“O Brasil levou para a agenda de Paris uma proposta e um compromisso bastante audacioso e precisa cumprir”

05/04/2017 Cana-de-Açúcar POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – Edição 129
A afirmação é de Elizabeth Farina, diretora-presidente da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), ao destacar os desafios do setor sucroenergético nos próximos anos. Economista, formada pela USP, a profissional assumiu o comando da UNICA, em dezembro de 2012, substituindo o engenheiro agrônomo Marcos Jank, e desde então vem se empenhando em buscar soluções para o segmento canavieiro.
A UNICA é a entidade representativa das principais unidades produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade da região Centro-Sul do Brasil, principalmente do Estado de São Paulo, sendo que as unidades associadas são responsáveis por mais de 50% da produção nacional de cana e 60% da produção de etanol.
Professora titular do Departamento de Economia da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), Elizabeth foi chefe do Departamento de Economia da USP, e presidente do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), ligado ao Ministério da Justiça, de 2004 a 2008. Foi também coordenadora-adjunta do PENSA, o Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, da USP. A executiva participou recentemente do VI Encontro Cana Substantivo Feminino, evento realizado em Ribeirão Preto-SP, e concedeu entrevista exclusiva à Revista Canavieiros. Confira:
Revista Canavieiros: Quais são os desafios do setor atualmente?
Elizabeth Farina: São muitos! Mas o grande desafio do setor sucroenergético é retomar uma agenda de crescimento junto com o Brasil. Na verdade, acho que o desafio do setor hoje é o desafio brasileiro, até porque é uma agenda muito produtiva que o Brasil tem neste momento e o segmento canavieiro pode servir de rota para o desenvolvimento e retorno do investimento, como é o caso da agenda ambiental, conforme foi estabelecida no Acordo de Paris. O grande desafio é vencer o período que estamos passando em que o Brasil está buscando seus rumos, buscando encontrar uma casa mais arrumada; vai fazer reformas difíceis, impopulares, mas necessárias, e assim convencer os investidores a voltarem a acreditar no Brasil, sejam eles externos ou internos.
Então, o Brasil pode usar essa agenda ambiental para recuperar oportunidades de investimento e é um desafio para o setor cumprir a sua missão dentro dessa agenda.
Revista Canavieiros: A proposta do Brasil na COP 21 foi audaciosa na sua visão?
Elizabeth Farina: O Brasil levou para a agenda de Paris uma proposta e um compromisso bastante audacioso, que de fato exige muito investimento para que em 2030 o país esteja com uma emissão de gás efeito estufa menor em 43%; tem que aumentar a participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional para 18% e ampliar a participação de fontes renováveis para, pelo menos, 23% da oferta de energia elétrica. No caso do etanol, precisaria atingir 54 bilhões de litros em 2030, ou seja, quase o dobro do volume atual. Então, o setor sucroenergético combina com esta agenda, está na sua veia, no seu DNA. 
Também, por esta razão, é um setor importante dentro das NDCs (Contribuições Nacionais Determinadas) brasileiras, ou seja, dos compromissos voluntários que o país assumiu e ratificou no ano passado pouco antes do encontro de Marrakesh, quando o acordo foi celebrado e passou a entrar em vigor.
Revista Canavieiros: Com relação ao RenovaBio, qual é a situação do projeto?
Farina: O RenovaBio está caminhando. Neste momento, tem um documento em consulta pública que, aliás, entrou em consulta pública até uns dias antes do que estava planejado. A agenda do RenovaBio é muito relacionada com a questão ambiental que eu me referi anteriormente. É, na verdade, um projeto para transformar compromissos, números, em um plano de ação até 2030 relacionado a biocombustíveis e ele está andando. Tem um grupo de trabalho compromissado com este tema. Tem o ministro Fernando Coelho, do Ministério de Minas e Energia (MME), muito empenhado, que está liderando todo este trabalho, e o Miguel Ivan Lacerda, diretor do MME para o setor de etanol e biodiesel, uma pessoa formidável e que tem muita garra para colocar de pé este programa. Não é uma coisa fácil porque programa de longo prazo tem vários desafios, mas é um programa que está andando e que está vinculado a esta agenda ambiental.
Revista Canavieiros: Recentemente a senhora solicitou a ajuda do ministro Blairo Maggi para que o etanol e o açúcar possam fazer parte das negociações entre o Mercosul e a União Europeia. Como está esta questão?
Farina: Acordos de negociação comercial têm um prazo longo para acontecer, mas está acontecendo, vai ter uma reunião em Buenos Aires (no final de março) a respeito disso. Então, há sim uma agenda que está caminhando tanto na Europa quanto aqui no Mercosul. O ministro José Serra tinha colocado bastante empenho nisso e o esforço do nosso setor é recolocar o etanol nas negociações. Ele estava no hall de ofertas e negociações de 2004, que não chegou a nenhum lugar e, desta vez, ele foi retirado. Já o açúcar nunca esteve nas negociações da
União Europeia e Mercosul porque é um produto muito sensível e a Europa passou por um processo de reforma da sua política em relação ao açúcar bastante ampla. Este fato vai, na verdade, dar início a uma nova etapa a partir de outubro, quando começa a safra mundial.
Eu tenho certeza que o ministro Aloysio Nunes, que assumiu muito recentemente a pasta de Relações Exteriores, também apoiará essa negociação. Para nós é importante que o açúcar entre na agenda do Mercosul até para que ele possa ficar em melhores condições na negociação entre Mercosul e União Europeia.
Revista Canavieiros: Qual o balanço a senhora faz da safra 2016/2017 e quais são suas perspectivas para a safra que irá começar em abril?
Farina: Essa foi uma safra difícil, inclusive de prever os números. Ocorreram muitos altos e baixos, não foi uma safra que ofereceu um crescimento grande, nada disso, mas foi um ano melhor para quem estava com a casa arrumada e pôde aproveitar as oportunidades.
Nós tivemos nesta safra vários desafios, que eu acho que continuam para o próximo ano, a não ser a questão de clima, que é de fato fora de controle. Conforme nossa última projeção, a expectativa para a moagem final da safra 2016/2017 é de que seja inferior à safra anterior por conta da diferença de produção esperada para o mês de março. Para a primeira quinzena de março, o volume processado de cana deve sofrer influências de condições climáticas adversas à colheita, mas nos 15 dias finais do mês indica um clima mais favorável mantendo a previsão de que a moagem final atinja 605 milhões de toneladas. Sobre a perspectiva, a gente não tem nenhuma previsão, a UNICA só vai trabalhar nisso depois de terminar essa safra.
Revista Canavieiros: A senhora é representante de uma entidade importante no setor sucroenergético, mas a representação feminina no segmento ainda é pequena. O que fazer para mudar isso?
Farina: Primeiro as mulheres precisam querer, é um grande desafio, pois é um setor importante, forte, e tem uma agenda bastante atribulada para quem representa o segmento e trabalha na área mais institucional. 
As outras atividades do setor também são todas desafiantes para as mulheres e eu acho que elas têm se saído bem quando enfrentam essas dificuldades, e vão adiante como foi dito neste evento. É preciso ter coragem e se expor e eu acho que é isso que tem que acontecer. 
Revista Canavieiros: A senhora enfrentou dificuldade neste meio por ser mulher?
Farina: Para falar a verdade não. Eles foram me buscar na universidade, então eu fui convidada a entrar.
A afirmação é de Elizabeth Farina, diretora-presidente da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), ao destacar os desafios do setor sucroenergético nos próximos anos. Economista, formada pela USP, a profissional assumiu o comando da UNICA, em dezembro de 2012, substituindo o engenheiro agrônomo Marcos Jank, e desde então vem se empenhando em buscar soluções para o segmento canavieiro.
 
