O agronegócio visto de cima

02/04/2024 Noticias POR: Leonardo Andrade

Uso de drones no agro aumenta procura por pilotos capacitados. Profissionais podem ganhar até R$ 10 mil

Inventar o avião foi uma das grandes evoluções tecnológicas da humanidade. O que para muitos parecia impossível virou realidade e mudou o curso da nossa história. Só que o tempo passou e o meio de transporte mais rápido do mundo também se tornou o mais seguro para pessoas e cargas.

Agora, imagina sobrevoar sem a necessidade de tirar os pés do chão? Parece loucura, não é mesmo? Mas, na atual era tecnológica, uma nova opção se tornou um símbolo de inovação e progresso, o drone (em inglês significa ‘’zangão’’ devido ao seu zumbido ao voar).

O drone é um veículo aéreo não tripulado que deve estar homologado pela Anatel, Ibama e ANAC

O drone é um veículo aéreo não tripulado, que possui uma controladora de vôo, podendo receber comandos por meio de radiofrequência, infravermelho e até mesmo missões definidas de forma prévia por coordenadas GNSS (Global NavigationSatellite System), através de seu sistema embarcado.

Apesar de sua aparência remeter a mini-helicópteros, é importante destacar que o drone não é um brinquedo e nem pode ser considerado como tal. Possui regras próprias e, por isso, deve estar homologado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Regulamento

Os drones só podem ser operados em áreas com no mínimo 30 metros horizontais de distância das pessoas não anuentes ou não envolvidas com a operação e cada piloto remoto só poderá operar um equipamento por vez.

Serão obrigatórias licença e habilitação emitidas pela ANAC apenas para pilotos de operações com aeronaves não tripuladas RPA (RemotelyPilotedAircraft System) das classes 1 (peso máximo de decolagem de mais de 150 kg) ou 2 (mais de 25 kg e até 150 kg) ou da classe 3 (até 25 Kg) que pretendam voar acima de 400 pés do nível do solo. Já para o piloto que realiza vôos abaixo de 400 pés e com drone de classe 3, a licença e habilitação não são necessárias.

Esse equipamento pode ser utilizado em uma variedade de campos como segurança, fotos e vídeos aéreos para festas e eventos, produções audiovisuais e até logística. Com tantas possibilidades, um segmento que vem se destacando é o da agricultura com profissionais atuando com mapeamento, monitoramento e pulverização. Além disso, ajuda a reduzir o uso excessivo de insumos agrícolas, como fertilizantes e­pesticidas, resultando em uma economia de custos para os produtores rurais.

E é aí que entra o trabalho do piloto de drones, uma das profissões que cresceram de forma acelerada nos últimos cinco anos, segundo uma pesquisa divulgada pelo Linkedin.

Piloto de drone agrícola é uma das profissões que cresceramnos últimos cinco anos, segundo pesquisa divulgada pelo Linkedin

Qualificação

Para atuar, é necessário um curso de 28 horas de duração para conhecimento sobre a prática da aplicação aeroagrícola remota (CAAR) em escolas credenciadas. Nesta formação, o aluno aprende a configurar drones e a manusear agrotóxicos.

Já no curso de Piloto Agrícola Remoto (CPAR), os participantes aprendem a operar um drone agrícola na prática, programar e executar missões, receber informações úteis sobre os cuidados e utilização com a aeronave, além da segurança em relação ao trabalho.

A carga horária mínima do treinamento é de 18 horas distribuída em três módulos teóricos com apostila, prova para avaliação de conhecimento e aulas práticas em campo para vivenciar melhor o aprendizado.

A gerente administrativa de um curso de formação, em Ribeirão Preto, Nilva Alquimim, explica que o piloto de drone agrícola tem muito espaço no mercado de trabalho

A gerente administrativa de um curso de formação, em Ribeirão Preto, NilvaAlquimim, explica que o aluno terá conhecimento aprofundado sobre RPA de pulverização agrícola, componentes de uma RPA de pulverização, checkpré-vôo, conhecimento sobre baterias (carregamento, duração e logística) e manutenção preventiva básica. “Aprende ainda sobre aspectos aerodinâmicos do vôo das RPA’s, fatores meteorológicos que influenciam nas aplicações, planejamento operacional e segurança de vôo, operação do rádio, operação do software em Notebook, operação de software – DJI app, calibração da RPA para pulverizar e preenchimento de relatório. Além disso, reforça com mais conhecimentos na manutenção preventiva”.

Podem participar maiores de 18 anos com conhecimento de informática. Ao final do curso, o participante recebe um certificado de qualificação profissional. “O piloto de drone agrícola estará apto para trabalhar no controle de pragas, mapeamento aéreo, monitoramento e melhor desempenho das lavouras com o uso da tecnologia de pulverização aérea com drones”, conclui.

