O esforço técnico-científico paulista como exemplo para outros estados

10/12/2021 Noticias POR: Eddie Nascimento


Celso Vegro - diretor geral do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

 

Em novembro, o Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA) completou 79 anos. Fundado em 1942, o IEA desenvolve papel fundamental na elaboração de dados agrícolas que produz e disponibiliza, sendo exemplo para outros institutos como referência de qualidade e confiabilidade. No Brasil, essa é uma das poucas instituições focadas em socioeconomia agrícola, e tem importância não apenas para o agro paulista, mas para todo o país. Para saber mais sobre o que é desenvolvido pelo IEA, entrevistamos o diretor geral do Instituto, o engenheiro-agrônomo e pesquisador, Celso Luís Rodrigues Vegro. Confira!

Revista Canavieiros: Celso Vegro, explique a importância do Instituto de Economia Agrícola não somente para o estado de São Paulo, mas para o agro brasileiro?

Vegro: O IEA, ao produzir estatísticas e desenvolver estudos para o agro paulista, contribui na produção de metodologias aplicáveis a outras realidades territoriais. A partir desse esforço técnico-científico, outros estados passaram a reproduzir instituições similares ao IEA, como o Paraná e o Mato Grosso, para citar duas que mais se destacam na produção de estatísticas agropecuárias.

Revista Canavieiros: Como é para você como diretor fazer parte dessa história?

Vegro: Uma instituição longeva como o IEA já passou por inúmeras situações desafiadoras para as quais oferecemos soluções afirmativas. Essa história marca a instituição com aprendizados que com discernimento compartilhamos com as gerações mais novas que se integraram ao instituto.

Revista Canavieiros: Quais são as áreas de pesquisa que o instituto é responsável? Em que elas contribuem no desenvolvimento da agricultura?

Vegro: Sem dúvida o preço de terras é a iniciativa que mais retorna à sociedade paulista na medida em que é empregado para o cálculo do I mposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). Estimativas indicam que esse banco de dados do IEA permite que a fazenda paulista arrecade em tributos aproximadamente R$ 2 b ilhões ao ano. As estatísticas de preços e produção são enormemente empregadas nas decisões estratégicas dos produtores e no desenho de cenários das consultorias e bancos que atuam no agro para estabelecer suas linhas de crédito e seguro. Na análise da balança comercial do agro paulista, sistematizamos o desempenho do comércio exterior do setor. Esse monitoramento possui recorte próprio que envolve cadeias de produção e não apenas os produtos in natura, oferecendo panorama mais concreto sobre as transações com o exterior.
Há ainda toda uma preocupação com segmentos que compõem o agro como a agricultura familiar e os trabalhadores rurais. Dados sobre evolução dos salários no campo e de custo de arrendamento de terras configuram iniciativas que se destacam. Enfim, os 16 bancos de dados que contabilizam três milhões de registros estatísticos se encontram à disposição da sociedade. A cada ano mais de 1,3 milhão de consulentes acessa o site da instituição gerando planilhas sobre dados em subsídios de suas análises e decisões.

Revista Canavieiros: Por que se tornou tão imprescindível fazer o levantamento de dados agrícolas?

Vegro: A modernidade é essencialmente uma sociedade da informação. Produzir dados e análises constituem elementos essenciais para que o agro se projete como elemento decisivo na expansão econômica do país.

Revista Canavieiros: O que esses dados podem ajudar?

Vegro: Em geral, as decisões produtivas dos agentes econômicos são pautadas pelos cenários prospectivos sobre oferta e demanda. Por meio da compilação de dados e a realização dos cruzamentos pertinentes, encontram-se as melhores alternativas para alocação do capital e mobilização das terras. Técnico focado em determinada cadeia de produção pode a partir da análise dos dados produzir insights que, igualmente, contribui nessa tomada de decisões. Conjuntamente (dados e análises) concedem horizonte para o investimento diminuindo riscos e incertezas intrínsecos a atividade.

Revista Canavieiros: É importante para o produtor acompanhar esses levantamentos que são feitos e divulgados?

Vegro: Como mencionei, a sociedade da informação demanda permanente atualização para se alinhar com as mais exigentes demandas do mercado. Sabemos atualmente o papel que as emissões de carbono jogam no contexto da agropecuária (70% do total nacional). Buscar processos mais sustentáveis será decisivo para a manutenção da competitividade setorial.

Revista Canavieiros: Quais projetos são desenvolvidos atualmente pelo instituto?

Vegro: Além das rotinas de levantamentos (safras, preços, exportações) o IEA coordena e desenvolve o projeto ROTAS RURAIS, que visa mapear e oferecer um endereçamento digital a cada produtor agropecuário paulista. Com esse projeto e apoiado por um app (similar ao waze), os agricultores terão um endereço que permitirá receber entregas de itens adquiridos, demandar serviços públicos e ainda rastrear sua produção. O trabalho será concluído no próximo ano nos 645 municípios paulistas oferecendo finalmente a devida cidadania ao homem do campo. O IEA também se prepara para unificar suas bases de dados permitindo aos consulentes uma navegação mais amigável e interativa, facilitando consultas e cruzamentos. O futuro portal da instituição será uma referência para todo o agro nacional.

Revista Canavieiros: Para o próximo ano, o que o instituto tem reservado? Quais são as próximas ações que serão apresentadas?

Vegro: Para 2022 pretendemos revolucionar a coleta e sistematização de preços a partir de parcerias com a Secretaria da Fazenda, trazendo mais transparência para o mercado e atraindo investidores desejosos em aplicar recursos financeiros em commodities.