Valor de R$ 0,67 mostra reação rápida do setor perante a pandemia
Os mais contidos vão ainda falar em cautela, mas a notícia de hoje, do Consecana-SP fechando o mês de junho a R$ 0,67 o quilo de açúcar por tonelada de cana (R$ 0,08 a mais em relação a igual período da temporada passada) e R$ 0,68 no acumulado do primeiro quarto da safra (R$ 0,07 acima no comparativo com 19/20) é talvez a primeira luz nítida vista no fim do túnel chamado coronavírus que o setor entrou.
Ao abrir a planilha e observar o resultado por produtos, considerando somente as três tabelas envolvendo o açúcar, o desempenho de 2020 foi superior em todos. No açúcar branco vendido no mercado interno a diferença, em reais por quilo, foi de R$ 0,16 centavos.
Quando se olha o mesmo tipo para a exportação, somente na conta de junho, mesmo colocando a desvalorização do real na conta, a diferença foi bem semelhante ao vendido internamente. No VHP a diferença também ficou bem próxima, R$ 0,15 a mais para a atual safra.
A explicação dessa “pequena” diferença está justamente porque na conta do Consecana são contemplados os valores praticados nos três últimos meses, ou seja, olhando para o Contrato nº 11 do açúcar (cotado em Nova York) se pegou a grande depressão do pico mundial da pandemia (abril e maio), quando se praticou valores abaixo dos US$ 0,10 por libra peso.
Ao longo do mês de junho os valores melhoraram atingindo por várias vezes a casa dos US$ 0,12, entretanto o câmbio, extremamente generoso (para quem exporta) em maio, perdeu um pouco da audácia, chegando até ser cotado abaixo dos R$ 5,00 durante boa parte da primeira quinzena do período que se encerra.
No etanol, tanto o anidro como o hidratado igualaram com valores do ano passado, e isso é explicado, em parte, observando as informações do Indicador Diário do Cepea/Esalq do combustível posto em Paulínia-SP, que na média de junho venceu por um centavo (R$ 1,69 contra R$ 1,68) o valor do litro na comparação com igual mês de 2019.
Se fizer um recorte do último trimestre, o desempenho de 2020 ainda é baixo (R$ 1,53 contra R$ 1,76), mas se retirar a tragédia de abril (numa média bimestral), o que acontecerá no próximo Consecana, a diferença já cai para R$ 0,11.
Considerando uma conjuntura de manutenção ou até ganho de vigor nos valores internacionais do açúcar, até porque a China deverá manter as compras sem barreiras e um dólar se assentando na casa dos R$ 5,00 (uma queda muito brusca é cada vez mais improvável com a aproximação de uma imprevisível e tensa eleição presidencial nos EUA), as diferenças do açúcar tendem a ser até maiores no próximo mês (pelo menos no Branco Exportação e VHP)
Para o etanol, embora saia da conta o abril tenebroso, a perspectiva de manutenção do valor do petróleo na casa dos US$ 40,00 o barril do brent e também dúvidas quanto a redução da quarentena brasileira, é prudente se traçar uma conjuntura de preços com valores bem parecidos no comparativo com o que foi divulgado hoje.
Assim, sem nenhuma tragédia, são poucas as chances do ATR de julho vir menor que os R$ 0,67 publicados hoje, o que significa que a safra vai atingir o seu primeiro terço “literalmente” voando, eliminando mais um bocado de argumentos trágicos de um final de temporada com valores inferiores ao da passada.