O assunto do dia 15 de maio de 2020: Lanterna dos afogados.

15/05/2020 Etanol POR: Marino Guerra

Somente com os reajustes da Petrobrás o risco de afogamente ainda é bem grande

Gasolina já foi reajustada pela Petrobras duas vezes somente em maio, e daí?

No meio desta semana a Petrobras aumentou o preço da gasolina nas refinarias em 10%, na semana passada, a alta foi de 12%, o que dá 22% de reajuste.

Considerando um preço médio da gasolina a R$ 3,80 o litro, o reajuste é de R$ 0,83. Em números absolutos a elevação é maior que os R$ 0,40 da Cide solicitado pelo Setor Sucroenergético como medida de apoio à necessidade de se criar maior liquidez ao etanol.

Nessa conta pode-se ainda somar uma possível trajetória de alta nos preços globais do petróleo imaginando que as economias asiáticas e europeias já começam a elevar a velocidade de movimentação com o passar das semanas, ainda neste ponto, é válido ressaltar que petróleo mais caro é sempre um fator altista no contrato nº 11 negociado na bolsa de Nova York, que baliza o mercado de açúcar.

Há ainda a questão cambial, onde com o real mais desvalorizado, melhor será a competitividade do etanol.

Então o problema está resolvido!!! Ledo engano, há uma variável cruel, que é impossível se controlar, denominada tempo.

Como o consumo interno de combustíveis está fraco, os preços reajustados vão demorar para chegar nos postos, e enquanto isso a cana continua sendo moída, o etanol produzido e estocado, obrigando as unidades produtoras correr atrás de recursos para pagar os custos de produção.

Fora a imprevisibilidade dessa fila, há ainda a instabilidade do mercado, ou seja, enquanto espera para ser mais competitivo, o biocombustível pode receber a notícia que Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, entre outra potência petrolífera, simplesmente toma uma decisão que torna negativo o valor do barril, como presenciamos no mês passado e aí vem a reação em cadeia com a Petrobrás derrubando o valor da gasolina, tornando a sua compra mais vantajosa.

A cobrança da Cide eliminaria essa briga contra o relógio, mas o governo federal anunciou na semana passada que não vai recorrer a ferramenta de tributação. Contudo a mesma instabilidade das lideranças mundiais que amedrontam as destilarias, também pode ser um alívio, pois não é muito difícil o presidente Jair Bolsonaro simplesmente acordar numa manhã e perceber a importância do biocombustível para o Brasil e mudar de ideia.

Curiosidade: O termo “Lanterna dos Afogados” é o título de um capítulo da obra “Jubiabá” de Jorge Amado. No trecho é narrada a aflição das esposas de pescadores que passam a noite aguardando o retorno dos seus maridos do mar com lanternas acesas para eles se guiarem, a grande tensão se justifica pois não é muito difícil alguns não voltarem.

Espero que o barco do etanol consiga chegar ...