Mercado de trabalho

O mercado de trabalho para o piloto de drone agrícola é promissor. O Brasil possui 5,44 mil dronesaeroagrícolas registrados no Sistema de Aeronaves não Tripuladas (SISANT) da ANAC e seu uso pode trazer mais eficiência, economia e sustentabilidade para o setor. Segundo a consultoria PwC, o mercado global de drones agrícolas deve movimentar US$ 32,4 bilhões em 2024.

O gestor de drones, Marcos Chaves, ingressou na área por conta da demanda interna das áreas de cana-de-açúcar

A demanda interna das áreas de cana-de-açúcar fez com que o gestor de drones, Marcos Chaves, ingressasse na área. “A minha rotina é bem dinâmica. Tudo começa com informações da área e um estudo de mapa. Em seguida, solicito autorização de vôo junto ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Identifico obstáculos, observo se o clima está ideal para aplicação, respeito a ordem de mistura da calda de produtos e verifico se está homogênea. Depois, acerto os parâmetros de vôo, como velocidade e altura. Após isso, emito um relatório de aplicação ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) com os produtos que foram utilizados durante o mês”.


Júlio Pignata Branco, sócio-fundador e diretor comercial e operacional da EAVision no Brasil, lembra que o interesse pela profissão surgiu por meio de um hobby. Hoje, seu foco é na pulverização agrícola

Já o sócio-fundador e diretor comercial e operacional da EAVision no Brasil, Júlio Pignata Branco, lembra que o interesse pela profissão surgiu por meio de um hobby que, anos mais tarde, avançou para uma empresa de agricultura de precisão que o contratou como piloto para mapeamento aéreo. “Na época eu tinha uma rede social de viagens e queria melhorar a qualidade do meu conteúdo. Foi aí que eu decidi investir na aquisição de um drone. Anos depois busquei a qualificação em outras áreas, inclusive, a agrícola. O meu foco hoje é a pulverização agrícola de cana-de-açúcar, soja, milho, café, entre outras culturas que aceitam bem essa tecnologia”.

Júlio lembra ainda que a rotina é bem agitada para atender os prazos solicitados pelo cliente, aos requisitos agronômicos, trabalhar no campo recarregando bateria e no cuidado com a operação em função dos obstáculos. “Não considero um trabalho de alta complexidade, mas o profissional precisa ter atenção total para acompanhar a performance da aeronave”.

Por outro lado, o engenheiro agrônomo Paulo José Silvino da Silva preferiu empreender e montar o próprio curso de formação para pilotos de drones agrícolas. “Em 2019, comecei a minha carreira trabalhando com drones de mapeamento agrícola. Anos depois investi na área de pulverização. Já no final de 2022 montei uma escola credenciada pelo Ministério da Agricultura e hoje atuo como instrutor de drone agrícola. Semana passada registramos 300 alunos formados”.

O engenheiro agrônomo Paulo José Silvino da Silva trabalhou com mapeamento agrícola, pulverização até montar o próprio curso de formação profissional

Áreas de atuação

Segundo o agente de Desenvolvimento Regional do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Josué Andreas Vieira, o piloto de drone agrícola pode atuar nas áreas de pulverização de agrotóxicos (inseticida, herbicida e fungicida), na dispersão de biológicos e também de sólidos (adubação e fertilização). “Os drones se encaixam onde a aviação agrícola, de maneira tripulada, não consegue alcançar, como áreas de relevo, urbanizada e de preservação permanente. A chegada desse equipamento com estrutura compacta está tornando acessível a pulverização aérea para muitos agricultores”.     

Além disso, o piloto de drone agrícola deve sinalizar a área e utilizar obrigatoriamente equipamentos de proteção individual (EPI).

Josué Andreas Vieira, agente de Desenvolvimento Regional do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), aponta que o equipamento torna acessível a pulverização aérea para muitos agricultores

Salário

Os salários podem variar, já que existe a possibilidade de se entrar no mercado como empreendedor do próprio negócio e atender às empresas como terceirizado, ao invés de se tornar um funcionário/colaborador e possuir carteira assinada.

Justamente por ser recente, a atividade tem uma variação salarial grande, que pode ir de R$ 2 mil a R$ 10 mil, a depender do nível de formação do profissional e dos valores das comissões – além de um salário fixo, algumas empresas pagam um valor extra por hectare pulverizado. “Os salários podem alcançar valores bem altos, mas também depende do equipamento do piloto, qual a região que está atuando e, principalmente, da qualificação”, explica Josué.

Características do profissional

É preciso gostar do trabalho ao ar livre, gostar de tecnologia, ter coordenação óculo-manual, ser persistente, dedicado, atento e cuidadoso. O profissional precisa ter disponibilidade para viagens, já que a rotina de um piloto de drone agrícola é bem dinâmica e nenhum dia é como o outro. Já para trabalhar na área de mapeamento, o piloto precisa ter conhecimentos de georreferenciamento, sensoriamento remoto e processamento de imagens. Além disso, é importante ter habilidades de comunicação, trabalho em equipe e resolução de problemas.