A UNICA é a entidade representativa das principais unidades produtoras de açúcar, etanol e bioeletricidade da região Centro-Sul do Brasil, principalmente do Estado de São Paulo, sendo que as unidades associadas são responsáveis por mais de 50% da produção nacional de cana e 60% da produção de etanol.
 
Professora titular do Departamento de Economia da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo), Elizabeth foi chefe do Departamento de Economia da USP, e presidente do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), ligado ao Ministério da Justiça, de 2004 a 2008. Foi também coordenadora-adjunta do PENSA, o Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, da USP. A executiva participou recentemente do VI Encontro Cana Substantivo Feminino, evento realizado em Ribeirão Preto-SP, e concedeu entrevista exclusiva à Revista Canavieiros. Confira:
 
Revista Canavieiros: Quais são os desafios do setor atualmente?
 
Elizabeth Farina: São muitos! Mas o grande desafio do setor sucroenergético é retomar uma agenda de crescimento junto com o Brasil. Na verdade, acho que o desafio do setor hoje é o desafio brasileiro, até porque é uma agenda muito produtiva que o Brasil tem neste momento e o segmento canavieiro pode servir de rota para o desenvolvimento e retorno do investimento, como é o caso da agenda ambiental, conforme foi estabelecida no Acordo de Paris. O grande desafio é vencer o período que estamos passando em que o Brasil está buscando seus rumos, buscando encontrar uma casa mais arrumada; vai fazer reformas difíceis, impopulares, mas necessárias, e assim convencer os investidores a voltarem a acreditar no Brasil, sejam eles externos ou internos.
Então, o Brasil pode usar essa agenda ambiental para recuperar oportunidades de investimento e é um desafio para o setor cumprir a sua missão dentro dessa agenda.
 
Revista Canavieiros: A proposta do Brasil na COP 21 foi audaciosa na sua visão?
 
