Novo cenário dá fôlego extra à Petrobrás

30/09/2016 Geral POR: O Estado de S. Paulo 29/09/16
Durante muito tempo Elon Musk ocupou sozinho o centro do palco dos carros elétricos, defendendo os veículos que não emitem poluição, e sua empresa, a Tesla Motors Inc.,transformou-se na referência para carros movidos a bateria.
Quando quase meio milhão de fãs da Tesla pagaram US$ 1 mil cada um este ano para reservar o Model 3, carro da próxima geração da empresa com preço mais acessível, antes do lançamento previsto para o fim de 2017, muitos executivos da indústria automobilística zombaram.
“Vamos ver se eles conseguirão produzí-los”, disse, na época, Thomas Weber, membro do conselho responsável por pesquisa e desenvolvimento da Daimler AG.
Agora, a enorme publicidade em torno das encomendas antecipadas do Model 3 da Tesla, a demanda dos consumidores e a adoção de regras mais rígidas para reduzir as emissões parecem ter se reunido para forçar as montadoras convencionais a entrar em ação.
No Salão do Automóvel de Paris, que começa amanhã, algumas das maiores fabricantes de carros do mundo revelarão planos para acelerar o desenvolvimento de veículos elétricos. Mais de 20 novos modelos elétricos devem ser lançados por montadoras como a Volkswagen AG, Porsche AG e Daimler, em uma demonstração de como a Tesla tem levado as empresas tradicionais a reagir.
A Volkswagen, ainda tentando se recuperar do estrago feito pelo escândalo da fraude em testes de emissões, tentará provar que está mais limpa. Ela apresentou um carro-conceito, o protótipo de um Golf movido a bateria e de direção totalmente autônoma, que, segundo a montadora, pode começar a ser produzido em 2020. A Volks informou que planeja lançar 30 novos modelos elétricos até 2025. Até lá, um em cada quatro carros vendidos será totalmente elétrico ou híbrido plug-in, informou a empresa.
“Este carro é para combater a Tesla e outras [fabricantes de carros elétricos], não nossos concorrentes convencionais”, disse Herbert Diess, líder da marca Volkswagen de carros de passageiros. “Temos que levá-los muito a sério. Não é nenhuma ciência. Os outros concorrentes estão fazendo grande progresso.”
Até agora, os incentivos do governo levaram à adoção de carros elétricos em muitos mercados. A Noruega e a Holanda, dois dos menores mercados para as montadoras tradicionais, tornaram-se os maiores mercados para os veículos elétricos devido a esses subsídios e outros incentivos para promover os carros de emissão zero, que são mais caros que os modelos convencionais a gasolina e diesel.
Mas no decorrer dos próximos dez anos, metas mais restritas de emissões na Europa, Estados Unidos e China elevarão os custos de desenvolvimento de motores a combustão. A queda nos custos da produção de baterias também tornará os carros elétricos mais competitivos. Até 2030, a consultoria AlixPartners estima que os veículos elétricos irão ter substituído grande parte dos veículos a diesel, principalmente os menores.
“Este será um ano que vai ser lembrado como um daqueles onde tudo começa a mudar”, diz Andrew Bergbaum, diretor-gerente da AlixPartners.
As vendas de carros elétricos na União Europeia — que incluem veículos movidos a baterias, de alcance ampliado, com células de combustível e híbridos plug-in — cresceram 17% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2015, para 70.127 unidades, segundo a Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis.
A crise do diesel provocada pelo escândalo da fraude das emissões da Volkswagen também acelerou a mudança, diz Bergbaum. A fatia das vendas de carros a diesel na Europa, atualmente em torno de 18%, está começando a cair, segundo a Jato Dynamics Ltd., grupo de pesquisa de consumo.
Em Paris, a marca Mercedes-Benz, da Daimler, deve lançar um veículo utilitário esportivo a bateria para competir diretamente com o Model X da Tesla. Ele terá um alcance de 500 quilômetros com uma única carga e deve ser lançado em 2020. O veículo fará parte de uma marca da Mercedes chamada EQ. Além disso, a Daimler informou em junho que está planejando versões elétricas de modelos convencionais, com o apoio de um investimento de 500 milhões de euros (US$ 560 milhões) em uma nova fábrica de baterias.
