Macroeconomia e Consumo:
Vai mal nossa balança comercial. Fevereiro apresentou o pior resultado desde 1993. O déficit foi de US$ 2,12 bilhões. Acumulando janeiro, já estamos com déficit de US$ 6,18 bilhões. Contribui com este problema uma alta de 8% na importação de combustíveis e lubrificantes. Em relação a 2012, gastamos US$ 370 milhões a mais nesta conta.
O índice FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) de inflação de alimentos subiu 2,6% de janeiro a fevereiro, reflexo de temores sobre a crise da Ucrânia, o já conhecido aumento da demanda, e problemas climáticos na produção. Entre todos os produtos, a maior variação foi a do açúcar, com 6,2%.
Cálculos de analistas mostram perdas de mais de R$ 10 bilhões com a seca no Centro-Sul e excesso de chuvas no Centro-Oeste. Houve revisão para baixo, devido às secas, da estimativa de safra da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), agora ao redor de 190 milhões de toneladas.
Cana: Segundo a MBF, algo que adiantamos aqui, desde 2008 são 56 pedidos de recuperação judicial no setor, e apenas neste ano, desde janeiro, são seis usinas.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) acredita em antecipação da moagem em pelo menos 40 usinas ainda em março, graças aos preços atrativos do etanol, o que pode ser bom para interferir no preço do açúcar.
Ainda difícil de estimar, mas as notícias não são boas em relação a produção de cana. Podemos ter quebra maior que a estimada, e com o consumo maior de etanol, podem surgir problemas de abastecimento ao longo da safra e principalmente, alteração no preço do açúcar.
Etanol: Exportações de fevereiro foram de 65,7 milhões de litros (quase 70% a menos que fevereiro de 2012). Apenas cerca de US$ 40 milhões em receitas. No acumulado do ano estamos quase 54% a menos que em 2013.
A Graanbio anunciou que seguem firmes os investimentos de US$ 1 bilhão em projetos de etanol de segunda geração. A primeira usina em Alagoas está entrando em operação e com custo de produção de R$ 1/litro.
Fechados os números de consumo de combustíveis no Brasil em 2013. O total foi de 136,3 bilhões de litros, 5% maior que em 2012. O consumo de diesel foi de 58,5 bilhões, alta de 4,6%. Biodiesel representou 2,6 bilhões, alta de quase 6%. O consumo de hidratado aumento 9,5%, atingindo 10,8 bilhões de litros. As vendas de gasolina cresceram 4%, para 41,4 bilhões, e com o aumento da mistura para 25% em maio, o consumo de anidro em 2013 foi 30,2% maior. Somando-se anidro e hidratado, o consumo foi de 21,12 bilhões de litros.
O consumo de hidratado pelas associadas do SINDICOM (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes) (representam 60% do mercado) em fevereiro de 2014 foi 27% maior que o mesmo mês de 2013. Este é o número mais importante a ser acompanhado, uma vez que teremos menos cana.
Açúcar: Exportações de fevereiro foram de 1,8 milhões de toneladas. Representa 1% a mais que 2012. Já a receita, de US$ 702,3 milhões, foi quase 20% menor que no ano anterior. No acumulado do ano (3,93 mi t e US$ 1,55 bi) estamos quase 3,5% a menos em volume e 21,3% menores em receita, quando comparados com o mesmo período de 2013.
Neste fevereiro o açúcar valorizou 18% na bolsa de NY. Previsão de produção na Índia caiu 5%, devido a evento contrário ao observado nos canaviais brasileiros: chuva intensa. As previsões que eram de 25 mi. t. vieram para 23,8 mi. t. A Índia vem tomando mercados tradicionais do açúcar brasileiro, como o Irã, Bangladesh e Malásia, graças a subsídios de exportação, dado pelo governo.
São esperadas oscilações mais fortes no mercado de açúcar no segundo semestre. Segundo a Archer, a média em reais de outubro a novembro de 2013 foi de R$ 942 por tonelada, e neste ano a média está em R$ 865, portanto, acredita em aumento. O que pode impedir aumento em NY seria uma desvalorização do real. Será uma safra mais alcooleira devido ao fato do etanol anidro apresentar a melhor remuneração.
Mesmo com o incêndio que atingiu os terminais da Copersucar ano passado, as exportações na safra 2013/14, que se encerram em 31 de março, serão 11% maiores que no ciclo anterior. A empresa deve comercializar 8,5 milhões de toneladas, sendo 6,8 milhões para exportação. A empresa garante que até o início de 2015 toda a estrutura em Santos estará recuperada e o terminal principal pode movimentar 10 milhões de toneladas.
Homenageado do Mês: O homenageado do mês é o Dib Nunes, diretor do grupo IDEA. Um dos craques do setor de cana no Brasil, com excelente contribuição visando o crescimento e desenvolvimento do setor.
Haja Limão: O limão do mês é o valor do subsídio que a sociedade brasileira dará graças aos sequenciais erros de política pública em energia, seja eletricidade, sejam nos combustíveis. Estimada em R$ 63 bilhões. Um medida populista. E por falar em populismo, Rodrigo Constantino, em seu artigo na Veja, como se diz no campo, “matou a pau”. Tomo a liberdade de compartilhar sua frase para encerrar nosso texto deste mês. É o que penso de nosso governo e dos governos da Argentina, Venezuela, Equador, entre outros.
“Governos populistas hipotecam o futuro, plantam as sementes de tragédias e focam apenas o aqui e agora das pesquisas de opinião. Pensam nas próximas eleições, e as próximas gerações que se lixem. Alimentam o monstro que vai nos devorar amanhã. Sacrificam o destino de nossos filhos e netos para garantir sua permanência no poder”. (Revista Veja, 19/03/14).
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.