O agronegócio é a locomotiva desse país

17/03/2021 Noticias POR: CARLA ROSSINI

Antonio Eduardo Tonielo - presidente do conselho de administração da Copercana

 

Nada melhor do que iniciar uma safra com informações e conselhos dados por quem entende do negócio. Por esse motivo, a redação da Revista Canavieiros conversou com o empresário, produtor rural e presidente do Conselho de Administração da Copercana, Antonio Eduardo Tonielo. Sr. Toninho, como é carinhosamente chamado, é um dos profissionais mais respeitados do setor canavieiro. Dono de uma experiência muito bem-sucedida e de uma visão muito além do seu tempo, é praticamente uma enciclopédia do agronegócio brasileiro. Quem bom que a Revista Canavieiros tem o sr. Toninho como fonte! Aproveite a leitura.

Revista Canavieiros: Vamos iniciar esse bate-papo falando da safra canavieira. Na sua opinião, o que podemos esperar da próxima safra?
Antonio Eduardo Tonielo: Ainda está cedo para termos uma opinião definitiva, vamos ter uma posição melhor em março. Terminamos 2020 com chuva, mas podemos dizer que iniciamos 2021 com as águas atrasadas, já que precisava ter chovido mais cedo. Os canaviais estão bons, mas acredito que teremos uma safra menor comparada à safra passada. Tudo pode acontecer, a cana é um capim que precisa de chuva, de sol, depende do clima, o que estou dizendo é que as canas podem se recuperar, é difícil que aconteça porque os tratos culturais que foram feitos cedo, foram bem dizer perdidos. Acredito mesmo é numa safra um pouco menor.

Revista Canavieiros: Será mais açucareira?
Tonielo: Sempre dependemos do preço. Se o açúcar estiver com preço melhor, o empresário tende a optar por fazer mais açúcar. E isso também é bom para o produtor canavieiro que será melhor remunerado. Os preços do açúcar estão bons, não há excesso de produção e não é uma safra apertada. É claro que tudo depende do decorrer do ano, mas se o preço do açúcar for melhor, vamos fazer mais açúcar. De qualquer forma, teremos uma boa produção de etanol. O setor tem um compromisso em fazer álcool anidro, que é misturado na gasolina, e vai cumprir. Pode ser que a produção de hidratado seja menor, tudo vai depender dos preços.

Revista Canavieiros: E sobre a questão dos grãos, principalmente da soja, amendoim e milho. Há uma projeção de safra recorde de soja no Brasil. Isso vai afetar os preços?
Tonielo: O preço da soja está consolidado. Mas eu não acredito em safra recorde e sim em algo muito parecido com o ano passado que já foi excelente. Por experiência até mesmo da minha família, tivemos uma quebra de mais ou menos 35% na soja precoce. É claro que as instituições que fazem essas projeções trabalham com satélites e tecnologias que permitem divulgarem esses números, mas eu não acredito em safra recorde de soja.
Já os preços do milho para o produtor serão bons, a exemplo do ano passado. Já temos os contratos firmados de exportação, tem muito milho para sair do Brasil e será um ano apertado de novo. Os contratos de exportação foram muito fortes e isso ajuda a equilibrar o mercado interno. O preço do amendoim foi excelente.

Revista Canavieiros: Como será 2021 para a agricultura?
Tonielo: Tudo indica que teremos um bom ano para os agricultores. Estamos com todas as commodities nas alturas, desde milho, açúcar, soja, café, enfim, os preços estão bons. O agronegócio é a locomotiva desse país, e mais uma vez vai carregar o Brasil. Seremos pioneiros, transformaremos nossas produções em renda e isso vai favorecer muito os produtores e os trabalhadores rurais.