A Audi AG, marca de carros de luxo de propriedade da Volkswagen, está preparando a produção do crossover Audi Q6 E-Tron para 2018. A montadora também planeja lançar versões de célula de combustível e híbridos plug-in do Q6, além de três outros novos carros elétricos em 2020. Até 2025, os veículos elétricos devem representar 25% das vendas de carros da empresa, disse o diretor-presidente Rupert Stadler da Audi em julho.
A fabricante de carros esportivos Porsche, da Volks, lançará uma versão híbrida plug-in de seu sedã esportivo Panamera que irá combinar um motor turbo de 462 cavalos de potência desenvolvido pela Audi com outro elétrico, de 136 cavalos. Mas o grande salto da Porsche em direção aos carros elétricos foi dado com o Mission-E, que foi lançado no Salão do Automóvel de Frankfurt, no ano passado, e deve passar a ser produzido em 2020.
Em Paris também serão lançados vários carros elétricos com preços mais acessíveis.
A General Motors Co. lançou o Chevrolet Bolt nos Estados Unidos e lançará o Ampera-E em Paris, um carro compacto movido a bateria que se assemelha ao elétrico i3, da BMWAG.
Em meio ao frenesi para colocar veículos elétricos no mercado, algumas montadoras estão mais cautelosas. A BMW, por exemplo, ampliou recentemente o alcance do seu i3, mas a montadora está tendo dificuldades para conquistar o consumidor, tendo vendido 25 mil unidades no ano passado.
Alguns executivos da montadora estão preocupados em investir em novos veículos elétricos sem uma estratégia coerente e sinais mais claros de que o mercado realmente vai crescer, segundo pessoas a par do assunto.
Ian Robertson, membro do conselho da BMW encarregado das vendas, defende a estratégia da companhia, dizendo que a mondadora foi a primeira entre suas concorrentes a construir um carro elétrico.
“Muitas empresas estão correndo para nos acompanhar. Nós já entregamos para clientes reais”, diz.
O anúncio de acordo preliminar para corte na produção de petróleo, feito pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) na quarta-feira, altera o cenário para a Petrobras no Brasil. Com a cotação do barril mais valorizada e a melhora de perspectiva, a empresa ganha fôlego para atingir a meta de alavancagem de até 2,5 vezes em 2018, segundo Edmar Almeida, professor do grupo de economia da energia (GEE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O consultor Filipe Rizzo, da RX2 Engenharia e Consultoria, destaca ainda que a alta do petróleo inviabiliza qualquer redução dos preços da gasolina e do óleo diesel pela estatal.
"A alta do preço do petróleo permite que a Petrobras entregue mais facilmente a meta de redução da dívida, que é sua meta prioritária. Com o petróleo em baixa, a empresa teria de fazer um sacrifício enorme. Mas não significa que poderá ampliar investimentos",disse.
A Opep decidiu reduzir a produção de 33,2 milhões de barris por dia (bpd) para até 32,5 milhões de barris por dia (Bpd), numa tentativa de elevar as cotações do petróleo e dos seus derivados. Como reação, os contratos dispararam mais de 5% nos negócios de anteontem e atingiram a maior valorização diária desde abril.
A atual cotação, na casa de US$ 49 por barril para os contratos de novembro e dezembro nas bolsas de Nova York e Londres, supera as projeções da Petrobrás, que, no dia 19, divulgou, em seu plano de negócios, que trabalha com a premissa de que, em 2017, o barril do petróleo valerá, em média, US$ 48.
Para Rizzo, a tendência é que os preços iniciem uma escalada a partir de agora. A principal justificativa seria a aproximação do fim das eleições nos Estados Unidos. "A manutenção do preço da gasolina em baixos patamares favorecia a candidata Hillary Clinton, nos Estados Unidos. Com o fim do processo eleitoral, já é possível pensar em alterações. A cotação pode subir até US$ 70 a médio prazo. Mas não deve passar disso, porque esbarra no shale gas (gás de xisto) americano (produzido a um custo menor)", afirmou Rizzo.
Do ponto de vista financeiro, a alta da cotação contribui para melhorar a receita da Petrobrás e, consequentemente, reduzir o seu endividamento, de acordo com o especialista da UFRJ. A Petrobras ganha, principalmente, com as exportações, que crescem neste ano. A venda de petróleo nacional no mercado externo avançou 4,9% de janeiro a agosto, comparado a igual período de 2015, enquanto a de gasolina subiu 47% e a de diesel, produto de maior valor agregado, 389%, segundo estatística da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Fernanda Nunes