O campo salva a cidade...

31/03/2014 Colunista POR: Revista Canavieiros - ed. 92
Macroeconomia e Consumo: 
O agro exportou em janeiro de 2014 US$ 5,87 bilhões, uma queda de 10,8% em relação a janeiro do ano passado. Com importações de US$ 1,46 bilhão, o saldo foi 14% menor, com US$ 4,41 bilhões. Trata-se de começo meio complicado e somando-se as perdas com a inesperada seca de janeiro, dificilmente chegaremos aos US$ 100 bilhões neste ano em exportações.
Problemas à frente na questão da energia. As térmicas em fevereiro estão em pico histórico de produção, fornecendo praticamente 19% da energia do País. Resta saber o custo que isto terá para a sociedade brasileira. Poderia ser evitado, se a cogeração a partir do bagaço de cana tivesse sido estimulada.
Cana: Saiu mais uma informação da safra 2013/2014 pela UNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar). A moagem foi de 596,2 mi/t no Centro-Sul, 12% maior que em 2012/13. A produção de açúcar cresceu 0,57%, para 34,277 mi/t e etanol cresceu 19,52%, um total de 25,51 bilhões de litros, sendo 11,03 de anidro (19,52% maior) e 14,48 de hidratado (16% maior). O mix foi de 45,25% para açúcar e 54,75% para etanol. Em relação às perspectivas devido à seca, estimativas começam a aparecer e não são animadoras. A Canaplan estima que um desastre pode acontecer, com safra abaixo da previsão anterior, de 577 milhões de toneladas. 
Foram apresentados os resultados do último trimestre de 2013. A Raízen teve prejuízo de R$ 115 milhões. Além do faturamento ter caído, a empresa teve impacto da variação cambial. A Biosev acumulou prejuízo de R$ 203 milhões. Já a São Martinho teve lucro de quase R$ 33 milhões.
Etanol: A venda de etanol pelas usinas em janeiro foi de 2,2 bilhões de litros, 8,4% a mais que em janeiro de 2013. 96% foi para consumo doméstico.
Está já em trâmite no governo uma solicitação do setor para aumentar a mistura de etanol na gasolina dos atuais 25% para 27,5%, e com isto consumir mais 1 bilhão de litros de anidro. São necessários alguns pareceres, mas existe otimismo no setor que pode ser uma medida. Vale ressaltar que em 2008 eu fiz esta sugestão! Vale ressaltar que esta ação pode tirar até 2 milhões de toneladas de açúcar do mercado mundial.
Fechamos janeiro, segundo o Sindicom (agrega 60% do mercado), vendendo 695 milhões de litros de hidratado, 37% acima de janeiro de 2013. De gasolina foram vendidos 2,64 bilhões de litros. Chama a atenção que este consumo é quase 8% maior que o ano passado. Como ficaremos em relação a abastecimento e importações?
Diversos analistas apontam que a produção da Petrobras deve aumentar 5% neste ano, o que ajudaria na questão do consumo. O problema é a capacidade de refino, para produção de gasolina.
Em 2013 exportamos 2,9 bilhões de litros de etanol, arrecadando US$ 1,87 bilhão. Em janeiro de 2014 a exportação foi de quase 193 milhões de litros, 45% abaixo do ano passado e o preço médio de US$ 0,63/litro (FOB)
Começam a aparecer mais estudos e iniciativas de etanol vindos do milho. Podem ocupar áreas de safrinha hoje não cultivadas devido a preços de transporte do grão, é complementar à cana no abastecimento, não sendo perecível e é produzido por produtores independentes. 
Segundo a FCStone, uma tonelada de milho processada gera 375 litros de etanol, 240 toneladas do DDG que é usado na alimentação animal e 18 litros de óleo. Simulações da empresa para uma usina de 580 mil toneladas de milho anuais e um investimento de R$ 241 milhões daria um ROI acima de 20% em MT e MS. Segundo a empresa, poderíamos já produzir 2,6 bilhões de litros e estimou um custo de produção de R$ 1,023/l
Segundo a Archer Consulting, consumimos em 2013, 5,85% a mais de combustíveis no Brasil, sendo 39,2% etanol. Estima para a safra 2014/15 que consumiremos 22,9 bilhões de litros de etanol e 32,4 bilhões de litros de gasolina. A média de crescimento de consumo de combustíveis é de 6,17% ao ano nos últimos cinco anos. Segundo a Bioagência, entre 2009/10 e 2013/14, o consumo de gasolina no Brasil cresceu 56%, indo de 26,8 para 41,8 bilhões de litros. Já a demanda do hidratado caiu de 15,6 para 10,9 bilhões de litros. A frota flex brasileira hoje tem plenas condições de consumir 2 a 2,2 bilhões de litros de hidratado por mês.
Açúcar: Superávit mundial deve ser menor que o estimado devido a safra mais alcooleira. A Índia aprovou um subsídio de US$ 54 por tonelada de açúcar exportada, para apoiar o setor neste momento de preços baixos e elevação de custos de aquisição de cana. A estratégia é a de poder competir melhor com a Tailândia e outros exportadores além de diminuir os excedentes no mercado interno. A Índia deve produzir 25 mi/t e consumir 23,5 mi/t mas o problema é o estoque atual, estimado em 10 mi/t. Este subsídio impacta o mercado mundial e distorce ainda mais os preços, é maléfico ao Brasil e deveríamos pensar em contestar esta decisão da Índia. Este subsídio poderia ser convertido para a produção de etanol, com o mesmo efeito, sem distorcer os preços do açúcar.
Segundo o HSBC, a média de preços do açúcar na safra atual deve ser de 17,05 cents (para o ciclo que se encerra em setembro), 17,20 em 14/15. Acreditam em 22,80 cents em 17/18. Está em linha com o que publiquei e acredito, um preço médio na década ao redor de 20/21 cents.
A OIA já soltou uma previsão que no ciclo 2014/15 pode haver déficit de produção de 2 milhões de toneladas. Mas o reflexo em preços deve demorar devido aos elevados estoques existentes em muitos países. A Indonésia segue sendo importante mercado para as importações de açúcar, com autorizações para importar 3,05 milhões de toneladas em 2014. 
Homenageado do Mês: Antes de concluir, para não perdermos a característica da coluna, o homenageado do mês é o Prof. Dr. Sigismundo Bialoskorski Neto. Grande entusiasta e estudioso do cooperativismo, um dos nossos principais cientistas do setor, que está terminando excelente gestão como Diretor da FEA-RP. 
Haja Limão: neste mês o conjunto da obra merece o limão. Saímos de Davos para parar em Cuba, sem antes dar uma “portuguesada” em Lisboa...  Investimos em infraestrutura cubana, apoiamos o novo maduro, para não dizer podre, ditador venezuelano, que massacra os estudantes e o povo, e está extinguindo a democracia. Aceitamos que o MST promova desordem, destruição e ataque aos policiais, ferindo quase 20 servidores do estado. Dia seguinte, recebemos o MST no palácio, com todas as pompas.  Assistimos ao MST organizar um congresso para 15 mil pessoas sem sabermos de onde vem os recursos para tal evento. E para terminar acidificando vocês todos, somos apresentados à tal da Sininho, ativista, junto com outros dois assassinos e diversos outros manobrados, remunerados pela quadrilha subterrânea na qual vem se transformando o Brasil. Meu Deus, pensa num mês terrível. Haja limão.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.