Revista Canavieiros: Em 2020 tivemos a pandemia. Atravessamos um ano bem difícil e, mesmo assim, a Copercana cresceu e aumentou seu faturamento. Como crescer em ambientes adversos?
Tonielo: São vários fatores. Primeiro gostaria de pontuar minha satisfação, em nome de todo o Conselho de Administração, em dizer do trabalho que está sendo realizado pelos nossos diretores executivos. Eles merecem todas as considerações e aplausos pela responsabilidade, pelo empenho e a dedicação que conduziram os negócios da cooperativa. Uma cooperativa para ir bem precisa do empenho da diretoria e eles fizeram uma excelente gestão. Acompanho de perto a administração de todas as áreas e negócios e está tudo funcionando como uma engrenagem. Por isso quero enaltecer que é motivo de muita alegria para mim saber que os diretores corresponderam ao que esperávamos. Segundo fator é a questão dos preços dos nossos produtos que foram muito bons, tanto de açúcar, como de soja, amendoim e milho. Com os preços bons, os produtores compram mais, adubam mais, enfim, cuidam mais das lavouras para poder ganhar mais. Isso é fato. Fora isso, temos a estrutura que a Copercana oferece a esses produtores, como financiamentos, segurança de entrega, armazenamento e tranquilidade para trabalhar com a cooperativa. A Copercana hoje é um marco para nossa região, para os nosso Estado e até mesmo para o nosso país. Sorte de quem tem uma Copercana para ser parceira, tanto para entregar insumos como para receber mercadorias e outras coisas que a Copercana participa. Sorte e suporte que nem todos têm. E a Copercana não vai parar por aí. Ela continuará levando muita coisa boa para os cooperados e também para os consumidores das cidades da região. Nossa responsabilidade não é apenas com os cooperados, mas também com as comunidades onde estão os nossos negócios.

Revista Canavieiros: E se o senhor tivesse que enviar alguma recomendação para os nossos cooperados este ano, qual seria?
Tonielo: Quem somos nós para dar conselhos? Mas a minha recomendação é que os cooperados trabalhem com tranquilidade com seus produtos, não se apavorar para vender porque tem muita gente que muitas vezes apavora que nem já fez no ano passado. Isso traz intranquilidade tanto para ele quanto para quem compra. Todo mundo tem que vender na hora certa e na hora que precisar, vai vendendo devagar. Um dos grandes fatores importantes da Copercana é esse, o cooperado entrega dez mil sacos de soja, depois pode vender mil por mês, conforme precisa de dinheiro. A cooperativa funciona como um banco. O cooperado já tem o banco dele que é a Cocred, mas a Copercana com os produtos agrícolas estocados, vendendo na hora que ele (o cooperado) quer, também funciona como um banco. Se ele precisa de R$ 10 mil, vai lá e vende tantos sacos de soja, ou amendoim ou vende milho. É dessa tranquilidade que estou falando, do cooperado poder vender por parte, participando dos melhores preços. Os cooperados tem que pensar assim, não ficar pulando para lá e para cá. O cooperado tem que ter uma estabilidade tanto na área de grãos quanto na área de cana. A cooperativa e o cooperado devem ser parceiros, amigos, que respeitam um ao outro. Tem cooperativa que só quer ganhar dinheiro encima do cooperado, é um pouco diferente, acho que o dinheiro é bom quando os dois ganham.

Revista Canavieiros: Mudando de assunto, recentemente a Unica divulgou que em 2020, 97,6% da meta de redução de emissão de gases de efeito estufa foi cumprida pelas distribuidoras. Isso é a consolidação do RenovaBio?
Tonielo: Isso é importante e nos surpreendeu. As distribuidoras se comprometeram a negociar e cumpriram. O RenovaBio começou a vender pela metade do preço e em pouco tempo valorizou. Já é uma realidade e vai trazer um melhor preço de etanol, que representa melhores preços no ATR da cana. Toda a cadeia se beneficia, não apenas a usina, mas o fornecedor também. Atribuo essa consolidação do RenovaBio ao projeto inicial que foi bem feito e as distribuidoras se comprometeram, estão comprando e outras empresas, outras pessoas físicas podem comprar também, não é só distribuidoras. O RenovaBio qualquer pessoa pode comprar porque são ações, se eu quero comprar hoje, eu compro por dez, amanhã vendo por doze. É um negócio que tem responsabilidade e a tendência é que 2021 seja melhor ainda.