilmar, mas contará com escritório operacional em São Paulo. O CEO será Jean Luc Bohbot, head de açúcar da Wilmar. 
A criação da RaW faz frente a um rearranjo no segmento que começou com a união entre Copersucar e Cargill para a criação da Alvean, em 2014, e reforça uma tendência de consolidação que caminha com mais facilidade no lado da comercialização de açúcar do que da produção. "É uma tendência global no mercado de açúcar e o Brasil, como maior produtor do mundo, não poderia ficar longe dela", disse Gadotti.
Diferentemente da Alvean, que em 2015/16 originou 5 milhões de toneladas de açúcar no Brasil, a RaW deve atuar só na originação de açúcar VHP, entregando nos portos o produto que sai das usinas na modalidade Free On Board (FOB), que reparte responsabilidades do embarque entre vendedor e comprador.
A tacada une não apenas duas empresas que já são grandes no segmento, mas duas pontas que normalmente estão em lados opostos: enquanto a Raízen é líder no maior país produtor da commodity, a Wilmar é uma das maiores compradoras globais de açúcar e se destacou, nos últimos meses, como a principal recebedora do açúcar bruto entregue nos vencimentos dos contratos futuros na bolsa de Nova York. 
Assim, disse Gadotti, a união "fazia todo o sentido em termos de sinergias e de potencial para explorar melhor o mercado". Além disso, a Wilmar já era uma das principais clientes da nova parceira. As operações da RaW deverão contribuir para a determinação das estratégias de produção da Raízen, que faturou R$ 12,2 bilhões na safra 2015/16 e poderá ter, agora, uma visão ainda mais ampla das demandas do mercado, de acordo com o executivo.
A estratégia de verticalização não é novidade para a Raízen, que já acessa diretamente o mercado doméstico de etanol por meio de sua rede de distribuição de combustíveis. Tampouco o é para a Wilmar, que já vem estabelecendo parcerias com empresas locais para garantir a originação de açúcar e o refino do produto. Em 2015, a receita da empresa asiática apenas com o negócio de açúcar foi de US$ 4,4 bilhões, 80% provenientes de operações de trading ¬ no total, o faturamento da Wilmar chegou a US$ 38,8 bilhões.
Em 2010, a Wilmar fez sua primeira incursão na área sucroalcooleira com as aquisições da produtora australiana de açúcar Sucrogen e da refinadora indonésia Jawamanis Rafinasi. De 2013 a 2015, adquiriu participações em empresas de Marrocos e Mianmar. No Brasil, sua atuação é indireta, já que detém 50% da indiana Shree Renuka Sugars ¬ que, além de possuir sete usinas na Índia, tem duas em São Paulo e duas no Paraná. 
A joint venture não nasceu sem alguns questionamentos. Embora o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) tenha aprovado sua criação sem restrições, diversas empresas consultadas pelo órgão expuseram suas preocupações com a concentração do mercado de açúcar para exportação, conforme documentos que constam no processo. Mas o Cade considerou que há outras tradings no mercado com as quais os produtores podem negociar sua oferta. Além disso, também levou em consideração que boa parte do açúcar exportado pela Raízen já era movimentado pela Wilmar. 
O Cade observou, ainda, que nem a Raízen tem mais de 30% de participação na produção brasileira de açúcar nem a Wilmar tem mais de 30% da comercialização da commodity no país. E, embora algumas tradings tenham se manifestado no processo de consultas do Cade sobre a concentração de mercado de exportação no porto de Santos ¬ onde a Rumo, controlada pela Cosan, tem terminal de embarque de açúcar ¬, dois representantes de empresas concorrentes afirmaram que também podem contar com outros terminais. Um deles está sendo construído pela VLI Logística, deverá ficar pronto em 2017 e terá capacidade inicial para escoar 3,7 milhões de toneladas de açúcar por ano.
Por Camila Souza Ramos
Já nasce grande no mercado de açúcar o resultado da aliança entre a Raízen, maior fabricante da commodity no Brasil, controlada por Cosan e Shell, e a Wilmar, uma das maiores tradings e refinadoras do produto na Ásia. Batizada de RaW ¬ em alusão ao termo em inglês que define o açúcar bruto ¬, a joint venture será lançada hoje pelas companhias com a promessa de ser a segunda maior originadora de açúcar brasileiro para exportação. 
