No final de julho, Evandro Gussi fez parte de uma comitiva, que também contou com atores do governo e iniciativa privada, que participou de mais uma edição do seminário “Ethanol Talks”, evento que aconteceu na Índia.
Como importante balizador do mercado mundial de açúcar, informações sobre o setor sucroenergético indiano sempre são muito bem-vindas por apontar possíveis tendências, sendo esse o assunto desta entrevista, que traz como principal boa nova que eles estão cada vez mais firmes no processo de inserção do etanol na matriz de combustíveis do país, o que é bom para eles, para o mundo e também para nós.
Revista Canavieiros: Numa visão macro, para onde caminha o setor sucroenergético indiano?
Evandro Gussi: Hoje é claro que eles perceberam a importância da diversificação de seus produtos e todo o valor que a bioenergia traz. Há Índia é há muito tempo um grande produtor açucareiro, porém o início da produção do etanol em escalas um pouco maiores já mostrou os benefícios, não somente sob o ponto de vista setorial, com a diminuição da importação do petróleo ou o aumento de emprego e desenvolvimento tanto no campo como nas cidades, mas também as vantagens ambientais, com a melhora da qualidade do ar, principalmente nos grandes centros urbanos. Estes diferenciais explicam os motivos para o rápido crescimento de produção do etanol na Índia.
Revista Canavieiros: E quanto ao processo adequação tecnológica, tanto industrial como da frota, o que você conseguiu ver?
Gussi: Vamos olhar o crescimento de consumo através do número da mistura de etanol na gasolina, antes era de 1,4%, hoje está em 10%, porém há muitas estações de serviços, muitos postos que já ofertam uma mistura de 20%, sendo o ano de 2025 o limite para todos se adequar a esse número.
Também já foi iniciado um movimento de adoção de veículos flex, tem um projeto piloto acontecendo com a importação de um Corola, além disso a indústria local já produz alguns modelos, inclusive o veículo mais vendido no país é dotado dessa tecnologia, o que evidencia que o planejamento deles é em breve disponibilizar também o etanol hidratado, assim como temos no Brasil.
Revista Canavieiros: E quanto às práticas agrícolas, há algum processo de mudança?
Gussi: Na Índia o processo produtivo de cana-de-açúcar é bastante heterogêneo, diferente no Brasil que temos a concentração em propriedades de maior escala, o que nos garante números de eficiência bastante expressivos, lá a realidade é de pequenas propriedades e produtores o que faz as atividades de tratos, manejos e cultivo serem bastante peculiares e sempre proporcionando a renda para milhões de pessoas.
É sempre muito complexo identificar o que é melhor ou pior, me parece que lá é um pouco peculiar, da mesma forma que a escala que construímos no Brasil é um modo tem suas particularidades em relação ao resto do mundo, o desenho indiano também. Acredito que a maior relevância está na entrega, é ser um país comprometido com o etanol, comprometido com as melhores práticas dentro das suas possibilidades tecnológicas, e muito entusiasmados com o potencial que a bioenergia reserva para a melhora da qualidade de vida deles.
Revista Canavieiros: A baixa participação indiana no mercado mundial de açúcar nos últimos anos, somado à política artificial de preço da gasolina e outros fatores conjunturais podem apresentar algum risco de desabastecimento do etanol hidratado no Brasil?
Gussi: Não há nenhum risco de desabastecimento. Nós estamos sempre alinhados com o Ministério de Minas e Energia e os distribuidores de combustíveis, monitoramos com muita frequência todos os elos da cadeia, toda a entrega necessária, o que aconteceu foi que durante relativamente um período longo vivemos com a gasolina subsidiada, isso vem desde o governo passado quando a tributação sobre a gasolina foi zerada, isso feriu muito a competitividade do etanol hidratado. O que esperamos, inclusive com a Petrobras reequilibrando sua política de preço quanto a paridade com o valor internacional do petróleo, de uma maneira mais justa e organizada, é que ele recupere sua participação no mercado de combustíveis de veículos leves e, com o aumento dessa demanda, o setor está preparado para responder com a produção necessária para atende-la, como tem feito nas últimas décadas.