 
Elizabeth Farina: O Brasil levou para a agenda de Paris uma proposta e um compromisso bastante audacioso, que de fato exige muito investimento para que em 2030 o país esteja com uma emissão de gás efeito estufa menor em 43%; tem que aumentar a participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional para 18% e ampliar a participação de fontes renováveis para, pelo menos, 23% da oferta de energia elétrica. No caso do etanol, precisaria atingir 54 bilhões de litros em 2030, ou seja, quase o dobro do volume atual. Então, o setor sucroenergético combina com esta agenda, está na sua veia, no seu DNA. 
Também, por esta razão, é um setor importante dentro das NDCs (Contribuições Nacionais Determinadas) brasileiras, ou seja, dos compromissos voluntários que o país assumiu e ratificou no ano passado pouco antes do encontro de Marrakesh, quando o acordo foi celebrado e passou a entrar em vigor.
 
Revista Canavieiros: Com relação ao RenovaBio, qual é a situação do projeto?
 
Farina: O RenovaBio está caminhando. Neste momento, tem um documento em consulta pública que, aliás, entrou em consulta pública até uns dias antes do que estava planejado. A agenda do RenovaBio é muito relacionada com a questão ambiental que eu me referi anteriormente. É, na verdade, um projeto para transformar compromissos, números, em um plano de ação até 2030 relacionado a biocombustíveis e ele está andando. Tem um grupo de trabalho compromissado com este tema. Tem o ministro Fernando Coelho, do Ministério de Minas e Energia (MME), muito empenhado, que está liderando todo este trabalho, e o Miguel Ivan Lacerda, diretor do MME para o setor de etanol e biodiesel, uma pessoa formidável e que tem muita garra para colocar de pé este programa. Não é uma coisa fácil porque programa de longo prazo tem vários desafios, mas é um programa que está andando e que está vinculado a esta agenda ambiental.
 
Revista Canavieiros: Recentemente a senhora solicitou a ajuda do ministro Blairo Maggi para que o etanol e o açúcar possam fazer parte das negociações entre o Mercosul e a União Europeia. Como está esta questão?
 
 
Farina: Acordos de negociação comercial têm um prazo longo para acontecer, mas está acontecendo, vai ter uma reunião em Buenos Aires (no final de março) a respeito disso. Então, há sim uma agenda que está caminhando tanto na Europa quanto aqui no Mercosul. O ministro José Serra tinha colocado bastante empenho nisso e o esforço do nosso setor é recolocar o etanol nas negociações. Ele estava no hall de ofertas e negociações de 2004, que não chegou a nenhum lugar e, desta vez, ele foi retirado. Já o açúcar nunca esteve nas negociações da União Europeia e Mercosul porque é um produto muito sensível e a Europa passou por um processo de reforma da sua política em relação ao açúcar bastante ampla. Este fato vai, na verdade, dar início a uma nova etapa a partir de outubro, quando começa a safra mundial.
 
Eu tenho certeza que o ministro Aloysio Nunes, que assumiu muito recentemente a pasta de Relações Exteriores, também apoiará essa negociação. Para nós é importante que o açúcar entre na agenda do Mercosul até para que ele possa ficar em melhores condições na negociação entre Mercosul e União Europeia.
 
Revista Canavieiros: Qual o balanço a senhora faz da safra 2016/2017 e quais são suas perspectivas para a safra que irá começar em abril?
 
Farina: Essa foi uma safra difícil, inclusive de prever os números. Ocorreram muitos altos e baixos, não foi uma safra que ofereceu um crescimento grande, nada disso, mas foi um ano melhor para quem estava com a casa arrumada e pôde aproveitar as oportunidades.
Nós tivemos nesta safra vários desafios, que eu acho que continuam para o próximo ano, a não ser a questão de clima, que é de fato fora de controle. Conforme nossa última projeção, a expectativa para a moagem final da safra 2016/2017 é de que seja inferior à safra anterior por conta da diferença de produção esperada para o mês de março. Para a primeira quinzena de março, o volume processado de cana deve sofrer influências de condições climáticas adversas à colheita, mas nos 15 dias finais do mês indica um clima mais favorável mantendo a previsão de que a moagem final atinja 605 milhões de toneladas. Sobre a perspectiva, a gente não tem nenhuma previsão, a UNICA só vai trabalhar nisso depois de terminar essa safra.

 
Revista Canavieiros: A senhora é representante de uma entidade importante no setor sucroenergético, mas a representação feminina no segmento ainda é pequena. O que fazer para mudar isso?
 
Farina: Primeiro as mulheres precisam querer, é um grande desafio, pois é um setor importante, forte, e tem uma agenda bastante atribulada para quem representa o segmento e trabalha na área mais institucional. 
As outras atividades do setor também são todas desafiantes para as mulheres e eu acho que elas têm se saído bem quando enfrentam essas dificuldades, e vão adiante como foi dito neste evento. É preciso ter coragem e se expor e eu acho que é isso que tem que acontecer. 
 
Revista Canavieiros: A senhora enfrentou dificuldade neste meio por ser mulher?
 
Farina: Para falar a verdade não. Eles foram me buscar na universidade, então eu fui convidada a entrar.