Em seu primeiro ano completo de operação, que corresponderá à safra brasileira 2017/18, que terá início em abril, a RaW deverá entregar nos portos cerca de 4,5 milhões de toneladas de açúcar VHP, volume que é hoje originado no país pelas 24 usinas da Raízen e pela Wilmar.
Foi o que afirmou ao Valor Leonardo Gadotti, vice¬presidente executivo de logística, distribuição e trading da Raízen e que passa a presidir o conselho de administração da joint venture. A sede da RaW será em Cingapura, como a da Wilmar, mas contará com escritório operacional em São Paulo. O CEO será Jean Luc Bohbot, head de açúcar da Wilmar. 
A criação da RaW faz frente a um rearranjo no segmento que começou com a união entre Copersucar e Cargill para a criação da Alvean, em 2014, e reforça uma tendência de consolidação que caminha com mais facilidade no lado da comercialização de açúcar do que da produção. "É uma tendência global no mercado de açúcar e o Brasil, como maior produtor do mundo, não poderia ficar longe dela", disse Gadotti.
Diferentemente da Alvean, que em 2015/16 originou 5 milhões de toneladas de açúcar no Brasil, a RaW deve atuar só na originação de açúcar VHP, entregando nos portos o produto que sai das usinas na modalidade Free On Board (FOB), que reparte responsabilidades do embarque entre vendedor e comprador.
A tacada une não apenas duas empresas que já são grandes no segmento, mas duas pontas que normalmente estão em lados opostos: enquanto a Raízen é líder no maior país produtor da commodity, a Wilmar é uma das maiores compradoras globais de açúcar e se destacou, nos últimos meses, como a principal recebedora do açúcar bruto entregue nos vencimentos dos contratos futuros na bolsa de Nova York. 
Assim, disse Gadotti, a união "fazia todo o sentido em termos de sinergias e de potencial para explorar melhor o mercado". Além disso, a Wilmar já era uma das principais clientes da nova parceira. As operações da RaW deverão contribuir para a determinação das estratégias de produção da Raízen, que faturou R$ 12,2 bilhões na safra 2015/16 e poderá ter, agora, uma visão ainda mais ampla das demandas do mercado, de acordo com o executivo.
A estratégia de verticalização não é novidade para a Raízen, que já acessa diretamente o mercado doméstico de etanol por meio de sua rede de distribuição de combustíveis. Tampouco o é para a Wilmar, que já vem estabelecendo parcerias com empresas locais para garantir a originação de açúcar e o refino do produto. Em 2015, a receita da empresa asiática apenas com o negócio de açúcar foi de US$ 4,4 bilhões, 80% provenientes de operações de trading ¬ no total, o faturamento da Wilmar chegou a US$ 38,8 bilhões.
Em 2010, a Wilmar fez sua primeira incursão na área sucroalcooleira com as aquisições da produtora australiana de açúcar Sucrogen e da refinadora indonésia Jawamanis Rafinasi. De 2013 a 2015, adquiriu participações em empresas de Marrocos e Mianmar. No Brasil, sua atuação é indireta, já que detém 50% da indiana Shree Renuka Sugars ¬ que, além de possuir sete usinas na Índia, tem duas em São Paulo e duas no Paraná. 
A joint venture não nasceu sem alguns questionamentos. Embora o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) tenha aprovado sua criação sem restrições, diversas empresas consultadas pelo órgão expuseram suas preocupações com a concentração do mercado de açúcar para exportação, conforme documentos que constam no processo. Mas o Cade considerou que há outras tradings no mercado com as quais os produtores podem negociar sua oferta. Além disso, também levou em consideração que boa parte do açúcar exportado pela Raízen já era movimentado pela Wilmar. 
O Cade observou, ainda, que nem a Raízen tem mais de 30% de participação na produção brasileira de açúcar nem a Wilmar tem mais de 30% da comercialização da commodity no país. E, embora algumas tradings tenham se manifestado no processo de consultas do Cade sobre a concentração de mercado de exportação no porto de Santos ¬ onde a Rumo, controlada pela Cosan, tem terminal de embarque de açúcar ¬, dois representantes de empresas concorrentes afirmaram que também podem contar com outros terminais. Um deles está sendo construído pela VLI Logística, deverá ficar pronto em 2017 e terá capacidade inicial para escoar 3,7 milhões de toneladas de açúcar por ano.
Por Camila Souza Ramos